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Arquivo Malacubaca | A televisão que lia pensamentos (2020)

 


Por Marisol de Moura

26 de agosto de 2000

Eu sempre gostei de ir com o meu pai até a emissora, principalmente quando ele estava no ar com o boletim do tempo. Às vezes, passava o dia inteiro por lá e, quando não estava com ele, ficava acompanhando os jornalistas ou ouvindo histórias engraçadas. A Noviça, por exemplo, sempre tinha alguma coisa inusitada para contar. Foi ela quem me apresentou à Jaqueline, a filha dela, que também andava por lá de vez em quando. 

Uma vez, depois de um dia de gravação, a Jaque me levou ao fliperama para conversar, e foi lá que ela me contou uma história tão doida, mas tão engraçada, que eu não consegui parar de rir. Ela falou sobre a televisão da mãe dela, que tinha um chip japonês que lia pensamentos! 

Eu sei, parece coisa de filme, mas a Jacky falou sério. Disse que a mãe dela cobria a TV com um pano à noite, porque achava que os asiáticos poderiam ver tudo o que acontecia na casa e até ouvir o que ela pensava.

Quando contei essa história para a Fabiana e para a Duda, elas se divertiram tanto, que comecei a pensar que seria uma boa ideia escrever sobre isso. Fui tão inspirada por aquelas risadas que, no dia seguinte, peguei meu caderninho e comecei a escrever uma história sobre duas irmãs que ficam presas dentro de uma televisão. Elas começam a viver dentro de todos os canais e, no final, conseguem se salvar. Tudo isso, claro, por causa da tal TV que “lê pensamentos”. 

Não sei por que, mas me deu uma sensação boa escrever sobre isso, como se, de alguma forma, fosse a minha própria aventura também.

O preço de escrever com a alma



Apagando, escrevendo, apagando de novo.

Um monte de ideias e colocações embaralhadas. Um pouco de sol entre nuvens lá fora, e aqui dentro, uma inquietação silenciosa entre ser verdadeiramente quem se é — independentemente das críticas — ou se sufocar mais um pouco, como em tantos outros momentos da vida. 

Talvez seja isso que aconteça quando se abre o coração: o hábito de guardar tudo, dos sentimentos bons aos ruins, começa a se desfazer. E ao dividir um fragmento de dor, percebe-se que ela ecoa em outras pessoas — umas sentem, outras ignoram. E isso faz parte.

A escrita, no fundo, é um ato solitário. Nunca foi sobre aplausos ou seguidores, e sim sobre ter companhia nas próprias ideias. Nunca pareceu crível imaginar fãs, até porque nunca houve pretensão de ser exemplo para ninguém. Escreve-se por necessidade, por vontade de criar um mundo mais leve, um cantinho especial onde a realidade doa um pouco menos.

Ser chamada de escritora ainda soa como algo grande demais. Um título que parece pressupor uma maturidade que talvez ainda esteja sendo construída, uma responsabilidade artística que exige mais do que se pode dar agora. E mesmo assim, continua-se. Com a certeza de que nem todos vão gostar, de que o caminho é longo, de que há muito a aprender — e de que a excelência ainda está distante, mas não fora de alcance.

Se pudesse escolher um legado, seria o de contar histórias que acolham, emocionem, divirtam. Às vezes bate o medo de perder a imaginação, de não ter mais nada de bom a oferecer. Mas enquanto houver alma, haverá palavras. E com elas, o desejo de seguir criando.

Curitiba, 31 de janeiro de 2015.

Inadequada, autêntica e indomável

A menina com pulseirinha de ábaco


Era uma terça-feira amena quando Clara completou 10 primaveras. Ganhou da mãe um caderno de recordações, onde foi chamada de “menina-moça” — uma expressão que parecia capturar aquele momento de transição, entre a infância e algo que ela ainda não compreendia bem. 

