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Retrospectiva introspectiva



Progredir pode significar um breve retrocesso, não de caso pensado. Aproprio-me do seguinte álibi: errei determinada a acertar, logo, aprendi — quero acreditar, pelo menos — uma lição. Seria interessante chegar a grandes conclusões sem colecionar tantas manchas roxas nas pernas, no entanto, com os ombros bem mais leves, insisto que tropeçar faz parte do processo.

Vai setembro, vem outubro

 A partir da meia-noite já podemos cobrar o SBT porque já será outubro, né, não? 💛💓

"Não contavam com a minha astúcia?"

Segure a minha mão

 N/A: Hoje apresento a releitura do poema Segure a minha mão, escrito há 4 anos, quando 2023 era um sonho distante. Este é o meu posicionamento e, portanto, eu tenho o direito de me expressar. Em caso de desagrado, beba um gole de água, mas mantenha o conteúdo no céu da boca até que a raiva passe, então engula, fecha a página e vá ser feliz. 

Reflexões de Ceci

 N/A: Encontrei esse texto de 2018, cuja narradora é a Ceci Paternostro ♥, da obra Aconteceu naquela tarde de verão. Cecília completará 5 anos de criação em agosto. Submeti o texto a uma revisão, reedição e reescrita. Conjugando corretamente o pronome da pessoa amada. B não é biscoitinho da sigla. Nós existimos.

Toda forma de amor tem espaço no OCDM

A postura de quem passa por todos os estágios de um coração partido é a mais defensiva possível. Erguemos uma muralha à nossa volta no intento de proteger o pesado portão para barrar possíveis ameaças. Invejamos o Homem de Lata, que não tinha coração, porque dói tanto olhar para a hora que não passa, sentar diante de uma mesa vazia e o silêncio incomodar mais do que a bagunça. 
Viver dói.
Esquecemo-nos de que o mesmo amor que machuca, também pode ser a cura.
Esquecemo-nos de não determos o controle de nada. Na inútil tentativa de buscar segurança em qualquer subterfúgio que não exponha nossa fragilidade, nos machucamos e deixamos rastros de nossa imaturidade por todos os cantos.
Esquecemo-nos de que pedir desculpas não nos desumaniza, lutar pelo amor não nos torna tolas, fracas e desconectadas da realidade.
Muitos recuam ao sinal do primeiro obstáculo, desistem de lutar à medida que não se sentem merecedores do amor que sentem, dizem amar quando desejam tão somente a afirmação e aprovação da sociedade inclinada a demonizar a solidão, condenando aqueles que por inúmeras razões esperam a uma condição injusta de doente, inapto, incapaz, desinteressante. 
E depois de um coração partido, a impressão que se tem é a de que o amor apenas serve para machucar, que todas as pessoas são uma ameaça em potencial.
Escondemo-nos de que, mesmo excedendo as intimidades, tentam nos tirar da concha. 
Escondemo-nos de qualquer convite tentador que nos furte o conforto trazido pela inércia.
Escondemo-nos de nós mesmos, suprimindo também a capacidade de florescer amor.
E nessa brincadeira de pique-esconde com o universo, surpresas acontecem. Não antes que o coração cale-se para se ouvir. E se ouvir sem pudor. Aquele mergulho interior que deixa as paredes da alma arranhadas como se fossem um disco que nunca para de tocar.
O apego desmedido tornou-me refém do egoísmo. O sentimento predominante não se chamava amor. Era a junção de traumas, inseguranças, expectativas distorcidas. O medo de perder era tão imenso que nunca me permitia viver o presente. Os pensamentos projetavam um futuro sombrio sem ela, o passado retornava em doses esporádicas de gatilhos. O ninho de amor era um lugar solitário e não mais o pacto entre duas pessoas que se entregavam ao desejo e poderiam se demorar, o único compromisso urgente naqueles bons tempos era amar.
Deixou de ser. 
A passarinha escolheu pousar no meu ninho porque naquele momento não havia mais nenhum lugar no mundo no qual se sentisse acolhida e segura. Éramos cúmplices, confidentes, planejávamos para aquele futuro distante. Felicidade demais sempre embrulhou o estômago. Eu sabia, sabia que estava perfeito demais para ser verdade. Eu aceitaria tudo, menos te perder. Eu daria literalmente tudo por você. Ninguém me interessava mais.
Em busca de conquistar seu amor para que nós não tornássemos aqueles casais que julgávamos, cansei minha imagem, admito com vergonha que tentei moldar você para ser mais parecida com aquela mulher da minha imaginação, quebrando, portanto, a promessa de amar você do jeitinho que você era.
Nossas longas conversas sobre assuntos aleatórios transformaram-se em longas discussões as quais levantávamos a voz, batíamos portas e passávamos dias sem qualquer contato, como se não passássemos de meras colegas de quarto. O arrependimento vinha e o perdão, banalizado, já não era mais um ponto final ao conflito. A paz, fadada à efemeridade, afetada sobremaneira pelas circunstâncias, passava longe de nós.
As vírgulas eram vislumbres de um novo olhar para a nossa história, mas o que nenhuma de nós tinha coragem de admitir a si própria, estava óbvio para todos os nossos conhecidos. Mentíamos porque a situação, apesar de desconfortável, era conveniente. Eu precisava de você. Eu não queria perder você.
Foi naquela madrugada tão fria e longa a nossa última briga. Você quebrou meu celular várias vezes e eu perdoei porque tentava não dar motivos para desconfianças, depois você me empurrou, deixei passar porque você estava nervosa, mas quando suas mãos me agrediram e colocaram por terra o que ainda havia de dignidade, continuei no chão e ouvi todas as palavras mais amargas do mundo de alguém que abriu a porta e saiu fazendo escândalo. Eu não poderia tolerar isso. Amor nenhum no mundo sobreviveria àquele caos.
Remoer o rancor denota a postura arrogante de quem insiste nos mesmos desatinos sem ter a humildade de aprender com eles. Juntas aprendemos a viver num mundo que exige que “crianças grandes” estejam prontas para todos os reveses, para se curvar sem se envergar.
Juntas aprendemos a amar.
Juntas amamos. E muito.
Juntas demos as mãos, sentamos no chão, nos abraçamos e choramos.
Juntas, já fomos um só coração, mas fomos deixando de ser, porque as metades que nos tornamos deixaram de ser um encaixe harmonioso para ser a lança afiada que torna a convivência cada vez mais pesada.
Juntas ainda podemos aprender, porque a ideia central de uma união é que um braço ampare o outro, que se busque a concórdia, o equilíbrio, que valores primordiais como o respeito e a compaixão pela outra parte estejam acima de quaisquer interesses escusos.
As pessoas que passam pela nossa vida irão quebrar nossos corações de alguma forma, é inevitável, diante do encontro das almas, da marca que deixamos nelas também. Aprendemos, assim, que o sofrimento faz parte da nossa jornada de evolução, que sempre estaremos à frente de um obstáculo que nos exige coragem, força e sabedoria. Não caminhamos em linha reta. Estamos sempre fazendo escolhas, até quando silenciamos.
E falar de coração partido é virar a outra face da moeda para enxergá-la, de fato.
Se tive o coração partido, também parti outros corações. E estou não apenas refletindo sobre a situação, como ponderando cada visão de mundo envolvida, porque estou amando novamente e espero oferecê-la a versão mais madura de mim, aquela que enquanto deu um tempo ao coração, ouviu realmente o que ele queria dizer.
Durante a negação quis crer que a culpa não foi minha, durante a tristeza esperei pela ligação que jamais aconteceu, durante a raiva arrependi-me de cada jura de amor, o ódio foi o meio menos digno de remover-te do pedestal e durante a suposta “aceitação”, findei-me na premissa de que chegava o momento arrastado para debaixo do tapete: ser a minha própria namorada.
Viver sozinha era menos trabalhoso e me asseguraria à segurança emocional tão necessária, constatando apenas quando meu coração voltou a bater por alguém que eu não queria passar a vida inteira solitária e me privando de amar com a intensidade que me define, apenas esperava pela certeza de ser correspondida. Agora que sou, recuo.
Os livros não contam, você descobre por conta própria: os adultos também sentem medo, apenas não podem reproduzi-los da maneira que uma criança tem autorização. Admito sem firulas que sinto medo. Não de amar. Não de ser correspondida ou de não ser. Não de que o nosso “para sempre” não dure o previsto. Temo que o egoísmo e a vaidade me dominem outra vez, de amar sem reservas e me esquecer de que quem caminha ao meu lado precisa da segurança a qual não sei se posso oferecer, porque nem mesmo confio em mim às vezes.
Eu também estou aprendendo a amar. A me amar. A respeitar limites. A me tratar com o respeito que jamais me tratei. A aprender a diferença entre ser uma pessoa boa e ser uma pessoa boba. A perdoar. A me perdoar. A dominar meus pensamentos ou pelo menos administrar melhor as crises.
Sinto medo de ter medo. Medo do desconhecido.
Talvez tenha chegado a hora de tomar partido e preparar-me para as eventuais consequências. Estarei pronta para assumir ao mundo o meu verdadeiro eu, ou por assim dizer, um recorte discreto, mas sincero do meu verdadeiro eu?

