No ano passado, desiludida por tentar uma vaga de estágio na instituição, li a notícia de que a universidade onde estudei voltaria a ter vestibular e decidi me arriscar. A vitória chegou porque fui aprovada. Mais, retornei mais grata, mais madura e feliz por estudar de graça, ter o privilégio de adquirir conhecimentos novos e ampliar o repertório de mundo, desmitificando pré-conceitos, certa de fazer às pazes com a menina de 20 anos que um dia fui.
Uma vez, por curiosidade, busquei saber que destino tiveram meus colegas de 2009 e me alegrou ver as pessoas prosperando, morando fora, fazendo mestrado, doutorado; entendi que, sim, se tivesse continuado, hoje desfrutaria de um padrão de vida digno, decente, não estaria me humilhando para fazer taxa e ganhar uma miséria. A culpa foi minha, por pensar que com 25 anos estaria “velha” para começar a faculdade de Jornalismo quando terminasse Letras, quanta bobagem!
Com 25 anos teria um repertório extenso, já estaria habituada ao estilo acadêmico, a trabalhar com pesquisa, teria experiência profissional e até conseguiria algumas dispensas na grade. No entanto, as (más) escolhas já foram feitas, já arquei com as consequências e me martirizar só vai fomentar os gatilhos para acabar com a minha vida.
Na minha sala de 2009 tinha muita gente jovem (eu também era), mas tinha gente 40+, pois a universidade é lugar para todos, o importante é ter vontade de aprender.
Em Letras, a coordenadora do curso é uma querida, quando ela fala, fico só admirando. Ela não vive numa redoma, inacessível, se achando melhor que todos, muito pelo contrário, ouve as reivindicações dos alunos, tenta solucionar todos os problemas, cumprimenta a gente e não só de longe. Admiro meus professores, eles nos estimulam muito, sabem ser rigorosos quando necessário, mas também nos inspiram, nos ajudam, nos aconselham. Os feedbacks que ouvi me fizeram chorar de emoção e me perguntar se eu merecia todas aquelas palavras tão lindas. Eles reconhecem meus esforços, ressaltam que sou muito inteligente e realmente não entendem essa discrepância.
Este ano está bem pesado para mim, tudo dando errado, saúde mental no limbo, portas fechadas e também porque paguei feio por reclamar dos anos 2000, caí numa sala de gente etarista, cuja líder é uma mulher de 25 anos com mentalidade de 15 e egocêntrica ao extremo, que se julga o centro do universo. Ela lembra demais a personagem Cássia Reis, de Simplesmente Tita, que pode fazer o que quiser e ninguém julga, a amada por todos por conta do padrão de vida e do celular da maçã. A galera parece estar presa ao ensino médio, fechada nas panelinhas, então sempre foi um sofrimento fazer trabalho em equipe porque me sobrava fazer trabalhos com os piores alunos, eu fazendo tudo.
Esses gatilhos profundos de rejeição me lembraram o primário, quando as outras crianças sumariamente me excluíam das conversas, das brincadeiras e eu nem ao menos entendia o porquê, porque tentei nas duas ocasiões correr atrás das pessoas, mendigar atenção, mostrar que eu era/sou legal e me sentir uma tremenda idiota, questionando-me por que nasci e tenho tanto azar de estar em lugares onde não sou bem-vinda, sem poder recorrer à escrita por sentir o medo infantil de colocar no papel o caos interior, pois se escrevesse versos sobre tudo, me libertaria, tiraria essa angústia do peito, que derrubou minha vibração para o umbral.
Vim de um estágio num portal onde fui explorada, abusada e trabalhei de graça, não tendo direito a folgas no fim de semana, sacrifiquei meu aniversário, trabalhei no Natal e no Ano Novo, no Carnaval, na Sexta-feira Santa, fazendo bem mais do que as horas estipuladas no contrato, assumindo outras funções, sendo pressionada para trabalhar de 12 a 14 horas sábado e domingo, sem direito a hora extra, promoção, nada, e aguentando cada uma, fazendo milagre para revisar textos sofríveis, o que me levava a pensar que o problema eram os meus professores porque vi outros alunos, que dava para perceber que não tinham o hábito de ler, nem capacidade para desenvolver uma matéria entregando TCC e eu tendo meus esforços rejeitados por uma panelinha de machistas.
