Crítica ou insulto? A linha tênue entre a análise e o ataque
Mary Recomenda | A bela Rosalina - Natasha Solomons
Quando ser a “esquecida” salva uma vida inteira
Por Mary Luz
Independentemente de gostar ou não, tenho certeza de que você já ouviu falar da história de amor entre Romeu e Julieta, certo?
Na edição de hoje do Mary Recomenda, não trago a icônica obra de Shakespeare, mas uma releitura de Rosalina, que na peça original é brevemente mencionada como “um amor antigo” do Romeu. Este é o nosso ponto de partida para uma jornada de 360 páginas que nos leva para a Verona medieval, onde Julieta Capuleto vivia seus últimos dias de inocência.
Crônicas (não tão) Desbocadas (hoje) | Carta à florzinha do sertão que o mundo não conseguiu matar
Conheci uma moça que trabalhava numa pizzaria 24 horas, só não recordo se era Paraíba ou Piauí, só sei que tem praia e que, se o mundo fosse justo, ela moraria numa casa de frente para o mar, com tempo livre para escrever poesia. Revezava entre fritar, limpar e sorrir sem vontade para os mesmos homens que pediam pizza e puxavam conversa com a boca suja de atrevimento. Ninguém ali sabia que ela escrevia. Que tinha nome de autora. Que fazia dos status do WhatsApp seu livrinho de bolso.
Ela se chama Tori. Nome de flor guerreira, dessas que brotam em pedra rachada. Nos conhecemos numa sala virtual de desabafos. A Tori tinha uma história tão forte que dava vontade de chorar no ombro dela, mesmo ela sendo a vítima.
O aniversário dela foi em março, já passou, mas a história de resistência dela é um lembrete de que nós não estamos sós e, quando nos unimos, ainda que de longe, somos bem mais fortes.
Querida Tori,
Essa noite, pensei muito em você. Faz tempo que você não dá notícias, espero que esteja tudo bem.
Pensei no quanto é injusto o mundo cobrar força de quem só aprendeu a sobreviver. Você, que foi jogada no caos desde cedo. Que teve a infância violada, a adolescência roubada, e mesmo assim, floresceu — com poesia no peito e um sorriso nos lábios.
Você me contou da sua mãe de coração, a única que te chamou de filha com verdade. E de como tudo desmoronou quando ela se foi. Do padrasto que fez da sua vida um campo de dor. Da mãe biológica que preferia te ver grávida e humilhada do que sonhando alto. Da filha da idosa que te tratava como escrava. De cada lugar que você tentou chamar de lar e só encontrou portões fechados.
Mesmo assim, você foi.
Foi vender doces na praia. Foi cuidar dos outros sem ter quem cuidasse de você. Foi tentando estudar, mesmo sabendo que o boleto não aceita sonho como moeda.
E, ainda assim, você sorri. Aconselha. Ama. Com um coração pisciano que quer curar o mundo, mesmo com a alma cheia de remendos.
Me fala: de onde vem essa luz?
Seu amigo, aquele que ria das próprias dores e fazia você rir quando nada mais dava certo, virou borboleta. E foi embora cedo demais. Coração bom demais, partido demais, gentil demais para um mundo que só valoriza quem grita. Ele era seu anjo da guarda. E agora virou saudade — dessas que não têm comparação.
Sei que te disseram que "a vida continua". Mas ninguém te disse como continuar com um buraco no peito, né? Esse tipo de luto não cabe em legenda de rede social. Ele se esconde nos silêncios. Nos olhos que perdem o brilho por uns segundos e logo depois fingem que não foi nada.
Mas eu vi.
E quem ler essa carta vai ver também.
Você é uma senhora sábia num corpo jovem e ferido. Você é flor do sertão, daquelas que a gente jura que não vingaria, mas brota linda mesmo sem chuva. Você é poesia onde o mundo só queria deixar pedra.
E se um dia tudo falhar — lembra que tem gente que viu. Que guardou. Que vai escrever sobre você, mesmo que o mundo não queira.
Com carinho e olhos marejados,
Nina
Terças com Tita | Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar
Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar
Por Tita | Os Cadernos de Marisol
Sinto, dia após dia, o olhar enviesado de quem espera que eu me encaixe.
Porque não suporto blazer que me aperta, salto que me cala, nem a obrigação de parecer adulta para satisfazer expectativas alheias.
