Nas Lentes da Malacubaca (edição extraordinária) | Revolução Francesa e o preço da ruptura

 

Quando falamos em Revolução Francesa, é comum pensar em guilhotinas, multidões furiosas e o grito de “Liberté, égalité, fraternité!”.
Mas a verdade é que esse episódio, iniciado em 1789, mudou o rumo da história do Ocidente.
Foi o fim do Antigo Regime e o início de um mundo onde o povo exigiria voz — nem sempre sendo ouvido. 
Em busca destas e outras respostas, a equipe do OCDM preparou uma edição extraordinária para compreendermos mais profundamente as circunstâncias de um evento que marcou o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea.

📚 A Revolução Francesa marca o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea?

Sim! Oficialmente, a Revolução Francesa (1789) é o marco que inaugura a Idade Contemporânea.

Essa divisão é pedagógica e eurocêntrica, mas amplamente aceita no ensino de História Ocidental.


Linha do tempo das eras históricas com principais acontecimentos de cada período - arte educativa por Mary Luz (OCDM)

🔥 Por que a Revolução Francesa marca essa virada?

Porque ela transformou profundamente a estrutura política, social e econômica da Europa:

  • Derrubou a monarquia absolutista na França

  • Abriu caminho para regimes republicanos e constitucionais

  • Espalhou os ideais de liberdade, igualdade e cidadania

  • Inspirou movimentos na América Latina, no Caribe e em colônias africanas

Foi mais do que uma revolta popular: foi a ruptura de um modelo de mundo.


🧠 E a Revolução Industrial?

➡️ A Revolução Industrial (iniciada por volta de 1760, na Inglaterra) antecede a Revolução Francesa, mas não é considerada o “marco oficial” de transição.
No entanto, ambas as revoluções estão intimamente ligadas: a Francesa no campo político e social, e a Industrial no campo econômico e tecnológico.


🤔 Por que essa divisão é eurocêntrica?

Porque ela se baseia em eventos que aconteceram na Europa e desconsidera o tempo histórico de outras civilizações.

Por exemplo:

  • Civilizações africanas, asiáticas e indígenas têm outras formas de periodização.

  • Povos originários das Américas já viviam períodos altamente desenvolvidos antes da chegada dos europeus, mas isso não entra nessa “linha do tempo clássica”.

Mesmo assim, para fins de estudo acadêmico e ensino formal, ainda se utiliza essa cronologia ocidental.


📌 Resumo carinhoso para guardar:

🌍 A Idade Contemporânea começa em 1789, com a Revolução Francesa.
Ela representa o nascimento do mundo moderno como o conhecemos: direitos civis, cidadania, crise do absolutismo e a busca (ainda incompleta) por igualdade social.

⚖️ O que causou a Revolução Francesa?

💸 Crise econômica e fome

A França vinha de décadas de descontrole financeiro, por vários motivos:

  • 🛡️ Guerras caras demais: A França havia participado da Guerra dos Sete Anos (1756–1763) e depois ajudado os Estados Unidos a se libertarem da Inglaterra na Revolução Americana (1776). Resultado? Um rombo gigantesco no Tesouro Real.

  • 👑 Gastança e ostentação da corte: O Palácio de Versalhes era o centro do luxo extremo. A rainha Maria Antonieta, estrangeira e antipática aos olhos do povo, ganhou o apelido de “Madame Déficit”. Enquanto o povo passava fome, a nobreza dava festas e caçava com trajes bordados a ouro.

  • 🌾 Colheitas ruins e clima instável: inundações, secas e invernos rigorosos nos anos anteriores causaram escassez de alimentos. O pão, base da alimentação popular, chegou a triplicar de preço. Isso não é exagero: o povo literalmente não tinha o que comer.

E fome gera revolta. A crise alimentar teve um papel psicológico e simbólico fortíssimo na eclosão da Revolução.

🏛️ Um sistema injusto: os Três Estados (com mais detalhes)

A França era governada por um modelo conhecido como Antigo Regime (ou Ancien Régime), onde o poder se concentrava na mão do rei, sustentado por uma estrutura social rígida e desigual:

1. Primeiro Estado — Clero (cerca de 0,5% da população)

  • Possuía terras e não pagava impostos

  • Recebia dízimos obrigatórios da população

  • Controlava escolas, hospitais e censura

2. Segundo Estado — Nobreza (cerca de 1,5%)

  • Donos das maiores terras

  • Tinham privilégios legais, políticos e fiscais

  • Ocupavam cargos altos no exército e na corte

3. Terceiro Estado — Os demais (98%)

  • Incluía camponeses, operários, artesãos, a burguesia, os pobres urbanos

  • Pagava todos os impostos: sobre a terra, sobre o sal, sobre os produtos, e até taxas feudais

  • Sem voz real nas decisões do país

➡️ O problema não era só pagar imposto. Era pagar imposto sem representação política, sem retorno social e sendo tratado como inferior por nascimento.