29 de abril de 2016 (cinco anos atrás)

 


Às vezes eu vivo como se não fosse humana.

Finjo não ser real, embora queira ser.

É difícil de me entender.

Tão difícil que eu me perco.

Queria tanto conseguir controlar a raiva.

Tenho acessos de fúria que, claro, não matam, não chegam a ser uma ameaça à humanidade, embora, sim, sejam.

Minha raiva às vezes me torna cruel.

Sinto vontade de retribuir a quem me magoou, mesmo que não me sinta confortável, porque tenho lucidez suficiente para refletir sobre o peso dos meus atos e, claro, ponderar o que serve ou não.

Vingança não me serve de base para construir meu orgulho ferido.

Parece insano ter consciência das e errar assim mesmo.

É o preço que se paga por ser humana.

Mortal.

Por ter uma vida que me foi emprestada, da qual sou inquilina e não dona.

Sim, eu também amo profundamente e em segredo, tento na medida do possível não me odiar mais pelo que sinto, pois ainda me culpo por muitas coisas que aconteceram e ainda não aceito.

Não aceito o amor que sinto, mesmo amando muito mais do que entendo, menos do que posso, do que deveria.

Eu não sou e nunca vou ser normal.

Mas não quero ser.

Não quero pertencer ao senso comum.

Não quero ser só mais uma.

Quero, sim, nunca perder a simplicidade de viver, só que não ser conformada porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero apenas viver.

Viver o hoje.

Quero amar a vida.

Eu amo a vida, mesmo às vezes desejando morrer.

Morrer a mágoa.

Declarar extinta a partir deste instante a timidez.

Morrer de orgulho de ser tola.

Morrer de vergonha, mas não de desgosto.

Morrer de vontade de viver.

