Mesmo arrasado, o jornalista continua seguindo o casal para se certificar de que não está caluniando a esposa porque a Sr.ᵃ Velloso também é reverenciada na mídia pelo corpo escultural, apesar das raras aparições, só que ele confirma o que jamais esperou: que Luciana poderia traí-lo.
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Nesse mesmo momento, lá no Brasil, a bolsa de Renata estoura e ela telefona para Bilu, que chega ao apartamento com Samantha, Christiane e até Noviça, toda esbaforida, pode perder o emprego, mas não o babado. Todas elas seguem até a maternidade.
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Enquanto isso, Luciana, lá nas Ilhas Maldivas, chora para terminar de manipular o velho Velloso:
— Eu nunca fui amada por nenhum homem, sou sempre vista como um objeto nas mãos deles, todos só se prevalecem do fato de eu ser bonita...
— Eu não. Eu sou diferente.
— Todos me dizem o mesmo.
— Eu digo e cumpro.
— Olha o meu azar, Sr. Velloso. Quem tem inveja de mim só perde tempo! Eu sou uma atriz jovem, linda, famosa, popular, com um nome conhecido, mas não sou amada. Tenho fãs que me idolatram, saio em capas de revistas, os invejosos fazem mais propaganda de mim ao me difamarem. Todos pensam que sou feliz porque estou sempre sorrindo, mas não sabem que não tenho tudo. Não tenho o que mais queria na vida. O amor. O amor, Sr. Velloso. O amor. O que eu mais queria na vida, eu não tenho e logo quando encontro um homem que me ama, me deseja e me trata como uma rainha, ele é casado.
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Edu Meirelles está devastado, nunca imaginou que um dia se sentiria como Renata. A humilhação de descobrir uma traição destrói o brio de qualquer ser humano. Então, ele vai para o quarto chorar, disca para a casa da ex-companheira, sentindo vontade de ouvir a voz dela, porém chama até o final e ninguém atende.
— Renatinha, meu amor... Eu sei que eu fui um canalha com você, mas me atenda, por favor! Por favor! — chora ele, pensando na música “Um dia um adeus”, do Guilherme Arantes, porque pode se lembrar de Renata chorando quando o viu entrar na igreja para se casar com a narcisista atriz.
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Renata talvez atendesse a ligação se não estivesse em trabalho de parto, o teor da conversa ninguém sabe, pois talvez a dramaturga entendesse como afronta ou deboche da parte dele, não se sabe ao certo. Nem imagina ela que ele já está decepcionado e arrependido amargamente de tudo.
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Quando a pequena Monique chora pela primeira vez no Brasil e quem segura nas mãos de Renata é Noviça, Luciana entra no quarto do casal no hotel onde ela e Edu Meirelles estão nas Ilhas Maldivas.
Ele é obrigado a fingir um sorriso quando a vê porque mesmo sabendo que em mulher não sabe nem com uma pétala de rosa, o ódio que sente é tamanho que não contém vontade de dar umas bofetadas no rosto dela.
— Oi, Edu! Não acredito que vai passar o restante da nossa lua-de-mel enfurnado nessa suíte? — instiga ela.
— Já estou cansado desse lugar.
— Cansado daqui? Cansado dessa vista paradisíaca? Você só pode estar louco! Por mim, eu moraria aqui para sempre!
— Pensei que estivesse cansada de mim!
— Eu, meu amor? É claro que não! — Ela abana as mãos. — Bobagem! Mas entenda que eu sou uma atriz, uma atriz muito famosa e acabo sempre me encontrando com meus amigos artistas por aqui, eu sou artista e você vai ter que se acostumar que se casou com uma mulher bonita e poderosa que vai te ofuscar um pouco, vai ter que lidar com meus fãs porque até aqui nesse hotel eu tenho fãs me esperando...
— Você disse que não suporta dar autógrafo...
— Fã brasileiro é escandaloso, mas fã estrangeiro é classudo. Outro nível!
Luciana descalça as sandálias e se senta na ponta da cama:
— Ai, meu amor! Estou radiante! A novela foi vendida até para Ilhas Maldivas e todo mundo aqui ama a Cassandra e torce contra a idiota da Felícia. Gente finíssima, não acha?