🧠 E os ideais iluministas?

💡 O Iluminismo foi o fermento na massa.

Filósofos como Voltaire, Rousseau, Montesquieu e Diderot vinham há décadas questionando:

  • o direito divino dos reis

  • os privilégios da nobreza

  • a intolerância religiosa

  • e pregando a razão, o contrato social e a soberania do povo

Essas ideias circulavam em panfletos, salões e cafés — especialmente entre a burguesia, que crescia em poder econômico, mas continuava sem poder político.


👑 O rei tentou resolver?

Tentou… mas tarde demais e com pouca habilidade.

Luís XVI convocou os Estados Gerais (uma assembleia representativa dos três estados) em maio de 1789, coisa que não acontecia havia mais de 170 anos.

Mas ao invés de buscar diálogo real, quis manter a votação por ordem (cada estado = 1 voto). Resultado: o Primeiro e Segundo Estados se uniam e venciam o Terceiro por 2 × 1 sempre.

👉 O Terceiro Estado se revoltou, saiu da assembleia e se autoproclamou Assembleia Nacional, jurando elaborar uma Constituição.

Esse gesto ficou conhecido como o Juramento do Jogo da Péla (uma quadra onde fizeram o juramento histórico de não se dispersarem até que a França tivesse uma constituição).


🔥 O estopim: 14 de julho de 1789

Enquanto isso, nas ruas, o povo estava com raiva, fome e medo. Espalharam-se boatos de que o rei ia dissolver a Assembleia pela força.

Em julho, o rei demitiu Jacques Necker, seu ministro da Fazenda, que era popular entre o povo por tentar reformas mais justas. Essa demissão foi vista como uma declaração de guerra à população.


🧠 O que era a Bastilha?

  • Uma fortaleza medieval no coração de Paris

  • Servia como prisão política e também como arsenal militar

  • Representava o absolutismo, a repressão e os abusos da monarquia

Mesmo que houvesse poucos prisioneiros lá no dia (só 7), a Bastilha era simbólica: derrubá-la era, para o povo, derrubar o poder opressor do rei.


⚔️ O que aconteceu no dia 14 de julho?

  • Milhares de parisienses, principalmente artesãos, trabalhadores e pequenos comerciantes, se reuniram armados de paus, ferramentas e coragem.

  • Primeiro, invadiram o Hôtel des Invalides (um quartel) e roubaram cerca de 30 mil mosquetes — mas sem pólvora.

  • A pólvora estava… na Bastilha.

💥 Então marcharam até a Bastilha pedindo armas e pólvora.

O comandante da fortaleza, o marquês de Launay, tentou negociar, mas houve tensão, tiros, e após horas de luta e negociações falhadas, o povo invadiu e tomou a fortaleza.

Launay foi decapitado e arrastado pelas ruas, um presságio sombrio do que seguiria.


🗣️ E qual foi a repercussão?

  • A queda da Bastilha se espalhou como pólvora pela França inteira.

  • Representou que o povo tinha força para enfrentar o rei.

  • O rei, assustado, acabou reconhecendo a Assembleia Nacional e, temporariamente, se rendeu às pressões populares.

14 de julho virou o feriado nacional da França — e até hoje é comemorado como Dia da Tomada da Bastilha ou Fête Nationale.


⚔️ Etapas da Revolução Francesa

🏛️ 1. Assembleia Nacional Constituinte (1789–1791)

O que aconteceu:

  • Em 4 de agosto de 1789, a Assembleia abole os privilégios feudais.

  • Em setembro do mesmo ano, proclama a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

  • Após o Juramento do Jogo da Péla, o Terceiro Estado se declara Assembleia Nacional e começa a elaborar uma Constituição.

Fuga de Varennes – ou como o rei tentou dar no pé e foi desmascarado

📅 Quando aconteceu?

Na noite de 20 para 21 de junho de 1791.


🏰 O que rolou?

Luís XVI, Maria Antonieta e seus filhos tentaram fugir de Paris. O plano era:

  1. Vestir-se à paisana (tipo família disfarçada de burgueses)

  2. Fugir de carruagem até a fronteira com a Áustria, onde tropas realistas ainda apoiavam o rei

  3. Conseguir proteção e apoio militar dos monarcas europeus para reconquistar o trono francês

💡 Eles contavam com o apoio de fieis contrarrevolucionários e de Maria Antonieta, que era austríaca — a ideia era mesmo pedir ajuda da família dela.


