Conhecemos
inúmeras pessoas ao longo da nossa vida, disse a minha professora de
português do ensino médio, muitas memórias para administrar, muitos nomes para
decorar, associações a serem feitas, explicação feita por ela para mostrar quão
grande é o nosso mundo e que eu guardei, muita gente que estava naquela aula
nem deve ter prestado atenção, entretanto aproveito esse ensejo da inspiração
para complementar que são poucas as que realmente deixarão marcas em nossos
corações.
Tivemos
muitos professores ao longo da nossa vida acadêmica, porém sempre haverá
aqueles que foram mais marcantes, seja pelo carisma, pela personalidade
inflexível ou porque nos despertou algum sentimento de paixão, porque nos
acendeu a luz para a nossa vocação e nos fez perceber o potencial escondido por
trás do medo, da timidez, da resistência que temos com determinados assuntos.
Teremos
muitos amigos ao longo da vida.
Muitos é um modo
de dizer.
Conheceremos
colegas que serão elevados ao status de amigos de acordo com o contexto,
como os amigos de escola, aqueles com quem aprendemos a conviver porque são
eles que nos ensinam que nem sempre sabemos lidar com as diferenças.
Com eles
aprendemos o quanto é importante reconhecer quando se excedeu numa discussão,
quando é o momento de ceder diante de uma negociação, como é importante
oferecer uma palavra amiga para uma pessoa que está tendo um dia ruim, às vezes
apenas ouvir, sem julgar, sem prescrever soluções, deixar o outro extravasar a
tristeza até o peito suspirar aliviado porque alguém no mundo dedicou
importantes minutos para acolher a dor alheia e mostrar que sozinhos não vamos
muito longe. Nem sempre tem reciprocidade, contudo não devemos fazer o bem
esperando que todos sejam gratos e reconheçam.
E depois os
amigos de escola até prometem que vão manter contato, mas no calor da emoção
que o fim do ensino médio desperta, o medo do futuro que é tão incerto, tão
assustador, o fim de ciclo apavora qualquer um e então nos damos conta de que
até aquelas picuinhas que nos aborreciam sobremaneira não eram tão
insuportáveis assim, só que já é tarde demais, o que vivemos deixa de ser
rotina para integrar lembranças, registradas ou não em bilhetes, fotografias,
cartinhas e conversas inesquecíveis, momentos que mesmo sem estar escritos,
existiram.
Com o
passar do tempo, conhecidos se tornam estranhos. Raros exemplos superam os
portões do colégio e seguem adiante. A grande maioria se separa e hoje em dia
stalkeia a galera para saber o que a vida fez com cada um.
Algumas
pessoas abençoadas conseguem conservar as amizades de infância por toda a vida.
Muitos de nós cresceram (digo isso por mim) vivendo de ciclos, demorando um
pouco para encontrar um lugar o qual nos encaixássemos pelo menos por um
determinado tempo. Em alguns momentos temos que ser nossos melhores amigos
porque não podemos fugir de nossos compromissos e precisamos nos apresentar ao
mundo como se nosso universo interior não estivesse estilhaçado.
Amigos de
verdade são poucos. Pouquíssimos. E cada amigo que entra em nossa vida
tem seu jeito de ser, suas manias, necessidades, portanto não tratamos os
nossos amigos da mesma maneira, sempre temos um cuidado especial com eles,
sabendo que há aqueles que têm uma personalidade mais extrovertida e que por
mais que eles tenham outros amigos, não significa que não tenhamos a nossa
relevância na vida deles. Temos, sim. Cada
amigo nos ama da maneira que pode, que sabe, que é válida porque é verdadeira.
Acredito
que podemos amar algumas pessoas ao longo da vida, no entanto, de todas
elas, sempre haverá uma que nos marcará mais profundamente. Pode ser a
primeira ou não. A ordem não importa, não é assim que se mede o amor,
entretanto, imagino que enquanto você lê meu texto, deve vir à mente o nome de
alguém especial a quem você ama neste instante ou que já povoou seus
pensamentos, todo o seu ser.
Às vezes eu
imagino o que nos faz gostar tanto de um ser humano sem que ele tenha nos dado
qualquer motivo para isso, que seja, como se diz, "de graça", aquela
coisa de sentir uma empatia, um bem querer tão grande que é difícil de ilustrar
com a habilidade de um romancista.
Eu acho
isso tão lindo, gostar de alguém desse jeito, só por gostar...
No entanto,
parece bonito falar de amor. Não parece, é. Amar é bom. É o que faz valer a
nossa existência aqui na Terra. Aquele momento em que nos sentimos cobertos
pela poeira das estrelas e todos percebem no brilho do nosso olhar que emana a
emoção, de onde transborda a plenitude.
Também
preciso adentrar num assunto um tanto quando delicado, o de refletir a respeito
daquelas pessoas que marcam a nossa vida por terem nos magoado, injustiçado,
humilhado, usado, traído, ofendido.
Não sou uma
especialista em perdão, aliás, tenho MUITA dificuldade em perdoar e não sou
exemplo para ninguém porque ainda tenho muito para evoluir nesse sentido porque
também estou do outro lado, sou alguém que provocou dor e desgosto, mesmo que
sem intenção ou talvez imbuída por algum sentimento que desejava extravasar
para expurgar a raiva que sentia, o ciúme, a insegurança, a falta de maturidade
para encarar certas situações porque o entendimento às vezes vem de brinde com
o sofrimento, quando os papeis se invertem e as noites em claro amargando uma
lancinante dor me ajudam a me colocar no lugar de quem feri.