Edu Meirelles apenas assente com a cabeça.
— Você acredita que estou recebendo tantas propostas para atuar que eu acho que a gente vai ter que adiar a chegada do nosso primeiro filho?
— Hum, sei...
— São propostas bem atraentes. Você não acha?
— Quem tem que achar é você!
— Posso até fazer um papel pequeno numa comédia romântica em Hollywood, o que seria demais para mostrar para aquela recalcada da Jandira Paes que quem nasceu para Cristal nunca vai ser Lulu. Ela e a laia de recalcadas teriam um troço de tanto ódio. Imagina se me torno a nova sensação dos gringos?
— Interessante!
— É uma comédia romântica que estreia no final do ano que vem, meio brega por ser natalina, mas meu papel, pelo que falaram, seria fofo. Até na Índia, sou conhecida e me querem para um drama de época. Lá, eles adoram novelas longas de época e me querem como protagonista de um drama arrebatador. Fui convidada até para ser apresentadora de um show de talentos aqui nas Ilhas Maldivas. Emissoras argentinas, mexicanas... Todas atrás de mim. A mexicana me fez uma boa proposta: eles estão exibindo a Cassandra por lá, todo mundo AMA a Cassandra e ME amam também, então uma emissora muito popular por lá me convidou para conhecer as instalações, o México, tudo na faixa, convidaram até você. Se o negócio vingar, vou precisar de umas aulinhas de espanhol. Sei que você manja muito de espanhol e fala muito bem.
Edu Meirelles boceja.
— Sou tão entediante assim?
Luciana tenta partir para cima de Edu, mas dessa vez ele a rejeita.
— Não acredito... — dispara ela. — Não acredito que você está com inveja de mim!
— Inveja? Inveja do quê?
— Eu conto tudo de bom que aconteceu e você fica aí com essa cara de choro...
— Quero voltar para o Brasil, a trabalhar...
— Mas eu quero ficar!
Edu Meirelles sabe que, para pedir o divórcio, precisa ter um bom argumento que justifique isso logo no início do casamento; por isso, resiste à vontade de tirar satisfação.
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Enquanto isso, no Brasil, a RPN está em festa com o nascimento da pequena Monique.
O quarto onde mãe e filha descansam depois do parto está todo enfeitado com balões coloridos, vasinhos de flores, cartões de fãs de todo o país que lhe enviam amor e solidariedade, além de enxoval para o bebê, pois a maioria das pessoas (especialmente a mulherada) se dói por Renatinha e quer que ela dê um final horroroso para Cassandra Sotomaior.
Bilu passou na casa da amiga para checar a agenda telefônica e não pôde evitar a curiosidade ao ver aquele número estranho.
— A pessoa deixou mensagem? — pergunta Renata, amamentando Monique, esperando que fosse Edu.
— Não, mas o número ficou gravado no identificador de chamadas!
— O Edu é que não seria! — reflete ela. — Ele e a Luciana devem estar se divertindo muito à custa do Rubão lá nas Ilhas Maldivas.
— Eu não sei, não! — atiça Noviça. — Com o Vivaldo era a mesma melação e hoje em dia nem se olham na cara! Eu, se fosse homem, não ficava com essa daí, a vida começa a andar para trás!
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Edu Meirelles teve tempo de conhecer bem o hotel e fazer amizade com a copeira que traz as encomendas para a suíte especial onde Luciana e o Sr. Velloso se encontram. Eles comunicam-se em inglês.
A mocinha trabalha para ajudar no sustento da família e sonha em se casar com o namorado. Para ela, cujos princípios morais são pautados em tradições familiares e religiosas, a traição é algo horrível e imperdoável. Para não se expôr, Edu narra a história de um amigo supostamente traído pela esposa em plena viagem de lua-de-mel e a jovem aceita ajudá-lo. Ela afirma sentir-se comovida pelo ocorrido, no entanto, adverte o risco de perder o emprego se a situação sair de controle.
— Juro que você não vai se envolver em encrenca nenhuma.
Ele olha para o uniforme dela e apenas pede uma peruca emprestada porque o plano todo já está arquitetado em sua mente. Ela dá uma piscada de olho com o canto direito e arranja um aplique preto, uma meia-calça escura para disfarçar os pelos na perna e espera que o traje sirva.
