Escrevi para não mais ler porque lavei a alma com lágrimas, tanto as já choradas quanto aquelas que guardo com pudor, porque já estou grande demais para chorar com medo do escuro, me derramando em cada linha até me esvaziar de todo e me sentir cansada demais até para questionar o porquê dos porquês.
Enrolei as folhas de papel e envolvi-as com uma fita vermelha, para que coubessem na garrafa verde de vidro, que consentiu com a insônia e se prontificou a conhecer o mundo sem sequer saber se voltaria para mim. Combinamos que não, é um trato bem especificado.
Lancei ao mar tudo aquilo que quero deixar para trás, junto de palavras que podem pertencer a um destinatário que sequer saberá o paradeiro da remetente, palavras que não mais me pertencem, apesar de terem saído dos mares mais profundos e desconhecidos de minha alma, palavras me desnudam, me fazem tão vulnerável e tão ácida, porque eu sei ser o segundo, sei ser muitas numa só.
E se as palavras correrem o mundo para nunca mais voltarem, estará o coração servindo de guia para que eu me lembre de que sentimentos existem para serem vividos e não escondidos.
Por precaução, é melhor assim. Que alguns deles estejam transferidos para aquelas folhas na garrafa que viajam pelos oceanos adentro, sem pressa de chegar a algum lugar, sem se medir pelo tempo ou pelas convenções.
Apenas e simplesmente viajando. Um de nós corre o mundo e o outro, do mundo.