🗓️ 12 de julho de 2021
Subo degraus sem conclusão, alcanço andares impensáveis, nunca sei encontrar o atalho de volta para casa. Desperto, e ao longo do dia me vejo contando mentalmente esse dia a mais sem você. Já passaram de 365. Anotar um por um só acentua a imensidão desse vazio que me cobre como um cobertor — mas que não me aquece, nem me acalenta.
Nenhum aroma familiar me devolve o riso. Apesar de todos os esforços, a tristeza sempre vence o cabo de guerra.
Inspiro fundo. Uma leve pontada no peito. Expiro, expiro fundo, no intento de exorcizar tudo que tenho calado, aquilo que está atravessado no alto da garganta. Engulo o choro atrasado porque lágrimas demais já derramei — sem jamais entender por que você foi embora.
Se a saudade pudesse ser medida em tamanho, eu perderia as contas de quantos degraus seriam necessários até chegar ao topo. Mas iria… porque ao menos teria um norte. Porque pior do que um coração partido é nem sequer ter um amor para sonhar. Mesmo que fosse só para isso — construir castelos.
Nada dói mais do que caminhar invisível num mundo hostil. Se você aprendeu a disfarçar a dor para ninguém utilizar seus argumentos contra você, há de concordar com minhas modestas explanações.
Vivo na esperança de me concentrar no tal do tempo presente. No onde estou, onde os cinco sentidos funcionam em harmonia e se conectam com a engrenagem existencial. Todavia, existe um inconveniente nisso tudo: a dicotomia entre o desejo e a necessidade.
O hoje cobra de mim um comprometimento maior com ele. Mas minha essência vive num contraste de nuances — entre as pinceladas mais pálidas do passado e a dor gritante do presente. A concepção de futuro revela-se na imagem de um cavalete coberto por um pano branco.
Sinto medo da revelação. Da imensidão branca e perturbadora do vazio. Dos traços abstratos onde as cores primárias se destacam, se misturam e contam uma história — ainda que não num ritmo linear, mas nem por isso menos compreensível. Quem sabe qual seja a inspiração do destino? Para dizer a verdade, ninguém sabe.
Escrevo na intenção de desafogar o peito, destrancar as lágrimas e... ser humana. Que os olhos maledicentes debochem, reprimam, censurem — pois o que faz da minha essência uma composição única é a capacidade de traduzir, na primeira pessoa do singular, sentimentos que evocam o plural. E a gama de interpretações que o “nós” suscita por si só.
Não quero em nenhum momento me autoelogiar. Escrevo neste instante apenas para suportar, com resignação, aquilo que não depende só da minha boa vontade e do meu otimismo.
Porque… se dependesse dele, eu já seria sua há muito tempo.
💬 Este texto é parte de um caderno que não precisa de resposta. Mas se alguém ler e se reconhecer nele, que leve consigo um pouco de ternura.
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