Edu Meirelles se olha no espelho do banheiro dos serviçais e, por sorte, conseguiu um uniforme maior porque o daquela mocinha era meio pequeno porque ela é pequena e estreita.
A copeira ensina Edu Meirelles a servir um hóspede, todos os procedimentos-padrão e avisa quando chega um pedido da “suíte do pecado”, mas em vez dos champanhes caros, lagostas e outras iguarias, o jornalista faz melhor: entra naquele carrinho quando a mocinha bate na porta do quarto. Quem atende é o velho Velloso, com uma toalha branca enrolada da cintura para baixo.
O Sr. Velloso não costuma dar conversa para serviçais, mas Edu Meirelles sai de surpresa do carrinho antes dele fechar a porta e o surpreenda com um murro no rosto. O homem cai no chão e Luciana, que estava vestindo um roupão atoalhado após sair da banheira, ao ver o amante caído, dá um grito:
— Socorro!
Edu Meirelles desfere outro murro no rosto do Sr. Velloso e os dois se atracam no chão.
A copeira sai correndo, apavorada.
Luciana tenta se defender de Edu Meirelles desferindo travesseiradas nele que revida e fala umas verdades para ela, porém como o Sr. Velloso está hipnotizado pela atriz e acreditou naquele caô dela de que o jornalista é homossexual, amante do Rubão e o casamento foi armado pela produção do Programa do Rubão, acaba humilhando o jornalista.
— Ah, quer saber a verdade? — desabafa Luciana depois que a gerência do hotel é chamada e, para abafar escândalos, o Sr. Velloso suborna o gerente. Ela já está vestida e recomposta. — Desconfio de que você seja amante do Rubão sim e venha com esse papo de harém porque não tem coragem de sair do armário porque a Samantha saiu e tomou na tarraqueta!
— Bom, seja franca, então admita que me usou só para conseguir o papel da Cassandra — grita Eduardo.
— Ah, quem você pensa que eu sou, seu merdinha? Eu não sou você que morde fronha com o Rubão para se manter na RPN. Eu tenho nome, consigo os papéis por mérito próprio. Não sou você que trabalha de quatro para ser um repórter muito do reba, um fracassado, tão fracassado que não vai apresentar o Vinte Horas NUNCA.
— Olha o respeito comigo porque você vai ter que provar o que anda falando. — Reage Eduardo diante da calúnia que lhe machuca.
— Se você não der o fora desse quarto, eu vou chamar a polícia! — ameaça o Sr. Velloso, se sentando ao lado de Luciana na cama e tendo a coragem de beijar os ombros dela diante de Eduardo.
— Você vai pagar por estar fazendo isso comigo! — roga Edu Meirelles, humilhado, olhando para os olhos dissimulados de Luciana, que agora que já conseguiu o que queria, pouco se importa com os sentimentos do marido ou ex-marido.
— Cadê seu namoradinho? — debocha Luciana, olhando para todos os cantos.
— O gigolô não sobrevive sem o cafetão... — completa o velho Velloso, inclinando para trás e dando uma gargalhada diabólica.
— Ô! Vê lá, hein? Vocês me respeitam!
— Respeito? — Luciana ri como se alguém lhe tivesse contado uma piada muito engraçada.
— Você está me caluniando, difamando e, acima de tudo, o que é pior, me traindo. EU QUERO O DIVÓRCIO!
— Que não seja por isso, queridinho! Fazer fio terra não é comigo. Seja macho e se assuma.
— Não ouviu o que ela disse? — ralha o Sr. Velloso. — Ela já te mandou cair fora ou, além de tudo, você é surdo?
— Eu não vou embora enquanto não acertar as contas com essa vagabunda.
— Mais respeito com a minha mulher, Ô bichona!
— Cala a boca, seu velho imundo, que estou falando com essa vagabunda. O assunto é entre mim e ela.
— Mulher minha, você não chama de vagabunda! — retruca Velloso, que já anda dando indiretas para a mulher de que quer o divórcio e ela será obrigada a aceitar devido ao montante oferecido para calar a boca.
