Mostrando postagens com marcador crônica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crônica. Mostrar todas as postagens

Crônicas Desbocadas | A escolhida e a esquecida

 Crônicas de uma atendente cansada de ouvir que a vida é justa para quem “merece”.


Tem gente que nasceu com o cabelo certo, a pele lisa, o nome que soa bem até quando o vento sopra. Gente que tem um sorriso no canto da boca, mas um mundo inteiro dobrado aos seus pés. Gente como ela. 

A influencer que minha mãe segue com devoção quase religiosa, a quem chamarei aqui de “a Escolhida”, porque é assim que ela parece se sentir: escolhida por Deus, pelo algoritmo e pelo marido — um sujeito manso, prestativo, que vive se dobrando para atender aos caprichos dela.

A Escolhida é branca, magra, de cabelo escorrido como comercial de xampu. Mora no interior de São Paulo, numa casa que mais parece cenário de novela da Globo, e começa os vlogs dizendo: “Ai, gente, desculpa estar meia desgrenhada hoje” — mesmo com filtro, maquiagem impecável e short de alfaiataria. Diz ser simples, mas não sabe o preço do arroz. Vai ao mercado comprar “besteirinhas” e volta com três tipos de taça, oito coberturas para sorvete e tudo mais que tiver direito.

Ela não lê livros. Não cursou faculdade. Nunca pegou fila no SUS. Nunca apertou o botão errado da catraca do transporte público porque não sabia se a tarifa tinha mudado. Entretanto, é “abençoada” por não se humilhar por uma miséria na escala 6x1, porque tudo que recebe — e que posta — é “Deus honrando” sua fidelidade. Até o fogão novo (porque enjoou da cor do antigo), segundo ela, foi “presente do céu”. Mal sabe a sebosa que seu céu tem o nome do marido e CPF dele na nota fiscal parcelada.

Ela aparece lavando louça, só para fazer charme e se dizer "gente como a gente", e o marido vem por trás, tenta abraçá-la. Ela ri, diz “Ai, sai daqui, seu gordo!” com aquela risadinha sem graça, deixando o coitado constrangido em rede nacional. Ainda assim, ele continua apaixonado. Monta móveis, edita vídeos, embala surpresas de Páscoa e grava com o maior sorriso do mundo quando ela o manda calar a boca. Amor assim só se vê em filmes... de terror psicológico.

Tem dias em que ela chora durante o devocional — não por arrependimento, mas porque ainda não conseguiu a publi de alguma marca renomada. Diz sofrer porque não tinha sequer um frasco de perfume antes do marido. O sofrimento dela é não ser a Virgínia. 

Ela diz que doa amor, mas não doa móveis. Tudo é vendido — até o berço do filho que já não usa. Porque crente que se preza, segundo ela, não se apega. Só fatura.

Enquanto isso, do outro lado da tela, estou eu.  Fardada de colete feio que gonga a aparência, com os pés latejando, a lombar estourada, tentando disfarçar o cansaço, sorrindo para madame véia mal-humorada que desconta em mim se o time perde ou empata, como se fosse culpa minha que o preço dos comes e bebes sofreu reajuste. Na Páscoa, os colaboradores não ganham nem um simples bombom com frase de almanaque. 

A vida, para algumas, é chocolate importado. Para outras, é o amargo da comparação.

Tem gente que sofre e doa o que pode. Que se contenta em ver o outro feliz com o mínimo. E tem quem ostente até a tristeza, ensaiando lágrimas diante da câmera porque não virou capa da VOGUE Evangélica.

E então, como se o altar do consumo precisasse de mais uma oferenda, ela anunciou — com o mesmo tom doce de quem conta uma revelação celestial — que trocou a cama de casal. Não porque quebrou, não porque precisava, mas porque “tava enjoada, gente”. E o maridinho, claro, correu para comprar a mais cara da loja, como um cordeiro devoto a um altar que nem sequer sabe se é amado de volta.

O curioso — ou revoltante, mesmo — é que ela não doa nada. Nada. Tem mães de verdade, com muito menos, que separam os brinquedos das crianças, as roupas que não servem mais, e dão com alegria, com gratidão, com fé em algo maior que o próprio umbigo. 

E o devocional? Continua. Falar o nome de Deus em vão está em alta, dá engajamento. O cabelo, claro, segue escorrido. Porque frizz é pecado. E quem tem não tem cabelo esticado, quem sua, quem engorda, quem tem olheira, quem sofre calada, não tem uma aliança grossa na mão é só mais uma das outras. As esquecidas.

