Mostrando postagens com marcador luto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador luto. Mostrar todas as postagens

Sexta-feira Santa

 

Hoje é um dia de profunda reflexão para os cristãos, marcando o sacrifício de Jesus Cristo por amor à humanidade. Seja você católico, evangélico ou de outra denominação, a Sexta-feira Santa é um convite à compaixão, esperança e renovação espiritual.

RIP Papá 🐹🌈

Interrompemos nossa programação normal para comunicar, em primeira mão, o falecimento de Papá, neste domingo (27). A assessoria de imprensa do longevo roedor informou às autoridades que o super centenário morreu de causas naturais enquanto dormia.
Papá entrou para o rol dos roedores e tencionava se tornar o hamster mais longevo de todos os tempos, no entanto, desde a morte precoce dos dois filhos mais novos, Pooh e Lica, afastou-se da vida pública. A última aparição dele foi no enterro da filha, há pouco mais de três semanas.
Papá teve 11 filhos e deixa uma centena de netos, bisnetos e trisnetos e aos amigos, fãs e conhecidos, muitas saudades e um legado incontestável. Em virtude da grande comoção, o OCDM preparou uma homenagem especial para esse grande roedor, exemplo de vida, resistência e resiliência.

Descanse em paz, Lica


 Nesta manhã, a pequena Lica cruzou a ponte do arco-íris e foi se encontrar com o Pooh. Coloquei uma prece a São Francisco de Assis e orei para que a passagem dela fosse tranquila. Minha amiguinha teve uma piora no estado de saúde nos últimos dias e eu já sabia que era questão de horas/dias para ela partir.

Descanse em paz, Pooh

 

Tenho um triste comunicado a fazer. No último sábado (21), antes de sair para trabalhar, dei comida para os meus pets e reparei que o Pooh estava deitado do lado do pratinho de comida. Quando toquei nele, esperando para levar a mordidinha da vida, o corpinho dele estava gelado. Chorei tanto, é sempre difícil e doloroso dar adeus a um amigo tão fiel e leal, sobretudo porque Papá, Pooh e Lica, meus três mosqueteiros, têm uma história muito especial.

Em novembro de 2022, fui ao pet shop para repor a comidinha da saudosa Patty e não resisti a um hamster muito fofo, no entanto, como ele estava acompanhado de outro, decidi levar ambos, sem saber que eles eram um casal, batizado de Papá e Lulu.

Dezoito dias depois, numa manhã amena de primavera, ouvi um chiado que parecia de passarinho e quando fui dar bom-dia ao meu casal, vi cinco jujubas se mexendo ao lado da roda amarela. Senti uma ternura tão profunda, uma alegria que me deixou nas nuvens por muito tempo. Parecia até que eu havia dado à luz ao quinteto fantástico. Era por isso que a Lulu estava mais rechonchuda.

Lulu e Papá, os papais de primeira viagem, cuidaram do trabalho de parto sem necessidade de intervenção humana. No entanto, precisei transferir o Papá para outra gaiola e passei a registrar momentos especiais dos recém-nascidos. Acompanhei tudo, tudinho, desde o dia em que apareceu uma penugem no corpinho deles, quando abriram os olhinhos de jabuticaba, quando aprenderam a correr na rodinha e a comer e beber por conta própria, como limpar a casinha deles sem enfurecer a mamãe coruja.

Usei uma escumadeira velha para transferir os filhotes sem tocar neles e trocar a forração porque o cheirinho de xixi estava brabo. Por volta dos 23 dias, separei mamãe e filhotes porque senão viraria um clã. Li o relato de uma pessoa que levou um casal de hamsters para casa e chegou a ter 86 roedores. Entretanto, três dias após o Natal, já estávamos desconfiados de outra gestação da Lulu — coloquei o casal de volta na mesma gaiola para os filhotes poderem brincar juntos.

No finzinho da tarde, já início da noite, minha mãe deu uma olhada na criançada e me avisou que a Lulu dera à luz a um filhote. Nesse período de 90 minutos, nasceram 6 hamsters, dentre eles, Pooh e Lica, só não sei dizer a ordem exata, quem nasceu por primeiro porque não terei como responder. O segundo filhote foi rejeitado pela mãe e fui pesquisar na internet se seria possível criá-lo sem a mãe. Era difícil, mas não impossível e eu tentei, contudo, Jujuba não resistiu e voltou ao paraíso.

Dos 11 filhotes, 10 tinham a pelagem dominante, só o Pooh que não. Pelo fato de ele ter umas listras amareladas por volta do corpinho, decidi chamá-lo de Pooh, em homenagem ao Ursinho Pooh. Virei 2023 com 13 hamsters, os filhotes da primeira ninhada guinchando, aprontando, lindos e saudáveis, a segunda ninhada seguindo o mesmo rumo. Não foi fácil enviar os filhotes para doação, doeu bastante, porém eu não teria — nem tenho — condições para manter 10, 20 hamsters, então, se o pet shop aceita doações, senti que era o certo a se fazer, proporcionar que os filhos de Papá e Lulu fossem adotados por famílias e vivessem felizes para sempre.

Para não dizer que não fiquei com nenhum, escolhi dois, o Pooh e a Lica, pois dormiam juntinhos desde o nascimento. Eles até chegaram a ter uma ninhada, mas os filhotes nasceram mortos, seriam 7. Depois disso, separei-os e cada um ganhou sua própria gaiolinha. 

Na madrugada de 14 de junho do ano passado, a Patty deu o último suspiro dela. No último sábado de julho, já no finzinho da noite, ouvi a Lulu saindo da casinha para bater um prato, como escutei também um barulho e encontrei-a já sem vida do lado do prato. Foi de repente. Um choque. Desde então, o trio quebrou recordes. Papá tem dois anos de vida, dois anos muito bem vividos; Lica está prestes a completar 1 ano e 9 meses e Pooh também faria aniversário no dia 28.