Clara adorava brincar de boneca, de bola, de pique-esconde. Explorava territórios imaginários, onde era uma condessa acompanhada de um cachorrinho fiel, e se deliciava com bolachas recheadas, sorvetes, bombons e pizzas. Ela amava ganhar brinquedos e, mais do que tudo, criar histórias.

SiMpLeSmEnTe TiTa 15 anos | Do primeiro post a gente nunca esquece

Capa feita pela minha amiga Gabi no Photoscape para o primeiro blog.

Pensei em muitas formas de não deixar esse dia passar despercebido. Em 2013, minha forma de celebrar os 4 anos de blogueira foi publicar Simplesmente Tita aqui no blog, porém, teve aquela fase boa do Nyah, que aumentou o engajamento, embora o #TitaDay de 2014 tenha sido cancelado de última hora porque eu estava muito obcecada por militar e com uma cirurgia marcada. 
Fechei o blog meses depois, por 6 longos anos, retomei o projeto em 2021, mudando de nome. Por conta da doença da minha avó, dei um tempo de escrita, tempo esse necessário para me descontaminar de muitas coisas que estavam me prejudicando.

Carta aberta à Mary de 2009

 Hoje, 14 de outubro de 2024, é um dia como qualquer outro, no entanto, há 15 anos, uma jovem sonhadora decidiu dar vazão às próprias ideias e enfrentar o medo do público. Críticas construtivas são importantes para lapidar um talento, não tenho dúvidas quanto a isso, mas quando as palavras amargas excedem o propósito e visam apenas desestruturar uma pessoa, como reagir?

Minha intenção não é doutrinar ninguém, nem salvar o mundo, não sou tão pretensiosa assim. Fui deixando de escrever por medo, porém não sou eterna e não tenho quaisquer certezas de acordar amanhã, nunca se sabe. Tempo é precioso, foi e não retorna. 

Posso até não ser perfeita, mas estou disposta a me dedicar para alcançar o nível de excelência pretendido. Foi a menina de 2009 que me ensinou essa lição do "vai com medo mesmo". O momento perfeito não existe e em alguns contextos, o feito é melhor do que o perfeito, porque o feito é humano.

Abaixo, a carta redigida para meu eu de 2009. 🥹✍️

Distante de ser uma obra-prima



Antigamente, eu amava muito ficar acordada até tarde da noite, tudo para ouvir música e imaginar as aventuras dos meus personagens. De tanto sonhar acordada, nem sempre me sentia disposta a transcrever tudo que se passava na minha cabeça, pelo perfeccionismo disfarçado de medo, ah, medo de não ser boa naquilo, de não ser criativa ou "normal".

Escritora, por uma escritora

Escritor deveria ser ressarcido pelos danos emocionais, receber o retroativo pelas férias não tiradas, um seguro de vida cuja cláusula inclui as fortes emoções, a resistência a críticas, tornando-me apta para ser ajudada pelo Bolsa Gastrite.

OCDM INAUGURA NOVA FASE

 🍀 Olá! Sejam bem-vindos ao Os Cadernos de Marisol, que recomeça hoje, em caráter definitivo, marcando também o retorno do Webnovelas by Mary (WNBM).

🍀Por enquanto, o blog está en processo de reestruturação, para oferecer um conteúdo nobre, saudável, inspirador e, sim, muito poético. Gratidão. 

Reflexões de Ceci

 N/A: Encontrei esse texto de 2018, cuja narradora é a Ceci Paternostro ♥, da obra Aconteceu naquela tarde de verão. Cecília completará 5 anos de criação em agosto. Submeti o texto a uma revisão, reedição e reescrita. Conjugando corretamente o pronome da pessoa amada. B não é biscoitinho da sigla. Nós existimos.

