Mostrando postagens com marcador diferente do padrão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador diferente do padrão. Mostrar todas as postagens

Patriota de ocasião

Nesta manhã em que todos estão em ritmo de festa, queria que você estivesse aqui pra eu trocar umas ideias. Ninguém mais no mundo me entenderia.
Você nunca escondeu de ninguém que detestava copa do mundo e tanto falava sobre “pão e circo”. Eu não atinava bulhufas, queria o penta. No outro quarto estava a “do contra”, que se não desligava a tevê na hora das partidas, torcia para que a empáfia da seleção arrefecesse.
Quando menina, eu era aquela criaturinha ingênua que vibrava, chorava, torcia, assistia às partidas da Argentina pra secar os meus irmãos portenhos, amarrava a cara quando alguém me dizia não estar no clima porque achava inadmissível um brasileiro não torcer pelo Brasil.
Hoje, vinte anos depois, sou uma dessas pessoas. Desencantada com a política podre que se faz nesse país, com a roubalheira que desonra o progresso e inclusive norteia o futebol.
Sou eu um pedacinho de você, vendo o bezerro de ouro do cabelo bizarro sendo tratado como um deus, todos alienados e idiotizados em frente ao aparelho de televisão, comemorando o desempenho de uma seleção medíocre. E eu, aquela que desejaria morar em outro planeta para não ouvir falar de copa do mundo ou que em segredo torce por outro 7 × 1.
Como queria que você tivesse visto e rido daquele fiasco. Suas palavras continuam tão atuais, embora ainda representem a minoria que não segue a caravana.
O bezerro de ouro e seus coleguinhas de equipe serão os únicos beneficiados com o hexa. Dois milhões na conta de cada um, milhares de anúncios publicitários, destaque para a chegada dos produtos midiáticos, para o casamento do craque no segundo semestre.
E você, meu caro cidadão? De onde vem essa intolerância com quem não torce pela seleção? O bezerro de ouro já quitou seus boletos, garantiu seu fundo de aposentadoria e alfabetizou seu filho, garantiu uma vaga para ele na faculdade, custeia as despesas do plano de saúde?
Porque para tão inflamada defesa a quem nem sequer se importa se você respira, é a única explicação.
Enquanto a bola rola em campo, a quadrilha que nos governa dança quadrilha e rouba o nosso pão. E o circo está armado em campo, com tombos do craque, muita marra e pouca arte, muito marketing e pouca atitude, muita pompa e nenhuma humildade. 
Buzinam os tolos para o bezerro de ouro. Gritam gol, se vestem de verde e amarelo, pensam que aqueles que não gostam de copa odeiam o Brasil. Patriotas de ocasião.
Do meu lado todos comemoram, mas o cristal se quebrou dentro de mim. Torço pelo Brasil, mas não pela seleção. Me desculpe por não ter te ouvido, por não ter valorizado sua sabedoria. Vinte anos depois queria te dizer que evoluímos, todavia estamos atolados no caos, em todos os sentidos, e não vai ser uma taça de copa do mundo que vai alterar essa situação.
O futebol feminino dá um espetáculo, mas ninguém veste camiseta, assopra corneta e prepara um balde de pipoca. Ninguém vibra pela Marta, pela Formiga, ninguém apoia as meninas que jogam bola e fazem bonito.
A saúde agoniza, a educação pede extrema-unção. No entanto, todos estão contentes porque vão entrar mais tarde no trabalho, encher a cara e compartilhar memes inúteis e ridículos. Pois bem, vida que segue. Nós, que somos diferentes, sofremos porque nunca somos compreendidas da maneira que gostaríamos.
Tomara que sua profecia se cumpra de novo e a França seja bicampeã porque aí as lonas se desarmam, o circo acaba e o mesmo bezerro de ouro que hoje é aclamado, queira Deus que, amanhã ou depois, seja colocado no seu devido lugar, de um reles mortal. Sem mais.
Amem-me ou odeiem-me, a copa perdeu o sentido para mim desde 2006. Herói para mim é o pai de família que se dana com um salário mínimo para sustentar o lar, que chova ou faça sol se vira nos trinta para que a comida na mesa nunca falte e não um jogador arrogante correndo atrás de uma bola porque fazer gol é obrigação dele. A propósito, tem gente que joga muito mais, mas a mídia precisa do seu bezerro de ouro, eis que a ocasião suscitou um herói de ocasião para a nação continuar alienada.
Amem-me ou odeiem-me, essa é a minha opinião. Do contra até o fim, que venha o bi da França, sim.

Abelha-rainha (10/09/2017)


O Fundamental te foi sensacional
Porque você era a abelha-rainha
Mentora intelectual de todo mal
Acompanhada dos fiéis seguidores
Sua última palavra se fez ordem
Boatos reverberaram pelos corredores.

E eu, eu não tive para onde correr...
E eu, eu não tive onde me esconder...
Eu não tive alguém para me socorrer...

Movida pelo ódio tórrido e irracional,
Me acusou de não levar na brincadeira
Os adultos compraram a sua versão,
Que descanse em paz aquela lancheira.

Sua risada sempre me desconcentrou,
Das minhas lágrimas você debochou
Porque minha desgraça te entretinha.
Desfilou nas passarelas de papel picado
Ostentando na cabeça a coroa de latão.
Milhões de reputações você ceifou
Por pura e simplesmente diversão.

E eu, eu não tive como me divertir...
E eu, eu não tive como te impedir...
Eu não tive quem acreditasse em mim...

Textões descrevem a doce infância
Sorrisos, brincadeiras, modinhas.
Naquela fotografia eu não apareço
Tudo o que você me fez passar
Abelha-rainha, eu jamais me esqueço.
Para as atrocidades sem retratação,
Tardará também o desejo de perdão.

Encarregam o tempo de ser, de ser
De ser o grande senhor da razão,
Encarregam o tempo de fazer, fazer
Fazer a justiça dar a cada um
O que por direito é seu, é seu, é seu...

O tempo se atrasou, abelha-rainha,
Do preconceito floresce a intolerância,
O senhor da razão tem a visão míope,
A maldade é formosa e eloquente
E eu, uma criatura magoada e impaciente.

Mimimi, você pode até dizer...
Mimimi, pra você que nunca foi piada,
Tudo o que ofenda a integridade alheia,
É motivo para cair na gargalhada...

Mimimi, você pode até dizer...
Mimimi, porque não é com você...
Mimimi, porque não foi você que cresceu
Olhando a felicidade do alto da janela...

Mimimi, porque você jamais chorou
E padeceu ao inferno da inadequação
Que gente como você à revelia me impôs...

Mimimi, você pode até dizer...
Mimimi eu quero ver quando a justiça se fizer...

2 de maio | Dia Nacional do Humor

Especial - 2 de Maio: Dia Nacional do Humor Feliz Dia Nacional do Humor! O 2 de maio é o dia dedicado a uma das formas mais poderosas de con...