Gosto de roupas que contam quem sou — e não de figurinos pensados para agradar o LinkedIn dos outros.
Julgar meu profissionalismo pelo que visto é uma das formas mais escancaradas de misoginia estrutural.
A régua da maturidade é torta. E pesa só para um lado.
Nina contra o mundo | Tem gente que não é segurança, é perturbação patrimonial
Você já viu alguém que parece ter a alma toda feita de desodorante vencido e comentário dispensável?
Não escrevo para agradar, escrevo para existir 📣
Por Mary Luz
“Eis o lado ruim de ser escritora: estar vulnerável a todo tipo de leitor, alguns olhares completamente alheios ao que realmente foi dito.”
Editorial OCDM | O crime de envelhecer sendo mulher e boa escritora
“A juventude é um aplauso fácil. A maturidade, um silêncio cheio de medo.”– fragmento retirado de um diário anônimo (ou quase)
📺 Editorial — O crime de envelhecer sendo mulher e boa escritora
Ser mulher já é, por si só, uma sentença de vigilância.
Vivemos numa sociedade que, ainda hoje, privilegia os homens — nas oportunidades, na visibilidade, no respeito automático. Dizer isso não é vitimismo: é constatação. E este manifesto não pretende alimentar ódio nem criar inimigos imaginários, mas lançar luz sobre um padrão real e persistente: o silenciamento sistemático de mulheres que não se encaixam no papel que esperam delas.
Mulheres que se recusam a ser submissas, que questionam, que ousam destoar do ideal domesticado, são rotuladas. São acusadas de loucura, de histeria, de querer chamar atenção. E, sobretudo, são excluídas do círculo onde a criação é respeitada e a voz é ouvida.
Nina contra o mundo | O Jurandir do Apocalipse
Editorial OCDM |Quando a beleza mata: reflexões sobre a estética do retrocesso
Clean girls: minimalismo do retrocesso
Engajamento e irresponsabilidade: quando a desinformação coloca a vida em risco
O retorno da moda Y2K e a nostalgia da magreza extrema
O espetáculo do mau-caratismo e a indústria da culpa
Movimento Body Positive: uma resposta à opressão estética
Ter vivido a dor dos transtornos alimentares nos anos 2000 e, agora, ver novas formas de opressão surgirem, só reforça em mim a certeza de que precisamos resistir.A pressão para nos moldarmos a padrões inatingíveis não traz a felicidade que prometem; apenas esvazia sonhos, silencia revoluções interiores e nos afasta de quem somos.Cada vez que recusamos essa imposição, reafirmamos que nossa existência vale mais do que caber em moldes sufocantes.A beleza está em resistir. A liberdade, em ser.
Mary Recomenda | As boas mulheres da China - Xinran
Por que escolhi esse livro?
Sempre tive curiosidade de entender como vivem as mulheres chinesas. Queria ir além dos estereótipos, mergulhar no cotidiano de quem sobreviveu às repressões políticas, familiares e sociais de um país que mudou radicalmente em poucas décadas. As Boas Mulheres da China, de Xinran, me ofereceu muito mais que isso. Foi uma leitura que me marcou para sempre — e me acompanhou em um momento pessoal difícil, quando eu mesma enfrentava perdas e dores.
Quem é Xinran?
Xinran nasceu na China em 1958 e cresceu durante a Revolução Cultural. Foi uma das primeiras mulheres a conseguir espaço no rádio nacional com um programa noturno chamado “Palavras na Brisa Noturna”, em que ouvia relatos de mulheres comuns — donas de casa, camponesas, intelectuais, operárias. A cada ligação, desabava um universo de sofrimento, resiliência e silêncio.
Após imigrar para o Reino Unido nos anos 1990, Xinran começou a escrever sobre essas histórias. As Boas Mulheres da China foi seu primeiro livro e se tornou um marco na literatura de denúncia social e de gênero.
📻 O poder do rádio como espaço de escuta
Na China dos anos 1980 e 1990, dominada por censura e silêncio, o rádio era um dos únicos canais onde as pessoas se sentiam seguras para contar suas histórias. Xinran, com sua escuta acolhedora e cuidadosa, transformou as ondas sonoras em um abrigo para a dor — especialmente das mulheres, que muitas vezes nunca haviam tido permissão para falar.