Estou com muita saudade do Pooh, com o coração apertado e partido, ciente também de que Lica e Papá poderão partir muito em breve. Cada hamster que tive foi especial, me emociono ao recordar de cada um. O conforto está em saber que ele está bem agora, num lugar melhor, que não sente mais dor e que tenho as boas lembranças para me lembrar dele.

Descanse em paz, Sílvio Santos 🕊️

 O coração dele parou de bater antes do sol nascer e a comoção no país não mais cessou. Um sábado de despedidas e lágrimas, depoimentos e histórias que constroem e reforçam o significado de ser lendário.

adeus, mamá!

 

Mamá ✫ 06/07/2021 - ✝12/04/2022

Quero lembrar-me de você sempre assim: fotogênico, amoroso, brincalhão, sapeca, curioso.
Quis o destino que sua vida fosse tão breve, ninguém poderia esperar uma despedida assim tão repentina levaria você a cruzar o outro lado da ponte. Levou uma fitinha alaranjada consigo para mobiliar o novo ninho que construiu num chão de estrelas.
Queria muito apreciar sua presença por mais tempo, no entanto, restam as boas lembranças e sempre as guardarei em meu coração, partido pela sua perda, mas também agradecido por essa pequena eternidade que vivemos juntos.
Siga o seu caminho e saiba que neste universo inteiro sempre haverá alguém que olhará para o céu e se recordará de você com carinho.

até mais, vó (nove meses sem ela)

 

Quando o carro descia daquela rua de barro e virava à esquerda, parando em frente ao portão daquela residência de fachada verde, não era preciso esperar muito, logo a porta da cozinha se abria e cortando caminho pela garagem coberta, com um sorriso largo no rosto, vinha ela abrindo os braços e dizendo nossos nomes, limpando as mãozinhas no avental e pedindo desculpas pela bagunça, bagunça essa inexistente porque o chão estava sempre limpo e encerado, não havia louças na pia nem no escorredor, nem pó nos móveis ou vidros sujos, tudo estava no devido lugar.

Havia um galinheiro no quintal e também alguns pés de couve, além de um pé de ameixa e um abacateiro. Suculentas, samambaias, roseiras e as flores-de-maio. Havia sempre uma dupla de cachorrinhos a nos receber no portão, pulando, lambendo, chorando de alegria. Havia uma gatinha dorminhoca e fujona. Havia sempre uma criança batendo palmas no portão para comprar um geladinho. A plaquinha estava pendurada no poste e ainda hoje não encontrei geladinho mais saboroso que os feitos por vovó, os industriais são artificiais e a receita secreta do deleite, ah, foi-se com ela.

Havia sempre um bule com café fresquinho, um cestinho com pães, uma colherzinha dentro do açucareiro, um pires para apoiar a xícara, um bolo feito ou comprado no mercado. Havia naquela mesa de madeira retangular uma senhora de bom coração que atendia por “vó”, para quem o peso da idade tardava a chegar, a mulher sorridente, invencível, a grande rocha, o eixo que sustentava o restante da família, o ponto de ligação entre o início e o infinito.

Era costume olhar para o relógio de parede da cozinha porque do lado dele havia o calendário do ano vigente, propaganda de algum estabelecimento comercial daquela região. Escutava as anedotas às vezes austeras, às vezes engraçadas. Nos dias de sol era hábito sentar-me em um degrau qualquer e contemplar o céu, acariciar e brincar com os cachorros e evocar as lembranças de quando eu era uma criança como aquelas que ainda brincavam na rua porque o tempo e a escolhas acabaram por afastar os corações até que eles não mais se recordassem do ritmo singular daquelas batidas, até chegar o dia em que duas antigas confidentes tornaram-se verdadeiras estranhas uma para a outra e todas aquelas promessas de amizade eterna irem pelos ares.

Havia uma pilha de fotografias, muitas dispostas em álbuns, outras avulsas em uma caixa de presentes. Naquela cama de casal nós nos sentíamos em casa e da janela dava para ver o quintal e um pouco das fronteiras além do muro. Nas mesinhas de cabeceira, cartelas de remédios. Para estabilizar a pressão, para as dores nas costas, no entanto, mesmo argumentando que do pique de outrora já não mais desfrutava, ainda assim conservava o frescor da juventude, posto que os resquícios da mulher bela que foi ainda não haviam sumido.

A pele do rosto ainda era firme e brilhante, as ruguinhas eram aquelas inevitáveis, nos lábios um batonzinho rosa, o lápis desenhava as sobrancelhas finas e embora a briga com a balança fosse uma constante, a magreza lhe roubaria (como roubou) o charme. O cabelo estava sempre hidratado, pintado, escovado, na altura dos ombros. As lindas unhas, pintadas e bem cuidadas, os esmaltes cintilantes e também os escuros, o estojo de manicure, os diversos acessórios que utilizava, todos organizados.

Havia sempre um bolo, um prato salgado, pés de couve, o que quer que fosse, para se levar para casa. Havia sempre um tom de lamento quando chegava a hora de ir. Havia sempre um abraço dentro da casa e outro já no portão. Havia sempre um aceno amoroso na frente da casa conforme o carro virava a esquina para pegar a estrada. Havia, no ar, o gancho para uma próxima vez.

A mãe dela, minha bisavó, viveu mais de noventa anos e se não fosse pelo câncer, teria chegado aos 100. Se vovó continuasse naquele ritmo, seria centenária, pelo menos era o que todos pensávamos. A morte batia nas portas de outros lares e o nome dela parecia relativamente distante no pergaminho, mas como podemos nos enganar por ilusões?

Dona Morte preparou uma emboscada para vovô e o relógio de parede parou no exato instante em que ele, do outro lado da cidade, deu o último suspiro. Após aquele dia, de fato, a rocha desmoronou. Estávamos todos tão equivocados, embora receássemos que aquilo acontecesse porque tínhamos alguma noção do quão devastadora poderia ser aquela separação forçada e inevitável, imposta pelo próprio ciclo da vida.

