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Capa feita pela minha amiga Gabi no Photoscape para o primeiro blog. |
Pensei em muitas formas de não deixar esse dia passar despercebido. Em 2013, minha forma de celebrar os 4 anos de blogueira foi publicar Simplesmente Tita aqui no blog, porém, teve aquela fase boa do Nyah, que aumentou o engajamento, embora o #TitaDay de 2014 tenha sido cancelado de última hora porque eu estava muito obcecada por militar e com uma cirurgia marcada.
Fechei o blog meses depois, por 6 longos anos, retomei o projeto em 2021, mudando de nome. Por conta da doença da minha avó, dei um tempo de escrita, tempo esse necessário para me descontaminar de muitas coisas que estavam me prejudicando.
Publiquei ST pela primeira vez em janeiro de 2012, com apenas 23 anos. Fui atrás das oportunidades, nunca quis depender da aprovação de editora nenhuma, já pensava em ser independente e construir meu próprio caminho, tornando os livros acessíveis para quem queria lê-los. Após várias versões e edições, aprendi muito sobre o processo e hoje tento me cobrar menos, prezo mais por escrever uma história que consiga se sustentar até o ponto onde pretendo levá-la. Não posso estimar datas, ao menos por enquanto.
Antes dos 30 eu já colecionava participações em antologias poéticas, tive minha escrita elogiada pelos mais variados tipos de pessoas, estou certa de já ter inspirado muitas pessoas a irem atrás dos sonhos delas; escrevi vários livros que estão só me esperando vencer os traumas e deslanchar.
Amo meu username MaryPrincess88 porque o uso desde o Orkut e foi ele que me consagrou e me fez única. Recebam este presente no #TitaDay de 2024.
Aviso que a versão original, ainda disponível, seria a minha escrita aos 15, então, dediquei-me a reestruturar o texto e ao mesmo tempo manter a essência da personagem e da época escolhida para ambientar as aventuras da Tita e de seus (novos) amigos. Em vez de 2003, Tita entra na escola nova em 2002 para resolver um furo da versão original. Excelente leitura! ❤️🐞
Quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Começou tudo outra vez
Curitiba, 18 de fevereiro de 2002.
Hoje foi meu primeiro dia de aula no novo colégio, agora que estou no ensino médio e livre daquele inferno onde fiz o primário e o ginásio. Novamente as férias acabaram e lá vou eu à luta novamente. Provas, trabalhos, deveres de casa… começou tudo outra vez. :/
Voltar a acordar cedo depois de dois meses dormindo tarde não é moleza, não. Foi uma dificuldade para sair da cama, no entanto, mamãe não facilitou e eu, para não perder a hora, vesti a primeira peça que encontrei ao abrir o guarda-roupa, bebi um copo de café, terminei de me arrumar e aceitei a carona dos meus pais ao perder o horário do ônibus, só para variar!
Não gosto muito de primeiro dia de aula porque normalmente perco algum tempo até encontrar minha sala, fico imaginando com que tipo de gente vou estudar e me desespero mais ao pensar que ainda há oito longos meses letivos me esperando. Considerando meu desventurado histórico, meus medos não são tão injustificáveis assim porque em raras ocasiões pude levar uma vida normal.
Os poucos amigos que tinha, a vida tirou de mim. Não quero tropeçar por viver olhando para trás, ninguém precisa saber do meu passado podre e problemático, já estarei satisfeita se passar despercebida pelos outros, mas não minto sobre a vontade de pertencer a um grupo e ser uma adolescente comum, como qualquer outra.
A fachada do C.E.P.E.M. conserva traços das construções antigas aqui de Curitiba, mas o prédio precisou de uma reforma estrutural, concluída apenas no finalzinho do ano passado. Por onde olhava, era uma multidão se cumprimentando, se empurrando para saber em que sala ficaria e eu perdida na imensidão daqueles cinco blocos pintados de salmão.
O sinal enfim tocou… parecia mais uma sirene de ambulância… o que me deixou mais assustada do que já estava…
A diretora, que se chama Raimunda Mascarenhas, convocou os alunos a se reunirem na cancha e lá fomos nós. Os alto-falantes pareciam aquelas caixas de abelha e a voz dela também não colaborava muito. Ela deve ter passado pelo menos meia hora falando ininterruptamente, indo de um assunto a outro, lendo o manual do aluno, destacando as regras, mas não escapou de uma chuva de vaias quando leu essa regrinha em especial:
A diretora, que se chama Raimunda Mascarenhas, convocou os alunos a se reunirem na cancha e lá fomos nós. Os alto-falantes pareciam aquelas caixas de abelha e a voz dela também não colaborava muito. Ela deve ter passado pelo menos meia hora falando ininterruptamente, indo de um assunto a outro, lendo o manual do aluno, destacando as regras, mas não escapou de uma chuva de vaias quando leu essa regrinha em especial:
“É terminantemente proibido beijar na boca dentro da escola e nas imediações. Ficadas e namoros são proibidos nesta instituições. Estudantes flagrados beijando de língua serão advertidos com memorandos; caso reincidam, serão severamente punidos.”