Desejo matar a dor para viver bem.

Matar a dor antes que ela me mate de tédio.

Quero produzir algo decente dessa inércia que me toma.

Talvez eu não seja original nem especial.

Talvez eu seja só gente, só carne e osso, só um pouco de teimosia.

Uma criança grande em busca de calmaria.

Um poema sem eira nem beira.

Nem poema.

Não tem verso que resista a tanto medo de perder o compasso.

Só não quero ser esdrúxula.

Temores a mil.

Não falo o que penso.

Sou rasa.

Uma farsa.

Uma tola.

Repetente na escola da vida, tropeçando nos erros de outrora que seguem recentes.

Soberba por crer que mereço o que ainda não tenho.

Não tanto que não possa recuar.

Às vezes exagerada, no êxito minimalista de quem fecha os olhos para o que já viu, porque sentir exige de mim aquilo que não precisa de palavras e gestos para ser certeza, só precisa existir, e de mim, e de vida para ser o que é, o que eu não entendo nem lendo, nem me calando...


Quiçá (Quizás)

        

        Numa fria e despretensiosa noite de setembro, início e fim juntariam as duas pontas mais importantes para o sentido dessa história. Naquele instante exato entre nove e dez da noite ocorreu o encontro arquitetado por um mero acaso, mas aqueles olhos esverdeados haveriam de inspirar a mais bela poesia a quebrar os grilhões do silêncio e falarem de amor. Da primeira impressão até a resignada conclusão de que a alternativa mais sensata era aceitar decorreram-se meses nos quais a negação foi a estratégia mais falha para encarar um fato concreto.
    Confrontos mentais enfraqueciam as defesas daquela garota já cansada de tantas despedidas subentendidas, lágrimas salgadas banhando um rosto que mirava o céu em busca da sua estrela, de uma resposta, de um sentido para justificar as milhares de indagações que também faziam parte dessa descoberta do "eu", dessa dissociação entre seguir o coração (um acordo insólito entre razão e emoção, de acordo com outros valores pessoais) ou doutrinas que acatava por medo de reprimendas, por soar aprazível num conceito mais amplo de entendimento.
        Eles enxergavam o brilho no olhar dela? 
        Certamente, não.
        A dor da exclusão ainda era uma ferida aberta, mas amparada pelo amor que a nutria, surgindo de vez em quando, sob a forma de advertência. Porque se ela fechasse os olhos no silêncio da noite, poderia encontrá-lo. Letras sem melodia desejavam mais do que rimar ou falar à exaustão do mesmo, adquiriam um novo objetivo: a sonoridade, para que ela alcançasse os corações distantes, tal qual as ondas do rádio.
        Um amor diferente de todos os outros, incomparável, porque apesar de o medo de perder infiltrar-se numa mente inquieta demais para deleitar-se com o presente, cada dia trouxe o seu encanto, o seu aprendizado e na contabilidade final, os bons momentos viabilizaram a narrativa desta modesta história. Amor assim ela duvida encontrar de novo no dom da vida.
        Se ele partisse depois de estar no coração dela, a culpa seria um fardo demasiado grande para ombros tão estreitos, tão pueris, tão despreparados para uma longa caminhada rumo à maturidade, todavia, entre padecer às suposições e correr riscos, a primeira alternativa era ousada ou do contrário não existiria uma só palavra para corroborar o óbvio.
        Ela o amava.
        Amá-lo também transformou o olhar dela acerca da vida. Até aquela rebeldia adolescente deixava de ser um escudo para se converter num propósito maior do que reclamar e permanecer calada, passiva, à espera de soluções milagrosas. Ali se fincava a semente mais valiosa: a mente dela era o terreno fértil onde o bem e o mal residiam, o discernimento a direcionaria, mas nunca lhe furtaria o precioso direito à escolha, com a condição de que as consequências não fossem ignoradas por fanatismo algum.
        Vida e morte travavam um duelo como em raras vezes se viu. Munidas de sábios estratagemas e trocando olhares profundos, cada qual com seus argumentos defendia o seu porquê. Ao centro, ela. E dentro dela, a poesia. Versos preenchiam linhas ávidas por não serem condenadas ao engavetamento eterno. Quer gostassem quer não, ficaria por conta do tempo... e das ciladas dele!
        Os números mostrados pela balança evidenciavam o medo daquele passado repleto de mágoas que ela se esforçava para perdoar, ressignificar porque a sustentação dela era justa: não o teria conhecido se as estradas não possuíssem obstáculos e o percurso a conduzisse para outros rumos.
        Ela o amava o suficiente para desejar viver, porém cogitar uma eternidade sem ele era um preço alto a se pagar, motivo pelo qual a morte encarava a vida com olhar de desdém. Garotos imaturos jamais lhe cortejariam por sincero interesse (o objetivo deles encobria-se pelo sorriso manso de lobos em pele de cordeiros), lhe ofereceriam segurança, viam-na apenas como um troféu a ser conquistado, cumprindo rituais enfadonhos, quase ensaiados, porque lhes apetecia a diversão e o desejo de mostrar ao mundo que não estavam sozinhos, quando estavam vazios de afeto a oferecer, porque presentes não lhe deslumbravam. O coração dela estava ocupado demais para frivolidades. Que os versos misteriosos confundissem os curiosos.
        Para quem já teve o corpo julgado por não corresponder às expectativas doentes de um padrão cruel, as crises reacendiam um temor não de todo irreal: o de uma reviravolta cruel levar embora o amor e também a poesia, o sorriso, a vontade de desenhar um futuro feliz para si própria, ser quem ela sabia que poderia, aquela mulher escondida por trás daquele casco em que a timidez se protegia das mais variadas ciladas, que não foram poucas.
        Um corpo desejoso por um toque familiar, ainda que desconhecido, diferente de todos os outros, sustentado por um olhar amoroso, um beijo cuidadoso, aquecido pelo calor de outro, cujas formas não seriam imperfeitas para quem o desbravasse com devoção, também desnudando a própria timidez. Por detrás dos formalismos e das camadas de tecido, a descoberta dos próprios desejos, daqueles tão repudiados por aqueles que ainda julgam o que não lhes diz respeito.
        A distância se encurtava quando o amor cruzava as fronteiras mais inóspitas, munido da coragem que hoje já não mais possui. Quem faz morada no peito dela é a saudade... dele, da juventude que partiu até ser apenas uma pegada na areia já apagada pelas ondas marítimas que vêm e vão, dos sonhos que empalideceram até por fim morrerem de coração partido... e ela nem mensurava que sonhos pudessem padecer de tão cruel moléstia.
        Naquelas noites serenas de céu límpido e o mais puro silêncio das ruas, as músicas substituíam o tão mítico café. Quiçá possuir o dom de viajar no tempo e desfrutar daqueles áureos anos sempre que a atualidade sufocasse a esperança. Inviável. Os tesouros dela não estão ajuntados em cofres, são as lembranças construídas com a ferramenta que a viabilizava a palavra, a correção gramatical poderia esperar, posto que a iniciativa sublimava os deslizes de uma reles iniciante tanto na arte do amor quanto da escrita. Hoje o polimento é uma necessidade, o ponteiro do relógio marcha sempre em obediência ao propósito maior. Seguir adiante. Eles nunca olham para trás.