A subestimada hipérbole antecipou o adeus. O cansaço abateu-se sobre ela. Onde antes havia tanta vida reinava aquele silêncio constrangido, acuado, resignado. Os móveis foram trocados de lugar, mas aquelas paredes guardavam lembranças insuperáveis e a dor da saudade era maior do que tudo. O vazio que preenchia o coração dela era grande demais para ser consolado com frases feitas.

Receber a notícia do diagnóstico pelo telefone foi um choque. A negação blindou-me. Poderia ser um daqueles casos nos quais os médicos seriam surpreendidos com um milagre porque minha mãe orou, orou com todo o coração para que vovó fosse curada, por mais desfavorável que fosse o prognóstico.

Eu sei que estou morrendo, fia. A dor a consumia, roubando-lhe o apetite, o viço, a dignidade, a autonomia, o sopro de vida. A leitura da bíblia lhe trazia alento. Para um Deus capaz de tantas maravilhas por seus queridos filhos, não custaria tanto curar um tumor raro e permitir que uma boa senhora ainda pudesse conhecer, abraçar e amar a obra mais bela que construiu: a família.

As injeções de morfina prolongavam o sofrimento com a promessa de aliviar as dores, mas o corpo enfraquecido ainda assim resistia porque todas as vezes em que a vida lhe derrubou, conheceu dentro de si a força para se reerguer e dizer em voz alta ao medo que ela era mais forte do que ele.

Agora o próprio medo assumia uma postura mais humana na abordagem, tomava a face de seu amado e lhe sussurrava para não temer, pois a dor estava próxima de chegar ao fim, que chegava a hora de descansar. O paradoxo era mais do que um contraste, era o melhor narrador da história. Por um lado, não era justo alguém ser devorado por um tumor agressivo e perverso, triunfante por ser incurável. Por outro, a revolta pelas orações cuja resposta destoou das expectativas, a sensação gritante de impotência diante de um porquê sem explicação, a tristeza pela despedida que não aconteceu.

Quando vovó, mesmo debilitada pelo luto, acenou para nós naquela última e emblemática visita, não disse adeus enquanto sorria e via o carro dobrar a esquina como fazia toda vida, mas as páginas da vida redigiam o texto e buscavam a melhor entonação para aquela despedida.

Não quisemos chorar na frente de mamãe, ela estava devastada, vivendo um momento desafiador na segunda revolução de Saturno, dizendo adeus à última pessoa fora de nossa casa que a amava incondicionalmente. Tentamos transparecer que poderíamos suportar aquela grande e irreparável perda sem agigantar o já inevitável sofrimento.

A casa da minha avó sempre foi um elemento relativamente comum em meus sonhos, hoje é ainda mais. Às vezes vejo aquele quintal verde e da casa transborda alegria, ela continua ativa e linda, há música tocando, há festa, há alegria, há confraternização, há café quentinho, há bolos saborosos na mesa da cozinha, há cachorrinhos recebendo as visitas no portão, há crianças batendo palmas para comprar geladinho, há abraços longos, sinceros, perfumados, há amor.

Na configuração original daquele lar, os únicos degraus eram aqueles que separavam a porta da frente do quintal, mas nos meus sonhos a casa é tão grande quanto o coração dela, há vários andares, há frondosas árvores ladeando a propriedade, há velhos conhecidos deixando as rusgas de lado para retomar contato, há sorrisos, há lugar para todos, há flores-de-maio desabrochando em pleno verão, há balanços para sentir frio na barriga, não há relógio algum no pulso nem na parede, ninguém olha o celular, ninguém se importa em contar as horas, porque quando se vive um momento especial, o presente é o centro do universo e a maior de todas as dádivas.

Só sei que é tarde quando olho a hora no decodificador e ainda meio zonza me dou conta de que apenas sonhei e enquanto ocupo as horas para não padecer à melancolia, reflito sobre tudo que gostaria de ter-lhe dito e nunca consegui, sobre o momento presente, sobre quem continua presente, sobre um meio de demonstrar todo o meu amor de modo a nutrir no coração a certeza de que o amor é um laço que nem a morte destrói.

Vó, espero que o céu seja um bocadinho parecido com o que vejo nos meus sonhos, espero que esteja bem e saiba que sempre te amei e amarei. Quando nós aqui lamentamos a sua ausência, os céus festejaram a chegada de alguém especial e então você pôde dançar sem medo das limitações, reencontrar pessoas que partiram antes e tantas saudades deixaram, pôde, enfim, encontrar-se com Deus. Meu conforto se sustenta justamente nessa certeza tão firme de que Deus te acolheu bem e dia a dia renova as forças daqueles que ainda precisam prosseguir.

Pode ser que nunca mais o carro dobre a esquina e vejamos você abrir a porta para nos receber, mas quando eu chegar aos céus espero muito a encontrar, ou melhor, reencontrá-la, para que quando nos aproximemos, tenhamos a confiança de que o tempo foi apenas um conceito relativo, uma provação para fortalecer o afeto, o caráter, porque quando esse momento chegar, terão ficado para trás também as dores, angústias e fraquezas humanas, terá chegado a hora de abraçar e regozijar e caminhar rumo a uma nova era, rumo a novos sonhos, rumo a novos desafios... porque apenas o corpo expira, nossa alma permanece porque é composta por amor e o amor nunca morre, nunca, nunca, nunca morre.

só temos o hoje

 

Protótipo de como imagino a Aline de Simplesmente Tita (gerado por IA)

O plano de última hora mostrou-se mais promissor que aquele tão sonhado. A entrega deu-se por inteiro. Entre uma trama e outra, uma ponte a construir.

sobre tempo e sobre adeus

 