Eu sou uma dessas.

Sou a que vive tentando ver beleza onde o mundo só vê falha.

Sou a que ri sem ter vontade, porque tem gente por perto.

Sou a que se cansa de fingir que está tudo bem, mas finge mesmo assim.

Ela não é simples, e sim o produto final da fábrica de vaidade digital, disfarçada de evangelho, embalada para presente em reels de supermercado com trilha fofa e maridinho acenando no fundo. E enquanto segue vendendo até os cabides da casa para fazer caixa e comprar outra cafeteira “porque agora eu gosto de outra cor”, a gente aqui se pergunta: até quando o mundo vai premiar esse tipo de gente?

E o pior é saber que ela não está sozinha. Que há todo um sistema que alimenta essa farsa, que recompensa o falso brilho, que transforma arrogância em estilo de vida. E a gente, que só quer existir com dignidade, fica no limbo, esperando que um dia vejam valor onde não há filtro. Porque a gente também ora. A gente também ama. No entanto, o que a gente tem não vira publi. Não viraliza.

Ainda tem um pedaço meu que não desiste. Porque, talvez, um dia, Deus olhe para mim com o mesmo filtro que ela usa nas fotos. E diga: “Agora é a sua vez.”

Mas até lá… eu que lute.

— Nina

(a gata borralheira do reino da desarmonização, anti-clean girl)

As cicatrizes




A simples ação de fazer login naquele aplicativo remetia ao ato desmedido de embriagar-se de veneno à medida que o feed mostrava as atualizações. Cada linha lida insuflava a torrente de lágrimas, que molhavam as costas da mão, a tela do celular, a visão, mais facas imaginárias terminavam de estraçalhá-la, ateando fogo àquela alegria de menina. 

Crônicas da leoa - A demissão do sagui

Boa noite, amigos e amigas! Aguentem as pontas porque ainda faltam alguns meses para Confissões de Laly voltar. Hoje vou apresentar uma crônica, como as que fazem justiça ao título. Para todos os efeitos, Abel Santiago é um personagem de suma importância. Jornalista de grande envergadura, ao ser censurado na televisão, faz um protesto bem-humorado contra o “jornalismo chapa-branca” da emissora. Ele pode até ter sido demitido, mas a admiração do público cresceu.

O que diz um beijo no olho?


"Os cílios dedilhados aceitam a aproximação dos lábios inspirados. Os olhinhos estão fechados, mas as sinestesias estão mais intensas do que nunca. A revolução se dá na direção certa: atingir o coração de quem se ama." 
— Mary  🪻

Coccinella 🐞



        Coccinella é tímida. Já foi injustamente acusada de ser antipática, quando sente medo de ser alvo de zombarias. De natureza observadora, mais ouve do que fala, mesmo calada, incomoda. Ela se revela quando está à vontade para ser quem é e para os merecedores desse privilégio, uma amiga se ganha. Ela sabe fazer os outros rirem, mas ambientes hostis a intimidam e o velho casco serve de escudo caso alguém tente feri-la.
        Coccinella se comunica melhor através das linhas, não admite nenhum tipo de censura, pois a escrita é um meio de comunicação de coração para coração, onde a alma dela se desnuda sem reservas e faz-se necessário ter empatia e sensibilidade para compreendê-la. Se há interferência na recepção da mensagem, todo o resto perde o sentido.
        Coccinella não é feia, muito pelo contrário, mas na maior parte do tempo se sente invisível. Há tantos vagalumes de plástico ao entorno que ela se ressente por ser joaninha, rejeita as pintinhas no casco, queria ser exuberante como uma borboleta ou então brilhar no escuro ou ser essencial como a sempre trabalhadora abelha.
        Tão distraída pelos complexos todos, Coccinella abre um sorriso fraco para cessarem as sabatinas, mas quando se recolhe, afunda o rosto no casco e chora, chora por se sentir esquecida, porque quando se vê refletida, enumera uma dezena de "defeitos", vê no feed tantas borboletas — e elas nunca estiveram tão em alta — e sabe que não importa o que faça, nunca será uma borboleta. E embora haja quem aprecie joaninhas, estes também não se manifestam.
        Farfalla é uma produção em série e tem sido endeusada por isso mesmo. Concentra em mãos fama, poder, popularidade, nem sequer precisa que um gênio da lâmpada apareça e três pedidos especiais lhe conceda, ela pode ter ao alcance das mãos tudo e todos que quiser, o mundo é inteiramente dela. Um movimento seu rende milhares de curtidas nas redes sociais, sua imagem está estampada em todos os lugares, o impossível não passa de um vocábulo que não aplica a esse contexto... bem... a Farfalla.
        E estamos falando sobre Coccinella... o resto do mundo já se ocupa em elevar Farfalla ao patamar de uma deusa pelas frases de efeito e pelas imagens tratadas, pelo significado agregado num mundo tão regrado pelo ter... e Cocci só sabe ser, porque o que tem, bem, não importa para pessoas que levam em conta o que podem ver.
        Coccinella é apenas uma simples joaninha, trabalhando sem sequer ser reconhecida. Nem de longe tem um tiquinho da atenção que Farfalla recebe, não inspira modinhas, não leva o mundo ao delírio cada vez que respira.
        Na verdade, Cocci não precisa de grandes coisas para ser feliz, aprecia o seu mundinho, mas ama um certo alguém e queria tanto ter uma única chance de conquistar, fazer esse alguém notá-la, por isso, o medo. Ela gostaria de ter seu momento de Cinderela, de se sentir especial ao menos uma única vez na vida, com a condição de que meia-noite não seja o fim.

