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Minha vida com o The Sims

Dormitório dos sonhos *-*

Sou Simmer desde 2008. Meu primeiro contato foi com o The Sims 2, instalado de fábrica no meu celular. O jogo não estava traduzido para o português, mas não havia motivo para pânico, aprendi a jogar bem rapidinho e muitas vezes a bateria chegava a acabar bem em um momento importante.
Anos depois, decidi experimentar 3 dias grátis de The Sims 4 e me apaixonei. Meu aniversário estava próximo e eu me presenteei. Para um ano turbulento como 2015, jogar era um dos poucos momentos em que minha alma encontrava algum alento. Nunca tive vontade de me criar no jogo, sempre curti imaginar meus personagens vivendo fora da minha cabeça. Naquela época, meu foco era A Filha do Meio, que estava no ar no Wattpad e, dentro do possível, tinha leitores bacanas, que me deram muita força e pelos quais possuo uma profunda gratidão, sobretudo à Lorena Gabriela, que foi uma espécie de beta e me encorajou a postar a história.
A Jana e a Tita têm propostas diferentes, mas o caminho delas, de certo modo, se estreita bastante. Em 2015, senti uma necessidade enorme de ter outros projetos, escrever outras histórias. Obviamente, errei muito, mas a intenção era fazer as pessoas conhecerem meus outros trabalhos para não ficarem sós quando a Tita fosse embora. Enfim, vamos voltar a falar do jogo.

ceci & edu | t r a i l e r #2


Saiu a segunda versão do trailer de ceci & edu e preparei tudo com muito carinho. O trabalho durou horas, pois requer atenção, precisão, um olhar atento para que a sincronia entre as imagens conte uma história sem precisar de palavras. Reconheço meu amadorismo, peço desculpas desde já e almejo melhorar para fazer um trabalho cada vez mais digno de quem me acompanha dentro ou fora da internet. Beijos e até mais. ♥

feliz dia dos animais ♥

 

Pitico tirando uma pestana no sofá.

Hoje é o dia de São Francisco de Assis, santo protetor dos nossos amigos animais.
Em algumas igrejas houve a bênção para os animais em caráter presencial e aqui neste cantinho aproveito para homenagear os pets da família: nosso cachorrinho, nossa periquita e nosso hamster.
Alguns dos nossos amigos também já estão no céu, logo vem a recordação do nosso saudoso Pé Grande (falecido em 15 de maio) e do Bebê (15 de julho), queridos amigos que permaneceram por um tempo em nossas vidas e partiram, ah, e do Flocão, da Nina, da Pandinha, do Pico, do Matt e dos doguinhos que acompanharam meus irmãos e eu ao longo de nossas vidas.
Você, que tem um bichinho, aproveite cada momento com ele, diga que ama, brinque, abrace, pegue no colo (se for possível), cuide muito bem, pois a vida desses anjinhos é tão curta, a nossa também, nada como ter gratidão por tudo e concentrar-se em viver o momento presente, seja ele bom ou não porque nesses altos e baixos nós aprendemos.
Você, que deseja muito ter um animalzinho de estimação, pesquise bastante a respeito do cuidado, verifique seu estilo de vida, se você poderá suprir as necessidades do seu bichinho, assuma as responsabilidades cabíveis a ele e saiba que você estará abrindo as portas do coração para receber um grande amigo que vai te ensinar valiosas lições sobre amor incondicional.
O post é dedicado ao primeiro pet das minhas novelas, o querido e inesquecível Pitico.
Pitico é o mascote da RPN. Esse cachorrinho preto de pelos longos é bastante fiel à sua tutora (ou mamãe) Jacky, gosta de tirar sonecas no sofá, passear, mas é um tanto quanto... bagunceiro... e deixa Noviça (mãe da Jacky e sua vóvis) de cabelos em pé por sumir com meias, destruir sapatos e querer dormir todo folgadão na cama, entretanto, apesar das broncas, o amor é maior.
O melhor amigo de Pitico é Scorpion, um São Bernardo tão travesso quanto ele, ambos vivem altas aventuras e também são queridinhos lá na redação da RPN.
O amor que Jacky sente por Pitico (e ele por ela) é muito lindo. Pitico não passava de um filhotinho abandonado, vagando nas ruas com fome, sede, sendo enxotado a vassouradas por pessoas escrotas, correndo o risco de morrer atropelado, até que uma linda e amável garotinha o notou e decidiu lhe dar água, comida e um banho. A mãe dela não queria cachorros na casa e foi uma batalha daquelas para convencer a mulher a deixar o cãozinho ficar. Desencontros, lágrimas, incertezas, mas para a alegria de todos, com um final feliz.
Há (praticamente) vinte anos esses peludinhos me roubam sorrisos, gargalhadas e me deixam derretida de tanta fofura. Com lambeijos do Pitico despeço-me por hoje. Um beijo e até mais!

