🐞 O Jardim de Buba e as Estações do Silêncio
(Uma fábula sobre florir apesar das pragas invisíveis)
Por Mary Luz | Os Cadernos de Marisol
Havia um jardim escondido atrás da neblina, onde nem todo mundo conseguia chegar. Era um lugar onde as flores nasciam de palavras e as árvores escutavam antes de responder. Ali vivia uma Joaninha chamada Buba, dona de um coração que escrevia antes mesmo de bater.
Buba cuidava do jardim como quem cuida da alma: com zelo, silêncio e tempo. Regava as folhas com poemas, podava os medos com versos e deixava recados no pólen para quem tivesse sensibilidade para sentir. Por muito tempo, ela viveu feliz em sua solidão criativa. Sabia que nem todos os ventos traziam leitores, mas ela continuava a plantar palavras como quem acredita no milagre da primavera.
Até que um dia, as datas começaram a brotar demais. Datas disso, daquilo, do pão de queijo e do abraço. O jardim, antes livre, começou a se parecer com a seção de culinária de um jornal censurado — como se, para não ofender ninguém, fosse mais seguro falar só do dia do sorvete do que do gosto amargo de certos fantasmas.
Porque as flores estavam sendo visitadas por um bicho disfarçado, o tal Bicho de Casca Mole, que já havia rondado o jardim em outras estações. Ele vinha com nomes novos, mas o cheiro era o mesmo: insistente, pegajoso e disfarçado de admiração.
Ela tentou de tudo: ignorar, calar, esconder-se nas folhas… mas não era seu amigo Camaleão, falhava na arte de disfarçar e o GPS avariado a reencontrava. A pergunta que não queria calar era uma só: por que se escondia tanto, afinal de contas?
“Estou escondida no meu próprio jardim. Tem algo muito errado acontecendo.”, concluiu a esperta joaninha.
Ela então tirou as flores que não queria ver murcharem por dedos sujos. Limpou a terra, arrancou as ervas-daninhas, fechou os brotos das flores mais íntimas.
E não pediu desculpa.
Porque o jardim era dela.
E quem a feriu com manipulações não tem direito ao perfume que ela oferece.
🌿 Moral da fábula:
Se escrever deixou de ser liberdade, é hora de reformar o canteiro.
Que venham menos flores, mas que sejam suas. E que venham borboletas verdadeiras, não espiãs com asas falsas.
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