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Rabiscos na Calada da Noite — ed. 1001

  

Este texto nasceu em 2018, durante uma noite de reflexões intensas. Era apenas um rabisco despretensioso, mas carrega uma mensagem que permanece relevante. Hoje, decidi compartilhá-lo com a esperança de que essas palavras alcancem corações em busca de conforto ou coragem.


A fuga de si mesma

Você pode correr de si mesma por um bom tempo, negar seu destino e fugir por aí, mentir até se convencer de que cada sílaba proferida é tão verdadeira quanto a farsa por trás desse sorriso com ar de deboche. 

Você até pode se enganar acreditando que a felicidade é frívola, que tudo não passa de um grande e estúpido jogo onde quem perde é quem se apega.  Entretanto, nada dura para sempre. Um dia o seu destino te encontra, e ninguém no mundo pode te salvar de ser você.  

O reflexo no espelho te atordoa. Tudo bem, você não está só nessa roleta russa. Seu destino te encontrou, e você se sente perdida. Por que você é o que é? Está onde deveria estar? E o que fará daqui por diante?


Desafios do destino

Se você tentou enterrar sua essência, foi porque algum evento do passado te fez acreditar que você não era suficiente. Buscou ser tudo para todos: a filha exemplar, a melhor aluna, a melhor amiga. Mas as derrotas te derrubaram, porque ninguém te ensinou que você não precisa viver em função dos outros.  

Também estou em um fogo cruzado que parece interminável, com a mente fervilhando de angústias e os medos do futuro. Fugi do meu destino por tanto tempo que, quando percebi o significado de abrir mão de mim mesma, muitas coisas perderam o sentido. Passei a almejar mais do que apenas sobreviver — quis viver em plenitude e estar em paz com meu coração.  


Aceitação como liberdade

Então, por que correr de si mesma? Negar quem você é? A dor e o sofrimento existem em todos os caminhos, mas, ao se descobrir, aceitar e respeitar, você abre sua mente para aprender com a vida. E esse aprendizado nunca cessa.  

Cabeça erguida, menina! Não corra de si mesma. Esse é o conselho que te dou, porque o medo de ter medo é tão vicioso quanto à tristeza.

Mary Recomenda | Eva dos Gramados - Karina Dias ⚽💄

 

⚽ Mary Recomenda: Eva dos Gramados, uma história apaixonante entre o esporte e o coração 🩷

Se você gosta de histórias que misturam paixão pelo esporte com jornadas emocionais e reflexões sobre a vida, Eva dos Gramados é um livro que merece sua atenção. Escrito por Karina Dias, a obra nos convida a explorar as escolhas, os sonhos e os desafios da protagonista que vive intensamente dentro e fora do campo de futebol.

Por que você deve ler?

  • Representatividade e Emoção: A história de Eva aborda temas que vão além do futebol, trazendo conflitos pessoais e valores universais sobre amor, determinação e aceitação.

  • Um Cenário Vibrante: O futebol é mais do que um pano de fundo; ele se torna parte essencial da narrativa, refletindo os altos e baixos da vida.

  • Personagens Inspiradoras: Eva é uma protagonista complexa e cativante, ideal para quem busca histórias com mulheres fortes e inspiradoras.

Frase de Impacto:

"Entre jogadas, sonhos e desafios, Eva descobre que a maior vitória não está nos gramados, mas dentro do próprio coração."

⚽ Mary Recomenda: Eva dos Gramados – Uma jornada além dos campos e das expectativas 🩷

Se você está buscando uma leitura fora do lugar-comum e cheia de emoção, Eva dos Gramados, de Karina Dias, é uma escolha que vai te surpreender. Este livro é mais do que um romance – é uma história sobre força, desafios e paixão pelo futebol. 💄

Por que essa leitura merece sua atenção?

  • Mais que um romance: Diferente dos clichês encontrados em muitos romances, a narrativa de Eva dos Gramados explora profundamente os conflitos pessoais da protagonista e como o futebol molda sua jornada.

  • Temas universais: Determinação, superação e identidade são alguns dos valores que permeiam a história.

  • Um cenário brasileiro e vibrante: O livro traz a paixão do Brasil pelo futebol como um pano de fundo rico e cheio de autenticidade.

A Importância de Diversificar Suas Leituras

Mesmo que você não seja fã de esportes, essa é uma oportunidade para sair da zona de conforto e explorar um gênero diferente. Histórias como Eva dos Gramados provam que o mundo literário é amplo e fascinante, repleto de possibilidades para tocar o coração e estimular a mente.

Editorial OCDM |Quando a beleza mata: reflexões sobre a estética do retrocesso


Há quatro anos, li uma reportagem sobre o retorno das calças de cintura baixa, impulsionado pelo revival da estética Y2K. Para muitas de nós, mulheres que cresceram naquela época, esse revival traz à tona um ciclo de padrões antigos que continuam a afetar a forma como somos vistas. 

A obsessão por cabelo liso extremo e um corpo esquelético ainda ressoam como uma ditadura silenciosa, que levou muitas de nós a adoecer na tentativa de atender a esses padrões. O número do manequim, como sempre, continua sendo o critério de aceitação, e isso é preocupante.

