📌 Introdução
Uma cena inédita, entre o medo de amar e a coragem de tentar.Um diálogo que talvez já tenha acontecido com você — ou dentro de você.Às vezes, a história começa mesmo antes do primeiro beijo.
A chuva havia parado, mas o cheiro de terra molhada ainda flutuava no ar.
Estávamos sentados no banco do lado de fora da casa, com os cotovelos encostando de leve e o céu nublado espelhando o que havia dentro de mim.
Ele falou alguma coisa boba, que me fez sorrir sem vontade. Acho que foi então que ele percebeu que havia algo errado.
— Não, não é nada disso. É que... — minha voz sumiu, e eu abaixei a cabeça. Os dedos dele tocaram delicadamente no meu queixo.
— Você quer falar sobre isso? — ele me fitou com expectativa e um olhar gentil, compreensivo.
— A gente não deveria ir mais longe. Eu já conheço essa história. Nossa amizade é tão bonita... não quero estragá-la.
— Ninguém vai estragar nada!
— Ninguém na minha vida vem para ficar. Eu não quero me acostumar com você tão perto de mim, me acostumar a passar tempo contigo, receber carinho, amor, ouvir de você que sou especial... e de uma hora para a outra, você partir. Foi difícil me refazer da última vez. Eu quase morri de coração partido. Fiquei em frangalhos, e não quero passar por isso de novo.
— Tenta não pensar no fim do que ainda nem começou. A gente precisa tentar pra saber se vai dar certo ou não.
— Não sei se vou ser a melhor companhia para você. Ainda tenho que empreender muitas mudanças dentro de mim pra tentar quebrar esse ciclo que me acomete toda vez que me apaixono.
— Então você...
— Desculpa, acho que falei demais.
— Eu estou.
— Apaixonado por mim?
— E por que não?
— Porque neste momento da minha vida eu não tenho nada a te oferecer.
— Tem, sim. E você já oferece a todos nós. Além disso, é questão de tempo pra você organizar a sua vida. Mas seria bom ter alguém pra contar como foi o dia, dar uns abraços, dormir de conchinha... Não é tão ruim assim, vai. Permita-se sentir. Você vai tirar um peso do seu peito. Permita que alguém te ame.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
As palavras dele ecoavam dentro de mim, abrindo espaço onde antes só havia medo.
Fechei os olhos devagar e encostei minha cabeça no ombro dele.
Talvez fosse isso.
Não prometer nada.
Mas, pela primeira vez, não fugir também.
Só ficar ali. Um pouco mais. Permitindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