Antes que o tempo mude: como o vento, as aves e o Luke me avisam 💨🐺


Antes que o tempo mude: como o vento, as aves e o Luke me avisam
Por Mary Luz

Não sou meteorologista nem climatologista, mas o assunto está sempre muito presente na minha vida. Nesta encarnação me contentarei em ser uma simples curiosa.
Curiosa do céu, do vento, das nuvens que mudam de textura e anunciam o que está por vir.

Entretanto, nos últimos tempos, acabo não fazendo mais aquela observação atenta como fazia antes. A rotina rouba o brilho do olhar. As preocupações se multiplicam como estrelas, e às vezes nem a contemplação mais pura dá conta de acalmar o coração.

Tem um fenômeno que me puxa de volta.

Quando estamos vivendo o que os meteorologistas chamam de veranico, eu percebo: vai mudar. Sinto pelo vento. Tenho vista para o oeste, e é de lá que ele vem — o vento que me avisa. O tal do sudoeste.

💨🐺 Quando o tempo me avisa

Desde criança, eu dizia que era o lobo mau assoprando. Aquele vento gelado, cortante, que batia com força na janela e deixava a casa com cheiro de mudança.

Anos depois, descobri que esse vento tinha nome. Vento sudoeste. O mesmo que antecede frentes frias no sul e sudeste do Brasil. Ele transporta massas de ar frio e úmido, provocando queda de temperatura, mudança de pressão atmosférica e, muitas vezes, chuva.

É um vento que assovia. Que arrepia. Que parece ter vontade própria. E ele me encontra sempre pela janela do quarto.

Aves planando no céu (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary)

3. As aves já sabiam

As aves sabem. E sempre souberam. Nos dias em que o vento muda, elas planam diferente. Voam em círculos, mais alto, como se tocassem o céu com o peito. Não é coincidência. Elas estão lendo o ar.

Esse comportamento acontece porque as frentes frias criam instabilidades e correntes ascendentes. As aves aproveitam esse movimento pra ganhar altura com menos esforço. Algumas mudam seus padrões de voo e até suspendem migrações.

É bonito de ver. E também é sinal de que algo está mudando.


4. O Luke e o olhar que fala

E então vem ele.

O Luke.
Meu cachorro. Meu radar. Meu companheiro de clima e de vida.

Quando o vento muda, o Luke muda junto.
Ele começa a andar diferente. Para perto da janela. Olha pra mim com aquela expressão que só quem ama cachorro vai entender:
“Você também tá sentindo, né?”

É o olhar de quem pressente. De quem não entende o nome da frente fria, mas entende o que ela traz.
Às vezes ele pede colo. Às vezes só fica perto, quietinho.
E é como se ele me avisasse do que o mundo lá fora já sussurrou: vem mudança por aí.


5. No fundo, eu continuo ouvindo

Hoje sei que o vento tem nome.
Que as aves planam por aerodinâmica.
Que o Luke reage à pressão atmosférica.

Mas, sinceramente?
Ainda gosto de pensar que o lobo mau mora no sudoeste.
E que o mundo continua falando comigo em códigos que só se decifram quando a gente desacelera.

O tempo avisa.
E eu — mesmo cansada, mesmo sobrecarregada — ainda escuto.

 

O tempo realmente virou. Enquanto escrevia este post, recebi uma notificação da Defesa Civil sobre chuvas intensas na região onde moro. Pouco depois, a internet caiu. Fiquei sem sinal, como quem é convidada a parar, escutar e só sentir.

Esse tipo de alerta pode ser recebido por qualquer pessoa. Basta enviar um SMS com o seu CEP para o número 40199. É gratuito, rápido, e te coloca em sintonia com o tempo da tua região.

Saber que o vento vem do sudoeste pode parecer coisa de livro técnico. Todavía, quando ele bate na janela, quando o Luke muda o olhar, quando as aves somem do céu e a conexão falha, a gente entende:

a previsão já tinha sido feita. A gente só precisava escutar.

📚 Referências:

1. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Frentes frias e massas de ar. Disponível em: https://www.gov.br/inmet/. Acesso em: 21 mai. 2025.

2. CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS (CPTEC/INPE). Características das frentes frias no Brasil. Disponível em: https://www.cptec.inpe.br/. Acesso em: 21 mai. 2025.

3. EBIRD. Status e tendências das aves no Brasil. Cornell Lab of Ornithology. Disponível em: https://science.ebird.org/pt-BR/status-and-trends. Acesso em: 21 mai. 2025.

4. SILVA, J. A. da; OLIVEIRA, L. B. Comportamento de aves em resposta a mudanças atmosféricas. Revista Brasileira de Ornitologia, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 45–52, 2022.

5. AMERICAN KENNEL CLUB (AKC). How Dogs Sense Weather Changes. Disponível em: https://www.akc.org/. Acesso em: 21 mai. 2025.

6. VCA ANIMAL HOSPITALS. How Weather Changes Affect Pet Behavior. Disponível em: https://vcahospitals.com/. Acesso em: 21 mai. 2025.

7. NATIONAL WEATHER SERVICE. Weather and You: How Atmospheric Pressure Affects Humans. U.S. Department of Commerce. Disponível em: https://www.weather.gov/. Acesso em: 21 mai. 2025.

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