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Terças com Tita | De bolha em bolha


Por Tita | Os Cadernos de Marisol

Às vezes me questiono se o mundo não passa de uma bolha. Se de bolhas em bolhas vamos deixando nossas antigas peles, bem como antigos sonhos, nossa inocência e nossas lentes cor-de-rosa

Todos nós temos sede de pertencer a alguma bolha que nos acolha tal como somos, mas quanto de nós mesmos abrimos mão em nome dessa utopia? 

De bolha em bolha procurei tanto me sentir em casa, porém nunca pude passar do capacho de boas-vindas. Ninguém nunca explicava os motivos para vetar minha entrada ou aceitá-la com ressalvas.

Eu lia o que as palavras não tinham coragem de dizer. Gestos, olhares, hierarquias...

Um dia, cansada de tanto ser excluída, decidi parar de me dedicar tanto a ser aceita em lugares onde minha presença incomoda. Porque me transformar na problemática da história é artimanha daqueles que vestem a carapuça porque sabem muito bem serem os causadores das feridas que carrego.

Quando eu era semente, ninguém me regou. 

Muito pelo contrário, tentaram jogar sal nesse solo, mas ninguém contava com o fato de que de bolha em bolha, aprendi a sobreviver e tenho certeza de que minha tribo de alma está por aí, talvez até lendo este texto e se identificando... numa dessas...

Terças com Tita | Cheiro de banho

Uma das lembranças mais agradáveis da quinta série é, sem dúvida, posar na casa da Mari Franco. Não era sempre que a minha mãe deixava ir lá, mas era uma alegria só quando dava certo.
A gente não parava de tagarelar sobre qualquer assunto, das aulas até o porquê de o milho sair no cocô. Nesse nível. Era uma olhar para a outra que começava o acesso de gargalhadas. 
Numa dessas noites em que o sono não vinha, ficamos conversando com a luz apagada.

— Sabe o que eu tava pensando? — disse a Mari, com o queixo apoiado no caderno. — Por que o cheiro do sabonete do meu pai parece diferente? Tipo… mais cheiro de banho mesmo?

Ri, ajeitando a franja atrás da orelha.
— Cheiro de banho?
— Quando ele toma banho, parece que o cheirinho do sabonete fica pela casa toda, mas quando eu saio do banho, não fica o mesmo cheiro.
— Já reparei nisso também. Quando ele sai do banheiro, parece que o banheiro todo se perfuma. Eu uso o mesmo sabonete e parece que some. Será que é porque ele esfrega mais?
— Parece quando a minha mãe lava o cabelo e eu sei só pelo cheiro do xampu dela.
— Eu pensava que era a única que pensava nessas coisas.
— Não, não é. Eu também penso.
— Isso é muito curioso, você não acha?
— Será que isso acontece porque a gente não sente mais nosso cheiro depois de um tempo? Tipo quando você passa perfume e acha que sumiu, mas todo mundo sente.

Mari deu um longo suspiro.
— Acho que é porque meu pai quase nunca fica em casa. Quando sinto o cheiro do sabonete dele, sei que ele está em casa.
— O cheiro do seu pai lembra o do meu.
— Você sente muita saudade dele?

Ficamos em silêncio por uns instantes, ouvindo o barulho da chuva fina caindo nas folhas da mangueira lá fora.

— Sabia que meu pai já chegou do trabalho e foi direto tomar banho pra me levar no médico, mesmo cansado? — contou Mari, baixinho. — Acho que por isso o cheiro do banho dele nunca sai da memória.
— Então deve ser isso. O cheiro de quem a gente ama. Fica pra sempre.

Terças com Tita | A Cobra, o Vagalume e a Garota Que Só Queria Viver em Paz

Por Tita | Os Cadernos de Marisol 


Se você nunca foi odiada só pelo fato de existir, considere-se uma pessoa abençoada.

Porque boa parte das pessoas — dentre as quais me incluo — nunca teve o direito de viver em paz.

Terças com Tita | Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar

 


Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar
Por Tita | Os Cadernos de Marisol


Sinto, dia após dia, o olhar enviesado de quem espera que eu me encaixe.

Porque não suporto blazer que me aperta, salto que me cala, nem a obrigação de parecer adulta para satisfazer expectativas alheias.

Gosto de roupas que contam quem sou — e não de figurinos pensados para agradar o LinkedIn dos outros.

Julgar meu profissionalismo pelo que visto é uma das formas mais escancaradas de misoginia estrutural.

A régua da maturidade é torta. E pesa só para um lado.