Aquela onda de calor castigava a capital da garoa, agora seca em virtude de uma estiagem tão prolongada quanto a espera de um coração apaixonado por notícias ou pelo retorno da pessoa amada. Por volta do meio-dia os termômetros já passavam (e muito) dos 30º e depois de muito tempo colocaríamos o pé na estrada para fazer um percurso bastante familiar e agradável para sermos recebidos de braços abertos no portão.
Nove meses se passaram desde aquele sombrio fim de semana em que todos os corações se feriram ao receber aquela notícia e o momento de vivenciar aquela sensação havia chegado: não vê-lo mais. Sempre éramos recebidos com mesuras e a mesa posta demonstrava carinho, preocupação, afeto, vontade de prolongar a conversa até altas horas.
Foi um golpe duro reconhecer o sofá desocupado, sendo que aquele lar outrora era tão preenchido de calor humano. Ela estava acamada, sua saúde havia se deteriorado após a grande perda, aquela mulher bonita de sempre sobrevivia aos trancos e barrancos, um dia de cada vez para não ser sobremaneira doloroso aprender a suportar o peso de uma incontestável ausência. 
Caixas e mais caixas de fotografias alocadas em álbuns ou soltas, todas elas contavam um pouquinho da história de toda a família, daqueles que já haviam partido também ou estavam somente longe geograficamente falando porque as conversas pelo telefone aliviavam um tiquinho o desejo de estar perto.
A restrição de visitas e abraços apertados quando uns mais necessitavam do calor humano dos outros para enfrentar o luto, o medo, o perigo invisível, a angústia apenas crescendo, crescendo de forma exponencial, expandindo-se num ciclo permeado de ansiedade e aflição.
Ela esforçou-se para levantar-se da cama e preparar aquele café no qual adoçava no bule. Mesa posta era sinal de xícara no pires, um bolinho nem que fosse de fubá, uma fruta, sem falar no geladinho, difícil eleger um sabor apenas como sendo o preferido, eram vários: chocolate, morango, maçã verde, leite condensado...
As habilidosas mãos de canceriana preparavam quitutes maravilhosos, dentre eles uma torta de coco irresistível e os afamados geladinhos que as crianças da rua tanto amavam, geração após geração batiam palmas no portão e entregavam-lhe as moedinhas, pois o segredo da receita ninguém nunca soube, tampouco nós poderíamos imaginar que tínhamos apenas seis meses ao lado dela, as últimas gotas de areia indicavam o fim da história através da ampulheta.
Era previsível que estivesse desolada no Natal, passou a noite mais especial do ano sozinha e depois de quase quatro décadas de união, seria a primeira vez que receberia o ano sem estar ao lado dele, como costumava ser, posto que cada um ia para o seu canto. Eles desejavam realizar tantos sonhos, a generosidade por vezes era tão grande que comovia, se pudessem, queriam ajudar o mundo todo - e no sentido literal - porque não conseguiam ser indiferentes ao sofrimento do próximo.
O bondoso coração dele parou de bater um dia depois do aniversário de casamento. Para ele era importante rememorar a ocasião em que subiu ao altar e disse "sim", cumprindo seus votos até partir. Antes de ir, mesmo sem saber que era um "nunca mais", entregou-lhe a aliança e pediu para que cuidasse bem dela "porque nunca se sabia" e então quem voltou amuado do centro cirúrgico foi o doutor e para dar a notícia mais triste de todas - porque embora tenha se esforçado, nada mais podia ser feito - e nunca uma noite foi tão longa, tão escura, tão fria, tão surreal que se alguém nos contasse sobre esses acontecimentos, cairiam eles muito bem em um triste conto sobre o fechamento da casa dos avós.
Na tarde seguinte, um sábado tão apático que nem parecia de verão, o corpo dele foi sepultado, mas a tal da ficha não caía. Antes de chegar o carro da funerária, aquela vizinha de porta que lhes conhecia de longas datas estava parada, veio caminhando até o jazigo de seu grande amigo, não deixaria de ser solidária naquele momento de consternação e de revolta também, às vezes a vida dá voltas e tira-nos do eixo, ainda é bastante difícil compreender por que ele, que tinha tanto para viver, partiu, enquanto tantas pessoas ruins, que em nada agregam, seguem firmes e fortes.
Era uma preocupação constante pensar em como seria a vida de vovó dali por diante. Quando ainda era uma distante cogitação, o mais otimista concordava que um não suportaria viver sem o outro. Spoiler dado, assim foi.
Meses antes, entretanto, ela foi submetida a uma cirurgia no quadril para reparar um problema que vinha limitando sua mobilidade e lhe impedindo de aproveitar a vida, caminhar era penoso, ficar de pé por muito tempo, executar as tarefas mais simples. No pós-operatório, ele estava lá para cuidar dela com seu amor incondicional, pois mais adiante viria a cirurgia no joelho direito e tudo ficaria bem.
A última vez que o vi foi a dois dias da inesquecível (e frustrante) final do Mundial de Clubes, na ocasião o Flamengo enfrentaria o Liverpool, repetindo a história partida de 1981, quando o rubro-negro sagrou-se campeão. "Como é que vai o Framengo? Será que ganha?", iria torcer também.
Eu estava adoentada naquele fim de ano e não fizemos a tradicional visita natalina, quando trocávamos presentes e meus pais levavam a ceia, o espumante e tantos planos eram feitos, sempre na promessa aquela casinha de praia para passar uns dias no litoral só curtindo a maresia, a viagem de trem, sonhos esses que a rotina atrapalhava, mas que agora são lembranças apenas.
No Natal passado a tristeza dela era tão grande que sentia-se o nó na garganta de pensar no quanto a vida tinha mudado sem nem sequer nos preparar (e as grandes mudanças costumam ocorrer de forma semelhante), as restrições aumentaram por causa do vírus, os telefonemas escassearam e então, três meses depois, ela telefona para dar uma notícia capaz de tirar o chão: um tumor raro no pâncreas foi detectado e a quimioterapia foi dispensada porque seria ineficaz, logo pensei naquela amiga da minha mãe que faleceu ainda jovem pela mesma razão e, paralisada pelo medo, refleti sobre quanto tempo ainda viveria vovó porque eu temia muito pela reação da minha mãe, pobrezinha, teve a infelicidade de experimentar o gosto amargo da orfandade antes mesmo de sentir o sopro da vida pela primeira vez, perderia uma pessoa querida, insubstituível, era aquela certeza difícil de digerir, também pudera, ninguém está pronto para isso, no entanto, ainda havia tempo de dizer adeus, os ponteiros do relógio corriam, a qualquer momento a notícia chegaria, fosse naquele dia, na semana seguinte ou dali a três meses.
Para uma mulher sempre ativa e disposta, um fardo pesado a se carregar. Presa a uma cama, limitada pelas dores que nem mais o efeito da morfina atenuavam, dores de uma mulher que desde muito cedo teve de aprender a se refazer dos escombros da vida, das mais tortuosas reviravoltas, porém um tumor cruel a impediu de chegar aos oitenta ou quem sabe até os noventa. Não foi o joelho nem o quadril, tampouco a hipertensão, foi ele, o maldito câncer que ainda destrói tantos sonhos e desfaz famílias.