Houve uma lufada de esperança com o advento do movimento body positive, que prega a autoaceitação do próprio corpo, nos ajudando a expandir nossas percepções sobre beleza e valor. Parecia que o mundo estava demonstrando uma transformação profunda em relação a isso, que nesses tempos sombrios, a resistência se levantaria em favor de uma realidade mais saudável, onde cada uma seria seu próprio padrão.

A ideia aqui não é demonizar a busca por uma melhor qualidade de vida e bem-estar. É sobre refletir que o retorno da tendência Y2K veio com mais força, trazendo de volta não só as calças de cintura baixa e a ditadura do cabelo liso, mas também uma forma sorrateira de aprisionar a mulher, frear seu empoderamento e minar sua autoestima.

Não é coincidência. Naomi Wolf, em seu livro O Mito da Beleza, já apontava que os padrões de beleza muitas vezes se intensificam justamente quando as mulheres conquistam avanços sociais. Segundo Wolf, quando as mulheres ameaçam romper barreiras e ocupar espaços antes negados, o sistema responde criando novas formas de controle — e a beleza, nesse cenário, se transforma em mais uma prisão.

Até mesmo os critérios para ser considerada magra são mais cruéis do que há duas décadas: hoje, é preciso parecer um cadáver ambulante com shape de academia. Não à toa, a “canetinha mágica” se popularizou mais do que deveria. Embora tenha um propósito legítimo no tratamento do diabetes, seu uso foi banalizado, graças à exposição de artistas que são mais valorizadas na mídia pela "boa forma" do que pela mensagem que deveriam deixar aos fãs.

Para quem viveu aqueles tempos horríveis, tem sido pavoroso estar no meio desse fogo cruzado de cobranças e pressões. Como se ser mulher já não fosse tortuoso o bastante — enfrentando o medo constante de ser violentada e vivendo num mundo feito para os homens —, o controle sobre nossos corpos se mostra um atentado contra a criatividade e a autenticidade.

Ser extremamente magra é promessa de felicidade? Bem, é isso que nos vendem não só nas revistas, mas impõem nas redes sociais, no círculo de amizades, nos produtos midiáticos, silenciando as vozes sensatas que propõem uma reflexão mais séria do retrato de uma sociedade frívola, imediatista e pautada em pilares frágeis.

Sucumbir à moda da magreza extrema é assinar um acordo de rendição, cuja moeda de troca pode ser o próprio sopro de vida.

Clean girls: minimalismo do retrocesso


Essa nova onda não acontece isoladamente. Outra face moderna dessa tentativa de controle é a tendência “clean girl”, que começou a ganhar força nas redes sociais entre 2021 e 2022, especialmente no TikTok. Inspirada na estética minimalista, de aparência “natural” e “perfeita sem esforço”, a clean girl é a mulher de pele impecável, cabelo alinhado, roupas básicas e aparência polida — mas tudo isso exige tempo, dinheiro e, claro, muita disciplina estética para manter o “ar de naturalidade” que, no fundo, é artificial.

A exigência não é só estética: é também comportamental. A clean girl precisa ser discreta, sorridente, elegante, silenciosa. Precisa parecer saudável, mas sem exagero. Sensual, mas jamais vulgar. Uma reconstrução moderna da boa moça dos anos 1950 — que deveria agradar os homens sem jamais ameaçá-los.

Essa estética, aparentemente inofensiva, tem raízes na construção de um padrão inatingível e superficial de perfeição, que mais uma vez coloca as mulheres como objetos a serem admirados por sua aparência, principalmente por seus pares masculinos.

A romantização da "clean girl" reforça um estereótipo de beleza que, como outras tendências anteriores, limita a autonomia da mulher. Embora em tese ela pareça representar empoderamento e autossuficiência, no fundo, carrega consigo a pressão de atender aos padrões de um "modelo" desejado e aceito pela sociedade, em grande parte controlado pelos interesses de consumo e imagem.

Ao se comparar a essas representações midiáticas, as mulheres se veem forçadas a lutar pela aprovação masculina, perpetuando a ideia de que seu valor está atrelado à sua aparência e à sua capacidade de agradar aos outros, um reflexo de como o patriarcado ainda opera nas pequenas e grandes narrativas da cultura contemporânea.

A abordagem crítica dessa tendência não é sobre criticar quem adota esse estilo, mas refletir sobre os efeitos dessa pressão estética que, como afirma Naomi Wolf em O Mito da Beleza, está diretamente ligada ao controle da imagem feminina, algo que nos é imposto desde a adolescência e que, com o tempo, vai se enraizando em nossas mentes como um ideal a ser perseguido a todo custo.

Ao mesmo tempo em que algumas mulheres são seduzidas pela estética clean girl, uma reação conservadora se fortalece, empurrando-as novamente para papéis tradicionais e muitas vezes opressores. Como falado por Susan Faludi em Backlash: The Undeclared War Against American Women, a cada avanço significativo das mulheres, surge uma tentativa de retroceder suas conquistas, disfarçada de escolha e glamour. A tendência clean girl, assim como o culto das 'trad wives', é uma das várias formas de minar a autonomia feminina e a verdadeira liberdade.

