Os próprios fatos me dirão

 


        Por toda a vida tive atitudes de mendicante, implorando conversas, nutrindo amizades mortas, inventando amores para não encarar a dor, a solidão, o tédio, a mim mesma. Maltratei-me, transbordei-me para almas blasé demais para retribuir o mínimo que fosse, apenas para a dignidade não se sentir humilhada.
         Pouco tempo atrás lá estava eu, dedicando atenção para uma pessoa que nunca mereceu a saudade de algo que hoje sei, eu mesma criei, para buscar num passado idealizado o alívio para o vazio num coração sem amor. Infértil sempre foi a utopia, alimentada tão somente pelo ego fragilizado, embaçando a vista para o verdadeiro propósito da existência.
          Para não tomar conta da criança desamparada inventei mil maneiras de escapar de um importante dever, o primeiro e essencial, me colocar em primeiro lugar. Hoje recebo os juros daquilo que releguei, o gosto amargo no alto da garganta, mas gosto da minha própria presença, de visualizar as lembranças sem romantizá-las, tirando pessoas dos respectivos pedestais, realocando prioridades, revisitando ambientes, redescobrindo a doce e adormecida essência, assombrada com os estragos causados pela impulsividade.
        Precioso é o dom da vida, até quando serei agraciada pelo agradável e desafiador sopro, não faço ideia, portanto, não faz sentido desperdiçar tempo, lágrimas e disponibilidade para quem não se importa e talvez nunca tenha se importado. 
        Se o que foi bom vira saudade e o que foi ruim serve de experiência, como definir então o momento presente, quando nem mais choro? Os próprios fatos me dirão...

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