RPN | CHORA MAIS, CASAL SEBOSO/FLAMENGO CAMPEÃO

 

Edu Meirelles cantarola o hino do Flamengo enquanto se arruma para ir trabalhar. Há quase um ano tem um item a mais no protocolo: as máscaras. As preferidas dele são as do time do coração e o desejo dele, não só dele como de todos, é que a vacina demonstre eficácia e mesmo que nada volte a ser como antes, a vida retome o ritmo, abraços sejam permitidos e todos possam celebrar.
           — Com essa doença eu não brinco. — Edu Meirelles diz a si enquanto lê notícias sobre decreto de lockdown em algumas localidades e recorde de mortes num só dia. — É, a vida tem cada surpresa. Em 2019 eu reclamava de barriga cheia, era feliz e nem sabia.
        A RPN optou por reprisar novelas antigas e disponibilizar o acervo no aplicativo da RPNPLAY para os noveleiros de plantão, exibir séries e documentários e os programas clássicos que vão ao ar adaptaram-se aos protocolos de saúde, visando sempre o bem-estar coletivo. 
Noviça topou reformular o Melhor com Noviça para se adequar ao momento atual e até que haja vacina e a pandemia fique sob controle, nada de plateia. Rubão apresenta o Programa do Rubão em casa.
    Os telejornais da emissora fazem uma cobertura digna, séria, esclarecedora, mas jamais sensacionalista e apocalíptica. A equipe do Vinte Horas está trabalhando para iniciar uma série de reportagens sobre as mudanças provocadas pela COVID-19 no Brasil e no mundo. Elas irão ao ar em março, quando completar um ano do decreto da OMS. Outra série de reportagens prevista para março é sobre a crise hídrica no Paraná, que levou ao rodízio de água para evitar um colapso que deixe as torneiras dos paranaenses sem água.

RPN | PROMETEU, TEM QUE CUMPRIR, MEIRELLES #deuruimpromengãomalvadão

 Que Edu Meirelles é flamenguista, todo mundo sabe. Que ele gosta de se gargantear e fazer apostas arriscadas, também. Mas, promessa é promessa, e quando dá ruim, o destino cobra sua parte.

Chamada atual do Vinte Horas

Se você já acompanha este blog há muito tempo ou pelo menos já leu algo da Família RPN, sabe que o principal telejornal da emissora é o famigerado Vinte Horas. Hoje compartilho a primeira ideia de chamada institucional do noticiário fictício.

RPN | A SAIDEIRA É POR CONTA DO MEIRELLES

 

Mascote da RPN veste o manto rubro-negro (Reprodução: criação pessoal da Mary)

É a primeira vez que um vídeo motivacional da Lulu não dá zica. Sim, ela preparou um vídeo especial para motivar o Flamengo a voltar a uma final de Libertadores após 38 anos — motivo de alegria para qualquer flamenguista que se preze e para esta flamenguista que os escreve.

