Ilustração inspirada em uma imagem real, adaptada para anime do Studio Ghibli (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary/Chat GPT) |
Do basquete à contracultura, do pé da sua mãe ao seu: a história afetiva do tênis mais querido do mundo.
Por Mary Luz
Bonito? Sem dúvidas.
Confortável? Com certeza.
Estiloso? Modéstia à parte, sua permanência já é uma resposta!
Mais do que uma moda passageira, o Converse All Star ultrapassa gerações, se estabelece como ícone da cultura pop e, não menos importante, conta a minha própria história.
Você sabia que esse tênis tão presente nos pés e nas memórias afetivas de milhões tem mais de 100 anos de existência?
A equipe do OCDM viajou pela história para descobrir por que o tênis mais querido do mundo se tornou um fenômeno atemporal, rebelde e afetivo.
Um nascimento simples, uma revolução silenciosa (1908–1920)
A história começa em 1908, com a fundação da Converse Rubber Shoe Company, na pequena cidade de Malden, Massachusetts, por Marquis Mills Converse. A ideia inicial era produzir calçados de borracha para o inverno rigoroso da região.
Mas em 1917, a marca deu um passo ousado: lançou o Converse All Star, ainda sem esse nome icônico, como o primeiro tênis esportivo em lona voltado para o basquete — esporte que começava a se popularizar nos EUA. A sola era feita com um padrão antiderrapante, o famoso "Non-Skid", e já se destacava pelo design versátil.
Chuck Taylor: o nome que virou lenda (1921–1930)
Em 1921, a história do All Star deu uma guinada: o jovem jogador Charles “Chuck” Taylor entrou para a equipe da Converse não como garoto-propaganda, mas como um verdadeiro embaixador.
Apaixonado pelo modelo, sugeriu melhorias técnicas — como reforços na sola e mais suporte para o tornozelo. Em 1932, a empresa rebatizou o modelo com seu nome: nascia o Chuck Taylor All Star.
Foi o primeiro tênis de performance assinado por um atleta, numa época em que o marketing esportivo ainda engatinhava. Chuck percorreu o país divulgando o calçado em clínicas de basquete, como se fosse um rockstar do esporte — muito antes do termo existir.
Das quadras para os corações (1930–1970)
Mas com o passar das décadas e o surgimento de modelos mais modernos no mercado esportivo, o tênis perdeu seu espaço técnico… e encontrou outro palco: o da juventude rebelde.
O tênis da rebeldia e do estilo (1970–1990)
Nos anos 70 e 80, os All Star saíram dos ginásios e entraram nos palcos de shows e nos becos do underground.
O tênis virou uniforme não-oficial de quem não queria seguir padrão nenhum. Foi adotado por punks, góticos, skatistas, alternativos. De repente, ele estava nos pés dos Ramones, dos integrantes do Nirvana, da cena grunge e do rock alternativo.
Nos pés dos ícones (inclusive os de 10 cm)
Naquela mistura de doçura, coragem e individualidade, Stuart provava que estilo não tem tamanho. E que o All Star, mesmo em miniatura, continua sendo um símbolo de personalidade.
Esse ratinho estiloso, protagonista do filme de 1999, desfilava seu par de All Star vermelho com uma confiança digna de passarela, mesmo medindo poucos centímetros. O visual dele — camiseta, jeans e tênis All Star — ajudou a consolidar ainda mais o tênis como um símbolo de autenticidade e carisma pop.
Da falência à reinvenção (2000–presente)
Nos anos 2000, a Converse enfrentou dificuldades financeiras e foi comprada pela Nike em 2003. Muita gente achou que seria o fim da alma do All Star — mas o que veio foi uma fase de reinvenção e expansão.
Surgiram collabs com marcas como Comme des Garçons, Off-White, além de parcerias com bandas, personagens de anime, HQs. O All Star virou peça de passarela — mas manteve os dois pés na rua.
O modelo Chuck Taylor All Star II trouxe mais conforto, mas é o clássico que continua sendo o mais amado.
Curiosidades que merecem lugar no mural:
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Mais de 800 milhões de pares vendidos no mundo.
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É usado em 180 países e continua sendo febre entre jovens e adultos.
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Já teve edições com AC/DC, Metallica, Nirvana, Batman, Sailor Moon, CDZ, Simpsons, Hello Kitty...
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No Brasil, virou item de desejo nos anos 90, especialmente entre adolescentes alternativos, fãs de rock, skatistas e rebeldes sem grana.
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No cinema, já apareceu em personagens como Forrest Gump, Scott Pilgrim, Marty McFly e até no pé do robô Will Smith em “Eu, Robô” (sim, até no futuro ele sobrevive!).
Na minha história: o All Star é herança
Eu tinha 11 anos. Era uma menina cheia de interrogações, em busca de um jeito de ser que não se curvasse às modinhas pasteurizadas. Foi aí que encontrei meu primeiro All Star.
Não era só um tênis. Era identidade, manifesto, companhia.
Enquanto muitas meninas sonhavam com saltos altos e roupas de capa de revista, eu sonhava com tênis que não me fizessem tropeçar no que sou.
Minha mãe também usava All Star. Quando solteira, dizia: “Queria ter um de cada cor.” Talvez dissesse isso como quem sonha com liberdade. Talvez por isso, cada All Star meu hoje seja também um elo com ela — um sonho herdado que eu transformei em caminhada.
Um tênis que resiste ao tempo — e aos rótulos
No All Star, estilo e conforto dão as mãos.
Ele testemunhou meus dias difíceis e minhas revoltas silenciosas, minhas paixões adolescentes e meu direito de existir fora dos moldes.
Enquanto certos calçados viram memes do passado, o All Star segue relevante, estiloso, acessível, sem precisar gritar.
Talvez não seja só sobre tênis. Talvez seja sobre encontrar algo que nos represente — sem pedir licença, sem precisar se encaixar. E nesse caminhar, se for com All Star, pode até ser mais leve.
📚 Referências
CONVERSE. History of Converse. [S. l.]: Converse, [2024]. Disponível em: https://www.converse.com. Acesso em: 17 maio 2025.
KIRBY, G. The story of Chuck Taylor: How a basketball player helped create the world's most iconic sneaker. New York: CNN Style, 2019. Disponível em: https://edition.cnn.com/style/article/converse-chuck-taylor-all-stars-history. Acesso em: 17 maio 2025.
CARTNER-MORLEY, J. How Converse became the world’s coolest shoe. The Guardian, Londres, 08 mar. 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/fashion/2017/mar/08/how-converse-became-worlds-coolest-shoe. Acesso em: 17 maio 2025.
SCHLOSSBERG, T. A Brief History of the Converse Chuck Taylor All Star. New York Times, Nova York, 28 jul. 2015. Disponível em: https://www.nytimes.com/2015/07/28/style/converse-chuck-taylor-all-star-history.html. Acesso em: 17 maio 2025.
MULLINS, C. Converse’s Comeback: How Nike revived the Chuck Taylor brand. Business Insider, Nova York, 22 jan. 2019. Disponível em: https://www.businessinsider.com/how-nike-brought-converse-back-2019-1. Acesso em: 17 maio 2025.
WIRED BRASIL. 10 colaborações marcantes do Converse All Star. Wired Brasil, São Paulo, 07 ago. 2022. Disponível em: https://www.wired.com.br/converse-all-star-colaboracoes/. Acesso em: 17 maio 2025.
IMDB. Stuart Little (1999) – Costume design. IMDb, [s. d.]. Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0164912/. Acesso em: 17 maio 2025.
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