Engajamento e irresponsabilidade: quando a desinformação coloca a vida em risco 


A responsabilidade dos influenciadores nas redes sociais é um tópico crucial, especialmente quando consideramos como suas postagens contribuem para a perpetuação de padrões estéticos prejudiciais. Muitos promovem dietas e rotinas de exercícios sem respaldo científico, alimentando a desinformação e colocando os seguidores sob uma pressão desnecessária para atingir o "corpo perfeito". 

Em O Mito da Beleza, Naomi Wolf discute como a mídia e a sociedade impõem padrões inatingíveis às mulheres, sendo esses influenciadores um reflexo disso. As promessas de transformação rápida ignoram as reais necessidades de bem-estar físico e emocional.

Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo realizado pela Pew Research Center em 2019 revelou que apenas 24% das mulheres preferem ser donas de casa em vez de trabalharem fora, o que demonstra que a maioria das mulheres prefere a independência profissional. A visão de uma "trad wife" não só retrocede o papel feminino, mas também nega a ideia de que as mulheres podem, e devem, ter escolhas livres sobre suas vidas e seus destinos.

O retorno da moda Y2K e a nostalgia da magreza extrema


Nos anos 2000, a internet ainda engatinhava, mas já começava a formar comunidades que giravam em torno da glorificação da magreza extrema. Blogs e fóruns “pro-Ana” (anorexia) e “pro-Mia” (bulimia) espalhavam “diários” de dietas absurdamente restritivas e incentivavam jovens a atingir padrões impossíveis. A estética exaltava clavículas saltadas, ossos do quadril aparentes, barriga seca e coxas separadas — como se tudo isso fosse sinônimo de beleza e sucesso. Pior: associava o corpo gordo a ideias de fracasso, preguiça e falta de valor.

Essa mentalidade, ainda que aparentemente esquecida por algum tempo, nunca desapareceu. Apenas mudou de máscara. E agora, com a volta da moda Y2K, vemos ressurreições dessas referências perigosas sob o pretexto da nostalgia: o retorno da calça de cós baixo, da cultura da magreza extrema como um "padrão estético desejável", das roupas feitas para corpos quase infantis.

Hoje, diferentemente dos anos 2000, existem mecanismos nas redes sociais que tentam sinalizar quando alguém procura por termos ligados a transtornos alimentares, sugerindo ajuda profissional. Mas o culto à magreza continua sendo onipresente — só que agora se disfarça no discurso da “vida saudável”. E aí entra outro problema: a avalanche de desinformação propagada por falsos especialistas.

No Brasil, por exemplo, uma pesquisa de 2021 realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que 48% das mulheres brasileiras têm alguma insatisfação com seu peso. Isso se reflete também em dados alarmantes sobre transtornos alimentares, que afetam especialmente mulheres jovens. 

Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, a prevalência de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, aumentou significativamente nos últimos anos, com a pressão para alcançar um corpo magro sendo um dos fatores de risco.

A cada deslizar de dedo, somos bombardeadas por dicas de nutrição vindas de influenciadores sem qualquer formação séria na área. Pessoas que usam seus seguidores como aval de credibilidade, vendem dietas milagrosas, cursos de emagrecimento duvidosos e se autopromovem como se popularidade fosse sinônimo de competência. Isso não apenas perpetua o ciclo de insatisfação corporal, mas também coloca em risco a saúde de quem, sem saber, confia em promessas sem embasamento.

A escritora Roxane Gay, em seu livro "Fome: Uma autobiografia do meu corpo", traz um relato profundo sobre como a cultura da magreza destrói a autoestima e como a pressão social molda o relacionamento que mulheres têm com seus corpos desde a infância. A obra de Gay serve como alerta: não é sobre "escolha pessoal", é sobre sobrevivência num mundo que, a cada década, inventa novas formas de controlar nossos corpos e nossos sonhos.

O espetáculo do mau-caratismo e a indústria da culpa


Com o crescimento das redes sociais, um novo tipo de mercado floresceu: o da transformação pessoal instantânea. Só que, por trás da promessa de "vida saudável", "autoestima elevada" e "corpo dos sonhos", o que se consolidou foi uma indústria bilionária baseada na culpa feminina.

Influenciadores sem formação adequada — que misturam dicas vagas de nutrição, coaching motivacional e estética — vendem a ideia de que a felicidade e o sucesso são alcançados através do corpo magro, tonificado e “perfeito”. Mas, para isso, é preciso consumir: consumir suplementos, consumir cursos, consumir rotinas extenuantes, consumir a ilusão de que a transformação é uma questão puramente de "força de vontade".

A escritora Bell Hooks, em seu livro "O feminismo é para todo mundo", já alertava que a sociedade capitaliza sobre as inseguranças das mulheres, transformando cada etapa da vida feminina em mais um produto a ser vendido. Segundo Hooks, enquanto a mídia reforça padrões inalcançáveis de beleza e sucesso, cria também uma demanda infindável por soluções mágicas — soluções que, no fundo, alimentam o sistema em vez de libertar quem consome.