Vovó amava novelas, acompanhava a maioria delas, a última foi A Viagem, cada qual em sua casa, falando ao telefone e ela, mesmo condenada pela doença, sem seu Otávio, se derretendo com o ímpar cavalheirismo do Otávio Jordão. Logo no capítulo em que o personagem mais querido do folhetim morreu, eu chorei com todas as forças, chorei por ele, chorei também para extravasar o aperto no peito. Os primeiros capítulos da primeira semana sem ela no mundo também foram marcados por um clima tão pesado que não dava para assistir sem chorar ou pelo menos sentir uma dorzinha. 
Estou consciente de que a novela era pura ficção, entretanto, esta sempre faz com que eu me envolva e quando acaba a saudade já me assola antes mesmo daquele final tão lindo, com aqueles dizeres tão inspiradores, final esse que vovó nem chegou a (re) ver porque partiu na metade da exibição.
No feriado de Tiradentes as notícias indicavam que o pior estava por vir, o médico iria sedá-la para que pudesse partir com um restinho de dignidade, era a hora da despedida. A bandeira vermelha havia deixado a cidade com um ar quase apocalíptico e ainda que em passos lentos, a vacinação se iniciava, ela própria já havia sido convocada, mas se não bastasse todo o calvário enfrentado desde menina e os mais recentes desgostos, até o vírus quis fazer morada nela.
Era domingo, o último do mês, as horas arrastavam-se, nenhum filme prendia nossa atenção, a concentração escapava facilmente, as nuvens cinzentas e volumosas acumulavam-se no céu, olhávamos uns para os outros e volta e meia o assunto retornava, sabíamos que era questão de tempo para a notícia chegar... e eis que chegou. À meia-noite chegou a primeira mensagem de uma tia, depois áudios, fotos, sem falar na repercussão nas redes sociais.
Ela, todavia, não deve ter se alegrado em saber que algumas pessoas - quero acreditar que magoadas pela perda abrupta - hostilizaram outras e decidiram escancarar mal-entendidos do passado logo na capela, no lugar onde deveria ser honrada a memória daquela que tornou possível a família crescer e novas gerações chegarem. Todos estavam com os corações dilacerados e para alguns era insuportável aceitar a realidade incontestável.
Nos dias que se seguiram, sofrimento. Mamãe não ligou mais o rádio para ouvir suas músicas preferidas, a preocupação crescendo de tamanho, ela havia orado tanto a Deus para testemunhar um milagre, a cura, mas a resposta era outra, bem diferente da esperada, descansar de todo o sofrimento era a alternativa mais digna.
O primeiro mês mostrou-se mais difícil, mas em todos os meses, quando chega o dia 25, encontro-a chorando, às vezes a torrente de lágrimas vem quando desponta alguma recordação e quando se olha para o telefone sabendo que a pessoa que mais telefonava agora tem sua existência conjugada integralmente no pretérito.
O terreno ainda existe, mas não é mais um lar. Durante minha vida toda, quando nos despedíamos no portão da casa de vovó, lá estava o casal acenando para nós até o carro dobrar a esquina. Em outubro passado, mesmo já debilitada, estava ela a levantar os bracinhos, não tinha ares de uma despedida formal, parecia ser apenas um "até logo", quem sabe venhamos no Natal ou "a qualquer dia desses" e enquanto as folhas do calendário foram avançando, o tempo correu contra ela numa velocidade impossível de acompanhar.
Time, do Alan Parsons Project, foi a dança dos noivos quando eles casaram-se na igreja e agora será sempre uma grande tristeza ouvir essa música. Eu ouvia rádio no celular, devia estar tocando uma canção mais dançante, o entardecer nos encantava com sua beleza, mas a trilha sonora destas humildes palavras deve ser aquela que fala sobre tempo e sobre adeus, quem sabe dizê-lo com todas as letras?
Vínhamos conversando no trajeto, desejando retornar outras vezes, sem saber que aquele percurso que fez parte da minha vida estava sendo feito pela última vez. 
E se soubéssemos? Se tivéssemos conhecimento de que ela também nos deixaria? Teríamos dito de viva-voz o quanto a amávamos? Teríamos abraçado mais apertado, mais demorado, sem medo de soar piegas? Teríamos repetido mais pedaços de bolo? Teríamos tirado mais fotos a título de recordação? Teríamos deixado de lado a mania de prometer para enfim cumprir todas aquelas vontades que nutríamos?
No dia 25 de abril deste ano, a casa da minha avó materna fechou as portas e com ela também uma parte importante da minha própria história. 
Hoje, primeiro de outubro, completa-se um ano da última vez que a vi. No aniversário da minha irmã ninguém telefonou porque quem costumava dar o seu alô era ela, no dela não pudemos felicitá-la, no do meu pai o telefone não tocou, no meu também não irá, no do meu irmão e da minha mãe, idem. 
O primeiro ano é sempre muito doloroso de vivenciar porque a cada data a lembrança da pessoa ainda está tão vívida, o desespero se consome, as lágrimas chegam a ser inconvenientes, mas de certo modo necessárias para lavarem da alma o medo de chorar e de sentir aquilo que precisa ser sentido para não ser uma mágoa guardada por puro orgulho.
Sinto falta do cheirinho dela, da voz, da risada, dos abraços, das histórias que ela nos contava, dos cachorrinhos que ela pegava para cuidar — e eles eram tão carinhosos quanto o saudoso casal —, das tantas folhagens e flores que com tanto amor cultivava. Nesses anos todos vovó criou muitas gatinhas, galinhas, até coelhinhos.
Quando eu era criança, ela morava numa casinha de madeira verde, mas pouco a pouco tijolos ergueram-se, o concreto removeu o gramado onde outrora as crianças deitaram e rolaram, as crianças que hoje chefiam famílias e lamentam que os pequeninos de hoje nunca venham a conhecê-la, tampouco viver uma infância parecida com a nossa, cheia de brincadeiras, aventuras, imaginação fértil e, para refrescar, muitos, muitos geladinhos.
Nesse dia frio eu recebi uma notificação do Google Fotos, eram as recordações, minha primeira tentativa de praticar o ichigo ichiê, pois essa filosofia é muito interessante, se todos a aplicassem em suas vidas, desfrutariam de muitos momentos maravilhosos ao lado de pessoas queridas, cientes de que estes não se repetiriam e por isso mesmo eram tão valiosos.
Minha incursão enquanto fotógrafa entusiasta do céu e das árvores engatinhava e ao menos olhar para elas me traz conforto, não preenche a saudade, não cura os machucados no coração, mas me lembram de que duas pessoas que me amavam de todo o coração não morreram de verdade, estão apenas do outro lado da ponte, não posso visualizá-los.
Perdi de vista o barquinho afastando-se do alcance dos olhos, no entanto, embora a vida tenha interrompido drasticamente uma parceria tão bonita, triste seria não ter sequer uma lembrança, um referencial, porque vivos eles permanecem em nossos corações, vivos para sempre, saudáveis, sorridentes, amorosos, num lugar onde não sentem mais tristeza nem dor, apenas conhecem o amor mais puro e sublime, amor esse que fortalece também quem ainda não cruzou o outro lado da ponte, amor esse que sustenta quem por aqui ficou, amor esse que motivou-me a compartilhar o desejo de redigir um texto para que o significado dessa data seja um norte para amar intensamente e não deixar a vida passar sem vivê-la intensamente.