Diga que me ama (cap. 10) ele fala


        Você já está nos braços de outra pessoa, amando e se deixando amar. Vocês formam um belo par. Ainda assim, dói. Meus sentimentos estão bagunçados. Alegro-me por saber que depois de todas as desilusões que lhe furtaram a fé, seu coração te guiou com a razão e as portas se abriram para que alguém adentrasse e cuidasse um pouco dessa alma incrível. 
Por outro lado, não serei hipócrita: eu queria ser essa pessoa que te proporciona tantos sorrisos, com quem você imagina um futuro ao lado, ainda que não possa mudar os fatos. Te ver sem poder te tocar, te sentir, ter qualquer esperança de te provar que meu apreço sempre foi verdadeiro, me martiriza sobremaneira. Preciso aceitar que agora você é meu maior impossível.
Queria te abraçar sem pressa e deslizar as mãos pela sua cintura, deixar os dedos correrem por entre os seus cabelos e te beijar. Eu ainda me lembro do seu gosto, deixou saudades no céu da boca. Seu cheiro na fronha do travesseiro, as pontas dos dedos curando feridas que a insegurança encobria com camadas de vaidade. Hoje te enviei aquela música, talvez tenha colocado tudo a perder, porque as mágoas não são muralhas que impedem o contato. Lágrimas não choradas nos surpreendem. Somos tão francos com o papel, libertamos nossos pesos conforme as páginas avançam.
Você se lembra de quando demos nosso último beijo? Sabíamos que seria o derradeiro? Havia algum sinal que não interpretamos muito bem ou fomos vítimas de uma sucessão de desencontros?
        Não quero te constranger te perguntando a respeito da música porque ela, por si só, diria muito mais do que eu, em minhas tentativas pífias de escrevinhar uma resposta digna. Melhor acreditar que te marquei por saber que The Corrs é uma das suas bandas favoritas. Poucos têm conhecimento de que você ainda guarda com carinho os CDs e discos ganhados e comprados. Forgiven, not forgotten é um deles. 
        Ora bolas, você está comprometida. Quase dez anos se passaram desde o nosso último beijo. Seguimos o curso de nossas vidas, nos permitimos beijar outros lábios, dormir em outros braços, encarar desafios e provações. O tempo não parou. Nossas escolhas nos levaram a estar onde estamos hoje. Se decorresse o inverso, a abnegação seria sua prova mais de pura de amor. 
Você viu Yasmin nos braços de outro rapaz e mesmo com o coração quebrado por saber que eles se envolviam enquanto vocês estavam juntas, seguiu em frente e decidiu cuidar um pouco mais de você mesma, não focou sua energia em planinhos ridículos de vingança.
       Ainda me lembro dos seus longos cabelos castanhos cobrindo a cintura, daquele vestido de verão branco com estampas florais e manga ciganinha que você usava naquele happy hour de ano-novo, do colar cujo pingente era um coração vazado, de seu sorriso também. 
Você me disse uma vez não se sentir bonita. Isso ainda se dá por você nunca ter enxergado sob as lentes de quem a ama. Se fosse capaz disso, se surpreenderia. Porque me surpreendi com a intensidade das batidas do meu coração quando nossos olhares se encontraram naquela mesa cheia de gente risonha e paqueradora e nos cumprimentamos pela primeira vez.
        Você estava desacompanhada e não usava anel de compromisso. A noite era longa. Amigos se reuniam e colocavam a prosa em dia. Suas amigas estavam trocando amassos com os companheiros enquanto você conversava e parecia até um pouco deslocada, não exatamente por não ter um par, mas porque não estava em seu lugar.
        — Está esperando alguém?
        Você fez que não com a cabeça.
        — Tudo bem se eu me sentar aqui?
        Você me perguntou se eu era quem era, confirmei com um sorriso e então me lembrei de uma moça bonita a qual alguns amigos meus comentavam, que apesar do talento não ascendia na profissão porque não dormia com o patrão. Não se aborreça comigo, mas era o papo que rolava entre amigos em comum, que a Cláudia Barreto só se tornou âncora do TVTV News porque saía com o Sr. Velloso, enquanto você, que havia estudado por quatro anos, feito pós-graduação e vários cursos livres, era preterida, apesar de talentosa.
        Essa moça bonita era você, também conhecida por não dar moral a ninguém.
As línguas maldosas diziam que você almejava ser à preferida do velho Velloso e por isso não assumia nenhum relacionamento. Outros já questionavam sua orientação sexual, embora naquela época você não falasse a respeito, fosse por medo de portas fechadas ou por separar vida pessoal da profissional com a maestria que poucos de nós conseguimos.
        — Pois é, tenho que estar de pé às sete. — Você deu de ombros. — Estou de plantão, por isso não vou beber nem um golinho, só vim dar um abraço no pessoal…
        — Não vai nem acordar para ver os fogos?
        — Talvez… — Você me respondeu, sorridente, e a conversa fluiu tanto que, por mais que seus sinais não fossem tão claros, a ideia de dormir com você se agigantou dentro de mim. Se você também curtia viver intensamente sem problematizar tudo, trato feito.
        — Depois do plantão, você vai ter uma folguinha? — Arrisquei, porque tudo que poderia ouvir de você era um não e até onde sei, ouvir não faz parte da vida. Pior do que ele, o nada, o nada que poderia ter sido tudo, a teia destrutiva da suposição.
        — Não. Sigo na labuta. Não paro nunca. — Você me respondeu.
        — Nem gripe te derruba? — Brinquei.
        — Só gripe e olha lá.
        A primeira impressão nem sempre é a mais correta, mas a sua desmontou todas aquelas teorias da conspiração que pipocavam a seu respeito. 
Naquele instante, vi uma jovem jornalista focada batalhando para construir uma reputação ilibada no trabalho, dedicada, entretanto, esgotada e ferida pela total falta de reconhecimento, sem oportunidades reais de ascensão.
Gozei desse privilégio, não posso negar; só agora me dou conta disso, de que o caminho que você trilhou para estar onde está, foi muito mais repleto de buracos, trechos íngremes e curvas perigosas. No entanto, para a felicidade geral, você nunca se intimidou nem com a pior das tempestades.
        — Me passa seu número?
        Meus planos para 2009 eram os de sempre, comuns a todos nós, os clichês que repetimos para que se tornem verdades. Aquele que brotou quando 2008 já se aproximava do derradeiro fim, foi te ver naquele novo ano, te ver nem que fosse uma só vez, quiçá a última.
        E você me passou seu número, aproveitando o ensejo também para se despedir da turma. Provavelmente até hoje você pensa que flertei com outra moça e passei a virada do ano acompanhado.
       Pouco depois que você saiu, eu poderia, sim, ter entornado vários drinques e me divertido com outra. Em vez disso, voltei para casa e passei a virada vendo televisão, olhando para o seu número gravado na minha agenda e pensando se seria muito atrevimento te deixar uma mensagem de feliz ano-novo.
        O tal do “escrevi, mas não tive coragem de enviar”.