— É o que ela é. Uma vagabunda. VA-GA-BUN-DA.
O Sr. Velloso se levanta da cama, torce o braço direito de Edu Meirelles e o conduz até uma parede onde o encurrala, aproximando-se bem do ouvido dele e entoando ameaças graves.
— Se você quiser continuar sendo conhecido pelo harém, é melhor que não dê um pio sobre a Luciana por aí porque, do contrário, chaveirinho do Rubão, eu vou até o fim do mundo que você estiver, arrebento todos os ossos da sua cara e te faço não conseguir emprego em lugar nenhum. Eu sou um cara da paz, um cara legal, mas você está mexendo com a minha mulher e eu não admito isso, então, pelo bem de todos, faça suas malas e CAIA FORA DAQUI, ouviu bem? CAIA FORA DAQUI! Eu estou te dizendo, sou um cara legal, generoso, gentil, boa pinta, não gosto de encrencas, então se você não quiser se encrencar comigo, não chegue perto da Luciana porque do contrário eu tenho no meu cofre um revólver. Eu não gosto de usá-lo, só o faço em ocasiões especiais, mas pode ser que hoje Lulu misteriosamente fique viúva e quem dará a falta de você, seu paspalho fracassado? FRA-CAS-SA-DO. Um repórter que é uma piada, uma piada sem graça. Ele todo é uma piada, não é não, amor? Até que não seria mau negócio liquidar esse vermezinho!
— Então que não fique só na promessa... — provoca Edu Meirelles, disposto a partir para o tudo ou nada.
— À vontade do freguês.
Luciana sente vontade de rir, mas se controla porque precisa continuar se passando pela mocinha indefesa usada pela RPN como fonte de dinheiro, que o casamento com Edu Meirelles foi armação da emissora para alavancar a publicidade da novela.
— Amor, não! — suplica Luciana, que, no fundo, queria que o Sr. Velloso abrisse o cofre não só para ver Edu Meirelles ser formalmente intimidado, mas para saber se lá ele guarda dólares, euros e reais, além de joias, relógios, tudo que será dela no tempo certo se mantiver a postura.
— Esse revólver está cheio de munição, não quero ser obrigado a sujar meu paletó de sangue logo no dia em que minha princesa está me dizendo sim!
— Covarde! — retalia Edu Meirelles.
O Sr. Velloso tenciona abrir o cofre, mas Luciana age como faria Dara, a gêmea boa da novela, se jogando no chão e abraçando as pernas do amante, chorando copiosamente, dizendo que odeia violência, que Edu Meirelles saberá guardar segredo e tudo pode ser resolvido sem sangue derrubado porque a verdade é que o dono da TVTV já matou muitas amantes dessa forma, nesse hotel, quando as que não lhe interessavam queriam ser a nova Sr.ᵃ Velloso e não aceitavam suborno ou sabiam de algum podre dele e ameaçavam contar. Ele sempre soube desaparecer com seus inimigos sem deixar vestígios.
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Edu Meirelles já está humilhado o bastante, então se retira do quarto, faz as malas e liga para a companhia aérea, antecipando a viagem de volta. Ele agradece à copeira pela amizade e ajuda, promete que ela não perderá o emprego, devolve o uniforme que apanhou e segue para o aeroporto, mesmo sem ter a menor noção do que o espera quando pisar em solos tupiniquins, porque só o fato de regressar sem Luciana já será um furo de reportagem e tanto.
Por acaso, assim que ele está entrando no avião, escuta alguém dizer:
— Pois é, nasceu a filha da Renatinha.
— E aí?
— É difícil não achar um bebê lindo.
— Nasceu quando?
— Antes de ontem, mas já está causando a maior sensação.
— Eu quero mais é que a Cassandra se estrepe. Não vou com a cara dessa Luciana Andrade e nada me tira que esse casamento é armado.
Edu Meirelles cobre o rosto e chora. Pensa em Renata. No quanto ela passou a vida inteira o amando, o incentivando, o perdoando, cuidando dele. O jornalista sabe que a pequena Monique é filha biológica dele, não restam dúvidas e é nesse instante em que está a milhares de quilômetros de sua terra natal que se dá conta de que cometeu o maior erro da sua vida.
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