Terças com Tita | Quando o Aurélio voou: a vingança ortográfica de Arlete


📎 Nota da narradora:
Desde a publicação do post sobre a famigerada "AUTORIZASSÃO" — que rodou o CEPEM mais rápido que bilhete de sala para sala — fui cobrada a contar o que aconteceu depois.
Afinal, bilhete mal escrito é uma coisa…
Agora, dicionário voando?
Isso foi história.

E como diria D. Arlete: “o castigo vem antes da aula de reforço”.
A seguir, os fatos que abalaram a honra linguística de uma mãe-professora.

Terças com Tita | O dia em que ‘AUTORIZASSÃO’ quase virou caso de polícia


 

O dia em que ‘AUTORIZASSÃO’ quase virou caso de polícia 

Por Tita

O ano era 2003, o segundo do Ensino Médio. Fevereiro, o pior mês para uma roqueira no auge da adolescência (ou aborrecência para os pais) viver em solos tupiniquins, mesmo que Curitiba nunca tenha sido um dos points para quem curte folia. Todo ano a lesma lerda, enquanto no Dia Mundial do Rock, nada de atenção. Eu não aguentava mais.

Quando o Carnaval cai em março, o primeiro feriado para valer fica para abril, cujos nativos talvez vivam o mesmo dilema da galera nascida em dezembro, ganhar um presente de aniversário + [data comemorativa da vez], no caso, Páscoa e Natal, respectivamente.

Cheguei à escola querendo trucidar o primeiro que me aparecesse com um sorriso na cara. Ninguém tinha culpa se minha vida era uma sucessão de provocações, mas eu estava para o crime naquele dia. Guilherme bem deve ter percebido, tanto é que por ser mais velho e experiente que eu, propôs o irrecusável.

— Qualquer coisa para não passar o Carnaval em casa. Fala aí.  — É bizarro, meio intrigante, mas vale a pena tentar.

Terças com Tita | Como a escrita salvou minha infância e me ensinou a resistir


Como a escrita salvou minha infância e me ensinou a resistir
Por Tita


Hoje me peguei lembrando do dia em que alguém me ouviu pela primeira vez — de verdade. Não foi em casa. Não foi entre colegas. Foi num momento simples, numa sala de aula barulhenta, com cheiro de merenda e barulho de ventilador.
Foi a primeira vez que senti que escrever poderia me salvar.
Nem todo mundo vai entender o que isso significa. E tá tudo bem. Porque escrever, para mim, é como conversar com a menina que fui e dizer a ela: “Você não estava errada. Só nasceu num mundo que ainda não sabia como lidar com a sua força.”
Este é um pedaço da minha memória guardado com grafite, dor e alguma poesia.

Terças com Tita | Não sou um cabo-de-guerra

 

Félix e Tita (Arquivo pessoal da Mary)

Existem barreiras invisíveis que ninguém vê, mas todos sentem.


Na última sexta-feira (25), foi o Dia Internacional de Conscientização sobre a Alienação Parental. Celebramos a luta por mais justiça, bem como a necessidade de ouvir as crianças, entender seus silêncios e abraçar seus corações quebrados que, muitas vezes, são confundidos pelos adultos ao redor. Tita, nossa pequena heroína, cresceu com uma dor difícil de explicar, muito além de não entender por que seu pai não estava lá quando ela mais precisava.

“Eu só queria que ele me explicasse. Mas ela falava tantas coisas contra ele, e eu... eu ficava perdida. Eu não sabia mais o que acreditar.”
Tita, aos 8 anos

Terças com Tita | Os 500 anos que ela não conseguiu comemorar

Para Tita, os 500 anos do Brasil não eram um motivo de celebração, mas uma oportunidade de reflexão.

Parece que foi ontem, mas há exatos 25 anos, o Brasil se preparava para as comemorações dos 500 anos de seu descobrimento. Para quem nasceu depois disso, a terceira temporada de Simplesmente Tita traz uma reflexão profunda sobre a data, onde a personagem central se vê diante de um dilema ao questionar aspectos importantes sobre os registros históricos e os absurdos praticados pela diretora da escola, Norma, em prol do “Grande Dia”. Aos 12 anos, Tita já percebia as contradições e as marcas deixadas pela colonização, refletindo sobre o real impacto desse aniversário para o país.

O Dilema de Tita: Comemorar ou Questionar?