Diga que me ama (cap. 2) - por Ceci



Amar o amor é muito diferente de aprisioná-lo em uma convenção atulhada de regras quase sempre egoístas, egocêntricas e retrógradas. Próxima dos 30 anos, as comparações com primas da mesma idade que já haviam deixado a vida de solteiras para construir famílias era constante. Olhares de piedade vindos das tias mais velhas que me pediam para “não perder a esperança”, como se o fato de não estar comprometida nos moldes mais tradicionais me condenasse a uma existência sem brilho.
Eu já não era mais uma foca na redação. Trabalhava arduamente e os imprevistos combinavam tanto quanto meu figurino. Às vezes preterida, às vezes esperançosa. A carreira era o foco central da minha vida, afinal, dela vinha (e ainda vem) o pão de cada dia. Vinha lutando para um propósito maior do que me sentar em uma bancada e passar dez ou até vinte anos (isso com sorte) fazendo o mesmo, muitos colegas nossos pereceriam por tudo isso. 
Eu buscava um sentido no ofício, um meio de me realizar como pessoa e compartilhar com a comunidade o aprendizado diário nas atividades que executava dentro e fora do ambiente de trabalho.
Meu coração, se assim pode dizer, estava ocupado demais para joguinhos estúpidos e pessoas que atravancassem meu caminho com possessividade e egoísmo. Não posso dizer que sempre sonhei em me casar de véu e grinalda e brincava de casinha porque seria uma tremenda hipócrita. Estava sempre metida nas partidas de futebol de rua com os meus irmãos, batendo figurinha, construindo carrinho de rolimã, passando longe de ser aquela menininha-padrão que toda mãe sonha em colocar frufru no cabelo e vestidinho com bainha de renda. 
Eu herdava a roupa dos mais velhos — o que podia ser aproveitado, sentia-me confortável, escaramuçando até a Vó Hilda gritar da janela do apartamento: “pra dentro, cambada!” e vivia cada dia de uma vez, sem me preocupar com o amanhã ou com o que pensariam de mim, eu estava ocupada demais me divertindo.
Tudo mudou quando eu estava com doze anos e meio. Eu já notava algumas mudanças no meu corpo, sobretudo em relação à estatura, que impressionou, porque as outras são irrelevantes ao contexto. Teria futuro enquanto levantadora, se assim desejasse, altura eu tinha. Poderia pensar em jogar basquete também. 
As transformações que encerrariam minha infância seriam mais cáusticas, profundas e inquestionáveis.
A família sempre foi o meu grande pilar. Não era novidade para ninguém que os parentes promovessem uma grande reunião no Natal e no ano-novo, oportunidade para os primos se reverem, colocarem as conversas em dia e brincarem até adormecerem nos colchões dispostos na sala do apartamento de vovó. 
A preparação começava cedo, com a Vó Hilda assando os perus e a Tia Zuleica, minha madrinha, correndo no mercado para comprar algum ingrediente que faltou, enquanto o Vô Ariosvaldo preparava o salão de festas do prédio porque a maioria dos moradores viajava durante o recesso.

