Não sou pedra no caminho de ninguém


Começar e nunca terminar… será só descompromisso? Irresponsabilidade? Falta de força de vontade?

Somos as fases que vivemos. Sinto certo desejo de correr alguns riscos. Soltar aquele grito preso na garganta por tanto tempo que devo ter perdido a conta e a noção dele. Nem me lembro quando foi a última vez que rasguei a mortalha e pus-me a obedecer meus próprios instintos, naquela época eu ainda sabia me defender. Bons tempos, mas o orgulho impedia-me de admitir, apreciava-me perseguir trevos-de-quatro-folhas e delegar aos astros a responsabilidade de fazer-me feliz.

Fui deixando a vida me levar, me perdi.
Uma punhalada, um gatilho apertado.
A mão invisível me empurra de novo no chão.

Procurar o caminho de volta para casa?
Presa a uma busca arriscada a ser interminável.
De olhos fechados eu conto os dias para fugir.

Fui deixando a vida me levar, consenti.
Não há maniqueísmos nesses pobres versos,
tampouco entoo gritos de socorro, nego-me.

Garganta arranhada, o choro que teima em não sair.
Insisto, o chão não é lugar para se fazer morada.
Recomeçar não assusta quem está no meio do nada.


Sinto a presença da mão invisível a agarrar-me pelo colarinho e atirar-me na solitária sempre que alcanço a porta de saída, por que me querem aqui?

Apelar para o piloto automático como quem corre rumo à saída de emergência, em busca de ar, muito ar para respirar, por um pouco de sossego, pela calmaria dessas marés tão revoltas, porém, a ventania não cede, deixa destruição por onde toca, mãos que esbofeteiam faces, amassam resmas de papel, empurram penhasco abaixo os indecisos.

Satisfeita ou não, o estigma não é uma tatuagem temporária. Palavras soltas não me definem, opiniões não quitam dívidas, elogios nem sempre estão envoltos de bondade, não sou obrigada a ter respostas para todos os problemas do mundo, não há nenhuma cláusula nesse contrato divino me pressionando a agradar multidões, nem tampouco satisfazer as expectativas desalinhadas dos pseudointelectuais munidos de palavras rebuscadas, críticos ressentidos. 

Não sou pedra no caminho de ninguém, quem dirá terapeuta, resolva seus traumas sem me causar nenhum. Atrás de uma tela pode-se ser quem quiser, mas quando as luzes estão apagadas e resta somente silêncio e escuridão, ninguém pode fugir dos próprios pensamentos, da própria insignificância.

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