Toda forma de amor tem espaço no OCDM

A postura de quem passa por todos os estágios de um coração partido é a mais defensiva possível. Erguemos uma muralha à nossa volta no intento de proteger o pesado portão para barrar possíveis ameaças. Invejamos o Homem de Lata, que não tinha coração, porque dói tanto olhar para a hora que não passa, sentar diante de uma mesa vazia e o silêncio incomodar mais do que a bagunça. 
Viver dói.
Esquecemo-nos de que o mesmo amor que machuca, também pode ser a cura.
Esquecemo-nos de não determos o controle de nada. Na inútil tentativa de buscar segurança em qualquer subterfúgio que não exponha nossa fragilidade, nos machucamos e deixamos rastros de nossa imaturidade por todos os cantos.
Esquecemo-nos de que pedir desculpas não nos desumaniza, lutar pelo amor não nos torna tolas, fracas e desconectadas da realidade.
Muitos recuam ao sinal do primeiro obstáculo, desistem de lutar à medida que não se sentem merecedores do amor que sentem, dizem amar quando desejam tão somente a afirmação e aprovação da sociedade inclinada a demonizar a solidão, condenando aqueles que por inúmeras razões esperam a uma condição injusta de doente, inapto, incapaz, desinteressante. 
E depois de um coração partido, a impressão que se tem é a de que o amor apenas serve para machucar, que todas as pessoas são uma ameaça em potencial.
Escondemo-nos de que, mesmo excedendo as intimidades, tentam nos tirar da concha. 
Escondemo-nos de qualquer convite tentador que nos furte o conforto trazido pela inércia.
Escondemo-nos de nós mesmos, suprimindo também a capacidade de florescer amor.
E nessa brincadeira de pique-esconde com o universo, surpresas acontecem. Não antes que o coração cale-se para se ouvir. E se ouvir sem pudor. Aquele mergulho interior que deixa as paredes da alma arranhadas como se fossem um disco que nunca para de tocar.
O apego desmedido tornou-me refém do egoísmo. O sentimento predominante não se chamava amor. Era a junção de traumas, inseguranças, expectativas distorcidas. O medo de perder era tão imenso que nunca me permitia viver o presente. Os pensamentos projetavam um futuro sombrio sem ela, o passado retornava em doses esporádicas de gatilhos. O ninho de amor era um lugar solitário e não mais o pacto entre duas pessoas que se entregavam ao desejo e poderiam se demorar, o único compromisso urgente naqueles bons tempos era amar.
Deixou de ser. 
A passarinha escolheu pousar no meu ninho porque naquele momento não havia mais nenhum lugar no mundo no qual se sentisse acolhida e segura. Éramos cúmplices, confidentes, planejávamos para aquele futuro distante. Felicidade demais sempre embrulhou o estômago. Eu sabia, sabia que estava perfeito demais para ser verdade. Eu aceitaria tudo, menos te perder. Eu daria literalmente tudo por você. Ninguém me interessava mais.
Em busca de conquistar seu amor para que nós não tornássemos aqueles casais que julgávamos, cansei minha imagem, admito com vergonha que tentei moldar você para ser mais parecida com aquela mulher da minha imaginação, quebrando, portanto, a promessa de amar você do jeitinho que você era.
Nossas longas conversas sobre assuntos aleatórios transformaram-se em longas discussões as quais levantávamos a voz, batíamos portas e passávamos dias sem qualquer contato, como se não passássemos de meras colegas de quarto. O arrependimento vinha e o perdão, banalizado, já não era mais um ponto final ao conflito. A paz, fadada à efemeridade, afetada sobremaneira pelas circunstâncias, passava longe de nós.
As vírgulas eram vislumbres de um novo olhar para a nossa história, mas o que nenhuma de nós tinha coragem de admitir a si própria, estava óbvio para todos os nossos conhecidos. Mentíamos porque a situação, apesar de desconfortável, era conveniente. Eu precisava de você. Eu não queria perder você.
