Em comum

ela não usa mais o seu sobrenome

e apaga a cada banho o seu gosto

vive como se você não existisse

o perfil de casal desapareceu

a mim você matou em vida, por ela

e eu sempre quis saber o que perdi

o que ela tanto tinha que me faltava

secretamente eu a odiava

porque eu nunca te teria por inteiro

tentei cavar sua frivolidade

e machuquei toda a dignidade

eu sempre seria o seu não

o clichê da pessoa certa na hora errada

boa, mas não o bastante

para você me enxergar na multidão

eu era uma pomba esfomeada

espreitando migalhas envenenadas

você era uma droga e a abstinência

me preencheu de paranoias

eu queria ser ela mais do que tudo

porque queria a melhor parte de você

os protocolos

os colos

a preferência

nesse jogo sem vencedores

todos os corações envolvidos

terminaram em estilhaços

você estraga tudo que toca

pode ser a mulher mais incrível

você a resume 

a um arremedo de ser humano

e assim se alimenta sua vaidade

agora ela toca esse barco

será que também chora os sonhos mortos

e sente a sua falta do outro lado da cama

ou prefere esquecer que te deu tudo

e você a deixou sem nada?

ela deixou a casa dos pais por você

confiou diante de Deus um juramento

que você rasgou no primeiro olhar de cobiça

ejaculou dentro de tantas por aí

esvaziou a autoestima dela

por míseros fragmentos de volúpia

afinal de contas, o que você tanto esconde?

será que você sabe quem realmente é?

porque agora ela luta para se redescobrir

que ela tenha misericórdia da sua imaturidade

mas não volte para os seus garrotes

ela pode muito mais sem você

essa descoberta te assombra

você me machucou sem marcar a pele

foram feridas fundas que apodreceram

e quem vai te cobrar a punição?

outra pessoa poderia ter vindo e me amado

se me honrar não era sua intenção,

que diabos tanto te motivou a me seguir?

ela e eu, no fim das contas,

temos um ponto em comum:

fomos destruídas por você.