        En una noche fría y sin pretensiones de septiembre, el principio y el final reunirían los dos puntos más importantes para el sentido de esta historia. En ese preciso momento entre las nueve y las diez de la noche, el encuentro se produjo por casualidad, pero esos ojos verdosos inspirarían la más bella poesía para romper las cadenas del silencio y hablar de amor. Desde la primera impresión hasta la resignada conclusión de que la alternativa más sensata era aceptar, pasaron meses en los que la negación fue la estrategia más defectuosa para afrontar un hecho concreto.
    Los enfrentamientos mentales debilitaron las defensas de esa niña, ya cansada de tantas despedidas implícitas, lágrimas saladas bañaban un rostro que miraba al cielo en busca de su estrella, de una respuesta, de un sentido para justificar las miles de preguntas que también formaban parte de este descubrimiento del "yo", de esta disociación entre seguir el corazón (un acuerdo insólito entre la razón y la emoción, según otros valores personales) o doctrinas que aceptó por miedo a las reprimendas, por sonar agradables en un concepto más amplio de comprensión.
        ¿Vieron el brillo en sus ojos?
        Ciertamente no.
     El dolor de la exclusión era todavía una herida abierta, pero sostenida por el amor que la alimentaba, apareciendo de vez en cuando en forma de advertencia. Porque si cerraba los ojos en el silencio de la noche, podría encontrarlo. Letras sin melodía querían más que rimar o hablar hasta el agotamiento de la misma, adquirieron un nuevo objetivo: la sonoridad, para que llegara a corazones lejanos, al igual que las ondas de radio.
        Un amor como ningún otro, incomparable, porque a pesar del miedo a perder infiltrándose en una mente demasiado inquieta para deleitarse con el presente, cada día traía su encanto, su saber y en la cuenta final, los buenos tiempos hicieron posible la narrativa de esta modesta historia. Un amor como este que ella duda de encontrar de nuevo en el don de la vida.
        Si se marchaba después de estar en su corazón, la culpa sería una carga demasiado grande para unos hombros tan estrechos, tan infantiles, tan poco preparados para un largo viaje hacia la madurez, sin embargo, entre sufrir las suposiciones y correr riesgos, la primera alternativa era audaz de lo contrario. no habría una sola palabra para corroborar lo obvio.
        Ella lo amaba.
Amarlo también transformó su perspectiva de la vida. Incluso esa rebelión adolescente dejó de ser un escudo para convertirse en un propósito mayor que quejarse y permanecer en silencio, pasivo, esperando soluciones milagrosas. Allí se plantó la semilla más valiosa: su mente era el terreno fértil donde residía el bien y el mal, el discernimiento la guiaría, pero nunca le robaría su preciado derecho a elegir, con la condición de que las consecuencias no fueran ignoradas por el fanatismo.
        La vida y la muerte se batieron en duelo como rara vez se veía. Armados con sabias estratagemas e intercambiando miradas profundas, cada uno con sus argumentos defendió su por qué. En el centro, ella. Y dentro de ella, poesía. Los versos llenaron líneas ansiosas por no ser condenadas a la eterna estantería. Les gustó o no, sería por el tiempo ... ¡y sus trampas!
        Los números que muestra la escala mostraban el miedo a ese pasado lleno de dolores que ella luchó por perdonar, por replantear porque su apoyo era justo: no lo habría conocido si los caminos no tuvieran obstáculos y la ruta la llevara a otros rumbos.
        Ella lo amaba lo suficiente como para querer vivir, pero considerar una eternidad sin él era un alto precio a pagar, razón por la cual la muerte veía la vida con desdén. Los chicos inmaduros nunca te cortejarían por interés sincero (su objetivo estaba oculto por la sonrisa mansa de los lobos con piel de oveja), te ofrecerían seguridad, te veían solo como un trofeo a ganar, cumpliendo rituales aburridos, casi ensayados, porque amaba la diversión y las ganas de mostrarle al mundo que no estaban solos, cuando estaban vacíos de cariño para ofrecer, porque los regalos no lo deslumbraban. Su corazón estaba demasiado ocupado para la frivolidad. Deja que los versos misteriosos confundan a los curiosos.
        Para aquellos que ya han tenido sus cuerpos juzgados por no cumplir con las enfermizas expectativas de un estándar cruel, las crisis reavivaron un miedo que no era del todo irreal: el de una agitación cruel para quitar el amor y también la poesía, la sonrisa, el deseo de amar dibujarse un futuro feliz para sí misma, para ser quien sabía que podía, esa mujer escondida detrás de ese casco en el que la timidez se protegía de los más variados escollos, que no eran pocos.
       Un cuerpo deseoso de un toque familiar, aunque desconocido, diferente de todos los demás, sostenido por una mirada amorosa, un beso cuidadoso, calentado por el calor de otro, cuyas formas no serían imperfectas para quienes se dedicaran a él con devoción, despojándose también de su propia timidez. Detrás de los formalismos y capas de tejido, el descubrimiento de sus propios deseos, de los tan repudiados por quienes aún juzgan lo que no les concierne.
        La distancia se acortó cuando el amor cruzó las fronteras más inhóspitas, armado con el coraje que hoy ya no posee. Quien extraña su pecho es su añoranza ... por él, por la juventud que se fue hasta que él fue solo una huella en la arena, ya borrada por las olas del mar que van y vienen, de los sueños que palidecieron hasta que finalmente murieron con un corazón roto ... y ni siquiera midió qué sueños podían sufrir de una enfermedad tan cruel.
        En esas noches serenas de cielo despejado y el más puro silencio en las calles, las canciones sustituyeron al mítico café. Quizás poseer el don de viajar en el tiempo y disfrutar esos años dorados cada vez que el presente sofoca la esperanza. Impracticable. Sus tesoros no están guardados en arcas, son los recuerdos construidos con la herramienta que hizo posible la palabra, la corrección gramatical podía esperar, ya que la iniciativa sublimó los deslices de un principiante bajo tanto en el arte del amor como en la escritura. Hoy, el pulido es una necesidad, la manecilla del reloj siempre marcha en obediencia al propósito mayor. Seguir adelante. Nunca miran atrás.

