Nem tudo é tão óbvio quanto pode parecer para quem enxerga uma situação de uma perspectiva mais distante. Insistir na mesma ladainha quando os ouvidos estão preenchidos por outro discurso traz aquela sensação de que estamos falando para ninguém.
Não adianta ilustrar na lousa um teorema que demonstre com todas as evidências palpáveis que essa história não terá final feliz, este amor sussurra doçuras e dá a palavra final. Ele é verdadeiro, os falsos são sempre os outros.
Exige demais, oferece de menos.
Em público é galante, no privado é pedante.
Acusa o outro daquilo que faz.
Some, volta quando dá na telha, sempre tem uma boa justificativa.
Silencia verdades, ordena que o corpo e a alma se encaixem numa caixinha minúscula de madeira, bem adequada para o caráter dele.
Confunde intensidade com descontrole, desejo com posse, saudade com cobrança.
Dói muito ver uma pessoa querida envolvida até o último fio de cabelo em um relacionamento fadado ao fracasso nos mais sutis indícios, que ou passaram despercebidos devido à empolgação do início, ou foram ignorados porque a intuição saltou do barco na última tentativa de mostrar a realidade.
Nem sempre é tão simples desatar um nó. Diz respeito a não ter mais nem a si mesma, nem orgulho, sonhos, independência. Às vezes, queria jogar tudo para o alto e já não pode decidir apenas por si, embora o cansaço esteja evidente nas bolsas dos olhos de quem mais chora do que dorme e espera a redenção que nunca vem.
Esse amor algum dia foi amor? Quais lembranças são reais?
Tudo se mistura numa nuvem de confusão. A versão anterior ao predador nem parece ser real... enxergar a si como uma pessoa distante significa que essas feridas serão companheiras até o fim. Ainda que a liberdade seja recuperada, haverá uma dor a pulsar na escuridão, uma inquietação de suposições retroalimentando culpas...
Passei por esse calvário.
Saí destruída, naturalmente, tentando reconhecer a estranha que chorava em frente ao espelho, debaixo do chuveiro, olhando a janela do ônibus, nos ombros de quem me desse um pouco de atenção.
Outras mulheres nem sequer saem. Nem sequer lhe são concedidas chances para reconstruir os pedaços partidos de seus corações, nem sempre essa é uma opção viável. Alguém decide carimbar o ponto final por elas.
Estar sozinha pode parecer desanimador, ainda mais quando todo mundo à nossa volta está acompanhado, porém conheço uma sensação muito pior: a angústia de um amor errado. Suportar o Dia dos Namorados é fichinha perto de acreditar em mentiras, viver com medo de surtos, insultos, acusações, traição, desrespeito, desprezo.
O desespero foi o condutor rumo ao inferno. A solitude é uma companheira bem menos ruidosa e medonha do que o monstro escondido por trás da máscara de bom moço.
Saber, não tem como saber só de olhar. Todo amor errado começa cheio de esperança. E aí pode estar o cerne da questão: distinguir as características de um amor errado de um verdadeiro. Ler e interpretar os sinais, mas quais?
Alguns não são bem claros. Quanto a outros, sim, é preciso prestar atenção porque as consequências de um amor errado nem sempre nos permitem ter uma segunda chance. No entanto, não é justo que um amor saudável seja obrigado a pagar por erros que não cometeu.
O amor errado ilude e confunde, o amor verdadeiro acolhe e cura.
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