🌧️ Histórias que marcaram a leitura
Uma das mais impactantes é a da menina e da mosca — dolorosa, simbólica e quase insuportável. Há também o relato de uma mulher que acreditava que o silêncio e a obediência seriam recompensados, mas descobriu que a dor podia ser eterna.
"Minhas esperanças foram completamente destruídas. Minha própria mãe me dizia que tolerasse os abusos de meu pai. Onde estava a justiça disso?"
Essas vozes atravessam as páginas como gritos abafados que, enfim, ganham eco.
🏯 Contexto histórico: antes, durante e depois da Revolução Cultural
A leitura ganha ainda mais força quando compreendemos o que se passava na China:
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Antes de 1966: o fracasso do Grande Salto Adiante deixou milhões mortos por fome.
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Durante a Revolução Cultural (1966–1976): perseguições, prisões, humilhações públicas e campos de “reeducação”.
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Após 1976: com a morte de Mao Tsé-Tung, inicia-se um processo lento de reconstrução social, econômica e institucional.
As mulheres foram as mais afetadas: perderam direitos, carreiras, filhos, identidade.
🇨🇳 E a China atual?
Desde as reformas de Deng Xiaoping, a China passou por uma explosão econômica. Mas questões de gênero continuam marcadas por:
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Controle estatal sobre corpos (como a política do filho único até 2015)
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Patriarcalismo profundo, mesmo com leis de igualdade
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Pressão estética, econômica e familiar sobre as mulheres
Mesmo hoje, feministas são perseguidas, e a liberdade de expressão ainda é limitada. Xinran nos ajuda a perceber que a luta continua, sob outras formas.
💔 A leitura e meu momento pessoal
Quando li esse livro, eu enfrentava desafios no trabalho e havia perdido meus hamsters — criaturas pequenas que faziam parte do meu cotidiano e do meu afeto. As histórias de Xinran, paradoxalmente, me acolheram. Me fizeram entender que há dores universais e que ouvir o outro também pode ser uma forma de sobreviver.
"Eu costumava sonhar que encontraria um jeito de lavar a minha dor, mas será que posso lavar a minha vida?"
🌿 Conclusão: uma leitura que transforma
As Boas Mulheres da China não é só um livro de histórias. É um arquivo de memórias que quase foram apagadas. Um grito por justiça, por empatia, por memória.
"Quando alguém mergulha nas próprias recordações, abre uma porta para o passado; a estrada lá dentro tem muitas ramificações, e a cada vez o trajeto é diferente."
✊ Reflita comigo:
Quais vozes estão sendo silenciadas hoje, aqui, ao nosso redor? Afinal de contas, tanto aqui quanto na China, ainda estamos muito distantes de um mundo seguro para nós, mulheres.
Em clima de reflexão, o Mary Recomenda de hoje chega ao fim, mas você pode acompanhar nossas análises anteriores, caso queira. Obrigada por chegar até aqui, um forte abraço e até sempre!
Cara rosa, ninguém nasce sabendo
Segure a minha mão
N/A: Hoje apresento a releitura do poema Segure a minha mão, escrito há 4 anos, quando 2023 era um sonho distante. Este é o meu posicionamento e, portanto, eu tenho o direito de me expressar. Em caso de desagrado, beba um gole de água, mas mantenha o conteúdo no céu da boca até que a raiva passe, então engula, fecha a página e vá ser feliz.
frases de impacto
Ah, as frases de impacto. Elas conferem um charme ímpar quando proferidas e não cansam a leitura de ninguém, no entanto, assim que os dedos arrastam o feed para baixo, perdem o sentido, o destino de todas as postagens.
As crenças internalizadas são as mesmas de duas gerações atrás: ninguém tem interesse que você seja você mesma e se sinta linda como é. Eis o contrário: você deve se odiar e ser uma eterna insatisfeita, disposta a pagar o preço que for necessário para ser tudo, menos você.
Não vemos com bons olhos a sua tentativa de empoderamento, prosperidade e independência, desejamos que você faça o que todas as outras fizeram e, de preferência, sem questionar as nossas estruturas. Não nos importa a sua opinião, mas a sua submissão.
Malacubaca | Noviça se pronuncia sobre sua fama de pé-frio na copa
Por Noviça (A Inteligência Artificial precisará comer muito feijão com arroz para alcançar o mindinho do meu lindo pé direito. Aí, sim, a ...
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