😬 O que deu errado?

Quase tudo.

  • A carruagem era luxuosa, lenta e chamativa — seria como fugir do Brasil dirigindo um Rolls Royce em vez de um Fusca.

  • Um porteiro de correio reconheceu o rei nas moedas de ouro e o denunciou.

  • A família real foi presa na cidade de Varennes, quase na fronteira com Luxemburgo, e levada de volta a Paris sob escolta armada e vaias públicas.


🧨 Por que isso foi tão grave?

Até então, o povo ainda acreditava que Luís XVI poderia ser um rei “regenerado”, que aceitaria uma monarquia constitucional e governaria com limites.

A fuga provou que:

  • Ele não estava com o povo

  • Tentava se aliar com inimigos da Revolução

  • Estava disposto a entregar a França às potências absolutistas

Foi o começo da queda real definitiva.


🎭 Reação pública:

Ao voltarem para Paris, Luís XVI foi recebido em silêncio mortal.
O povo parou de chamá-lo de “rei” e começou a se referir a ele como “o traidor Luís Capeto” (Capeto era o sobrenome dinástico dos reis franceses, usado como zombaria).

Tipo de governo: Monarquia constitucional (ainda com o rei no poder, mas limitado)

🩸📣 Proclamação da República – 21 de setembro de 1792

Após a prisão do rei, os revolucionários decretaram o fim da monarquia e proclamaram a Primeira República Francesa.
Luís XVI passou a ser chamado de “cidadão Luís Capeto”, num esforço simbólico de tirá-lo do pedestal divino e reduzi-lo a um igual.


⚖️ Julgamento e execução do rei

  • Julgado por traição à pátria (especialmente por tentar fugir e conspirar com potências estrangeiras)

  • Executado em 21 de janeiro de 1793, na guilhotina, na Praça da Revolução

  • Sua morte causou repercussão mundial: choque nas monarquias e apoio dos republicanos radicais

Três meses depois, Maria Antonieta também foi executada, em 16 de outubro de 1793.


🩸 O Período do Terror (1793–1794)

Liderado por Maximilien Robespierre e o Comitê de Salvação Pública, foi a fase em que a Revolução se voltou contra seus próprios filhos.

O que aconteceu:

  • Instituição de tribunais revolucionários

  • Prisões em massa, execuções rápidas

  • Guilhotina virou símbolo do poder revolucionário

Quem foi guilhotinado?

  • Aristocratas? Sim.

  • Padres? Sim.

  • Camponeses revoltosos? Também.

  • E até revolucionários moderados e antigos aliados como:

    • Danton

    • Camille Desmoulins

    • Girondinos

O lema era:

“Liberdade, igualdade, fraternidade... ou morte.”


😱 A queda de Robespierre – julho de 1794 (Golpe do 9 de Termidor)

O próprio Robespierre foi acusado de ditador e guilhotinado pelos colegas revolucionários, encerrando o período do Terror.

⚖️ 3. Diretório (1795–1799) – A calmaria da burguesia (mas só na superfície)

📜 O que foi o Diretório?

Após a queda de Robespierre e o fim do Terror, a Revolução entra numa fase mais conservadora e moderada, com o poder voltando para as mãos da burguesia proprietária, que agora só queria estabilidade, lucro e silêncio.

Foi criado um novo governo composto por:

  • 5 diretores (executivo)

  • Duas câmaras legislativas

A intenção era evitar a concentração de poder — mas o que aconteceu foi paralisia política, corrupção e instabilidade social.

😵 O que caracterizou essa fase?

💼 Corrupção e clientelismo

  • Cargos comprados e vendidos

  • Empresários e políticos enriquecendo às custas do Estado

  • A burguesia querendo manter os privilégios sem revoltas populares

🍞 Crise econômica

  • Inflação altíssima

  • Escassez de alimentos

  • Revoltas populares sufocadas com violência

✊ Repressão política

  • Clubes populares fechados

  • Liberdade de imprensa reduzida

  • Rebeliões reprimidas com mão de ferro (como a dos jacobinos e monarquistas)


🪖 O papel do exército

Com a instabilidade política e social, o Diretório começou a depender cada vez mais das Forças Armadas para manter a ordem.

E adivinha quem era o general em ascensão?

Napoleão Bonaparte, herói da Campanha da Itália (1796), estrategista brilhante, carismático e ambicioso.


🌀 Como termina o Diretório?