Foi naquela madrugada tão fria e longa a nossa última briga. Você quebrou meu celular várias vezes e eu perdoei porque tentava não dar motivos para desconfianças, depois você me empurrou, deixei passar porque você estava nervosa, mas quando suas mãos me agrediram e colocaram por terra o que ainda havia de dignidade, continuei no chão e ouvi todas as palavras mais amargas do mundo de alguém que abriu a porta e saiu fazendo escândalo. Eu não poderia tolerar isso. Amor nenhum no mundo sobreviveria àquele caos.
Remoer o rancor denota a postura arrogante de quem insiste nos mesmos desatinos sem ter a humildade de aprender com eles. Juntas aprendemos a viver num mundo que exige que “crianças grandes” estejam prontas para todos os reveses, para se curvar sem se envergar.
Juntas aprendemos a amar.
Juntas amamos. E muito.
Juntas demos as mãos, sentamos no chão, nos abraçamos e choramos.
Juntas, já fomos um só coração, mas fomos deixando de ser, porque as metades que nos tornamos deixaram de ser um encaixe harmonioso para ser a lança afiada que torna a convivência cada vez mais pesada.
Juntas ainda podemos aprender, porque a ideia central de uma união é que um braço ampare o outro, que se busque a concórdia, o equilíbrio, que valores primordiais como o respeito e a compaixão pela outra parte estejam acima de quaisquer interesses escusos.
As pessoas que passam pela nossa vida irão quebrar nossos corações de alguma forma, é inevitável, diante do encontro das almas, da marca que deixamos nelas também. Aprendemos, assim, que o sofrimento faz parte da nossa jornada de evolução, que sempre estaremos à frente de um obstáculo que nos exige coragem, força e sabedoria. Não caminhamos em linha reta. Estamos sempre fazendo escolhas, até quando silenciamos.
E falar de coração partido é virar a outra face da moeda para enxergá-la, de fato.
Se tive o coração partido, também parti outros corações. E estou não apenas refletindo sobre a situação, como ponderando cada visão de mundo envolvida, porque estou amando novamente e espero oferecê-la a versão mais madura de mim, aquela que enquanto deu um tempo ao coração, ouviu realmente o que ele queria dizer.
Durante a negação quis crer que a culpa não foi minha, durante a tristeza esperei pela ligação que jamais aconteceu, durante a raiva arrependi-me de cada jura de amor, o ódio foi o meio menos digno de remover-te do pedestal e durante a suposta “aceitação”, findei-me na premissa de que chegava o momento arrastado para debaixo do tapete: ser a minha própria namorada.
Viver sozinha era menos trabalhoso e me asseguraria à segurança emocional tão necessária, constatando apenas quando meu coração voltou a bater por alguém que eu não queria passar a vida inteira solitária e me privando de amar com a intensidade que me define, apenas esperava pela certeza de ser correspondida. Agora que sou, recuo.
Os livros não contam, você descobre por conta própria: os adultos também sentem medo, apenas não podem reproduzi-los da maneira que uma criança tem autorização. Admito sem firulas que sinto medo. Não de amar. Não de ser correspondida ou de não ser. Não de que o nosso “para sempre” não dure o previsto. Temo que o egoísmo e a vaidade me dominem outra vez, de amar sem reservas e me esquecer de que quem caminha ao meu lado precisa da segurança a qual não sei se posso oferecer, porque nem mesmo confio em mim às vezes.
Eu também estou aprendendo a amar. A me amar. A respeitar limites. A me tratar com o respeito que jamais me tratei. A aprender a diferença entre ser uma pessoa boa e ser uma pessoa boba. A perdoar. A me perdoar. A dominar meus pensamentos ou pelo menos administrar melhor as crises.
Sinto medo de ter medo. Medo do desconhecido.
Talvez tenha chegado a hora de tomar partido e preparar-me para as eventuais consequências. Estarei pronta para assumir ao mundo o meu verdadeiro eu, ou por assim dizer, um recorte discreto, mas sincero do meu verdadeiro eu?

