Na minha rua, ninguém cogitava dormir cedo. Tocava música alta, tinha churrasco queimando no fundo do quintal e até culto da virada, porque orar é quase tradição. Mesmo quem não acredita em nada gosta de garantir que o novo ano venha com boas intenções. E, claro, com ceia farta e sobremesa caprichada.
Na TV, aquele Show da Virada gravado em setembro — que ainda engana uns desavisados. O que todo mundo quer mesmo é a contagem regressiva. Em Copacabana, um mar de gente. Nos armários, as taças sendo lavadas. Nas geladeiras, o espumante ganhando espaço. Criança veste branco, adulto veste amarelo. Todo mundo, no fundo, quer acreditar que o próximo ano será melhor.
Uns minutos antes da meia-noite, faltou luz. Chovia. E eu, por um instante, achei que o apocalipse tivesse começado. Mas era só o temporal mesmo, como sempre acontece em dezembro.
O mundo não acabou.
Brindamos com copos de plástico cheios de guaraná. Fogos explodiam lá fora. Nenhum transformador explodiu. Nenhuma estátua foi inundada. Nenhum carro voador sobrevoou o bairro. Nada de viagens interplanetárias nem robôs domésticos. Só o novo ano chegando, simples e humano.
Depois, claro, vieram outras previsões: o fim do Calendário Maia em 2012, os seis dias de escuridão, o alinhamento de planetas que apagaria a gravidade. Nunca aconteceu. E mesmo assim, sempre que uma nova teoria apocalíptica surge, alguém se desespera.
Eu? Eu espero. Observo. E rio depois.