Não será sempre assim

        


        Ela já fez as malas mentalmente um milhão de vezes, contou os trocados que guarda num potinho, pensou em embarcar num ônibus interestadual e descer no último ponto, numa localidade que nem sequer esteja no mapa, qualquer lugarejo onde possa deixar pelo caminho a inglória pecha de filha renegada e recomeçar uma história na qual enfim seja a protagonista e não uma personagem jogada ao acaso, sem função alguma senão ser sombra dos outros.

Impasse

        


        O bem querer servia de bússola para me nortear neste mundo conhecido por levar de mim tudo e todos que amo, suportar reviravoltas desagradáveis e lutar por um recanto para chamar de meu. Um pedacinho de terra, uma conotação, um lugarzinho onde eu esteja segura quando vierem as tempestades, que sirva de abrigo e me traga conforto, que ninguém possa roubar as escrituras.

        O vazio desolador de outrora me abraça apertado. Das milhares de indagações sem soluções, uma certeza: uma parte importante de mim morreu naquele dia, enquanto a dura sentença foi proferida. Caí nos braços quentes da negação, aquela amiga doce e incapaz de destruir as esperanças, as lágrimas já eram de tristeza, quentes como a raiva que fervia em meu peito e longas tais quais as noites frias de inverno, a espera.

        Escutar o coração partido é o equivalente a olhar as horas em um relógio estragado. Você foi embora. As olheiras são consequências das noites chorosas. Escrever a essa altura do campeonato deveria ser meu bote salva-vidas, nem que esta carta seja apenas dobrada, colocada dentro de uma garrafa, prometida a navegar pelos oceanos sem nunca chegar ao destino final.

        Meu norte agora é a inadequação. O gosto amargo da rebeldia me torna indiferente a tudo. Estou perdida, com o dobro do medo que sentia antes. Das pessoas, desse amanhã tão incerto, de que minha vida não passe de um sonho ruim, quando tudo que eu queria era viver o meu final feliz.

        E no que se sustenta o meu viver senão numa longa e interminável espera por um milagre que nunca acontece?

        O dilema de relutar é uma constante. Seguir em frente é instintivo, não se chega a lugar nenhum rumando pela contramão porque o mundo do jeitinho que era outrora não passa de areia movediça, entretanto, caminho com as portas do coração bem protegidas contra eventuais invasores que prometam amor que não podem dar, indo além: mostrando-me indisponível para ciladas deselegantes do cupido, cortei relações com ele para sempre.

        Outro amor não figura no meu rol de interesses e desejos, ainda que recomeços sejam belos e inevitáveis dentre as tantas certezas fugazes. Ainda é sobremaneira devastador mensurar a ideia de outra pessoa ocupar o seu lugar, mas nada dói mais do que questionar por que você tinha de partir... a conclusão é um golpe duro: não vislumbro dias melhores porque embora seja perigoso caminhar na contramão, aguardo o seu retorno e aí chego ao ponto crucial, em compensação, ninguém está esperando por mim, tampouco lutando pelo meu amor, estou remando sozinha sabe-se lá para onde, sabe-se lá por quê.

