Lavanda e Fúria
Os olhos que sabiam demais
Olhos fundos, como se guardassem noites inteiras sem dormir.
Neles, mora o peso de quem já viu demais — e falou de menos.
São olhos que brilham sem precisar de cílio postiço,
que deixam com cara de ressaca —
porque a beleza verdadeira nunca esteve no silicone dos cílios,
nem na aflição de querer agradar.
São a tristeza de quem já nem forças mais tem para chorar,
de quem já desistiu da vida e de si.
De alguém que sempre tentou ser igual às outras
na esperança de ter uma vida menos dolorosa,
mas é diferente demais, não cabe em caixinhas,
não aceita ser outra a seguir modinhas vazias.
Olhos que falam mesmo em silêncio,
que doem mesmo quando o sorriso está no rosto,
olhos que enxergam além —
e por isso sofrem.
Ela não aceita domar a juba natural
pra ter aquele cabelo lambido e esticado.
Não precisa de blush que pareça insolação.
Prefere o bom e velho preto
àquela monotonia sem alma
das roupas de alfaiataria de baixa qualidade.
Clean girl é o caralho.
E talvez ainda não tenha a mão dele para segurar,
mas do amanhã ninguém sabe.
E até lá… escreve.
Mesmo que doa.
Mesmo que ninguém leia.
Mesmo que o mundo diga que não vale a pena.
Ela escreve.
Porque escrever é a única coisa que ainda a faz respirar inteira.
— Anônima, mas não calada