29 de abril de 2016 (cinco anos atrás)

 


Às vezes eu vivo como se não fosse humana.

Finjo não ser real, embora queira ser.

É difícil de me entender.

Tão difícil que eu me perco.

Queria tanto conseguir controlar a raiva.

Tenho acessos de fúria que, claro, não matam, não chegam a ser uma ameaça à humanidade, embora, sim, sejam.

Minha raiva às vezes me torna cruel.

Sinto vontade de retribuir a quem me magoou, mesmo que não me sinta confortável, porque tenho lucidez suficiente para refletir sobre o peso dos meus atos e, claro, ponderar o que serve ou não.

Vingança não me serve de base para construir meu orgulho ferido.

Parece insano ter consciência das e errar assim mesmo.

É o preço que se paga por ser humana.

Mortal.

Por ter uma vida que me foi emprestada, da qual sou inquilina e não dona.

Sim, eu também amo profundamente e em segredo, tento na medida do possível não me odiar mais pelo que sinto, pois ainda me culpo por muitas coisas que aconteceram e ainda não aceito.

Não aceito o amor que sinto, mesmo amando muito mais do que entendo, menos do que posso, do que deveria.

Eu não sou e nunca vou ser normal.

Mas não quero ser.

Não quero pertencer ao senso comum.

Não quero ser só mais uma.

Quero, sim, nunca perder a simplicidade de viver, só que não ser conformada porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero apenas viver.

Viver o hoje.

Quero amar a vida.

Eu amo a vida, mesmo às vezes desejando morrer.

Morrer a mágoa.

Declarar extinta a partir deste instante a timidez.

Morrer de orgulho de ser tola.

Morrer de vergonha, mas não de desgosto.

Morrer de vontade de viver.

Desejo matar a dor para viver bem.

Matar a dor antes que ela me mate de tédio.

Quero produzir algo decente dessa inércia que me toma.

Talvez eu não seja original nem especial.

Talvez eu seja só gente, só carne e osso, só um pouco de teimosia.

Uma criança grande em busca de calmaria.

Um poema sem eira nem beira.

Nem poema.

Não tem verso que resista a tanto medo de perder o compasso.

Só não quero ser esdrúxula.

Temores a mil.

Não falo o que penso.

Sou rasa.

Uma farsa.

Uma tola.

Repetente na escola da vida, tropeçando nos erros de outrora que seguem recentes.

Soberba por crer que mereço o que ainda não tenho.

Não tanto que não possa recuar.

Às vezes exagerada, no êxito minimalista de quem fecha os olhos para o que já viu, porque sentir exige de mim aquilo que não precisa de palavras e gestos para ser certeza, só precisa existir, e de mim, e de vida para ser o que é, o que eu não entendo nem lendo, nem me calando...


Quiçá (Quizás)

        