Tita, com seu olhar crítico, observava a diretora Norma transformando o evento em um espetáculo. A coleta de dinheiro dos alunos e as arrecadações de chocolates e doces, que muitas vezes eram desviados para a família da diretora, aumentavam o desconforto da menina. “Como comemorar algo que começou com a destruição das culturas dos povos originários?”, essa era a pergunta que ecoava em sua mente.

Antes da chegada dos colonizadores, os povos tradicionais da região já possuíam suas próprias culturas, costumes e tradições. Tita não entendia como o Brasil poderia celebrar os impactos da colonização enquanto ainda carregava tantas cicatrizes históricas. Esse conflito entre o entusiasmo da escola e sua percepção crítica dificultava sua participação na festa com qualquer tipo de alegria.

O Concurso de Beleza: Reflexão sobre Representatividade

Durante os preparativos para as comemorações, a diretora Norma anunciou com entusiasmo a realização de um concurso de beleza entre as alunas, para “valorizar a cultura brasileira e a beleza da juventude”. Para Tita, a proposta soava completamente fora de lugar.

“O que isso tem a ver com educação?”, ela se perguntava. “E como podemos falar de representatividade se todas as meninas que ganham esses concursos seguem um padrão que nem parece com a maioria de nós?”

Tita observava as candidatas e percebia que os elogios da escola recaíam sempre sobre meninas de olhos claros, cabelos lisos e traços eurocêntricos — um reflexo direto do apagamento de tantas outras belezas brasileiras. O concurso, assim como a festa dos 500 anos, parecia mais uma encenação do que uma verdadeira homenagem à diversidade do Brasil.

Celebrar o quê?

Para Tita, os 500 anos do Brasil não eram um motivo de celebração, mas uma oportunidade de reflexão. Ela expressava suas ideias de maneira criativa e sempre buscava formas de dar voz aos que, como os povos originários, muitas vezes ficavam à margem das celebrações.

Apesar de sua revolta silenciosa, Tita nunca perdeu a capacidade de pensar além do que estava sendo mostrado. Para ela, a festa parecia ignorar uma parte essencial da história, deixando de lado a resistência e as lutas dos povos tradicionais que já habitavam o território brasileiro. Mesmo tão jovem, sua mente estava dividida entre a inocência da infância e o despertar de um pensamento crítico.

Indagação e inquietação

Norma, a diretora da escola, estava determinada a tornar a celebração dos 500 anos grandiosa. Isso significava pedir contribuições financeiras para bancar a festa e até arrecadar chocolates e doces, que misteriosamente nunca chegavam à festa, mas sim à casa da própria diretora.

Tita observava tudo com desconfiança. Aos 12 anos, ela ainda não sabia exatamente como expressar sua indignação, mas algo estava claramente errado. Como alguém podia celebrar uma história marcada pela exploração e, ao mesmo tempo, reproduzir gestos tão questionáveis?

“Por que estamos comemorando, se ainda carregamos as marcas dessa colonização?”

Enquanto todos ao seu redor estavam envolvidos na euforia da celebração, Tita se via cada vez mais distante. As bandeirinhas e os sorrisos ensaiados pareciam ocultar as feridas abertas pela história. “Como podemos comemorar algo que começou com a chegada dos colonizadores, que arrancaram terras e sonhos dos povos que já viviam aqui?” ela pensava, sem encontrar respostas satisfatórias.

O olhar crítico de Tita: uma oportunidade de reflexão

Tita tentou participar da festa, mas seu coração estava em outro lugar. Ela não conseguia se enganar com o que via. A comemoração parecia mais sobre os interesses pessoais da diretora do que uma verdadeira reflexão sobre o país. A pergunta “Por que estamos comemorando?” ecoava em sua mente, e ela sabia que algo estava muito errado.

Em meio ao caos, Tita encontrou formas de expressar sua revolta e sua visão crítica. Ela buscava maneiras de valorizar as vozes que ficaram à margem e de lembrar que o Brasil era muito mais do que o que estava sendo comemorado naquela festa escolar. E assim, ela continuava a refletir sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil, questionando e desafiando as verdades que muitos estavam dispostos a aceitar sem questionar.



Terças com Tita | Tita e a Páscoa de 1998: Titanic, sonhos e expectativas perdidas

 


A Páscoa de 1998 foi marcada por sonhos, nostalgia e grandes expectativas. Para Tita, de Simplesmente Tita, aquela época parecia carregada de promessas. A maior delas? Finalmente assistir ao filme Titanic, que não só era o maior sucesso nos cinemas, mas também fazia parte das conversas, das emoções e dos suspiros de toda uma geração.

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