****

1994 foi um ano bastante difícil e movimentado. Tivemos a perda do Senna, devastadora para o meu pai e meus irmãos mais velhos que apreciavam a Fórmula 1 até aquele sombrio primeiro de maio.
Em julho, com ou sem tetra, meu aniversário estava garantido, mas depois daquele pênalti que rendeu à seleção canarinho o quarto título mundial, não me importei em ser “esquecida”, meu aniversário foi dois dias antes. 
Triste foi perder minha cachorrinha Susi, uma vira-lata cor de caramelo, minha parceira desde os 4 anos. Ela se assustou tanto com os foguetes e rojões que fugiu do festerê no salão de festas, foi encontrada esmagada debaixo da roda do carro de um amigo do meu pai.
Esperava que 1995 fosse melhor, mesmo estando naquela fase em que quebraria todos os espelhos do mundo sem me importar com as superstições relacionadas. Fiz questão de usar o cropped branco de rendinha e a saia rodada cuja barra ficava a dois dedos das minhas coxas finas. Era presente da Dinda, não podia fazer desfeita.
Meus irmãos me achincalhavam dizendo que minhas pernas pareciam duas varetas. Eu estava medindo quase o mesmo que o papai e só não cheguei a ser modelo de passarela, apesar dos inúmeros clamores, porque nunca quis parar de comer e ser um cabide humano, descartado tão logo aparecesse outra de treze que contemplasse às expectativas. Zuleica me dizia que aquela fase de insegurança, angústia e inadequação daria espaço para algo muito maior, para a minha percepção real do que significava ser mulher.
Com a Dinda eu era totalmente transparente. Pelo fato de meu pai ser médico e minha mãe enfermeira, minha madrinha era uma figura de autoridade com quem podia desabafar naqueles tempos em que tinha tantas dúvidas, tantas curiosidades, tantos desejos. 
Ela morava com os pais para cuidar deles, porém trabalhava e custeava os próprios caprichos. No meio daquele ano pretendia conhecer Machu Pichu, no Peru, e queria me levar junto, com a condição de que eu me comportasse bem em casa e tirasse boas notas na escola.
Nosso último abraço sempre terminava com um “até mais” depois que eu pedia a bênção. Não tinha nenhum indício de que seria o último. Ela não tencionava nem por um segundo dar cabo da própria vida, amava acordar toda manhã, acender incensos para fazer suas preces matinais e nunca saía de casa com a barriga vazia. Vovô reclamava do aroma de mirra que se expandia por todo o apartamento. Para agora, Zuleica seria um exemplo de mulher empoderada que jamais precisou de um namorado ou marido para deixar um legado.
Falecer aos 42 anos era impensável. Jovem demais. Machu Pichu a esperava. Aquele ano e tudo o que perderia. Eu precisava dela mais do que nunca. Eu a amava mais do que a minha própria mãe. Muito, muito mais.
Quando acordei naquele fatídico primeiro de janeiro de 1995, lá por volta do meio-dia, escutei a choradeira na sala. Pensei que Drica, minha irmã caçula e pimentinha, havia aprontado das dela. Da última vez que bancou a engraçadinha, levou quatro pontos na testa, mas Adriana, de cócoras ao lado do sofá, observava aquela movimentação tensa com os olhos negros, bem arregalados.
— Que ano! — ironizou meu pai. — A Zuleica morre assim e agora a mamãe vai parar no hospital.
— E queria o quê, homem? Que sua mãe comemorasse a perda da Zuleica?
Mamãe me viu pelo corredor e a expressão tensa em seu rosto tanto poderia ser uma reprimenda em relação ao meu comportamento, como um sinal para o tal do “precisamos conversar”.
Minha madrinha tinha mania de limpeza, nunca dormia sem guardar toda a louça, por mais que vovó insistisse que daria conta de tudo pela manhã. Zuleica se angustiava com louça suja e fora do lugar, chão cheio de migalhas e vasos de lixo transbordando.