        Numa fria e despretensiosa noite de setembro, início e fim juntariam as duas pontas mais importantes para o sentido dessa história. Naquele instante exato entre nove e dez da noite ocorreu o encontro arquitetado por um mero acaso, mas aqueles olhos esverdeados haveriam de inspirar a mais bela poesia a quebrar os grilhões do silêncio e falarem de amor. Da primeira impressão até a resignada conclusão de que a alternativa mais sensata era aceitar decorreram-se meses nos quais a negação foi a estratégia mais falha para encarar um fato concreto.
    Confrontos mentais enfraqueciam as defesas daquela garota já cansada de tantas despedidas subentendidas, lágrimas salgadas banhando um rosto que mirava o céu em busca da sua estrela, de uma resposta, de um sentido para justificar as milhares de indagações que também faziam parte dessa descoberta do "eu", dessa dissociação entre seguir o coração (um acordo insólito entre razão e emoção, de acordo com outros valores pessoais) ou doutrinas que acatava por medo de reprimendas, por soar aprazível num conceito mais amplo de entendimento.
        Eles enxergavam o brilho no olhar dela? 
        Certamente, não.
        A dor da exclusão ainda era uma ferida aberta, mas amparada pelo amor que a nutria, surgindo de vez em quando, sob a forma de advertência. Porque se ela fechasse os olhos no silêncio da noite, poderia encontrá-lo. Letras sem melodia desejavam mais do que rimar ou falar à exaustão do mesmo, adquiriam um novo objetivo: a sonoridade, para que ela alcançasse os corações distantes, tal qual as ondas do rádio.
        Um amor diferente de todos os outros, incomparável, porque apesar de o medo de perder infiltrar-se numa mente inquieta demais para deleitar-se com o presente, cada dia trouxe o seu encanto, o seu aprendizado e na contabilidade final, os bons momentos viabilizaram a narrativa desta modesta história. Amor assim ela duvida encontrar de novo no dom da vida.
        Se ele partisse depois de estar no coração dela, a culpa seria um fardo demasiado grande para ombros tão estreitos, tão pueris, tão despreparados para uma longa caminhada rumo à maturidade, todavia, entre padecer às suposições e correr riscos, a primeira alternativa era ousada ou do contrário não existiria uma só palavra para corroborar o óbvio.
        Ela o amava.
        Amá-lo também transformou o olhar dela acerca da vida. Até aquela rebeldia adolescente deixava de ser um escudo para se converter num propósito maior do que reclamar e permanecer calada, passiva, à espera de soluções milagrosas. Ali se fincava a semente mais valiosa: a mente dela era o terreno fértil onde o bem e o mal residiam, o discernimento a direcionaria, mas nunca lhe furtaria o precioso direito à escolha, com a condição de que as consequências não fossem ignoradas por fanatismo algum.
        Vida e morte travavam um duelo como em raras vezes se viu. Munidas de sábios estratagemas e trocando olhares profundos, cada qual com seus argumentos defendia o seu porquê. Ao centro, ela. E dentro dela, a poesia. Versos preenchiam linhas ávidas por não serem condenadas ao engavetamento eterno. Quer gostassem quer não, ficaria por conta do tempo... e das ciladas dele!
        Os números mostrados pela balança evidenciavam o medo daquele passado repleto de mágoas que ela se esforçava para perdoar, ressignificar porque a sustentação dela era justa: não o teria conhecido se as estradas não possuíssem obstáculos e o percurso a conduzisse para outros rumos.
        Ela o amava o suficiente para desejar viver, porém cogitar uma eternidade sem ele era um preço alto a se pagar, motivo pelo qual a morte encarava a vida com olhar de desdém. Garotos imaturos jamais lhe cortejariam por sincero interesse (o objetivo deles encobria-se pelo sorriso manso de lobos em pele de cordeiros), lhe ofereceriam segurança, viam-na apenas como um troféu a ser conquistado, cumprindo rituais enfadonhos, quase ensaiados, porque lhes apetecia a diversão e o desejo de mostrar ao mundo que não estavam sozinhos, quando estavam vazios de afeto a oferecer, porque presentes não lhe deslumbravam. O coração dela estava ocupado demais para frivolidades. Que os versos misteriosos confundissem os curiosos.
        Para quem já teve o corpo julgado por não corresponder às expectativas doentes de um padrão cruel, as crises reacendiam um temor não de todo irreal: o de uma reviravolta cruel levar embora o amor e também a poesia, o sorriso, a vontade de desenhar um futuro feliz para si própria, ser quem ela sabia que poderia, aquela mulher escondida por trás daquele casco em que a timidez se protegia das mais variadas ciladas, que não foram poucas.
        Um corpo desejoso por um toque familiar, ainda que desconhecido, diferente de todos os outros, sustentado por um olhar amoroso, um beijo cuidadoso, aquecido pelo calor de outro, cujas formas não seriam imperfeitas para quem o desbravasse com devoção, também desnudando a própria timidez. Por detrás dos formalismos e das camadas de tecido, a descoberta dos próprios desejos, daqueles tão repudiados por aqueles que ainda julgam o que não lhes diz respeito.
        A distância se encurtava quando o amor cruzava as fronteiras mais inóspitas, munido da coragem que hoje já não mais possui. Quem faz morada no peito dela é a saudade... dele, da juventude que partiu até ser apenas uma pegada na areia já apagada pelas ondas marítimas que vêm e vão, dos sonhos que empalideceram até por fim morrerem de coração partido... e ela nem mensurava que sonhos pudessem padecer de tão cruel moléstia.
        Naquelas noites serenas de céu límpido e o mais puro silêncio das ruas, as músicas substituíam o tão mítico café. Quiçá possuir o dom de viajar no tempo e desfrutar daqueles áureos anos sempre que a atualidade sufocasse a esperança. Inviável. Os tesouros dela não estão ajuntados em cofres, são as lembranças construídas com a ferramenta que a viabilizava a palavra, a correção gramatical poderia esperar, posto que a iniciativa sublimava os deslizes de uma reles iniciante tanto na arte do amor quanto da escrita. Hoje o polimento é uma necessidade, o ponteiro do relógio marcha sempre em obediência ao propósito maior. Seguir adiante. Eles nunca olham para trás.



