5 de abril de 2002.
Descobri algo que pode comprometer o encontro da Deh com o último romântico. Sem querer, ouvi uma conversa do Rodrigo e do Ricardo, que são muito amigos.
“É, mano. O tempo está passando. Acredita que o Rogério, que mal saiu das fraldas, já está gamado numa mina?”
“Já? Quantos anos ele tem?”
“O pirralho fez 13 no mês passado. Foi lá no boliche e voltou todo bobo, nas nuvens. Até aí, nada de errado, mas quando ele me mostrou a mina, pensa na cilada: a mina é um tribufu!”
“Que menina não é um tribufu na sua opinião?”
“Também não sou nenhum machista, mano. Só pego mina bonita, mas o Rogério, pelo visto, gosta de mina feia porque não tem concorrência. Pior, pior ainda: ele está me convencendo a acompanhá-lo no tal encontro. Na certa, ela vai trazer uma amiga que deve ser outro tribufu, as duas desesperadas para perder o BV de qualquer jeito.”
“Às vezes eu desconfio que você não gosta de mulher, não.”
“Ih, está me estranhando, é?”
“Você é pior do que mulher invejosa, depois reclama que não tem ninguém. Só coloca defeito nas minas.”
“Menina feia não rola, desculpa.”
Será que o Ricardo desconfia de que o irmão mais novo está gamado na Deh e a amiga dela sou eu?
Rodrigo, pelo que entendi, é BV. Em partes porque diz ter vocação para o sacerdócio e porque a D. Arlete é mãe linha-dura, não como a minha, claro, mas sabe castigar quando ele apronta e tem ensinado bons valores a ele, que, apesar de ser meio palhaço, trata todas as meninas com educação, por isso alguns energúmenos o acusam de ser gay, como se educação e cavalheirismo suprimisse a tal masculinidade. Nunca o vi chamar alguma guria de feia.
Deh está insegura com o corpo, não sabe o que vestir e teme ser rejeitada pelo pretendente quando ele a vir no shopping. As luzes da matinê não eram tão escuras, dava muito bem para ver a pessoa. E o último romântico gostou do que viu, não deveria ser tão inacreditável assim.
Aquilo que vivi no passado foi um sonho bom, um descanso na dor. Duvido que outro piá venha a se apaixonar por mim daquele jeito de novo; eu também não julgo ser capaz de me apaixonar outra vez. Prefiro não pensar muito nesse assunto para não chorar.