Se ela levasse a sério a ideia de punir todos os beijoqueiros, não teria um único dia de sossego.
“Ela lê essa regra todo ano”, retrucou uma menina de rabo-de-cavalo escuro, entediada.
“E todo mundo zoa todo ano, já virou até tradição”, concordou um menino de pele azeitonada.
“Onde ela está à noite?”, questionou outra, essa jovem morena e voluptuosa, que usava a calça do colégio e mostrava o cofrinho. “Ninguém se arrisca a entrar no banheiro quando estuda à noite, banheiro vira dark room”.
“O que é dark room?”, perguntou a menina de rabo-de-cavalo, ao que outra cochichou no ouvido dela, que exclamou: “Posso fingir que não ouvi isso?”
“Olha lá a cara de assustada da menina nova, parem de putaria a essa hora do dia. Vocês vão deixar a menina nova assustada!”, avisou a moça cuja calça mostrava o cofrinho. Coincidência ou não, eu havia entrado na fila certa e as pessoas com quem interagi brevemente pareceram-me mais amigáveis.
“É melhor você se acostumar com os sermões da Raimunda. Essa mulher, quando pega um microfone, não tem hora para terminar de falar”, contou-me o menino de pele azeitonada, que, aliás, se chama Rodrigo.
Tinha bastante gente nova, que, assim como eu, passou no teste, porém muitos outros se conheciam de longas datas. Senti-me uma intrusa, mesmo ciente de ter me dedicado para ser aprovada e estar ali.
As pernas já estavam molengas de passar tanto tempo de pé, sorte que o dia não foi quente. Para concluir, a diretora colocou o Hino Nacional para tocar e tinha gente rindo. Enfim, liberados!
No antigo colégio, cada turma tinha sua própria sala e os professores vinham até nós. No C.E.P.E.M. funciona o conceito de sala-ambiente, onde nossa turma vai até o professor, ou seja, quando temos aula de Português, precisamos nos deslocar até a sala onde o Prof. Edu está, idem com Matemática e o restante das matérias, menos Educação Física. Por hoje, só conhecemos o Eduardo Gutierrez, que será meu professor de língua portuguesa e, por enquanto, promete ser dos bons. Ele não passou dever de casa nem matéria nova por ser o primeiro dia.
Só tivemos aulas até o intervalo… ufa, ao menos sobrevivi ao primeiro dia! Não fiz nenhum amigo, mas também não fui execrada, então é lucro, pelo menos tratando-se de mim.***
Mamãe e Horácio foram viajar para o interior de São Paulo e passarão uns 15 ou 20 dias fora. Não sei como ele a convenceu, se ela sempre vetou as viagens em família por não gostar de viajar de carro, porém, apesar dos meus 14 aninhos, sei me virar sozinha e não vou dar nenhuma festa na ausência deles porque nem amigos para isso tenho, logo, não aceitei nada bem a última loucura de Meire das Neves: mandar-me para a casa do meu pai.
Após anos sem dar sinal de vida, meu pai quer compensar o tempo perdido. Sinto-me dividida porque tantos anos de sumiço merecem uma explicação, no entanto, os adultos parecem subestimar meu senso de compreensão e esse tipo de atitude, sinceramente, me enoja. Quer dizer que o dito-cujo pode sumir e voltar quando quiser, sem justificar a ausência, desconsiderar meus sentimentos e colocar panos quentes em cima disso?
Por outro lado, não sei odiá-lo. Ele costumava ser minha pessoa favorita quando eu era criança, boa parte das lembranças mais felizes, papai está lá, mas os tempos são outros, existe uma dor que ficou, que tento ignorar para continuar vivendo.
Não posso reclamar da minha madrasta porque ela sempre me tratou bem e isso não mudou, tanto que preparou tudo que gosto de comer e me mostrou aquele quarto cor-de-rosa sonhado por mim na última vez que nos vimos — quando a casa estava quase pronta, há três anos, papai cumpriu. Entretanto, quando o nome Aline foi mencionado, foi impossível conter as lágrimas.
Todos choramos também mais tarde, quando papai chegou do trabalho e abriu os braços para me receber. A sensação de segurança e conforto daquele abraço é indescritível. Chegou a hora da verdade, de ser tratada como gente grande, de ter aquelas conversas mais desafiadoras, mas Félix e Helena queriam me mimar, não tocar em assuntos delicados porque eles nunca falaram mal da minha mãe, sempre foi ela a disparar acusações sobre eles, preciso admitir.
Continuo bem chorosa, com as emoções à flor da pele, também por estar de TPM. Tenho tantos pensamentos para colocar em dia e preciso me deitar mais cedo para não perder a hora de novo. Estou com medo do que poderá acontecer amanhã, mas pior do que enfrentar a vida é não a enfrentar e eu não sou nenhuma covarde, não…
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