O resultado desse espetáculo é perverso: as mulheres são levadas a crer que o problema está nelas — na falta de disciplina, na suposta "preguiça", no "não querer o suficiente" — quando, na verdade, o verdadeiro problema é um sistema inteiro que lucra com a nossa eterna sensação de insuficiência.

A "energia feminina" vendida como mansidão, a "cara de rica" traduzida em cabelos lambidos e peles impecáveis, a ideia de que uma mulher valiosa é a que melhor performa esses padrões: tudo isso não é liberdade de escolha. É marketing.
É capitalismo travestido de autocuidado.

Movimento Body Positive: uma resposta à opressão estética


Diante da pressão incessante para atender a padrões irreais, surgiu uma reação poderosa: o movimento Body Positive. Originado no final dos anos 1990 e fortalecido na década de 2010, o body positive propõe uma visão radical: todo corpo é digno de respeito e representação, independentemente de seu tamanho, forma, cor, idade ou capacidade.

Essa filosofia surge como uma recusa direta à lógica de que a autoestima feminina deve ser condicionada à aceitação ou aprovação alheia. Ao contrário, prega que autoestima é um direito inegociável.

A ativista e escritora Sonya Renee Taylor, autora de "The Body Is Not an Apology" (em tradução livre, "O Corpo Não é um Pedido de Desculpas"), reforça que o amor-próprio não é apenas um ato individual, mas também uma postura política que combate sistemas de opressão que se alimentam da nossa autocrítica.

O movimento body positive não nega a importância de cuidar da saúde. O que ele contesta é a ideia de que saúde tem um padrão estético único, e que a felicidade está condicionada a esse molde.
Amar e respeitar o próprio corpo não significa desistir de si mesma — significa, sim, recusar a narrativa de que apenas um tipo de corpo é válido.

Apesar das tentativas do mercado de esvaziar o movimento e transformá-lo em mais uma vitrine de consumo, sua raiz continua forte: um chamado para que mulheres sejam donas de si, de sua história e de sua própria imagem.

Ter vivido a dor dos transtornos alimentares nos anos 2000 e, agora, ver novas formas de opressão surgirem, só reforça em mim a certeza de que precisamos resistir.
A pressão para nos moldarmos a padrões inatingíveis não traz a felicidade que prometem; apenas esvazia sonhos, silencia revoluções interiores e nos afasta de quem somos.
Cada vez que recusamos essa imposição, reafirmamos que nossa existência vale mais do que caber em moldes sufocantes.
A beleza está em resistir. A liberdade, em ser.

Diante de tantas armadilhas disfarçadas de tendência, é preciso coragem para enxergar além da estética e reivindicar o direito de existir fora das expectativas que nos impõem.

A beleza verdadeira não está em caber nos moldes de cada nova moda, mas em resistir, questionar e cuidar de si com honestidade, sem se render às pressões silenciosas que vendem submissão como escolha. Não devemos mais aceitar que o padrão mude como estratégia de contenção social.

O corpo, a voz e o destino pertencem a quem os habita — e a liberdade nunca esteve na aprovação dos outros, mas na nossa própria aceitação.

Mary Recomenda | Nunca fale sobre unicórnios - Mariane Alvedal

Olá, amigos e amigas! Como vocês estão? Espero que esteja tudo bem! ♥
A indicação de leitura de hoje é Nunca fale sobre unicórnios, da Mariane Alvedal
Sou suspeita para falar por conhecer a obra quando ela foi publicada originalmente no Wattpad, entre 2017 e 2018, acompanhando também o crescimento da história até ela ser o que é hoje.

frases de impacto

 


Ah, as frases de impacto. Elas conferem um charme ímpar quando proferidas e não cansam a leitura de ninguém, no entanto, assim que os dedos arrastam o feed para baixo, perdem o sentido, o destino de todas as postagens.
As crenças internalizadas são as mesmas de duas gerações atrás: ninguém tem interesse que você seja você mesma e se sinta linda como é. Eis o contrário: você deve se odiar e ser uma eterna insatisfeita, disposta a pagar o preço que for necessário para ser tudo, menos você.
Não vemos com bons olhos a sua tentativa de empoderamento, prosperidade e independência, desejamos que você faça o que todas as outras fizeram e, de preferência, sem questionar as nossas estruturas. Não nos importa a sua opinião, mas a sua submissão.

Palavras para Maria Paula

 


