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Quando a madrugada sabe o seu nome

No silêncio da noite, ela sentiu o cheiro dele como se a ausência tivesse perfume.
De banho tomado e roupa limpa.
De tranquilidade e ternura, carinho compartilhado a quatro mãos.
Aquele cheiro invisível de jornal recém-impresso, de café passado no início da redação, da saudade de algo que nem sequer aconteceu.
Não tinha toque nem som.
Ela o sentia.

Se estivesse ali, ele deitaria devagar, respeitando o espaço dela como quem aprende os limites de um país estrangeiro... curioso, gentil, fascinado.
Aproximaria o rosto, murmurando qualquer coisa sobre o longo dia, só para quebrar o gelo, para ver se ela ria.

Ela não responderia com palavras, mas com um beijo tímido no ombro, as mãos pequenas indo até as costas dele, como se dissesse: Fica. Não vai. Só essa noite, fica.
E ele ficaria.

Dormiriam enroscados, não como quem se agarra por desespero, mas como quem encontrou o lugar exato entre o mundo e o sonho. Com os corações sussurrando uns aos outros em código morno de pele e carinho.

Ele encostaria o queixo na cabeça dela. Um gesto sem pressa, meio distraído, entendido como "você está segura aqui".
O calor do corpo dele a envolveria devagar, e o silêncio viraria uma linguagem só deles dois.

Ela sentiria o peito dele subir e descer na mesma cadência da sua respiração. As mãos dele, entrelaçadas nas suas, ficariam quentinhas.
O polegar dele faria aquele carinho circular no dedo dela, sem motivo, só para dizer que estava ali, mesmo em silêncio.
E então viria o que ela mais esperava: o peso leve e firme do queixo dele descansando no topo da cabeça dela, como se a marcasse no mundo.
Como se dissesse, sem dizer: “Aqui é onde eu fico.”

E ela ficaria.
E quando a madrugada passasse devagar, ela abriria os olhos e veria que ele ainda estava ali.
Respirando perto.
Presente.
Delicadamente, inteiramente, absurdamente dela.

Não essa saudade arrasadora.
Não mais esse espaço vazio ocupado pela insônia.
Só as pontas dos dedos que terminariam de desenhar esse coração no vidro embaçado como quem decifra um velho enigma, antes de desenhar o contorno dos lábios dela em meio àquele olhar firme onde o tempo para de passar.


De você


Escrito em um momento de grande introspecção e transformação, este texto reflete sobre os desafios de lidar com mudanças, superar traumas e escolher o amor e a empatia como caminhos para crescer.

21 de março | Dia Mundial da Poesia 📜




Se você ama poesia, vamos celebrar. Hoje é o Dia Mundial da Poesia e o OCDM propõe uma viagem no tempo para conhecermos as origens deste gênero rico em história, autenticidade e capaz de acompanhar a passagem do tempo, fiel à própria essência que o torna um grande tesouro que conecta a humanidade.

Em 1999, durante a 30ª Conferência Geral, a UNESCO proclamou 21 de março como o Dia Mundial da Poesia. A iniciativa visa celebrar esta forma de expressão artística, fomentar a diversidade cultural e linguística, incentivar um intercâmbio cultural mediante a troca de ideias e experiências naturais à poesia. Outro motivo diz respeito ao início da primavera no hemisfério norte, uma vez que o equinócio simboliza renovação e força, sentimentos presentes na produção poética.

Transbordar do inominável

não sou capaz de definir

os propósitos do inexplicável

só as batidas do meu coração

protegem esse segredo


no entanto,

as palavras escancaram

o que a boca teme falar,

materializa o indecifrável


hoje não estou fazendo sentido

também não faço questão disso

nem sempre consigo me entender


deixo as pontas dos dedos falarem por mim,

o transbordar do pensamento inconsciente,

em linhas ajuntadas para entregar

a percepção encurralada pela rotina

e pelo velho receio de nada “ser para ser”


repousa um desejo pulsante

de quebrar determinadas normas,

sob a couraça da indiferença

dentro de mim não há espaço para ela


de mãos dadas

posso percorrer longínquas distâncias

se nas noites frias eu puder ter um beijo seu.


Rabiscado a lápis

 