       Machucada tantas vezes pela vida, a impostora assumiu o protagonismo, incutindo em mim a ideia de não ser merecedora, pois acostumei-me ao papel de figurante e, assim sendo, a postura mais previsível é a de não sentir-me digna de subir ao palco e apresentar o meu número, receosa das vaias, das críticas amargas, nunca segura para olhar nos olhos, nem por cima do ombro, nem para baixo.

        A intuição falha, a realidade se desnuda nua e crua, razão pela qual protejo as lembranças, necessito apoiar-me em algo capaz de reacender em meu coração a esperança roubada. Eis que realizo o percurso mais inglório de todas as primaveras sozinha, como sempre fui e sempre serei. Aceitar meu verdadeiro destino é a estratégia mais acertada neste momento.

        A revolta coabita com a tristeza. Tudo vai ficar bem. Sim, vai. A rotina tratará dos demais trâmites para ocupar a mente. Tudo vai ficar bem. Não tão cedo, sinto desapontar as expectativas da negação, pois ainda que eu me encaixe nessa nova "normalidade", jamais tornarei a ser quem era outrora e se isso é bom ou ruim, não sei dizer. Não enquanto o objetivo do percurso seja buscar respostas precisas para as milhares de indagações porque estar à deriva e não ter quem me socorra já é o suficiente para entender que não existe ninguém olhando por mim no mundo, talvez nunca tenha existido, nunca irá existir.

    A localização é imprecisa. Perdida no mar das notícias ruins, da alienação compulsória, navegando em bravos mares, sobrevivendo às tempestades, aqui estou eu, nesse impasse duradouro para traduzir a essência mais bruta daqueles sentimentos calados com sorrisos convenientes. Se a tentativa falhar, ainda assim não me considerarei perdedora, eu o seria se nem sequer me esforçasse para tentar e me parece que insistir ainda é um verbo pelo qual possuo grande estima, ele é o meu norte, a chama condutora rumo à esperança, essa que me faz dobrar os joelhos e declarar o maior dos atos de resistência para um coração partido: sobreviver.

Memórias invisíveis (2014)

 


Meu ponto fraco nesse labirinto mal desenhado. Não te vi em parte alguma porque nunca esteve presente. Incrementei recordações para não perder de vista os dias, mas era a mim que não reconhecia, ninguém o fazia porque estavam todos ocupados demais para se lembrarem que eu estava ali, não por opção, eu simplesmente estava, meu coração não, porque ele parou de contar o tempo, com a ajuda da saudade.

Fiquei ali até que a curiosidade pelas estrelas fosse maior que sua desatenção.

Sem grandes aspirações, tinha muito a fazer. Por mim. Pelos sonhos que sempre valeram mais do que você. Pela cura que incansavelmente busquei. Feridas reabertas, persisti num erro amansado pela culpabilização da autenticidade.

Mais uma vez ouvir mentiras e brincar de invisível, será que não me cansei?

É insano, mas não.

Cismei de ficar ali, naquela mesa onde serviria de divã e nutria ódio de mim mesma, programada para ser problema, tão diferente daquela injeção contundente de otimismo que era sombra.

Sua "saudade" alimentou o desejo que anteriormente nunca me passou pela cabeça. Você e eu não passávamos de bons amigos. Estranhos conhecidos. Um na defensiva, o outro imerso no ceticismo ensurdecedor. Quase me apossei desse desprezo pelo simples, embora fervendo de dúvidas e pendente entre a crença e a loucura completa.

Todo mundo em alguma altura da vida deve ter se olhado para o horizonte sem resposta nem bússola, sem nem saber quem era, apesar de estar com o RG no bolso da calça. Ainda faltam léguas para vislumbrar o oásis e a impaciência conta pontos contra aqueles que põem a forçar o ritmo da caminhada. Perdi a conexão com a realidade, fantasiando que seu distanciamento temperava minha timidez, que sua demonstração de afeto era torta, porém totalmente sua. Esse arrependimento arrancou a minha paz e trouxe de brinde a culpa.

Fiquei boba por você, embriagada pela carência, recolhendo suas migalhas, visualizando um banquete, sendo que a toalha nem sequer estava estendida e na minha caixa postal não constou nenhum convite. Sem nunca te chamar, você não podia me ouvir e se ouviu, fez que não. Chorei várias noites alimentando esse tal de amor sem dignidade, sem antídoto, sem trégua. Bem mais que justificar meus desatinos passados, cabia dizer a mim "eu te amo", ao contrário de você, que como tantos outros prometeu nunca me abandonar e deu as costas. Também dei as costas para mim. Um erro fatal.

O gosto do veneno ficou lá no alto da garganta de sequela. Essa irrealidade entre mim e você me custou tanto. Em troca de carícias e belas palavras, sua fraqueza me fez sangrar. Equivocada sempre estive, não me acuse. Já desempenhei essa função e não remediei as imensas agonias, apenas reflito mediante as mazelas da decepção. Não foi a primeira. 

Eu nunca precisei de você. Abro mão dessas memórias invisíveis e pouco aproveitáveis. Eu amava a projeção. Você, entretanto, eu não sei nem quem é e não movo uma palha para saber. É a mim que quero conhecer. E eu sei com muito amor que sou bem mais do que tudo de ruim que aprontaram contra mim, as bobagens que falaram (e ainda falam). Sou o tempo presente porque viver é um desafio e eu desejo mais que jogar fora meus dias cultivando um sonho que visava me inserir num mundo que nunca foi meu.

Reconhecer que não é o fim foi a chave que abriu o temido cadeado e me fez mulher.



