27 de fevereiro de 2002.
Estou me sentindo a pior conselheira amorosa do mundo porque ontem incentivei a Deh — tudo bem que foi por livre e espontânea pressão — a tomar a iniciativa para ficar com o Ricardo e hoje, durante o intervalo, ela foi encontrar o piá na cancha e ele deu o maior passa fora nela.
“Não te dei bosta nenhuma de chaveiro, guria. Vê se me esquece!”, gritou Ricardo, para o delírio dos otários.
Andréa ficou tão arrasada que nem apareceu na aula da Arlete e eu precisei me controlar para prestar atenção ao que a professora dizia e anotava no quadro. O Ricardo pegou tão pesado que até fiquei com o choro atravessado na garganta.
Minha amiga não perdeu nada sendo rejeitada por esse projeto de homem, mas a humilhação em público é uma dor tão grande que só quem já viveu sabe da dificuldade de se refazer.
Quando já íamos saindo da sala, a D. Arlete me chamou num cantinho e perguntou se eu estava bem porque me notou meio tristonha, disse estar com cólicas e agradeci a preocupação porque já tinha outra turma entrando e se acomodando nas carteiras.
Vejo a Andréa passar por certas situações que eu julgava acontecerem só comigo. Ela é chamada de estranha, esquisita, dragão, baranga, quatro-olhos, as pessoas a sacaneiam na cara dura e ainda se sentem no direito de dizer que o problema dela é “não aceitar brincadeiras”.
Desde quando magoar os sentimentos de outra pessoa se tornou diversão?
Deveríamos desconfiar de quem se nutre de ofender os outros para ter atenção. Muitos se dizem “engraçados” quando, na verdade, são desgraçados. A Michelle é um exemplo nítido do que estou falando, só ela não se toca de ser uma otária.
Sei que ela me olha com desdém e tenta me intimidar, me tornar a nova Andréa, mas se antes eu era um capacho, o jogo virou e, se necessário, resolverei na porrada, mesmo certa de que a violência não traz benefício nenhum. Ela que tente tirar minha paz para ver com quem está mexendo… sou doce, meiga, um amorzinho… com quem merece!
Depois de tudo que passei na antiga escola, nada mais deveria me surpreender. Mesmo assim, ver uma injustiça e ficar quieta me abala profundamente. Se a situação sai do controle, conversinha não resolve. Não adianta encenar na frente da orientadora e, pelas costas, as provocações piorarem.
A Helena me disse que a culpa do fora da Deh não foi minha, meu pai concordou com ela. Por outro lado, amanhã será um dia difícil porque terei duas aulas com a cria do capiroto com a serpente do Éden e sabe-se lá qual será a próxima insanidade do sargentão de saias.
É cedo demais para sonhar com as férias de julho?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