Hoje, 14 de outubro de 2024, é um dia como qualquer outro, no entanto, há 15 anos, uma jovem sonhadora decidiu dar vazão às próprias ideias e enfrentar o medo do público. Críticas construtivas são importantes para lapidar um talento, não tenho dúvidas quanto a isso, mas quando as palavras amargas excedem o propósito e visam apenas desestruturar uma pessoa, como reagir?
Minha intenção não é doutrinar ninguém, nem salvar o mundo, não sou tão pretensiosa assim. Fui deixando de escrever por medo, porém não sou eterna e não tenho quaisquer certezas de acordar amanhã, nunca se sabe. Tempo é precioso, foi e não retorna.
Posso até não ser perfeita, mas estou disposta a me dedicar para alcançar o nível de excelência pretendido. Foi a menina de 2009 que me ensinou essa lição do "vai com medo mesmo". O momento perfeito não existe e em alguns contextos, o feito é melhor do que o perfeito, porque o feito é humano.
Abaixo, a carta redigida para meu eu de 2009. 🥹✍️
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Escrivaninha (Imagem criada no Canva) |
Cara Mary de 2009,
Vivemos dias de chumbo, minha cara. O trem da vida descarrilou num trilho qualquer e estamos perdidas, distantes do final feliz, agarradas aos frangalhos da esperança agonizante. Não somos nem sombra do que um dia fomos.
Racionamos energia para enfrentar os entraves diários, uma vez que o cansaço existencial sobrepuja as limitações de ordem física. Muito se fala sobre o tal bloqueio, há uma infinidade de sabichões querendo empurrar curso disso e daquilo goela abaixo para nos confundir e adoecer, encurralar a essência, até o último suspiro.
Antes de sofrer perseguições e ser vítima do ódio apenas por existir, havia uma garota a sonhar alto, ávida por aprimorar as próprias habilidades e contribuir ao mundo por meio da arte, alguém que almejava o reconhecimento sem a necessidade de pisar na honra alheia. Coragem, energia e entusiasmo refletiam-se em atitudes, não em verborragia.
Cá estamos, pautadas pelo medo e pela censura. Devemos ser cautelosas, o fantasma do cancelamento está à solta, tão assustador quanto presumir a ausência de respostas como sendo a própria resposta. Na ânsia de lacrar, muitas ideias em potencial foram suprimidas.
Antes de nos apedrejarem, vamos aos fatos: há uma enorme diferença entre aprender a conviver com as diferenças e não diminuir nem humilhar ninguém, porém, forçar um contexto onde todos parecem apenas reproduzir frases feitas das redes sociais é de enojar, pensar nunca esteve tão em baixa.
O mundo de 15 anos atrás tinha problemas. Alguns, inclusive, pioraram. Nunca estivemos tão doentes da alma, tão desiludidas, tão sozinhas, antes tínhamos aos nossos sonhos. Se não podemos nos expressar e honrar nossas raízes, o que sobra?
O propósito das redes sociais, de conhecer e interagir com outras pessoas, hoje é apenas recordação de um tempo distante. Fazer login é constatar o suprassumo do hedonismo, estar em um antro de competitividade e hipocrisia. Estamos a mercê de haters desocupados, da lacração desnecessária e, mesmo com tanta gente online, a solidão nunca foi tão devastadora.
Na infância éramos excluídas pelas outras meninas por não termos a lancheira rosa e a famosa mochila com rodinhas, o tempo passou e não ter o celular da maçã é sinônimo de suicídio social, não construir um feed "lindo" também é visto com maus olhos. Vence quem fala mais abobrinha, quem faz dancinhas ridículas, quem se crê dono da razão, quem almeja sustentar a boa vida explorando os seguidores.
Simplicidade não tem mais vez nesse mundo. Tudo precisa engajar, viralizar, senão não tem valor. Compreendemos que gente produzindo conteúdo não falta, mas nem tudo convém. Vemos "mais do mesmo", precisamos de um bote para não nos afogarmos nessa ressaca de desinformação.
Somos frutos da época em que nascemos e crescemos, isso é motivo de orgulho. Não precisamos nem queremos reproduzir ideias retrógradas e sem sentido, só precisamos de liberdade para crescer, liberdade e respeito. Deixemos os maniqueísmos para os contos de fadas, somos apenas humanas vencendo a morte todos os dias, luzes e sombras, guiadas pela força poderosa e curativa do amor.
Minha cara, sinto muito por me deixar abalar pelo ódio alheio, pela vaidade e por aprisionar sua voz para ela afinar-se à chatice do politicamente correto. Sempre errei tentando acertar, não posso ser punida em razão disso.
Escrevo-te nesta emblemática data porque pode haver uma nova versão de nós nos próximos 15 anos, precisamos trabalhar para dar-lhe orgulho, ao contrário do desgosto que te dei por cair e continuar no chão, no lugar de me levantar e perseverar para transformar em realidade aquela vida que você sonhou e sempre mereceu.
Curitiba, 14 de outubro de 2024.
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