— faz um ano que vi minha vó viva pela última vez

RIP Bebê (the hammy)

Bebê (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary)

Bebê fazendo um lanchinho (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary)

Bebê se aquecendo para correr (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary)

Vista panorâmica da mansão de Bebê (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary)

 Estive ausente nos últimos dias porque eles andam corridos e não consigo ter um tempinho para me dedicar a fazer minhas capturas e também porque na terça-feira meu querido amigo Bebê virou estrelinha.

Descanse em paz, amigo! 🐹

 

Pé Grande deixará muita saudade aos que o amam

    Querido amigo, um misto de choque, consternação e impotência me assolam. Hoje pela manhã você parecia tão bem, tão disposto, tão cheio de vida e no meio da tarde você se torna apenas mais um amigo, uma lembrança boa, um ciclo que se fecha enquanto você chega aos braços do Pai.
    A dor foi tanta que acreditar no óbvio me soava afrontoso, nem tivemos tempo de nos despedirmos, você simplesmente se foi, cedo demais, atrevo-me a dizer, mas eis a certeza que nos situa acaso a empáfia seduza.
    Em nossos corações você sempre sempre terá um espacinho só seu, conquistado com amor, doçura, pureza e singularidade. Um amigo especial merece uma homenagem digna. Siga em paz, meu amado. Nunca te esquecerei.🐹

Homenagem à Pandinha

Arquivo pessoal da Mary (Panda, 11/07/2016 – 10/05/2018)