        En una noche fría y sin pretensiones de septiembre, el principio y el final reunirían los dos puntos más importantes para el sentido de esta historia. En ese preciso momento entre las nueve y las diez de la noche, el encuentro se produjo por casualidad, pero esos ojos verdosos inspirarían la más bella poesía para romper las cadenas del silencio y hablar de amor. Desde la primera impresión hasta la resignada conclusión de que la alternativa más sensata era aceptar, pasaron meses en los que la negación fue la estrategia más defectuosa para afrontar un hecho concreto.
    Los enfrentamientos mentales debilitaron las defensas de esa niña, ya cansada de tantas despedidas implícitas, lágrimas saladas bañaban un rostro que miraba al cielo en busca de su estrella, de una respuesta, de un sentido para justificar las miles de preguntas que también formaban parte de este descubrimiento del "yo", de esta disociación entre seguir el corazón (un acuerdo insólito entre la razón y la emoción, según otros valores personales) o doctrinas que aceptó por miedo a las reprimendas, por sonar agradables en un concepto más amplio de comprensión.
        ¿Vieron el brillo en sus ojos?
        Ciertamente no.
     El dolor de la exclusión era todavía una herida abierta, pero sostenida por el amor que la alimentaba, apareciendo de vez en cuando en forma de advertencia. Porque si cerraba los ojos en el silencio de la noche, podría encontrarlo. Letras sin melodía querían más que rimar o hablar hasta el agotamiento de la misma, adquirieron un nuevo objetivo: la sonoridad, para que llegara a corazones lejanos, al igual que las ondas de radio.
        Un amor como ningún otro, incomparable, porque a pesar del miedo a perder infiltrándose en una mente demasiado inquieta para deleitarse con el presente, cada día traía su encanto, su saber y en la cuenta final, los buenos tiempos hicieron posible la narrativa de esta modesta historia. Un amor como este que ella duda de encontrar de nuevo en el don de la vida.
        Si se marchaba después de estar en su corazón, la culpa sería una carga demasiado grande para unos hombros tan estrechos, tan infantiles, tan poco preparados para un largo viaje hacia la madurez, sin embargo, entre sufrir las suposiciones y correr riesgos, la primera alternativa era audaz de lo contrario. no habría una sola palabra para corroborar lo obvio.
        Ella lo amaba.
Amarlo también transformó su perspectiva de la vida. Incluso esa rebelión adolescente dejó de ser un escudo para convertirse en un propósito mayor que quejarse y permanecer en silencio, pasivo, esperando soluciones milagrosas. Allí se plantó la semilla más valiosa: su mente era el terreno fértil donde residía el bien y el mal, el discernimiento la guiaría, pero nunca le robaría su preciado derecho a elegir, con la condición de que las consecuencias no fueran ignoradas por el fanatismo.
        La vida y la muerte se batieron en duelo como rara vez se veía. Armados con sabias estratagemas e intercambiando miradas profundas, cada uno con sus argumentos defendió su por qué. En el centro, ella. Y dentro de ella, poesía. Los versos llenaron líneas ansiosas por no ser condenadas a la eterna estantería. Les gustó o no, sería por el tiempo ... ¡y sus trampas!
        Los números que muestra la escala mostraban el miedo a ese pasado lleno de dolores que ella luchó por perdonar, por replantear porque su apoyo era justo: no lo habría conocido si los caminos no tuvieran obstáculos y la ruta la llevara a otros rumbos.