Maria Paula era uma garota doce, meiga, simpática, alguém que desde cedo compreendeu qual era seu objetivo durante esta existência. De personalidade forte, curiosa e questionadora, encontrou nos livros e na poesia a sua voz, a sua forma de se expressar. Mais, encontrou outros jovens que, tal como ela, também padeceram à solidão causada pela inadequação, pela falta de representatividade, pelo silêncio delegado às minorias por séculos. Maturidade nem sempre está ligada à idade, ao número que muda todo ano e não define ninguém, porque senso crítico e habilidade com as rimas, Maria Paula possui, com um acréscimo, verseja a realidade, a sua realidade, logo, um olhar até então solitário representa outros tantos que nunca se expressaram através das mais diversas formas de arte, mas em algum momento se questionaram. Por muito tempo, Maria Paula não conseguiu enxergar-se bela, pois era convencida a crer que seus singelos e únicos traços destoavam do tal "padrão" e tolerar amizades pouco sinceras para atenuar o vazio, o vazio que lhe acompanhou por muito tempo até encontrar um ponto de acolhimento e aquelas lágrimas engolidas por tantos anos finalmente virem à tona e lavarem a alma, para que assim a linda garota pudesse enfim vislumbrar os primeiros passos para trilhar rumo ao promissor futuro daquela que ainda haverá de inspirar multidões e ser o que em alguns momentos da vida lhe faltou. A passos lentos e não menos significativos, meninas e mulheres que certamente se leem nas vivências dessa jovem poetisa assumem seus cachos e aprendem a amar cada pedacinho de si mesmas, a acolher também os cacos quebrados de seus corações para se reconectarem com aquela menina cheia de sonhos que lhes acena volta e meia, aquela menininha que sempre foi linda e merecedora de todo amor.
O racismo é um crime injustificável, covarde, pois não é preciso ser negra para indignar-se com ele, basta ser humana.
Não existe nada de errado com você, Maria Paula. Que sua voz perdure pela eternidade. Que a tristeza não te detenha, que nada te impeça de voar e espalhar sua mensagem para um mundo que precisa mais do que nunca de pessoas dispostas a transformá-lo num lugar melhor, e é possível, mesmo que os tempos sombrios de retrocesso desencorajem, não são eternos.
Você é parte da criação, você é poesia, você é vida, você é sonho.
Você é uma garota sensacional.
As meninas negras precisam se sentir aceitas e acolhidas, saber que são lindas e amadas e que valem muito, que suas vidas importam.
- inspirado num comentário escrito no 04 de junho de 2017 para uma amiga que vale mais do que ouro.

Os próprios fatos me dirão

 


        Por toda a vida tive atitudes de mendicante, implorando conversas, nutrindo amizades mortas, inventando amores para não encarar a dor, a solidão, o tédio, a mim mesma. Maltratei-me, transbordei-me para almas blasé demais para retribuir o mínimo que fosse, apenas para a dignidade não se sentir humilhada.
         Pouco tempo atrás lá estava eu, dedicando atenção para uma pessoa que nunca mereceu a saudade de algo que hoje sei, eu mesma criei, para buscar num passado idealizado o alívio para o vazio num coração sem amor. Infértil sempre foi a utopia, alimentada tão somente pelo ego fragilizado, embaçando a vista para o verdadeiro propósito da existência.
          Para não tomar conta da criança desamparada inventei mil maneiras de escapar de um importante dever, o primeiro e essencial, me colocar em primeiro lugar. Hoje recebo os juros daquilo que releguei, o gosto amargo no alto da garganta, mas gosto da minha própria presença, de visualizar as lembranças sem romantizá-las, tirando pessoas dos respectivos pedestais, realocando prioridades, revisitando ambientes, redescobrindo a doce e adormecida essência, assombrada com os estragos causados pela impulsividade.
        Precioso é o dom da vida, até quando serei agraciada pelo agradável e desafiador sopro, não faço ideia, portanto, não faz sentido desperdiçar tempo, lágrimas e disponibilidade para quem não se importa e talvez nunca tenha se importado. 
        Se o que foi bom vira saudade e o que foi ruim serve de experiência, como definir então o momento presente, quando nem mais choro? Os próprios fatos me dirão...