Querida Pandinha,

Oi, minha gorducha? Tudo belesma? Estou devastada! Você se foi!
Já faz algumas horas que você está nos braços do Pai Amado, num lugar muito melhor do que aqui, no entanto, espero que você tenha sido feliz enquanto viveu conosco e que tenha me amado tanto quanto eu te amei.
É verdade que no começo da nossa convivência não tive uma atitude legal com você, havia passado por uma perda semelhante e me ressentia porque você era totalmente diferente do querido Matt — acho que agora vocês já se conhecem —, todavia queria entender por que você era tão arisca e guinchava tanto quando eu me aproximava da sua gaiolinha, até ler uma postagem de um blog que tocou meu coração e me fez perceber quão injusta eu estava sendo com você, querida amiga.
Você era você, o Matt era o Matt.
Nunca me esquecerei dos agradáveis momentos que passei ao lado do meu primeiro hamster, entretanto você era um frágil filhote e eu, responsável pelo seu bem-estar. Não à toa bani aqueles túneis de acrílico que são tão perigosos para os hamsters porque queria proteger sua integridade, cada pedacinho desse ser maravilhoso que fui aprendendo a amar. E fui apreciando seu jeitinho de ser, aceitando-o, porque com você também compreendi que não amo duas pessoas do mesmo modo, seria impossível, eu amo cada uma de um jeito porque elas são diferentes e a relação que estabeleço, também.
Ontem eu não fazia ideia de que seria a sua última noite no mundo dos viventes, meu bebezinho amado, que hoje estaria redigindo um texto de despedida para aquela que me conquistou aos poucos e para valer, levando para o paraíso um pedacinho do meu coração. Vai ser difícil, a partir de hoje, não ver mais a sua gaiolinha cor-de-rosa do lado da minha cama, te dar o beijo de boa noite, nem o beijo de bom dia ao despertar.
Sou muito grata pelos quase dois anos em que formamos uma grande parceria, pelos dois aniversários meus de que você participou (vou sentir tanto a sua falta nesse próximo, em novembro), pelos dois natais e as duas viradas de ano em que você esteve presente, partilhando da emoção do momento, por ser em muitas noites minha companheira mais fiel.
Quero me lembrar de você sempre como aquela menininha sapeca correndo na rodinha, roendo os rolos de papelão, comendo amendoins e alegrando a casa. No meu coração pretendo guardar o brilho daqueles olhos negros que me enchiam de ternura todos os dias, mesmo naqueles onde o sol não brilhou.
Tem mais alguém que sentirá sua falta. Você sabe quem, sua danadinha arrasadora de corações. Ele ficou escondidinho dentro de casa o dia todo, foi chorar como faço sempre, escondido para ninguém ver. A partir de amanhã o pobrezinho terá de se acostumar que você não vai mais o cumprimentar para contar às novidades. Ele sentirá tanta falta do seu aroma de almíscar exalando pelo ar, de quando bastava que vocês estivessem juntos para que tudo ficasse bem, nos dias bons e ruins. O coração dele deve estar despedaçado, mas um dia sei que vocês irão se encontrar e correr juntos pelas verdejantes campinas do paraíso.
Seguirei adiante com a minha vida porque é preciso, as perdas fazem parte da caminhada, no entanto, essa atitude não significa que vou te esquecer. Uma grande amiga como você nunca morre na memória, a gente coloca no lado direito do peito, com todo o cuidado do mundo. Nada mata um sentimento tão forte e tão bonito que nasceu e com dignidade cresceu, porque mesmo que seu coração já não mais bata, ainda assim você existe nesta homenagem, nestas lágrimas que se pudessem gostariam de te trazer de volta. Sendo impossível tal intento, minha pretensão é te manter sempre viva ao pensar numa boa amiga com quem me comuniquei no idioma do Amor, porque para esse não é preciso de curso, a vida ensina, somente se amando é que se aprende a amar.
Você foi mais do que uma simples amiga, tornou-se parte da família. Então, sim, repito que sou grata por esse tempo que passamos juntas, porque mais triste seria se eu nunca tivesse te conhecido e te permitido me conhecer também.
Aceite essa simplória, porém sincera homenagem que te faço, porque nesta noite, quando eu me deitar para dormir, com certeza me lembrarei de pedir a Deus para cuidar de você aí com o mesmo carinho que cuidamos aqui e para que eu tenha forças para aprender a viver sem você porque, fácil, ah, não vai ser.
De sua sempre amiga Mary.

PANDA 11/07/2016 – 10/05/2018



Descanse em paz, Matt 🕊️🐹


Na tarde de ontem, meu querido hamster Matt partiu. Foi muito “de repente”. O tipo de perda que te desconcerta pela rapidez com que ocorre. E a partida de um grande amigo sempre desola um coração.
O pobrezinho se machucou na saída do túnel de plástico que o conduzia até a uma rodinha onde costumava brincar. Os ferimentos foram profundos. Os primeiros socorros, apesar da boa vontade de todos, foram insuficientes para reverterem o quadro clínico lastimável do trágico acidente. Matt perdeu muito sangue, sofreu muito antes de o seu coraçãozinho parar de bater.
Sabia que um dia ele me deixaria, provavelmente quando estivesse velhinho, num sono profundo e calmo, jamais daquela maneira dolorosa que deixou todos nós perplexos com a fragilidade da vida, sobretudo quando se tenta salvá-la e infelizmente todos os esforços se mostram infrutíferos.
Matt agora descansa em paz. Cumpriu sua missão de trazer amor e dividi-lo conosco, partindo para uma nova jornada, pois o corpinho físico que lhe foi emprestado não existe mais, no entanto, sua pura alma é imortal.
A saudade fica no coração. Matt sempre terá um espaço nele, mas tenho certeza de que ele não gostaria de me ver triste. Se eu sofrer demais vai ser ruim para a evolução espiritual dele, logo, espero que meu bebê esteja agora num bom lugar e saiba que enquanto viveu me fez muito feliz.


Ei, você está confortável agora, meu bebê?
Aquela feridinha na sua barriguinha já parou de doer?
Aí tem semente de girassol à vontade?
Encontrou algum coleguinha para brincar?
Estamos sentindo a sua falta por aqui.
Fizemos tudo o que podíamos para salvá-lo, mas a dor foi mais forte do que quaisquer tentativas.
Obrigada por ter nos proporcionado a oportunidade de guardar todas as boas recordações no peito. Vai ser tão estranho olhar o lugar onde sua gaiola costumava ficar e saber que você não vai voltar.
Quem não sabe amar um animal nunca vai entender o porquê de dizermos que somos mães e pais de animais, vão julgar hamsters apenas como “aqueles que ficam correndo na rodinha à noite”. Mas é mais do que isso, é um ser vivo que passa a pertencer à família, uma vida que demanda cuidados especiais e também retribui com amor, expressando-o de maneira diferente do cachorro e do gato, nem por isso menos relevante.
Essa primeira noite vai ser(foi) muito difícil.
Você nem preparou nossos corações para a sua partida.
Foi literalmente “de repente”.
Ontem à noite você estava melhor do que nunca e hoje partiu nossos corações, mostrando-nos quão frágil é a vida.
Você se foi tão cedo, meu bebê. Um ano e oito meses, você era o meu pequeno xodó. Vou guardar a memória dos seus brilhantes olhos, daquela quente tarde de dezembro em que você conquistou o meu coração para todo o sempre.
Descanse em paz, amigão!