N/A: Se você também se sente uma Coccinella, dê sinal de vida, assim, não me sentirei só. Obrigada por ter lido. ♥

CONFISSÕES DE LALY 10 ANOS | O REENCONTRO (a releitura do texto que inspirou a publicação da web novela)

 Olá, queridos amigos e amigas! Tudo bem com vocês? Espero que sim. *-*
Dez anos atrás, numa terça-feira ventosa, esta que os escreve abriu o bloco de notas e, inspirada pela proximidade do Dia dos Namorados, decidiu escrever uma nota aleatória da Laly, e desta simples tentativa vieram outras e as ideias encontraram um fluxo harmonioso para se manifestarem. Com isso, pensei, seria legal dar uma chance para uma novela que destoava totalmente de DDP. E foi a melhor decisão que tomei. Espero que gostem dessa releitura porque a escrevi com o coração, tendo de base a versão original. Apertem os cintos e entrem no clima. (= #ConfissõesDeLaly10Anos #EscritoraVirtualSim #ComOrgulho 

#LalinhaDay Centésimo capítulo no ar (2011)

 


Nenhum outro ano comportaria a atmosfera que, por entre a maior de todas as revoluções, me coloca em outra fase da vida. Não mais do que a criança desajeitada nesse mundo de feras que os adultos chamam de Ensino Médio. As bonecas estão em caixas. Deixaram de ser presente para o passado.

Início, meio e fim. Naturalmente. A música em mim, em nós. Sonoridade à parte, cada um com sua preferência. Aceite as influências ou morra como outro ignorante metido a ser dono do mundo. Do seu quadradinho, sim! E nada mais…

O mundo gira. Em frente ao espelho, sou a diva. Prazer, Lalinha. No que posso ajudá-la? Sei falar de amor e tenho tanto a lhe contar se você tiver paciência de ouvir. Dê-me o privilégio de um parágrafo e eu dar-te-ei meu coração.

Alguns dias no colégio parecem não fazer o menor sentido. Às vezes, tudo é desconexo; não sei se acontece só comigo ou mais alguém se sente “fora de casa”.

E eu sinto realmente a sua falta. Esse é meu orgulho. O adeus machuca, testemunha da magia desse único mês. Tenho certeza de que ficaria feliz se me visse reagindo em meio às lágrimas.

Nos dias de luta, Ordinary world é a canção do coração, xodó do toca-fitas, das noites de reflexão e dos reencontros 10 anos depois. 

No mundo de sonhos só é proibido não sonhar. No mais, a princesa de casacos de moletom pretos e cabelos curtos. Ninguém a enxerga.

Acredito nos meus sonhos e isso me mantém de pé quando há um mundo que refuta meus ideais, condecora idiotices e venera a pobreza de espírito. Sentir-me só faz parte de ser eu.

Ser diferente não é ser “do contra” ou apelar para o bizarro para chamar atenção. Cabeças pensantes erram e incomodam, mas sempre aprendem.

Por onde andei, meus passos registrei. Em cada sonho, uma história de amor e uma contribuição. A força está no abstrato e não aceita definições. Simples assim.

Overdoses de mim. O mundo não respira poesia. Um bordão já sacia o intelecto da maioria. Passar os olhos não é ler. Amar não é dizer “eu te amo”.

A menina de 13 é a insistente estudante de 23. Pelos meus sonhos, vivo e enquanto o fizer, a juventude sustentarei. A música é minha irmã. Nas raízes do pretérito imperfeito está a resposta. Nenhum fio solto.