Parabéns, Mariane! *-*


Feliz Aniversário, Mariane. *-* *-*


Parabéns pelos seus 30 anos, amiga!
Não sei se você pretende comemorar este dia memorável, mas não se esqueça da importância dele. Significa que você já teve oportunidades de aprender (com) e ensinar as pessoas. Que você viveu altos e baixos e tem muitas histórias para compartilhar. Eis que escrevo para um coração de tinta, que também tem ideias maravilhosas e por mais maravilhosa que seja escrita, não perde a humildade, segue carinhosa com cada leitor que se manifesta, não se envaidece com números e não permite que sejam eles os responsáveis pela sua autoestima, não mede seu talento - inegável - com eles. Ora, esqueci-me de dizer também que você cumpre tudo que promete.
Porque você é maior.
Maior do que tudo e todos que já tentaram (ou talvez tentem) te colocar para baixo.
Maior do que os seus temores e dificuldades.
Maior do que as lágrimas que já derrubou.
Maior do que os planos que deram errado.
Confesso que você merecia vencer aquele concurso muito mais do que eu, sua história é maravilhosa e não pensei que seria amiga de uma escritora que admiro. Pois bem, ele foi o meio pelo qual nos conhecemos. Senti-me mais feliz de conhecer o seu livro do que com a colocação que tive na categoria.
O tempo te tornou minha amiga e ultimamente ando seletiva com relação às pessoas que coloco em minha vida porque coleciono decepções, portanto sinta-se honrada, sua amizade é um presente e olha que a aniversariante é você.
Você não é aquela amiga que passa a mão na cabeça quando estou errada, sabe me dar bronca sem ser rude e costuma me mostrar que não há um único e irrefutável ponto de vista, a realidade é plural, o mundo também, faz parte da vida mudar de ideia, se desapegar de velhos hábitos, na medida do possível, encarar tudo com mais leveza.
Você é muito verdadeira em suas convicções, por isso quando disse que você é uma amiga verdadeira, é no sentido literal da expressão. 
Um dos mais recentes conselhos que você me deu foi o para não desperdiçar a década dos 30 como fiz com a dos 20, no afã de agradar às pessoas e medir meu valor de acordo com a aprovação (ou rejeição) delas; você também pediu para eu não me cobrar demais, e tem toda a razão (e olha que sou bem teimosa, dou sempre com a cara na parede por cometer os mesmos erros) porque meu perfeccionismo beira ao exagero. Até certo ponto é bom, no entanto excessos são prejudiciais.
Sempre que te mostro um texto é porque confio no seu juízo. 
Como hoje você está completando 30 anos e vai entrar numa nova fase da vida, desejo que ela seja próspera, feliz, repleta de realizações. Acredito no seu potencial. Seria redundância dizer que já te vejo vencedora porque você é uma. Meus votos são para que essa década seja simplesmente incrível e que sua estrela brilhe muito.
Desejo que você tenha saúde, se cuide sempre com carinho, acredite nos seus sonhos, em você mesma, não tolere nada nem ninguém que te faça mal, e acrescento que também espero te escrever por muitos anos ainda e que um dia possamos nos conhecer pessoalmente.
Escolhi o unicórnio como tema do seu cartão porque nunca vou me esquecer da Unicórnio e nem do concurso que me mostrou que se procurar direitinho, com carinho, dá para encontrar livros e pessoas incríveis no Wattpad. Você é uma delas. E que privilégio poder dizer que você é minha amiga, mesmo que não nos falemos todos os dias, entendo a correria, porém isso não me impede de te querer bem.
Saiba que escrevi tudo com carinho porque senti no coração que precisava te escrever um texto de aniversário à altura dos seus livros, do apoio que você me oferece sempre. Peço perdão porque às vezes não sou a melhor amiga do mundo, tenho medo de puxar conversa e levar vácuo ou de estar incomodando, também gosto de respeitar a privacidade das pessoas porque todo mundo precisa ter o seu espaço, mas quero dizer que não são palavras vazias, você pode contar comigo.
Você merecia um texto melhor do que esse, mas cada palavra foi pensada a fim de ser uma mensagem mais autoral, mais honesta, não apenas votos vazios e repetitivos.
Receba meu abraço e todo o meu carinho. 
Por favor, me prometa que vai lutar sempre pelo seu espaço, por tudo que acredita, que vai viver cada dia e saber que tanto os bons quanto os maus passam, que vai aproveitar as oportunidades que vierem e que vai ser a protagonista da sua própria história.
No dia de hoje agradeço imensamente a sua amizade. Que ela seja tão longa quanto espero que seja a sua vida. Longa, próspera e feliz. 
Curta cada minutinho não só do primeiro dia desse novo ciclo. E brilhe. Brilhe o mais forte que puder. Acredite, muitas pessoas se já não se inspiram, ainda irão se inspirar em você. ♥

Que a corrente de amor nunca se quebre por vaidade alguma!