        Ella lo amaba lo suficiente como para querer vivir, pero considerar una eternidad sin él era un alto precio a pagar, razón por la cual la muerte veía la vida con desdén. Los chicos inmaduros nunca te cortejarían por interés sincero (su objetivo estaba oculto por la sonrisa mansa de los lobos con piel de oveja), te ofrecerían seguridad, te veían solo como un trofeo a ganar, cumpliendo rituales aburridos, casi ensayados, porque amaba la diversión y las ganas de mostrarle al mundo que no estaban solos, cuando estaban vacíos de cariño para ofrecer, porque los regalos no lo deslumbraban. Su corazón estaba demasiado ocupado para la frivolidad. Deja que los versos misteriosos confundan a los curiosos.
        Para aquellos que ya han tenido sus cuerpos juzgados por no cumplir con las enfermizas expectativas de un estándar cruel, las crisis reavivaron un miedo que no era del todo irreal: el de una agitación cruel para quitar el amor y también la poesía, la sonrisa, el deseo de amar dibujarse un futuro feliz para sí misma, para ser quien sabía que podía, esa mujer escondida detrás de ese casco en el que la timidez se protegía de los más variados escollos, que no eran pocos.
       Un cuerpo deseoso de un toque familiar, aunque desconocido, diferente de todos los demás, sostenido por una mirada amorosa, un beso cuidadoso, calentado por el calor de otro, cuyas formas no serían imperfectas para quienes se dedicaran a él con devoción, despojándose también de su propia timidez. Detrás de los formalismos y capas de tejido, el descubrimiento de sus propios deseos, de los tan repudiados por quienes aún juzgan lo que no les concierne.
        La distancia se acortó cuando el amor cruzó las fronteras más inhóspitas, armado con el coraje que hoy ya no posee. Quien extraña su pecho es su añoranza ... por él, por la juventud que se fue hasta que él fue solo una huella en la arena, ya borrada por las olas del mar que van y vienen, de los sueños que palidecieron hasta que finalmente murieron con un corazón roto ... y ni siquiera midió qué sueños podían sufrir de una enfermedad tan cruel.
        En esas noches serenas de cielo despejado y el más puro silencio en las calles, las canciones sustituyeron al mítico café. Quizás poseer el don de viajar en el tiempo y disfrutar esos años dorados cada vez que el presente sofoca la esperanza. Impracticable. Sus tesoros no están guardados en arcas, son los recuerdos construidos con la herramienta que hizo posible la palabra, la corrección gramatical podía esperar, ya que la iniciativa sublimó los deslices de un principiante bajo tanto en el arte del amor como en la escritura. Hoy, el pulido es una necesidad, la manecilla del reloj siempre marcha en obediencia al propósito mayor. Seguir adelante. Nunca miran atrás.

Não será sempre assim

        


        Ela já fez as malas mentalmente um milhão de vezes, contou os trocados que guarda num potinho, pensou em embarcar num ônibus interestadual e descer no último ponto, numa localidade que nem sequer esteja no mapa, qualquer lugarejo onde possa deixar pelo caminho a inglória pecha de filha renegada e recomeçar uma história na qual enfim seja a protagonista e não uma personagem jogada ao acaso, sem função alguma senão ser sombra dos outros.

Por que abrir o caderno?

 


Foi numa tarde de domingo que o estômago embrulhou, a visão embaçou-se e uma dor lancinante me tomou de súbito. Numa sucessão de escolhas inequívocas cheguei ao que se entende por “fundo do poço”. E escolhi permanecer lá, a autocomiseração exerceu um poder invejável de persuasão, entretanto, conforme a resiliência ajudou-me a vislumbrar a fagulha de luz que me ajudaria a reencontrar o sol. Essa ideia vinha como um lampejo, mas, para prosperar, carecia de uma atitude corajosa o suficiente para não voltar às trevas. 

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