Em 9 de novembro de 1799 (18 de Brumário, segundo o calendário revolucionário), Napoleão dá um golpe de Estado com apoio de setores burgueses e militares.

  • Dissolve o Diretório

  • Cria o Consulado, assumindo o cargo de primeiro-cônsul

  • Marca o fim da Revolução Francesa e o início do Período Napoleônico.


🧑‍✈️ Onde entra Napoleão?

Napoleão era um jovem general talentoso que ganhou notoriedade durante a Revolução.
Ele não foi um líder da Revolução em si, mas foi seu herdeiro político, usando o caos pós-Terror para dar o golpe de 1799 e assumir o poder como primeiro-cônsul — e depois, imperador.

A Revolução “comeu os próprios filhos”, e Napoleão foi o homem que se aproveitou disso para construir um novo império.

📆 O que foi o Calendário Revolucionário Francês?

✂️ Um corte com o passado — literalmente

Após derrubar a monarquia, os revolucionários quiseram recomeçar tudo do zero: cultura, instituições e até o tempo.

➡️ Assim, em 1793, foi criado o Calendário Revolucionário Francês, com o objetivo de:

  • Romper com o calendário cristão

  • Apagar os santos e reis dos dias e substituí-los por elementos da natureza, do trabalho e da agricultura

  • Celebrar razão, ciência e progresso

🧠 Como funcionava?

  • O Ano I começou no dia 22 de setembro de 1792, data da Proclamação da República.

  • O ano tinha 12 meses de 30 dias cada.

  • Ao fim, sobravam 5 ou 6 dias chamados "dias complementares" dedicados a festas cívicas.

  • Cada mês era dividido em décadas (semanas de 10 dias) — e o domingo desapareceu.

  • Os nomes dos meses eram poéticos e ligados à natureza e às estações do ano:

 Vejamos:

  1. Vendemiário (Vendémiaire) – de 22 de setembro a 21 de outubro
    👉 Vem de vindima (colheita das uvas), período das colheitas de outono.

  2. Brumário (Brumaire) – de 22 de outubro a 20 de novembro
    👉 Bruma significa névoa — época de neblinas no outono francês.

  3. Frimário (Frimaire) – de 21 de novembro a 20 de dezembro
    👉 Derivado de frimas, que são geadas — início do inverno.

  4. Nivoso (Nivôse) – de 21 de dezembro a 19 de janeiro
    👉 Do latim nix, neve. Mês das nevascas e frio intenso.

  5. Pluvioso (Pluviôse) – de 20 de janeiro a 18 de fevereiro
    👉 Do latim pluvia, chuva. Mês mais chuvoso do inverno.

  6. Ventoso (Ventôse) – de 19 de fevereiro a 20 de março
    👉 Vento. Mês dos ventos fortes que antecedem a primavera.

  7. Germinal – de 21 de março a 19 de abril
    👉 Germen, broto. É o mês do renascimento da natureza.

  8. Floreal (Floréal) – de 20 de abril a 19 de maio
    👉 Das flores. Mês primaveril com campos floridos.

  9. Pradial (Prairial) – de 20 de maio a 18 de junho
    👉 De prairie, prado. Mês dos campos verdes.

  10. Messidor – de 19 de junho a 18 de julho
    👉 De messor, colheita. Época das colheitas de verão.

  11. Termidor (Thermidor) – de 19 de julho a 17 de agosto
    👉 Do grego thermos, calor. Mês mais quente do ano.

  12. Frutidor (Fructidor) – de 18 de agosto a 21 de setembro
    👉 Dos frutos. É o mês da frutificação e encerramento do ciclo agrícola.


Obs.: O ano revolucionário também tinha 5 dias complementares (ou 6, nos anos bissextos) chamados de Sans-culottides, dedicados à virtude, talento, trabalho, opinião e recompensa.


👩‍🦱 E as mulheres? Onde estavam na Revolução Francesa?

Elas estavam em todos os lugares — menos nas páginas dos livros didáticos.

👣 Participaram ativamente:

  • Marcha sobre Versalhes (1789): Milhares de mulheres marcharam de Paris até o Palácio de Versalhes exigindo pão e justiça. Elas invadiram o palácio e forçaram o rei a voltar para Paris.

  • Clubes políticos femininos: Mulheres criaram espaços próprios de discussão, como o Clube das Cidadãs Republicanas Revolucionárias.

  • Panfletos e manifestos: Muitas escreveram, protestaram e participaram das decisões políticas locais.