Ela regou meu modesto canteiro de roseiras. Até o primeiro botão desabrochar, meu jardim costumava ser mais triste. Eu ainda não havia entendido que amor é energia para ser compartilhada, não se guarda, se sente, assim como o conhecimento e a compaixão, semeando coragem e ternura em corações desacostumados a receberem gestos de carinho.
Não tem nada mais gratificante que aprender a enxergar o talento dos outros e ser a mão que se estende porque quando se caminha junto se vai mais longe. Ensinar e aprender estão sempre de mãos dadas.
Não tem nada mais bonito do que ver um tímido girassol florescer porque quando o sol se reflete sobre a campina, a visão aquece o coração.
Uma pessoa pode inspirar a outra sem precisar apagar a estrela dela, assim é que o céu brilha bonito.
O sol não se sente ameaçado pelos encantos da lua, nem pelo fascínio que as constelações incitam, todos habitam pelo infinito em harmonia.
Que a corrente de amor nunca se quebre por vaidade alguma porque esse demônio faz algumas pessoas pensarem que são melhores do que as outras, estrelas solitárias que precisam apagar as que lhe representam algum tipo de ameaça.
Não exagero em minhas colocações quando afirmo que a vaidade em demasia é destrutiva porque arrasa jardins inteiros e o egoísmo torna as almas mais frias, menos dadas à empatia, a solidariedade, voltando-se para tudo o que não importa, não ao se ir o sopro de vida, não quando se tenta fazer com que um coração volte a bater ou se regue um lírio esperando que ele torne a florescer.
A vida é tão frágil. O dom mais raro. A oportunidade que nos é concedida para espalharmos aqui na Terra um pouquinho da luz que existe no universo. Porque todo mundo possui essa luz na alma, alguns preferem escondê-la e outros sentem medo dela, o que é compreensível, visto que vivemos num mundo onde demonstrar sentimentos é “ser trouxa”, onde todos querem amar e não sabem se entregar, um mundo controverso em que somos medidos pela beleza padronizada, pelas posses materiais, pela popularidade, sendo que o que nos faz encantadores são nossas particularidades.
Viver bonito pode representar a conquista do topo, no entanto, se não se chegar lá da maneira convencional, cruzar a montanha e apreciar um percurso inenarrável, se encontra na simplicidade, na vontade real de seguir o próprio coração até quando ele está partido.
O problema de tentar seguir o seu coração quando ele está machucado é que se assemelha a dirigir com neblina, é preciso ter cautela, redobrar a atenção e os cuidados. Parar não significa fraqueza quando você precisa de um tempo.
Ser eu mesma, por exemplo, no lugar de imprimir uma versão falsa que convencerá por algum tempo, só não para sempre. Não sou nada daquilo dito pelos meus agressores, não sou o ódio que empenhado para destruir minhas roseiras. Sou humana, possuo defeitos e fraquezas, mas, acima de tudo, o desejo de ser melhor, portanto, não se assuste se eu me colocar de cócoras com um regador, me aproximar do seu vasinho de girassol e regá-lo.
É muito provável que aquele vasinho de cactos ao lado do seu também esteja precisando de uns cuidados. Insisto com todo o meu coração, fazer o bem não dói. 
Deveria ser nosso maior objetivo por aqui antes de quaisquer desejos megalômanos, qualquer sonho que, mais cedo ou mais tarde, pode ser arrasado por uma forte tempestade.
Só peço, por favor, que não seja a tempestade que assola o mundinho de alguém. Se não puder ser calmaria, não seja o caos. Se você não levar muito jeito para cuidar de jardins, seja colo, melodia, poesia, seja o amor que seu coração pode dar, porque não importa o quanto ele foi quebrado, ainda pode bater e de amar.
Lembre-se sempre de que, por mais que você não perceba na correria do dia-a-dia, existem muitas pessoas que se preocupam com você, que te querem de pé, com o melhor sorriso, com os braços bem abertos. 
Pode ser que o mundo continue girando sem você ou sem mim, sem nós, aliás, algo que vai acontecer. Haverá corações onde moramos para os quais somos insubstituíveis ou deixamos uma marca tão grande que nem a passagem de tempo mais intensa poderá apagar.
Vai por mim, numa manhã, minha roseira foi destruída, de joelhos na terra me machuquei com os espinhos e havia (como ainda há) outros mais profundos em meu coração, esses que apenas a indulgência do tempo se encarregará de remover ou então encontrar um bálsamo para aliviar as torturas que levaram embora a inocência.
Nada no mundo consegue pagar o preço da sensação maravilhosa que experimentei quando vi o primeiro botão de rosa ainda fechadinho, me indicando que quando a maldade tenta enterrar sonhos, eles se tornam sementes.
O ódio destrói a roseira na expectativa de que o solo se torne infértil e o canteiro de azaleias ao lado chame mais atenção que os demais e as rosas fossem uma severa ameaça.
O amor, não.
O amor reconhece a beleza das azaleias, mas sente saudades da roseira e recolhe as lágrimas que a chuva deixou, cuidando de cada detalhe da semeadura, se emocionando com cada etapa de um processo que pode levar tempos até se materializar, espera com paciência e se sente feliz com a alegria do outro porque não sabe ser de outro jeito, não queira que ele se comporte de outra forma.
O único amor que deve ser motivo de arrependimento é aquele que fica guardado quando poderia ser o regador que devolve vida à roseira. Se alguém te machucar alegando “que foi por amor”, não acredite nisso, o amor não machuca, mesmo quando quem nós amamos se vai, porque quando existe amor, lembre-se disso, a sementinha está crescendo no peito, resplandecendo pelo infinito por toda a eternidade.

Por que é melhor "pensar antes de falar"? (31/08/2016)



Há uma enorme responsabilidade pela palavra dita, ainda que ela contemple um efêmero instante e não represente os verdadeiros anseios de quem se pronuncia no calor de uma emoção intensa e incontrolável. A raiva é aquele impulso cuja repercussão pode ser irreversível. Uma vez perdida a inocência, nem mesmo a mais eloquente das retratações reconstrói a confiança esmigalhada.
Cabe-me dedicar um cuidado ímpar com a colocação de todos os elementos da oração. O mau uso da palavra é recorrente, a aplicação da verdade é passível de infinitas interpretações. Entre o certo e o duvidoso, milhares de alternativas.
Não encontro segurança em meio a este revoar de ódio. Ele não é a solução que me interessa. Poderia discorrer sobre a maturidade de não permitir que pequenas diferenças consigam destruir grandes sonhos. Se o fato de “estar” em um lado te faz abominar o outro, algo não está certo.
Segregar torna qualquer negociação impossível. A observação é uma atitude acertada para aprender e aplicar o verdadeiro significado do verbo escutar, de modo que a ponderação não se revele demagoga. O silêncio exercita o respeito, através dele se alcança o entendimento.

    Curitiba, 31 de agosto de 2016.

