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No inferno toca sertanejo universitário



No inferno toca sertanejo universitário

Assinado por Nina

Não me pergunte de onde vim, porque a resposta é mais feia do que você suportaria ouvir. Sou o resultado de todos os silêncios engolidos, dos “deixa para lá”, dos “pelo menos você tem um emprego”, das lágrimas que secaram antes de cair porque o tempo não me permitia chorar. Sou filha bastarda do cansaço com a indignação, irmã mais velha da raiva contida e amante fiel da ironia. Nasci do grito que nunca ecoou, das vontades que mofaram no fundo do peito e das humilhações que fincaram raízes no estômago.

Disseram que trabalhar dignifica, mas esqueceram de avisar que, para alguns, trabalhar é ser espancada em parcelas, todo fim de semana, com sorrisos falsos e coletes ridículos. Sou atendente. Uma atendente invisível. Uma peça de reposição em eventos que fingem ser alegria, mas fedem a opressão com cheiro de fritura velha. Sou aquela que não tem nome, só um número no colete, como uma presidiária. Aquela que precisa sorrir enquanto é empurrada, xingada, ignorada, usada. Aquela que “está ali para isso”. Aquela que, se responde, é insolente. Se cala, é fraca.

Para sobreviver, escrevo. E escrevendo, sangro. E sangrando, sigo um dia de cada vez. E ainda bem que é um de cada vez.

Cada palavra minha é uma lasca do que me restou depois de mais uma noite de festival onde o povo pagou um salário mínimo para ostentar. Com os tickets de bebidas caras brandindo entre as unhas de gel que não lavam um copo sequer, o olhar de desprezo pelos subalternos. Enquanto isso, a estrela do palco canta com a bunda, os versos desafinados com autotune, e a plateia aplaude como se fosse arte. Arte é sobreviver sem quebrar tudo ao redor, é segurar o grito quando tudo que você quer é sumir. Não tenho palco, mas tenho dor — e é ela que me traz aqui.

Bem-vindos ao inferno. Lá, a trilha sonora é sertanejo universitário.

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