Terças com Tita | Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar

 


Manifesto de uma mulher que se recusa a se encaixar
Por Tita | Os Cadernos de Marisol


Sinto, dia após dia, o olhar enviesado de quem espera que eu me encaixe.

Porque não suporto blazer que me aperta, salto que me cala, nem a obrigação de parecer adulta para satisfazer expectativas alheias.

Gosto de roupas que contam quem sou — e não de figurinos pensados para agradar o LinkedIn dos outros.

Julgar meu profissionalismo pelo que visto é uma das formas mais escancaradas de misoginia estrutural.

A régua da maturidade é torta. E pesa só para um lado.

A mulher de All Star é vista como a esquisita que não superou a fase emo.

O homem de All Star é o descolado, criativo, alternativo.

A mulher de camiseta é tachada de desleixada, sem vaidade.

O homem de camiseta é o prático, livre, independente.

Se ele não usa gravata, é revolucionário.

Se nós não usamos salto, somos “relaxadas”.

A cobrança é cruel. Como se a liberdade da mulher de sonhar, brincar, gostar… tivesse prazo de validade.

Sou criticada por usar All Star como se o solado tivesse data de vencimento.

Por gostar de rosa, lilás e brilho, como se o bege fosse sinônimo de maturidade.

Por preferir itens de papelaria delicados e afetivos a capas impessoais que apagam identidades.

Olham-me torto porque ainda amo meus bichos de pelúcia, minhas miniaturas, meus personagens queridos.

Porque assisto Chaves como quem visita um lugar seguro.

Porque, se pudesse, passaria horas jogando The Sims sem culpa.

E teria uma prateleira só de Barbies — cada uma com uma história minha.

Mas veja bem:

Homem pode jogar videogame até os 60, andar de bicicleta elétrica, vestir camiseta de super-herói e postar selfie no Instagram com legenda de “moleque arteiro”.

É charme. É liberdade.

Agora, se uma mulher de 30 gosta de Barbie ou Hello Kitty, é “presa na adolescência”.

Se ama o que é delicado, é “infantil”.

Se coleciona, é “fútil”.

Se tem afeto pela sua menina interior, é “problemática”.

Se ousa ser autêntica, vira piada.

A infância da gente foi encurtada.

Nos tiraram o colo, o afeto, o direito de ser frágil.

E agora, quando a gente tenta resgatar o que perdeu, dizem que é birra. Que é drama. Que é nostalgia inútil.

Pois deixo aqui uma sugestão honesta:

🔑 Chave Pix na bio.

Já que estão tão preocupados com a minha vida, que pelo menos me ajudem com os boletos.

Tenho 30 e poucos. E não — não vivo entre ressacas e corpos vazios, como apregoam as músicas cafonas do momento.

Curto os 30 com afeto. Com autenticidade.

Com os amores que escolhi — não os que me empurraram.

Ser adulta nunca deveria significar assassinar a menina que sobreviveu ao desprezo, ao silêncio, à violência.

Hoje, eu acolho essa menina. E juro protegê-la. Mesmo quando o mundo insiste em dizer que isso é fraqueza.

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