Meus avós costumam rezar o terço antes de dormir. Eram católicos fervorosos. Se tivessem dormido tão logo os convidados se despedissem, não ouviriam o estrondo vindo lá da cozinha. Foi um ataque cardíaco fulminante, igual ao da personagem de uma novela que passou no ano anterior e a qual amávamos muito.
Saí de casa para desmentir minha mãe e por mais que apertasse a campainha do apartamento dos meus avós até o dedo indicador ficar roxo, ninguém me atendia. 
Quando notei que a caravana voltava não para celebrar e sim para lamentar, fugi pela saída de emergência e corri até onde minhas pernas de gazela desengonçada suportaram, queria que meu coração parasse também.
Viver havia perdido todo o sentido.
Naquele dia, perdi completamente a noção das horas, me escondi na copa de um pé de ameixa que não ficava muito longe do complexo residencial onde meus avós e a Dinda residiam, não porque fosse indiferente à dor dos demais, mas porque precisava daquele momento comigo mesma. Não queria ver Zuleica presa a um caixão escuro, todo fechado. Tinha ciência de que não poderia passar o resto dos meus dias escondida e que não queria voltar para casa.
A morte da minha madrinha abalou as estruturas emocionais de todos. Vovó teve várias crises de hipertensão durante o sepultamento da filha do meio e meus pais sofriam porque tinham noção do efeito dominó. Meus irmãos lamentavam o falecimento de uma tia próxima e querida, contudo, não a amavam como eu a amava.
Tudo perdeu a graça: comemorar aniversário, brincar com as outras crianças na rua, até mesmo estudar. Só não repeti de ano, seria uma humilhação ficar atrasada em relação aos meus amigos, por mais que não sentisse vontade nenhuma de interagir com ninguém e em alguns momentos carregasse a culpa por não ter forças para superar a perda da pessoa que mais me amava no mundo.
Meus pais me amavam, todavia Drica, por ser a filha mais nova, recebia mais atenção. No outro extremo o Sérgio, o primogênito, que estava em ano de prestar vestibular e seria o primeiro Paternostro da geração a terminar os estudos regulares.
Só de ver a chamada do Réveillon do Rubão na televisão eu já entrei em pânico. A família tomou a decisão de manter as tradições, mas a Cecília de um ano antes não era aquela que surrupiou uma garrafa de bebida destilada e uma cartela dos comprimidos que meu avô utilizava para manter a pressão arterial em níveis estáveis.
Pela primeira vez na vida não me interessava nem um pouco em receber um ano, escolher roupa branca ou fazer penteado especial. Aquele que se passou como um borrão na memória não deixou saudades. Primeiro de janeiro sempre traria consigo a lembrança de uma dor que nunca passou por completo.
 Ainda hoje não sou simpática ao ano-novo, motivo pelo qual preferiria trabalhar para poder dormir durante a queima de fogos e ficar quase sozinha numa redação vazia e carente de grandes reportagens, posto que salvo alguma tragédia ou evento político, os primeiros dias de janeiro costumam ser pouco movimentados.
Despertei numa cama de hospital, vendo meus pais e irmãos se controlarem para não chorar. Um médico, amigo de longas datas do meu pai, desconfiou de tentativa de suicídio, no entanto, ninguém queria falar sobre aquele assunto tabu e me encher de perguntas. 
Papai sempre diz que quem me salvou foi Drica, pulando na minha cama para me acordar e ver a queima de fogos. Ao notar que eu não reagia, puxou as cobertas, gritou na minha orelha, puxou meu cabelo e, aos gritos, chamou meus progenitores, esperando que eles me dessem uma bronca por dormir na hora da virada.
Dez anos atrás, numa balada de ano-novo, conheci você…

(COISAS QUE VOCÊ SÓ VÊ NA RPN) RELÍQUIA: A lua-de-mel fracassada #2


Mesmo arrasado, o jornalista continua seguindo o casal para se certificar de que não está caluniando a esposa porque a Sr.ᵃ Velloso também é reverenciada na mídia pelo corpo escultural, apesar das raras aparições, só que ele confirma o que jamais esperou: que Luciana poderia traí-lo.