O Balanço

 


Curitiba, 31 de julho de 2017.

As pontas dos dedos alcançam as grades do balanço a fim de saudarem o velho amigo. Às vezes passei por ali e de longe o vi, sem tempo de parar pela última vez. A vida adulta transcorre com pressa, todavia trata-se de uma ocasião especial. Não existe ninguém ao meu lado para vomitar imposições a respeito da minha conduta e, para ser honesta, aprecio sobremaneira essa pequena liberdade que o destino me concede.

Parado no mesmo lugar, lá está ele, vazio em par de igualdade comigo ao rememorar nosso último encontro, eu devia ser menina ainda, tenho plena convicção. O solado do tênis está a riscar a areia. Não sei precisamente que horas são, apenas que é dia porque o sol aparece por entre as nuvens como se olhasse por mim e por todos aqueles que têm uma história que ninguém mais sabe, trancada no peito junto com uma sucessão de transformações sentidas ao redor.

Antes o campo era verde e a casas todas coloridas com seus telhados alaranjados, as crianças se amontoavam para brincar na rua, tudo tinha gosto de sorvete. As crianças cresceram, os tratores atropelaram todas aquelas casinhas lúdicas, uma por uma e em seu lugar são erguidas recriações claustrofóbicas de paraísos artificiais que por vezes turvam a visão, tentam inutilmente tocar o céu como se fossem uma prece. Todos têm a cor da melancolia, o insuportável cinzento da poluição que intoxica o consumismo. Este pequeno espaço é tudo que sobrou de uma era, todavia os olhos da ganância nunca se contentam, aqueles que ascendem ao topo aspiram; se findam em troféus banhados a bronze e estanho, menções honrosas e associações tão desprezíveis quanto aquele sorriso de quem ferrou o outro para estar onde está, mas dissimula a surpresa envolta do óbvio.

Há ferrugem por entre as correntes desse balanço, o assento de madeira padeceu aos efeitos do tempo e me abriga tão gentilmente que todo o resto se torna irrelevante.

Eu não sou a minha idade. Eu não sou o meu currículo. Eu não sou uma foto tratada no Instagram. Eu não sou o meu número de seguidores. Eu não sou o que o mundo tenta me convencer.

Eu sou bem-vinda em algum lugar. Exatamente aqui.

Eu e meu tênis vermelho. Eu e meus sonhos loucos. Eu e minhas músicas “fora de moda”. Eu e minha esquisitice. Eu e o meu extenso currículo de desilusões. Eu e a minha luta quase quixotesca para que não suguem o que ainda resta de esperança. Eu e a minha mania de esperar por quem não volta mais, mirando o horizonte em volta como se alguém fosse se sentar ao meu lado. Eu e a minha vontade de voar.

Neste instante delego ao silêncio que se faz à minha volta que me conduza porque não me sinto uma alma perdida vagando por um mundo sujo e injusto. Uma fagulha da infância persiste e eu permito que essa ilusão recrie a sensação das saudosas borboletas no estômago. Quero subir cada vez mais e fazer de conta que meu maior terror é pegar recuperação e que o medo não devora sistematicamente as minhas defesas.

Quando menina eu sonhava acordada com o dia em que seria “gente grande”. Eu imaginava um conversível vermelho numa estrada que me levaria a algum lugar. Na prática, crescer não foi tão emocionante quanto parecia quando eu não tinha idade para me sentar no banco da frente, dormir até mais tarde e escrever com caneta. A infância não passou de um sonho, a adolescência decorreu num sopro...

Troquei os balanços por outras formas de diversão e passei por eles milhares de vezes como se nunca tivesse sido criança, a cada ano que passa e a vida me rouba as pessoas que amo, os meus sonhos e refúgios até me deixar em frangalhos e apelar para cartelas que me prometem algum descanso quando bem administradas. A dose excessiva me libertaria de seguir vivendo nesse caos onde estar perdida é minha única convicção firme.

Eu poderia me balançar até a noite cair, imersa na ilusão de correr por entre verdejantes jardins e relembrar a primavera que nunca mais voltou. Não sentir dor. Não sentir nada que me faça mal. Não ver minha poesia julgada e ridicularizada por possuir a minha formatação e desobedecer às imposições que tanto me tolhem. Todo o mundo, a bem da verdade. E eu gosto quando o sol aquece o meu coração, quando ele ainda parece disposto a amar mais um pouco, amar de novo, não se fechar na dor que o endureceu.

Por isso eu me jogo de cabeça nesse emaranhado de palavras que não se configuram em gênero algum, são meramente confessionais, rabiscos num guardanapo que não pretendem ser comercializados e glamurizados.

Quero balançar um pouco mais, não gostaria de sair daqui logo agora e me descobrir outra vez obrigada a suspirar por mais este sonho esfumaçado cujos rastros de existência se vão à medida que os ruídos mundanos me situam e os olhos se abrem para um novo dia que apesar da ironia, nada me traz de novo senão a sensação de que eu gostaria de ter o tempo de volta, pelo menos o suficiente para acalentar a alma.

São apenas sonhos, todos me dirão, e eles não significam nada, não passam de pequenos lapsos de lucidez que propiciam ao corpo oprimido descansar e a alma, sedenta por liberdade, viajar para onde bem entender, mesmo que tenha hora para voltar e que pouco ou quase nada possa registrar de todas as suas magníficas experiências como turista.

