Nas Lentes da Malacubaca | Criminalidade, medo e o boom dos carros blindados no Brasil

 

2001: Quando o medo virou mercado — e o Brasil se blindou

Especial 2001 – Os Desencontros do Cupido

“No Brasil de 2001, blindar um carro não era mais questão de luxo. Era escudo. Era sobrevivência.”


🔐 Introdução

“O que acontece quando a violência ultrapassa os muros da casa?”
“E quando andar pela rua exige planejamento, rota, horário e fé?”

Em 2001, o Brasil não enfrentava uma guerra declarada. Mas a sensação de insegurança era coletiva, cotidiana, cravada no imaginário urbano. Nas grandes cidades, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, o medo da violência transformou não só comportamentos, mas também mercados inteiros.

Foi o ano em que o setor de blindagem automotiva bateu recordes. Em paralelo, o país acumulava mais de 50 mil homicídios por ano. A mídia explorava o terror, os políticos prometeram segurança, e a população — quem podia — blindava o carro para não precisar blindar o próprio coração.


🔫 O Brasil às avessas: segurança como produto de luxo

A virada do século marcou a consolidação da blindagem automotiva como símbolo de status e de autoproteção. Entre 1996 e 2001, a demanda por carros blindados cresceu mais de 700%. Só naquele ano, mais de 3 mil carros foram blindados em São Paulo.

A blindagem virou fetiche. Havia fila de espera em oficinas especializadas. Empresários, artistas, políticos — e até celebridades emergentes da televisão.

“Era como andar com um cofre sobre rodas”, disse um cliente anônimo da zona sul.


📉 Uma estatística que gritava

  • Homicídios em 2001: mais de 52 mil, segundo o IBGE;

  • São Paulo e Rio lideravam o ranking de crimes violentos;

  • O medo gerou um aumento da vigilância privada, alarmes, porteiros armados, cercas elétricas e câmeras analógicas com imagem granulada.

Mas o problema não era só a criminalidade em si. Era a sensação de impunidade, desigualdade, abandono do Estado. Quem podia se proteger, pagava. Quem não podia… era deixado no escuro.


🎙️ Nas Lentes da Malacubaca

Em abril de 2001, Carmen Angélica Esteves foi enviada a São Paulo para cobrir a “nova moda da blindagem”, com sua conhecida ironia ácida:

“Há uma nova tendência nas ruas da elite paulistana: não fazer contato visual e ignorar o mundo por trás do vidro à prova de balas.”

Na matéria, Carmen entrevista:

  • Um empresário que blindou dois carros por medo dos semáforos;

  • Um motoboy que sofreu tentativa de assalto cinco vezes — e disse que “não é o vidro que salva, é Deus”;

  • E um sociólogo que definiu bem: “Blindagem é o modo mais caro de fugir da realidade.”

flexão final

O Brasil de 2001 se blindava de tudo: da dor, da violência, da pobreza que crescia ao redor.
Mas nenhuma blindagem era capaz de conter a rachadura invisível da confiança coletiva.

“Quando o medo vira mercado, a liberdade deixa de ser um direito — e passa a ser uma aposta cara.”


📚 Referências (ABNT)

  1. CALDEIRA, Teresa P. R. do R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2000.

  2. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2002: os jovens do Brasil. Brasília: UNESCO/INEP, 2002.

  3. FOLHA DE S.PAULO. “Blindagem vira febre em SP”. Folha Online, São Paulo, 28 jul. 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 15 jun. 2025.

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