Patriota de ocasião

Nesta manhã em que todos estão em ritmo de festa, queria que você estivesse aqui pra eu trocar umas ideias. Ninguém mais no mundo me entenderia.
Você nunca escondeu de ninguém que detestava copa do mundo e tanto falava sobre “pão e circo”. Eu não atinava bulhufas, queria o penta. No outro quarto estava a “do contra”, que se não desligava a tevê na hora das partidas, torcia para que a empáfia da seleção arrefecesse.
Quando menina, eu era aquela criaturinha ingênua que vibrava, chorava, torcia, assistia às partidas da Argentina pra secar os meus irmãos portenhos, amarrava a cara quando alguém me dizia não estar no clima porque achava inadmissível um brasileiro não torcer pelo Brasil.
Hoje, vinte anos depois, sou uma dessas pessoas. Desencantada com a política podre que se faz nesse país, com a roubalheira que desonra o progresso e inclusive norteia o futebol.
Sou eu um pedacinho de você, vendo o bezerro de ouro do cabelo bizarro sendo tratado como um deus, todos alienados e idiotizados em frente ao aparelho de televisão, comemorando o desempenho de uma seleção medíocre. E eu, aquela que desejaria morar em outro planeta para não ouvir falar de copa do mundo ou que em segredo torce por outro 7 × 1.
Como queria que você tivesse visto e rido daquele fiasco. Suas palavras continuam tão atuais, embora ainda representem a minoria que não segue a caravana.
O bezerro de ouro e seus coleguinhas de equipe serão os únicos beneficiados com o hexa. Dois milhões na conta de cada um, milhares de anúncios publicitários, destaque para a chegada dos produtos midiáticos, para o casamento do craque no segundo semestre.
E você, meu caro cidadão? De onde vem essa intolerância com quem não torce pela seleção? O bezerro de ouro já quitou seus boletos, garantiu seu fundo de aposentadoria e alfabetizou seu filho, garantiu uma vaga para ele na faculdade, custeia as despesas do plano de saúde?
Porque para tão inflamada defesa a quem nem sequer se importa se você respira, é a única explicação.
Enquanto a bola rola em campo, a quadrilha que nos governa dança quadrilha e rouba o nosso pão. E o circo está armado em campo, com tombos do craque, muita marra e pouca arte, muito marketing e pouca atitude, muita pompa e nenhuma humildade. 
Buzinam os tolos para o bezerro de ouro. Gritam gol, se vestem de verde e amarelo, pensam que aqueles que não gostam de copa odeiam o Brasil. Patriotas de ocasião.
Do meu lado todos comemoram, mas o cristal se quebrou dentro de mim. Torço pelo Brasil, mas não pela seleção. Me desculpe por não ter te ouvido, por não ter valorizado sua sabedoria. Vinte anos depois queria te dizer que evoluímos, todavia estamos atolados no caos, em todos os sentidos, e não vai ser uma taça de copa do mundo que vai alterar essa situação.
O futebol feminino dá um espetáculo, mas ninguém veste camiseta, assopra corneta e prepara um balde de pipoca. Ninguém vibra pela Marta, pela Formiga, ninguém apoia as meninas que jogam bola e fazem bonito.
A saúde agoniza, a educação pede extrema-unção. No entanto, todos estão contentes porque vão entrar mais tarde no trabalho, encher a cara e compartilhar memes inúteis e ridículos. Pois bem, vida que segue. Nós, que somos diferentes, sofremos porque nunca somos compreendidas da maneira que gostaríamos.
Tomara que sua profecia se cumpra de novo e a França seja bicampeã porque aí as lonas se desarmam, o circo acaba e o mesmo bezerro de ouro que hoje é aclamado, queira Deus que, amanhã ou depois, seja colocado no seu devido lugar, de um reles mortal. Sem mais.
Amem-me ou odeiem-me, a copa perdeu o sentido para mim desde 2006. Herói para mim é o pai de família que se dana com um salário mínimo para sustentar o lar, que chova ou faça sol se vira nos trinta para que a comida na mesa nunca falte e não um jogador arrogante correndo atrás de uma bola porque fazer gol é obrigação dele. A propósito, tem gente que joga muito mais, mas a mídia precisa do seu bezerro de ouro, eis que a ocasião suscitou um herói de ocasião para a nação continuar alienada.
Amem-me ou odeiem-me, essa é a minha opinião. Do contra até o fim, que venha o bi da França, sim.

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