Editorial WNBM | Sobre não caber no molde que me venderam

O nível da prova do vestibular deste ano está visivelmente mais alto do que nos anos anteriores. Não me saí tão bem quanto gostaria — reconheço que não me preparei como deveria. Estou focada em outras prioridades que, neste momento, parecem tão urgentes quanto meu sonho.

É claro que fico triste. Ver o sonho adiado por mais um ano não é fácil. Mas, mesmo frustrada, sei que não é o fim da linha. Não é uma prova difícil que vai definir quem eu sou, nem invalidar meus talentos ou minha paixão. E é isso que quero dizer a todos os amigos, leitores e visitantes ocasionais que passam por aqui: a vida continua, e o nosso valor como pessoas não cabe dentro de um gabarito.

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Mas não foi para isso que eu vim cedo postar.

Hoje descobri que o que sentia, lendo certas revistas na adolescência, era um sentimento comum entre muitas garotas. Nós perdemos nossa adolescência nos odiando por não sermos perfeitas como as artistas teen, nem como aquelas meninas escolhidas a dedo — ricas, magras, de cabelo liso, com namorado e populares na escola e nas redes sociais.

Eu olhava para a minha vida, cheia de inseguranças e dificuldades, e me odiava por não ter o corpo esguio, por não ter tantos amigos, por ainda ser virgem aos 16 anos. Me odiava profundamente.

Uma das razões de eu ter declarado guerra contra o meu próprio corpo foi essa cultura disfarçada de entretenimento, que, sob o verniz de "dicas de autoestima", banalizava tudo e manipulava milhares de meninas a acreditarem que elas não eram especiais, que elas não eram suficientes.

Hoje, com mais clareza, eu repudio essa lógica.


De quinzena em quinzena, lá está ela, a revista, sempre trazendo na capa um rosto conhecido — seja de um carinha de banda ou de uma artista teen cujo rosto parece um filtro digital. 

A ideia é simples: você deve admirar aquelas figuras, rir das piadas de um bando de garotos bonitos que não trazem nada além de uma estética que segue o fluxo. A revista impõe uma definição de beleza que acaba se tornando a referência para tudo o que você deve ser.

Mas, e quem disse que beleza define caráter? Ou que o ideal de perfeição apresentado ali é o único caminho?

Ao folhear, você se depara com dicas de moda que te forçam a se encaixar em um molde estreito. Não pode usar tal cor, não pode ter tal formato de corpo, precisa seguir certas normas para se encaixar nos padrões. Em meio a essa pressão silenciosa, você aprende que ser aceita tem um preço — é preciso estar dentro de um padrão estético e comportamental que parece ser o único modelo possível de vida. Mas será que isso é realmente o que te define?

Essas imposições de padrões, embora não intencionadas de forma explícita, acabam moldando mais do que apenas a nossa aparência. Elas interferem no desenvolvimento de um pensamento mais crítico e limitam as escolhas, criando uma visão de mundo estreita, onde o valor da pessoa é medido de acordo com sua aderência a esses padrões.

A grande questão é: até que ponto somos responsáveis por nos libertar desses moldes e buscar uma autêntica construção de identidade, sem a pressão de se encaixar em um ideal pré-definido?

Sempre esteve escancarado para quem quisesse enxergar: a tal revista, mesmo alcançando milhares de leitoras, nunca falou para todas. Seu editorial foi, desde sempre, voltado para um mundo idealizado, pasteurizado, onde 95% das meninas — reais, imperfeitas, diversas — nunca tiveram espaço. Sempre venderam um padrão inalcançável de beleza, comportamento e sucesso, travestido de inspiração, mas carregado de exclusão silenciosa.

E agora, diante da polêmica da vez, vemos mais do mesmo: o post compartilhado no Facebook foi grosseiramente tirado de contexto. Uma atitude oportunista, alimentada por interesses pessoais, por quem busca promoção fácil às custas da indignação alheia. Quem leu ao menos uma vez a revista sabe que há uma coluna dedicada ao humor, à sátira, à crítica ácida — e que o colunista, como sempre, mirava na contradição e no exagero, não no ataque gratuito.

O pior é que esse tipo de abordagem dita “feminista”, agressiva e desinformada, apenas reforça os estereótipos que deveríamos combater. Alimenta a imagem da mulher amarga, frustrada, intolerante e odiosa. Torna qualquer crítica legítima refém da caricatura. 

Quando a discussão verdadeira deveria ser outra: não a caça às bruxas, mas sim a cobrança por um editorial que consiga conciliar sua marca registrada — o humor, a leveza — com mais representatividade e inclusão. Era para ter sido uma conversa sobre ampliar vozes, e não sobre cancelar narrativas.

O verdadeiro problema nunca foi apenas a revista. O problema é a falta de leitura crítica. É a incapacidade — ou talvez a má vontade — de diferenciar o que é sátira do que é ataque, o que é inspiração do que é imposição. Sem essa consciência, continuamos a oscilar entre o consumo cego e a destruição burra — e em nenhum dos dois casos avançamos de verdade.

Mary Recomenda | A Pindonga Azarada

Quem gosta de festa junina tem grandes chances de amar a edição extraordinária do Mary Recomenda , em clima de São João. Não vou...