Quando o amor golpear-lhe, a amizade confortará.

Aqueles amontoados em documentos de que tanto me envergonhava ao som do que a nova geração classifica como velharia são o que faz o tempo voar e haver alguma graça em viver mais este dia.

Ainda é segredo. Não quero retransmissores nem metidos a deuses julgando e condenando Laly. Debaixo deste céu, nenhum exemplo de santidade.

Um preguiçoso sábado. Tantas obras-primas. As peças passam a se encaixar em perfeita harmonia. Até os personagens ganham estruturas mais sólidas e o nublado não mais me amedronta. A maldição vai acabar. Eu pressinto!

À medida que se sucederam os dias e intensificou-se a responsabilidade, apostei como nunca na capacidade de superação, cada vez mais. Perfeição. Tão somente.

Picuinhas e fraquezas. Transformações. Decisões baseadas no fugaz. Incerto. Tudo faz parte de crescer, principalmente quando não sobra outra alternativa.

A cada novo leitor, mais satisfação. Todo mundo precisa de um melhor amigo. Você é bonita como é e eu queria que você estivesse aqui. Em meu coração eternamente. Inocência que se vai e arranca sorrisos, suspiros. De abril a abril, para sempre que quiser.

Antes de ser quem sou — ou penso ser — aprendi a não temer a mudança, por mais esquisito que isso possa soar. 

Em algum lugar, sei que minhas palavras confortarão algum coração, desde que eu continue a me propor a trabalhar com a alma e não unicamente com o prazer de me incomodar com o inacabado.

Se no final, saudades deixar, que seja bom. Quando esse sonho se realizar, que todos os sacrifícios tenham sua utilidade e me lembrem de que ser forte foi uma obrigação. 

Sozinha, eu não seria ninguém. Medo e coragem controlam os ímpetos. Palavras bonitas não fazem discurso. Sem atitude, são apenas verborragias. Eu curto atitude. Eu curto ser o que sou.


Esta é apenas mais uma (Noite solitária)

 Ela corre pela avenida. Não olha para trás, muito menos para os lados. Não encara ninguém. Um apressado vulto. Para frente. Não sabe o caminho. Poupa-se de ambiguidades. Respira fundo. Apoia-se ao poste para recobrar o fôlego. Falta-lhe ar, um ponto de apoio. Bloquearia as memórias recentes, a capacidade de confiar, se possível fosse. Fecha os olhos e as malditas imagens estão lá, plantando ervas daninhas no jardim da harmonia, criando vida, arrancando a esperança. Nada pode contra isso. A dor lançou-a de volta às trevas.

Desvia dos carros, dos buracos, da curiosidade. Taverna aberta, um refúgio do alvoroço. Alguns trocados no bolso. Adentra como se ali fosse mais uma vez seu lar. Em um cubículo qualquer emerge ao amargo queimando a inocência. Desacostumada, certamente.

Esqueceu-se das rezas ensinadas pela saudosa mãe. Adoraria em seus braços se atirar como nos velhos tempos, quando aqueles pueris tombos a desesperaram. Perto de hoje, apenas motivo de suspiros.

Na ausência de conselhos, reflete-se a tortura enquanto a visão diminui e amortecidos, mantêm-se os questionamentos. Gutural revolta enquanto se encolhe para chorar em silêncio. Adoraria desaparecer e jamais divulgar o paradeiro ou apenas dormir sem dar mais satisfações.

Uma moedinha custeia o sádico. Aquela música. O pingente a portar na palma da mão. O primeiro presente. Ali começava uma nova era, pensou ela, tão tomada pela pureza de ser amada pelo que realmente era. A única, enfim. Como todas devem ser. O anel de namoro. Mais uma lágrima refutada pelo ansioso dedo indicador que a enxuga, ainda que ninguém ali a veja, de fato. Os negativos das semanas queimam-se no cinzeiro da desilusão.

O verão acabou e as ondas de realidade afogaram as juras que se amontoaram ao depósito de inverdades contadas para enganar. E caiu nessa maldita teia de sedução, se é que se pode classificar assim. Nunca enganou. Fiel permaneceu ao que viveu, não mais fazendo do passado um mantra. As juras se amontoam entre as hemi metamorfoses. Lentamente fecha a mão. Escorre a resistência. Começo, meio e fim. História não escrita.

2 de maio | Dia Nacional do Humor

Especial - 2 de Maio: Dia Nacional do Humor Feliz Dia Nacional do Humor! O 2 de maio é o dia dedicado a uma das formas mais poderosas de con...