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Edu Meirelles estava aproveitando ao máximo seu último dia em Buenos Aires. Suas malas, cuidadosamente arrumadas, repousavam próximas à porta da suíte presidencial, prontas para a viagem de volta ao Brasil. Mas o jornalista fanfarrão tinha planos de despedir-se em grande estilo. Com seu roupão azul-marinho atoalhado e chinelos de pano, ele preparava-se para o evento do ano — um pagode improvisado.
Chamando seus amigos argentinos e algumas hermanas que conheceu ao longo da estadia, Edu transformou a suíte em um verdadeiro sambódromo. Taças de champanhe tilintavam enquanto os convidados — vestidos casualmente e com um toque de descontração — ocupavam cada canto do amplo espaço. Empanadas, queijos, charcutarias e até um churrasco portátil traziam o sabor da festa, enquanto o pagode tocava ao fundo, contagiando todos com sua alegria.
Edu liderava o samba com sua energia inconfundível, enquanto tentava ensinar os amigos argentinos passos básicos, com direito a risadas e tombos.
— Qué tú haces en Brazil? — quis saber uma modelo de cabelos castanhos presos em um coque, vestindo um maiô sensual magenta que contrastava com sua pele bronzeada.
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Luciana Andrade já havia desembarcado em Buenos Aires, determinada a confrontar Edu. Vestida em um impressionante conjunto vermelho justo, que exibia suas curvas com elegância feroz, ela seguiu diretamente para o hotel onde ele estava hospedado. Luciana não era o tipo de mulher que recuava, e o espetáculo que ela estava prestes a causar prometia ser memorável.
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Enquanto o pagode na suíte presidencial rolava solto, com vozes alegres e risadas ecoando pelos corredores, um som repentino interrompeu a melodia: tum-tum-tum, pausa, tum-tum-tum-tum-tum. Era uma batida ritmada, firme e insistente, tão forte que parecia atravessar a porta. Alguns convidados congelaram no lugar, enquanto Edu levantou a cabeça, os olhos semicerrados de apreensão.
— Sujou. Deve ser o gerente! — disparou ele, gesticulando para os amigos se esconderem.
Edu Meirelles não esperava por ninguém, no entanto, caminhou calmamente até a porta e solicitou para os convidados se esconderem no banheiro até a segunda ordem.
Edu sentiu um arrepio na espinha ao reconhecer a voz de Luciana. Pretendia vencê-la pelo cansaço ao apagar a luz e fingir que a atriz o confundiu com outro hóspede.
As batidas ficaram ainda mais intensas e constantes. Luciana estava usando um vestido vermelho justo que realçava suas curvas, com um decote profundo e uma fenda lateral ousada. Nos pés, usava uma sandália de salto plataforma dourada que a deixava ainda mais imponente. Seus cabelos longos e ondulados estavam soltos, esvoaçando a cada movimento brusco que fazia ao bater na porta.
— Abre essa porta, seu crápula! A gente tem muito assunto a tratar! Não pense que vou deixar barato porque eu não vou. Vou armar o maior escândalo aqui. Você vai se arrepender!
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Algumas portas naquele corredor abriram-se e os hóspedes, ao não encontrarem nada suspeito acontecendo, recolheram-se. Luciana, por sua vez, encontrou um aparador e o empurrou até pressionar contra a porta do quarto de Edu, abrindo-a. As luzes estavam apagadas, mas a atriz tateou a parede até encontrar o interruptor, que iluminou o recinto. Não havia ninguém.
— Nem pense que vou cair nesse seu papinho, Eduardo Meirelles. Eu vou acabar com a sua farra e é AGORA!
Reiniciou-se, então, uma enxurrada de batidas violentas na porta da suíte. Ninguém atendia.
— Resistir vai ser pior, Eduardo Meirelles. Abra agora se você tem alguma dignidade! Vou contar até 3. Só até três. Ao final da contagem eu vou abrir essa porta nem que tenha que arranjar um pé de cabra. UM… DOIS… DOIS E MEIO… TRÊS!