Dos tempos do WNBM | Adeus por vez, não por querer

Boa noite, meus amigos. Hoje é dia de Finados, como todo mundo sabe. Passei boa parte do dia pensando no que poderia escrever que não parecesse forçado ou coisa do tipo. É inevitável não perder ninguém no meio do caminho; se inúmeras vezes nós nos perdemos de nós mesmos, também somos obrigados a dizer adeus a quem amamos, ainda que não seja inteiramente do nosso controle, da nossa vontade. 
No momento da morte, somos todos um, cabemos na singeleza de um abraço, fazendo-nos perguntas que nem sempre culminam em respostas, tentando entender alguns porquês, traduzindo no pranto um idioma compreensível a todos, a tristeza de uma saudade que jamais terá fim. Espero que gostem desse texto porque o escrevi com o coração.
Hoje à noite, vou te procurar no céu. E vou sorrir.

Todo mundo tem uma estrela no céu. Uma estrela ao alcance de um olhar, um pensamento fixo, um sentimento inebriante. E todo mundo sente a falta de alguém que partiu, mas cuja essência nunca foi embora. Um cheiro peculiar, um trejeito familiar, um abraço que ficou somente na vontade, um sonho que nunca chegou a acontecer. São memórias que preenchem o coração, mesmo quando ele bate remendado, transformando a dor em presença eterna.

Todo mundo faz falta para alguém. Todo mundo é especial para alguém. Essa estrela que brilha no céu carrega um olhar esperançoso, acreditando em um futuro que, de certa forma, nunca deixou de ser presente. É impossível não se entristecer ao perceber que o que foi não mais será. Aquele riso familiar, aquele tempero que ninguém consegue repetir, aquele abraço apertado que dava sentido ao mundo — tudo agora vive nas fotos e nas lembranças, momentos únicos que não voltam mais.

Adeus é uma palavra tão curta, tão cruel. Eu preferia dizer “até logo”, enganar meu próprio coração com a ideia de que a separação é temporária. Superar, do jeito que dizem, parece utopia. O coração aprende a bater do jeito que pode, mas o entusiasmo nunca mais é o mesmo. Talvez, por isso, sorrisos carreguem algo a mais, um peso, uma história que só quem sente entende. Afinal, em algum momento, todo mundo sente a dor de todo mundo.

E quando a dor vem, é a empatia que nos salva. Ela apaga ressentimentos e dissolve as diferenças que antes pareciam incabíveis. Afinal, todo mundo anseia pela sintonia de um abraço, seja ele de despedida, saudade ou reencontro. Todo mundo será a estrela de alguém um dia, e espero que essas constelações de histórias sempre confortem os corações que caminham desamparados, especialmente quando o silêncio de uma data importante, como o dia dois de novembro, insiste em pesar.

Mesmo nessas noites mais difíceis, as estrelas iluminam. E entre dúvidas, dores e eventuais paradas no caminho, é possível extrair força. E então, no tom mais alto que minha voz pode alcançar, eu digo: estar aqui é um privilégio. Não um pesar. Mesmo que às vezes eu caminhe sozinha, sei que não sou a primeira e nem serei a última.

Hoje à noite, vou te procurar no céu. E vou sorrir. Mesmo que meu peito doa, mesmo que o ar falte. Porque o adeus nunca separa aqueles que verdadeiramente se amam. Ele é somente a certeza de que estaremos juntos novamente, de alguma forma, em algum lugar.

Destrinchando a Letra - Let me go - Avril Lavigne & Chad Kroeger

 

Boa tarde, queridos leitores!
Hoje o quadro Destrinchando a Letra traz uma canção que me atravessou por inteiro. Ela é recente, mas carrega um peso emocional e uma maturidade que merecem atenção — tanto pela letra quanto pela história por trás. A dica? A cantora se casou com um rockstar em 2013. Sim, estou falando da Avril Lavigne. E a música escolhida é a belíssima “Let Me Go”, uma parceria com Chad Kroeger, vocalista do Nickelback.

Como fã antiga da Avril, posso parecer suspeita — mas essa faixa me pegou de um jeito especial. Tem a intensidade de “Under My Skin”, meu álbum favorito dela, e uma delicadeza dolorosa que fala de despedidas, recomeços e do tipo de amor que chega quando tudo parecia estar perdido.

🎧 Sobre a música
“Let Me Go” começa com a lembrança de um amor antigo, de uma história que acabou deixando mais dor do que memória boa. Mas, aos poucos, a canção se transforma num diálogo de despedida e libertação.

A voz da Avril traduz o luto de quem precisou queimar o passado para se curar — “I've said goodbye, set it all on fire”. Mas quando entra a voz de Chad, a música vira um reencontro. Um novo amor. Uma nova promessa.

E é aí que tudo muda. O refrão final já não é mais sobre deixar ir, mas sobre ficar:
“Don't let me go. Won't let you go.”
É um amor que vem depois do luto. Depois da dor. Um amor que chega como cura.



💬 Por que essa música mexe tanto comigo?

Talvez porque ela fale daquelas conexões que vêm depois que a gente achava que não viveria mais nada. De quando o coração estava em ruínas e, ainda assim, alguém apareceu — e não foi para invadir ou bagunçar mais, mas para acolher.

A canção é um reflexo do tempo: ele passa, sim. Mas às vezes, ele não leva tudo. E o que sobra pode florescer num novo começo.

🌌 Curiosidade
Muita gente comparou essa música a “Broken” (Amy Lee & Seether, 2004). Ambas têm esse mesmo espírito de reconstrução e um dueto emocional entre pessoas que sabem o peso de perder e o valor de amar de novo. Quem sabe um dia trago “Broken” aqui também?

📝 Comentem!
Se você também sente que essa música te tocou, compartilha comigo. O Destrinchando a Letra é um espaço de troca, e o WNBM sobrevive graças à sua participação.

Um grande abraço e até o nosso próximo encontro!🎵❤️

2 de maio | Dia Nacional do Humor

Especial - 2 de Maio: Dia Nacional do Humor Feliz Dia Nacional do Humor! O 2 de maio é o dia dedicado a uma das formas mais poderosas de con...