Muitas vezes repeti a mim mesma não me importar com os pensamentos alheios a meu respeito, acreditava lidar bem com meus próprios medos. A estratégia defensiva visava escapar de um inoportuno sofrimento.
Quem nunca tentou?
Quem nunca precisou ser forte?
Sem olhar para trás, disse adeus e ninguém me respondeu, ninguém sentiria a minha ausência.
Cansada de ser julgada, difamada, maltratada.
De ser o melhor que cabia ser e não bastar.
Implorar pelo amor alheio e estar sempre em último plano.
Cansada de entrar na vida dos outros “tarde demais”, ser lembrada por dar um ombro amigo nas adversidades e, em contrapartida, aprender a chorar sozinha.
De ser apenas mais um número em muitas contas.
Cansada de mim.
O fardo era maior do que a resistência. Ainda assim, segui. Impus-me a um ritmo mais lento, apenas desejava chegar a algum lugar, encontrar um cantinho confortável para permanecer o maior tempo que pudesse, sem levar minhas culpas junto, fruto de escolhas impensadas, impulsivas, originadas em um profundo sentimento de carência.
Eu precisava de mim mesma.
Ao meu lado, um caderno e dúvidas à parte. Rabisco a lápis para não ter medo de corrigir.
Faz parte do jogo.
Eis que falei sobre você, inadvertidamente, tentando não deixar claro que tudo mudou antes que pudesse haver rendição ou qualquer gesto semelhante.
Não sobrou tempo.
O caminho era aquele.
Era você.
A presença que me preenchia.
A ausência que secretamente eu dava pela falta.
Um nítido verso reescrito para caber em um tímido olhar.
Depois de tudo.
Logo após jurar que manteria distância de problemas.
Pois bem, havia um inconveniente, uma curva. Eu não podia controlar a velocidade com que os pensamentos se propagaram. 
Não tive o mínimo de chance para dizer não.
Sempre foi sim.
Foi você.
Em negrito ou sublinhado para reforçar a importância.
Sei lá.
Desordenando os parágrafos, remontando teorias, desmontando outras, disfarçando o pulsar de um coração partido com as responsabilidades, dividindo minha dor com um público que não conhece o seu nome, mas tem ciência da sua relevância nas linhas tortas as quais o dom se aprimora, seja para passar despercebido ou não, seja para nunca te entregar o meu coração, embora não me reste outra alternativa a não ser colocar em pratos limpos, com franqueza aceitar ou pelo menos mentir um pouquinho mais dizendo que confio nas artimanhas do destino e pacientemente me servir de mais esperança, nem que seja para seguir fisicamente viva.
Quem nunca desejou apagar essa encruzilhada?
Respostas, meu reino por apenas uma.
Preciso aprender a perguntar.
Nas minhas notas mentais lembrar-me sem falta de mandar o orgulho se catar e parar de bancar o sabido.
E escrever uma nova história, se preciso for. 
O final feliz é opcional. 
Se há final, feliz não é.
A alegria é urgente e imediata.
O amanhã tem preocupação e ela não divide espaço com mais ninguém.
Sim ou sim, ela admira os determinados, anseia pela coragem dos desavisados e vibra na direção dos indecisos para que eles deixem de sê-lo ou abram uma pequena concessão para não perderem o senso de humor.
Depois de te conhecer, meus versos não querem fazer sentido, querem a chance de existirem.
É esse o caminho.
Tragá-los.
À revelia.
Sem amarras.
Inflados.
Recortados.
Recontados.
Discordáveis.
Subentendidos.
Intimamente universais.
Secretos por serem seus, sensíveis sem perderem a conexão com a inspiração.
Equivalentes ao beijo de amor ainda não beijado, no entanto, o vento soprou e trouxe-me a saudade de um sonho que não sei se foi ou algum dia será a minha realidade.

Curitiba, 30 de outubro de 2014.

Mary Recomenda | Aquilo que nunca falei (Segundo Ato) - Milena Farias

 Graças às plataformas de autopublicação, nós autores e leitores temos o privilégio inenarrável de conhecer novos talentos da literatura contemporânea. Neste blog só há espaço para o amor, o respeito e o desejo de ver os outros crescerem, portanto, não espere ler insultos contra quem quer que seja, nem calúnias, difamações e injúrias. Os outros escritores são colegas de trabalho, cada um no seu quadrado, não são concorrentes porque, sim, sou a eterna otimista e sonhadora que acredita que todo mundo encontra o seu devido lugar, cedo ou tarde.

Por isso, divulgo obras aqui sem exigir nenhum tipo de retribuição, pensando que esse modesto espaço pode ajudar outra escritora e poetisa a ser reconhecida, sentir-se motivada a continuar sonhando, escrevendo e batalhando porque o reconhecimento vem, nem que pareça “demorar” um pouco. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Entardeceres 🌇


Quando o sol começa a se pôr no horizonte, os pássaros voam rumo a suas casas e vão cantando, não precisam de grandes coisas para serem felizes, são apenas o que são. Eles me ensinam mais do que jamais sonhei em aprender. Grandes discursos são desnecessários, basta o silêncio aliado a um pouco de sensibilidade para sonhar de olhos abertos.

Olhar para o céu é algo que eu não dispenso nem mesmo na correria da vida cotidiana, nem mesmo quando o sol "some" por alguns dias. Meditar nele me ajuda a recordar a importância de aprender a lidar com a impermanência da vida e encontrar beleza em cada estação, respeitar o ciclo da vida. 

Os desenhos das nuvens não se repetem, nem o sol se põe na mesma hora todo dia, nem a lua... o nascer e o pôr-do-sol são espetáculos os quais temos o privilégio de acompanhar sem desembolsar um centavo, que nos preenche de esperança quando o mundo parece desabar sobre nossas cabeças.

O céu é a inspiração dos poetas e também dos que não são poetas. Olhar para ele é sonhar um pouco, silenciar a mente e simplesmente apreciar, apreciar o momento, a vista, a dádiva de estar no aqui e no agora, de ser quem se é, deixar a imaginação vagar pelo infinito, abrir mão — nem que seja por alguns minutos — de querer ter o controle de tudo.

Teve uma passagem de livro que me deixou furiosa: o "autor" disse em um poema que não entendia como as pessoas perdiam tempo olhando para o céu porque, nas palavras dele, era algo "non-sense". No entanto, diante de um absurdo sem tamanho, o melhor a fazer é olhar para o céu e deixar a indignação se desfazer como uma nuvem, posto que o dia de hoje não se repetirá, nem o de amanhã, nem os que já se foram.

Você e eu partiremos uma vez chegada a nossa hora, mas o céu permanecerá, e outras pessoas observarão com admiração o mesmo céu que tanto já nos ensinou, como um professor dedicado que nunca desiste de dar o seu melhor em tudo o que faz, e embora trate-se de uma sombria certeza, ela pode ser reconfortante. Olhe para cima, olhe para mim. Serei sua estrela-guia em outra dimensão.

Curitiba, 11 de fevereiro de 2023


 

Mary Recomenda | A Pindonga Azarada

Quem gosta de festa junina tem grandes chances de amar a edição extraordinária do Mary Recomenda , em clima de São João. Não vou...