🚌✨ Leia agora o primeiro capítulo de "Os Desencontros do Cupido" e descubra o que acontece quando o cinismo de um jornalista encontra o perfume floral da provocação.
Primeiro Capítulo
Balneário dos Anjos, 31 de maio de 2001.
A cidade de Balneário dos Anjos despertava com a luz dourada do amanhecer refletida nas águas cristalinas de suas praias. As ondas do mar acariciavam a areia branca, enquanto as gaivotas voavam em círculos no céu azul. O cenário era perfeito, com o calçadão movimentado, onde moradores e turistas caminhavam, andavam de bicicleta e aproveitavam o clima ameno. As ruas estavam repletas de bares, restaurantes e lojas, dando vida ao coração da cidade costeira.
No meio da movimentação, uma van branca com o logo da Malacubaca destacava-se na via rápida, cortando a paisagem da cidade. Dentro do veículo, Eduardo Meirelles estava distante, imerso em seus pensamentos. Ajustou os óculos de sol e suspirou, olhando pela janela, enquanto a cidade passava em um borrão. Para quem via de fora, Balneário dos Anjos era o cenário perfeito para se apaixonar. Para ele, era só o pano de fundo de mais um dia de trabalho. Entregou a fita ao mototaxista e seguiu para a próxima gravação.
Edson, cinegrafista e amigo próximo de Eduardo, decidiu entrar na conversa com um tom malicioso:
Edson não perdeu a oportunidade de provocar:
Zulmir lançou um último comentário enquanto estacionava:
Com a proximidade do Dia dos Namorados, crescia no íntimo de Eduardo o desejo de tornar-se um ermitão. A desculpa, entretanto, era a mais esfarrapada possível: fugir das cobranças insistentes de sua atual companheira, Luciana Andrade. Atriz renomada e uma das mulheres mais desejadas do Brasil, Luciana era quase impossível de agradar e tinha grandes expectativas para o Dia dos Namorados, pressionando-o a “caprichar na surpresa”.
De volta à emissora, Eduardo tamborilava os dedos na mesa enquanto encarava a tela do computador. Artigos e gráficos sobre o impacto comercial da data piscavam incessantemente na tela. Tudo parecia ecoar a mesma ladainha: promessas de vendas recordes e declarações otimistas. Enquanto revisava as últimas informações, o murmúrio da redação ao redor parecia distante, quase como um fundo musical para sua irritação crescente.
O perfume floral de Noviça envolvia o ar quando ela se inclinou sobre a mesa de Eduardo com um sorriso provocador.
Noviça continuou, os olhos brilhando:
Para Noviça, cada interação com Eduardo era um fragmento especial, cuidadosamente guardado. Apertou a xícara entre os dedos, como se fosse um segredo quente demais para largar. Mesmo que ele não percebesse o significado por trás de suas provocações, ela sabia que sua distração era uma proteção contra algo mais profundo.
Eduardo revisou mentalmente o texto que acabara de escrever, uma leve sombra passando pelo rosto.
Ela soltou um riso nervoso, tentando disfarçar a lembrança amarga.
Embora fosse chamada de “grinch” pela filha, Noviça sabia que o Dia dos Namorados era a pior data para ela. A tristeza sempre surgia ao fim de maio, inevitável como o nascer do sol.
Na tela da emissora, a reportagem de Eduardo sobre as expectativas do comércio para o Dia dos Namorados ia ao ar. As imagens mostravam vitrines decoradas e casais caminhando pelas ruas, enquanto Eduardo narrava:
No estúdio do Vinte Horas, o âncora William Bastos Marques ajustava os papéis à sua frente antes de se despedir do público:
Antes dos créditos, o locutor oficial da emissora surgiu com o anúncio especial:
Na redação da Malacubaca, o burburinho pós-jornal era sempre mais barulhento que o próprio noticiário. Eduardo seguia tamborilando os dedos na borda do computador quando William Bastos Marques passou por trás da cadeira com sua tradicional xícara de café preto na mão.
William soltou um riso abafado e se afastou, mas deixou o rastro da provocação no ar. Noviça, que acompanhava a troca com os olhos, fingiu concentrar-se em seu bloquinho de anotações, mas não conseguiu conter um suspiro leve. A conversa havia distraído por um instante o pensamento sombrio que teimava em voltar: o plantão do ano anterior.
Ela fechou os olhos por meio segundo, mas bastou. A lembrança do sequestro do ônibus invadiu sua mente feito sirene de ambulância. Os gritos, o suor, o terror no olhar das vítimas. E o peso de ter desejado, mesmo sem maldade, que algo “extraordinário” acontecesse para tirá-la do drama do Dia dos Namorados.
“Foi culpa minha?”, perguntava-se em silêncio, como fazia nas últimas semanas.
Enquanto isso, dois estagiários cochichavam próximos à impressora:
Eduardo ouviu de longe e soltou um sorriso enviesado.
Isso vai dar o que falar, pensou. Mas não era da Bilu que ele queria fugir naquele junho.
Era do amor.
Ou, pior: da expectativa dos outros sobre o amor.
Antes de sair da redação, Eduardo recebeu uma notificação no pager. Era uma mensagem de voz deixada por Luciana Andrade — ele já sabia o tom só de ver o número.
"Edu… você não vai esquecer da surpresa, né? Quero algo à altura. As flores do ano passado foram… ok, mas um pouco simples. Não combina comigo. Um jantar no mínimo cinco estrelas. E nada de desaparecer de novo, hein? Beijo, amorzinho."
Ele desligou o aparelho e fechou os olhos por um segundo, como quem levava uma topada no meio da alma. Respirou fundo, mordeu o lábio inferior e guardou o pager no bolso.
— Amorzinho... pois sim.
📺 No próximo capítulo (27 de maio, às 20h)
Bilu Valdez retorna ao Vinte Horas após um ano fora da bancada — e reencontrar William Bastos não será o maior dos desafios. Christiane dos Anjos e Carmen Angélica também enfrentam suas próprias dores e esperanças enquanto o cupido da Malacubaca prepara mais uma rodada de desencontros.
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