📜 A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã

Olympe de Gouges, uma das maiores vozes femininas da Revolução, escreveu em 1791 a Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne, exigindo:

  • Direitos políticos

  • Educação

  • Igualdade legal entre homens e mulheres

Ela dizia: “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter o direito de subir à tribuna.”

Ela foi guillotinada em 1793, acusada de “subversão”.


⛔ O retrocesso

Após o período do Terror:

  • Os clubes femininos foram fechados

  • A atuação política das mulheres foi criminalizada

  • Os ideais de liberdade e igualdade não foram aplicados às mulheres, nem aos negros e às colônias

Mesmo com toda a participação, a Revolução reafirmou o patriarcado como estrutura social.


🎯 Conclusão (e reforço pra vestibular):

A Revolução Francesa promoveu avanços políticos e sociais para os homens brancos do Terceiro Estado, mas não estendeu esses direitos às mulheres.
Elas participaram, lutaram, escreveram, protestaram — mas foram excluídas do projeto revolucionário oficial.


🪑 De que lado você senta? A origem de “direita” e “esquerda” na política

📅 Quando surgiu?

Em 1789, na Assembleia Nacional da Revolução Francesa, os representantes se dividiam conforme suas posições ideológicas sobre o futuro da França:


👈 Esquerda: os revolucionários

Sentavam-se à esquerda do presidente da Assembleia os deputados que defendiam:

  • o fim da monarquia

  • uma república popular

  • reformas sociais profundas

  • maior igualdade e participação do povo

➡️ Eram mais radicais, como os jacobinos, que tinham base no povo urbano (os sans-culottes) e defendiam mudanças estruturais imediatas.


👉 Direita: os conservadores

Sentavam-se à direita do presidente aqueles que queriam:

  • manter a monarquia, mesmo que constitucional

  • preservar os privilégios da nobreza e do clero

  • limitar a participação popular

➡️ Representavam o antigo regime ou a elite que não queria abrir mão de seus poderes.


⚖️ E o centro?

No meio da Assembleia ficava quem:

  • Era moderado

  • Defendia uma transição mais suave

  • Não queria nem a manutenção total da monarquia, nem uma revolução radical

➡️ Um exemplo famoso são os girondinos, que eram mais burgueses, queriam a república, mas temiam o radicalismo jacobino.


🧠 E como isso influenciou o mundo?

A classificação se espalhou pela política ocidental, e até hoje usamos essas expressões:

  • Esquerda → igualdade social, reforma, distribuição de renda, estado forte

  • Direita → propriedade privada, valores tradicionais, economia liberal, menos intervenção estatal

  • Centro → tenta conciliar ambos os lados (às vezes mais pragmático, às vezes oportunista, rs)

Importante: os significados de “direita” e “esquerda” mudaram muito com o tempo e de país para país, mas a origem simbólica está nessa disposição da Assembleia Francesa.

💡 Dica esperta pra gabaritar redações e vestibulares:

Sempre que a Revolução Francesa for tema, lembre que ela teve contradições:

  • Proclamou liberdade, mas manteve escravidão nas colônias

  • Proclamou igualdade, mas excluiu mulheres e pobres

  • Proclamou fraternidade, mas praticou terror

👉 Isso mostra como a construção da democracia é lenta, cheia de disputas e marcada por exclusões históricas.

📚 Legado e contradições

✨ O que a Revolução trouxe de positivo?

  • Fim do absolutismo francês

  • Declaração dos direitos individuais

  • Inspiração para outras revoluções (como a do Haiti e as latino-americanas)

  • Fortalecimento do ideal de cidadania

⚠️ Mas também deixou cicatrizes:

  • Milhares de mortes

  • Instabilidade política por décadas

  • Contradições entre o discurso de liberdade e a repressão violenta


💡 Curiosidades

  • A famosa frase “Se o povo não tem pão, que coma brioches” nunca foi dita por Maria Antonieta. É uma lenda.

  • O símbolo da Revolução era a maria-louca (Phrygian cap), um gorro vermelho que depois influenciou o visual de figuras como a Liberdade nos EUA.

  • O lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” só virou oficial muito tempo depois — na verdade, a Revolução começou bem menos unida do que se pensa.


📚 Fontes e referências (formato ABNT)

ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
LÉVÊQUE, Pierre. O nascimento da democracia: Atenas no século V a.C. São Paulo: Atual, 1990.
MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
MATHIEZ, Albert. A Revolução Francesa. São Paulo: Ática, 1996.
REIS FILHO, Daniel Aarão. Revoluções: as lutas sociais e políticas que marcaram a história. São Paulo: Moderna, 2004.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa explicada à minha neta. São Paulo: Unesp, 2007.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Boitempo, 2005.

 

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