Quando as aulas começaram, visava me dedicar para fechar o semestre com notas acima de 8, porém o trabalho me sugou toda a energia de ler, e aí numa tarde, quando o laptop travou e as supervisoras estavam me enchendo o saco para atualizar matérias de sub celebridades, desliguei o celular, me deitei em posição fetal e pensei que fosse infartar, tamanho era o nervoso. Esperei alguns minutos e redigi uma mensagem pedindo afastamento, sabe, por alguns dias, para poder estudar um pouco e voltar mais calma. Vocês acham que voltei? Voltei, nada. Já encontraram uma substituta rapidinho e me removeram dos grupos, sem nem acertar o pagamento, nada.
Não demora muito, aparece a hater do nada no outro blog, vindo me humilhar. Foi ler o nome dela, comecei a chorar, tremer, tive crise de pânico e não superei até agora. Depois do contato, não consegui mais ir à aula, só chorando, pensando em suicídio, porque ela ativou gatilhos pesados, de feridas que nunca se fecharam, li tantas coisas horríveis que terminaram de me derrubar no chão, tantas calúnias, mentiras, tantas difamações, acusações sem fundamento, desrespeito. Não consigo superar, toda vez que penso em publicar livros de novo, me sinto a burra que ela diz aos seguidores que eu sou e não me sinto capaz.
Estou certa de ter destruído os sonhos da menina de 20 anos que fui. A Mary de 2009 escrevia 20 ou 30 páginas de novela por dia, tinha vários cadernos cheios de poemas, letras de música, desenhos, pinturas, criava clipes no editor de vídeo, sabia mexer até com o Sony Vegas, tudo, e tudo, praticamente, aprendia sozinha, mexer no Photoscape, no Photofiltre. Aprendi a mexer no Blogger sozinha, sem tutorial, sem curso, só explorando o painel, lendo tudo, clicando, testando.
Alcancei o nível B2 em inglês porque desde 2020 estudo todo santo dia, A2 em espanhol. Fiz curso de Canva, porém aprendi bastante por conta própria e, claro, pegando dicas de outros criadores de conteúdo, não vou pagar 300 pilas por mês no pacote Adobe, sendo que o Canva é muito mais acessível e atende todas as minhas necessidades. Quando me meto de pesquisar um tema, vou fundo e tento compartilhar esse conhecimento para as outras pessoas da forma mais acessível, não posso ser “burra”. Por mais que eu tente passar despercebida, os professores sempre falam do meu potencial, exceto esses de jornalismo.
Eu amo o Jornalismo, agora tenho uma visão madura sobre a profissão, sei que os avanços tecnológicos são ferramentas de apoio que o jornalista deve utilizar a seu favor, ainda ouço que não deveria ter desistido por causa desses professores, me dizem que não existe só essa faculdade particular onde estou, porém, não tenho dinheiro para pagar a mensalidade e usar o meu histórico para conseguir dispensa. Já era para estar no doutorado, poxa, publicando meus livros, contando aos leitores sobre os obstáculos vencidos, casada com o amor da minha vida, com 2 filhos e não lhes relatando que estou vivendo a pior fase da vida, pensando em suicídio, usando o blog para desabafar e continuar aqui porque meus pais precisam de mim, meus pets sentirão minha falta e meus personagens ficarão sem seus finais felizes.
Estou completamente deprimida, desiludida, exausta, desesperançosa, não sou mais nem sombra daquela jovem de personalidade forte, que cativava todo mundo falando dos sonhos dela, planejando um futuro feliz destruído por haters, stalkers e professores machistas. Oh, Mary de 20 anos, o que a vida fez contigo?
Ouço essa música do Tihuana que escolhi para ilustrar o post porque a letra expõe meus sentimentos, sobre as bases do meu mundo estarem em escombros e eu não saber por onde caminhar, sendo que em 2009 eu punha para tocar e escrever o diário da Tita lá naquele blog meio emo e trash, saudades daquele tempo que só meus amigos liam, achavam mara, comentavam e eu me motivava, quando não tinha hater ironizando, nem gente perturbada problematizando nada, quando as redes sociais cumpriam a promessa de nos fazer interagir e não apenas consumir conteúdo.
Estou cansada de trabalhar e ser abusada, explorada, maltratada, ganhar muito menos do que mereço, me humilhar por taxas que se for descontar condução e almoço, não paga minhas contas, tudo porque fiz uma escolha errada aos 20 anos e não me sinto mais capaz de fazer as coisas de que gostava por acreditar nas pessoas que mataram meus sonhos.
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