Quando
alguém nos fere, dói muito, mas, sem dúvida, a pior punhalada é aquela que
parte de alguém a quem estimamos sobremaneira porque nós nos inquirimos a
respeito do que podemos ter feito para merecer tamanha injustiça.
Falei de
coração partido?
Pois bem, muitos
de nós já tivemos o coração partido em algum momento da vida e desacreditamos
do amor, mas tal como a escrita nunca morre de verdade para quem tem o dom, o
amor também nunca morre. As lágrimas denotam que existe esperança.
No deserto
da vida, quando estamos nos recuperando de uma grande desilusão, nos
fortalecemos como a águia e não tem nada mais bonito quando entendemos de uma
vez por todas que UMA pessoa não pode ser o nosso motivo de desacreditar de
viver, só porque ELA não soube valorizar o privilégio que teve de fazer parte
de nossa vida e aceitar o amor que tínhamos para oferecer, não significa que
todas as outras irão nos desprezar.
O coração
partido leva embora a inocência, eu reconheço. O sorriso se murcha, o nariz
fica assado de tanto chorar, alguns de nós ganham uns quilinhos na balança,
outros perdem. Alguns de nós se isolam completamente para evitar novas
desilusões, outros procuram amores de uma noite por aí. Todos, do seu jeito,
tentando curar aquela feridinha que dói do lado de dentro, que mamãe não pode
beijar como fazia com os joelhos ralados.
Ferida essa
que um dia vai deixar de doer porque um amor pode te partir o coração e outro
pode curar.
Sim, o amor
pode curar.
Seu amor
pode servir para inspirar alguém a enfrentar seus maiores medos, a superar
inclusive o medo de amar de novo (ou pela primeira vez), como o amor de alguém
pode nos tirar da zona de conforto e nos fazer enxergar que a minha professora
tinha razão, o mundo é grande, existem muitas pessoas, e mesmo que não decoremos
os nomes de todas, tampouco estreitemos vínculos, algumas delas passarão pelas
nossas vidas.
Já pensei
muitas vezes que queria morrer sozinha, isolada de qualquer contato humano,
porém quando proferi isso, estava chateada porque me prendia a UM episódio desagradável
para julgar todo o restante do contexto (por exemplo, me sentir terrível porque
gostava de alguém e não podia contar e alguém gostava de mim e eu não conseguia
gostar), então era fácil gritar, espernear, fazer de tudo para afastar
iminentes perigos, entretanto, nada me blindou da decepção que me transformou
para sempre.
Poderia ser
o destino dizendo que nasci para ser sozinha, contudo o que me ajudou a
enfrentar a vida após o coração partido foram as pessoas, cada uma do seu
jeito, e por outro lado, as noites insones tiveram sua importância: a de me
mostrar que não valia a pena deixar de acreditar no amor só porque UMA não
soube valorizar o privilégio de fazer parte do meu mundo, não soube me amar, me
acarinhar, me apreciar, me incentivar, pois todo o tempo que perdi sofrendo por
alguém que não merecia, eu não percebia os sinais, era a vida me ensinando a
caminhar sozinha, a me amar um pouco mais, não me humilhar pela atenção de quem
não fazia questão de mim, de quem não me priorizava, logo entendi que não
escolhemos por quem vamos nos apaixonar, mas temos que saber até onde vale a
pena sofrer...
Talvez o
tempo enfraqueça minha memória e eu me esqueça de muitas pessoas que passaram
pela minha vida, por isso gosto de escrever sobre elas, ainda que o nome seja
preservado porque independentemente de quanto tempo cada uma permanecer em
minha rotina, serão eternas em minhas palavras e posso dizer que quem consegue
entrar no meu coração e ter o meu carinho, precisa cultivar esse bem querer
porque por mais dura que eu pareça na queda, meu coração é infantil, bobo,
sentimental.
Esforço-me
sobremaneira para que as desilusões não endureçam meu coração, não me tornem
fria e insensível. Quero amar e aprender também a pedir desculpas quando não
agir de uma maneira aceitável, quando magoar alguém, mas quero que aqueles que
estão no meu coração não me façam abrir as portas para que partam, que quando
tiverem de fazê-lo, deixem lembranças boas para eu guardar no meu baú de
segredos e sonhos, aquele baú que ninguém vê, que não tem valor monetário,
porém é onde guardo tudo o que é bom para mim.
Aí, eu
penso com os meus botões coloridos espalhados pela bancada: será que eu
estou dentro do coração de alguém? Será que eu apenas passo por entre a
multidão e de mim ninguém nem se lembra do nome? Será que em algum momento eu
já fui o amor de alguém ou ao menos uma grande amiga? Será que eu parti o
coração de alguém tão profundamente que essa pessoa sofreu e pensou que o amor
não existia ou que não valia a pena acreditar nele? Será que alguma palavra
minha magoou muito alguém ou inspirou?
Gostaria de
ser, pelo menos para uma pessoa, a personificação para o amor. Talvez de um ser
em especial. Talvez ser, para
cada pessoa que amo, a representação mais fidedigna do bem querer, só não
queria passar por esse mundo em vão, sem deixar nenhuma marca, nada que faça
com que eu seja lembrada, por isso pensei tanto em escrever esse texto, porque
tenho tantas ideias e não acho justo aprisioná-las. Eu aprendi a escrever de
tanto insistir e a amar, amando,
não tem outro caminho...
Se eu viver
pelo menos por mais cinquenta anos, conhecerei muitas pessoas e esse texto será
apenas mais um que escrevi numa noite qualquer em que o desejo de externar
minha inspiração era mais forte do que a vontade de ter a razão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