Luciana pegou impulso para arrombar a porta com o próprio corpo, invadindo o dormitório e encontrando um casal de meia-idade no maior clima de romance. Eles estavam ouvindo Enya na banheira de hidromassagem, plenos, tranquilos, tudo isso até olharem na direção da porta e encontrarem a atriz surtada e descompensada falando palavrões que não serão transcritos por questão de bom senso e respeito aos estimados leitores.
— Quem é você? — Perguntou a mulher.
Luciana balançou a cabeça como que em reprovação por não ser reconhecida.
— Fiz uma pergunta, você não vai responder? — Insistiu. — Ou quer dizer que além de ser péssima atriz, é mal-educada também?
— Sou uma péssima atriz? — reagiu Luciana, erguendo uma sobrancelha. — Você sabe com quem está falando?
— Ah, só me faltava essa: receber carteirada de uma atriz de quinta categoria!
— Fique sabendo que de quinta categoria é essa sua cara, sua bruaca!
— Sinto dizer, mas a senhora entrou no quarto errado — explicou o homem, que havia se retirado e retornou para amparar a amada.
— Este quarto é nosso e esta é a primeira vez que a vejo na vida!
— Pois não foi o que me contaram…
— Certamente a senhora se confundiu.
Edu Meirelles, ao ouvir barulhos suspeitos no corredor, reconheceu Luciana sendo carregada por três seguranças que pareciam armários uniformizados e nem eles conseguiram conter os ânimos exaltados da atriz.
O homem acionou a ajuda pelo telefone. Os funcionários caíram no chão e o jornalista nem teve tempo de fechar a porta porque ela o reconheceu e partiu para cima dele:
— Crápula, safado, desgraçado! — Luciana estapeou Edu, que cobria a cabeça para minimizar o embaraço. Ela adentrou o aposento e tocou o terror. Quem estava escondido no banheiro da suíte se desesperava com o desenrolar da confusão.
— Lulu, calma! Calma, por favor! — Edu suplicou em uma tentativa falha de acalmar a noiva.
— Cadê a quenga? — Os olhos de Luciana perscrutavam o recinto em busca de um indício. — Cadê ela?
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Já dentro do banheiro da suíte, a festança de outrora deu espaço a uma roda de orações, bem na hora em que Luciana arrombou a porta. Todos os participantes estavam vestidos do jeito que chegaram ao evento, tentando se manter em silêncio enquanto a confusão se desenrolava do lado de fora.
Edson, parceiro de Edu nas gandaias, de joelhos, fazia promessas para seu santo de devoção, temeroso da esposa descobrir que a viagem a trabalho rendeu algumas escapadinhas.
— No meu caso, nem divórcio… — choramingou Edson, se atrapalhando todo nas rezas. — Serei o picadinho de carne do almoço de domingo!
— Pelo menos fome naquela casa ninguém passa! — brincou o amigo, tentando aliviar a tensão.
— Suas piadas são tão ruins que rio para não chorar — devolveu o cinegrafista, suando em bicas.
Luciana então segurou a maçaneta da porta do banheiro da suíte, decidida a resolver tudo ali mesmo.
Jaqueline assistia clipes na televisão da sala quando, entediada, mudou de canal. Acabou encontrando um episódio clássico de “Chaves” de 1977, “A Casinha do Quico”, logo na cena do duelo entre Seu Barriga e Seu Madruga, que discutiam acaloradamente:
Bem no momento em que Quico foi golpeado, a vinheta do Boletim Extraordinário interrompeu a programação, pegando a adolescente de surpresa.
Os telespectadores viam o logotipo do Boletim Extraordinário congelado na tela. Aquele logotipo por si só já era motivo suficiente para que muitos dormissem com as luzes acesas.
Em seguida, a transmissão cortou para o instante em que Dona Florinda presenciou o Seu Madruga acertando Quico, embora a intenção fosse atingir o dono da vila.
Jaqueline revirou os olhos e comentou com Pitico e Scorpion:
A sala estava escura, iluminada apenas pelo brilho da televisão. Jaqueline estava deitada no sofá, vestindo pijamas confortáveis, com o controle remoto nas mãos, acariciando ambos os animais enquanto tentava focar de novo na TV. O ambiente foi totalmente preenchido pelas risadas da menina.
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