Este balanço fica em algum lugar do mundo onde não apenas minha alma vaga como se sente bem. E eu me sinto tão bem... até que as notícias ruins do dia-a-dia me lembrem que eu destoo do politicamente correto, não sigo modinhas e não piso nos outros para chegar ao topo, porque embora só eu não pretendo ser mais ninguém além de mim...

Esse velho balanço afinal de contas é meu refúgio, sentar-me nele e permitir que as boas recordações prevaleçam sobre toda a tristeza que nem sempre é chorada, mas incomoda de qualquer modo porque apesar do meu aparente semblante de tranquilidade por dentro eu incendeio de vontade de voar, fazer outro trajeto, compor outros versos, não ver a vida passar como se eu estivesse destinada a ser figurante de todas essas estrelas de plástico que largam mão de todos os escrúpulos por aplausos.

Por mim eu não sairia desse balanço tão cedo. É o mais perto que eu chego de voar, de me conectar com o vento, com o infinito, com a certeza de que o existir não pode ser essa prescrição tão superficial. Esse frio na barriga nunca vai estar postado numa rede social porque ele é tão doce, tão meu, tão puro e se eu pudesse queria de volta todas as flores da primavera, as cores da inocência, melodias agradáveis que toquem a alma e não apenas lucrem.

Aos poucos o dia se faz noite e embora eu não conte as horas porque me baseio apenas pela cor do céu, estou ciente de que é hora de ir. Se algum dia terei o privilégio de retornar, não hei de prometer, me valho daquele clichê "que seja o que tiver de ser" porque desse modo não crio expectativas e não abraço a desilusão. E espero, no meu retorno, saudar o meu velho amigo como se nunca tivéssemos nos separado.


Por que abrir o caderno?

 


Foi numa tarde de domingo que o estômago embrulhou, a visão embaçou-se e uma dor lancinante me tomou de súbito. Numa sucessão de escolhas inequívocas cheguei ao que se entende por “fundo do poço”. E escolhi permanecer lá, a autocomiseração exerceu um poder invejável de persuasão, entretanto, conforme a resiliência ajudou-me a vislumbrar a fagulha de luz que me ajudaria a reencontrar o sol. Essa ideia vinha como um lampejo, mas, para prosperar, carecia de uma atitude corajosa o suficiente para não voltar às trevas. 

Ser escritora...

 


Curitiba, 22 de maio de 2017.

Recentemente fui inquirida por um amigo sobre o que significava ser escritora para a minha pessoa...

Lembranças daquele natal

 



Curitiba, 25 de agosto de 2016.

Um dos momentos mais bonitos da minha vida ocorreu numa véspera de Natal na qual tive a oportunidade de te ver. Três anos atrás. Verão tropical, quente e genuinamente venturoso pela simplicidade de reconhecer que a felicidade é doce e não faz alarde quando chega.

Os sinos dobravam na catedral, as famílias confraternizavam em seus lares, os fogos de artifício coloriam as horas em que todos retornam à infância. A lua brilhava soberana no céu repleto de promessas, esperanças, sonhos, milagres.

Meu presente era aquele instante. Eu ser eu, você ser você. Magia aquecida por um sorriso que transcendia mais do que o mero mover dos lábios, desembrulhava a timidez.

Eu era sua. O que havia de mais precioso foi oferecido em minhas preces e ainda reside em mim, ajudando-me a levantar depois que me perdi e pensei que alguém seria capaz de te substituir.

Ninguém poderá ocupar o lugar que sempre foi seu. No ano passado eu bem que tentei e me machuquei porque quando estava com ele vivendo uma farsa, era em você que eu pensava, o seu calor que eu procurava. Nos olhos dele identifiquei a mentira e a maldade, nos seus eu me esbaldava de tanta ternura, vislumbrava a profundidade desse sentimento, me sentir literalmente falando, em casa.

Nunca voltei a gostar de você por uma explicação simples e lógica: eu nunca deixei de sentir, apenas me afastei e aceitei migalhas por acreditar que você era perfeito demais para mim, no entanto como posso brigar com o meu coração se foi ele que te escolheu?

Ele brincou com os meus sentimentos e foi embora, não sem me destruir, me humilhar e fazer com que eu quase desistisse dos meus sonhos. Você sempre me mostrou que vale a pena acreditar e lutar enquanto houver forças, então é por isso que mesmo sem poder te ver todos os dias e me sentir como se uma parte de mim não mais me pertencesse, sigo firme nos meus propósitos porque sei que é isso que você iria gostar que eu fizesse.

E eu faço por mim, por nós.

Estive rememorando aquele natal, quão verdadeira foi a minha gratidão. Cada centímetro do meu ser estava presente de corpo e alma na ocasião. Nunca antes as lágrimas exaltavam a emoção de consagrar aquele sentimento que me aproximou de Deus. Falei com o criador sentindo uma alegria tão profunda e verdadeira que jamais se repetiu.

Se eu pudesse reviveria aquele instante, deixando para trás todos os vestígios de egoísmo e insegurança, concentrada naquilo que se faz com o tempo que existe enquanto a referida definição lhe cabe adequadamente.

Se eu tivesse de volta o tempo que passou, faria sentido viver outra vez se houvesse a ínfima chance de meu destino cruzar-se com o seu, sorrir sem pressa, com pureza, com a alma preenchida pela doce certeza de que se a mesma vida que te tirou de mim pode te trazer de volta. De todos os presentes que a vida já me ofereceu, amar você reacendeu tudo de melhor que havia em mim, ensinando-me a desfrutar da magia do natal todos os outros dias do ano.

 


2 de maio | Dia Nacional do Humor

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