SiMpLeSmEnTe TiTa 15 anos | Existe amor nas matinês


Quando você encontra alguém bacana, isso acontece naturalmente, sem ter de forçar nada.


 1⁰ de abril de 2002 — Dia da Mentira (mas tudo que escrevo aqui é verdade!)

Ontem de manhã, papai e Helena passaram aqui em casa para almoçar com eles, que convidaram as meninas também. 

Seu pai pode até ter ficado todos esses anos sem conseguir te ver, mas é nítido o quanto ele te ama!”, refletiu Júlia. “Se eu não soubesse que a Meire era sua mãe, juraria que a Helena era sua mãe biológica.”

“Você não foi a primeira pessoa que pensou nisso.”

“Ela teria idade para ser sua mãe?”

Ela tinha 17 em 1987, não sei se seria possível…”

Seria, se ela engravidasse ainda na adolescência. Está aí algo que não vai me acontecer porque não quero ter filhos.

Mas você transava com o seu namorado.”, alfinetou Deh.

Devo ter feito uma cara que a Júlia sacou na hora e me respondeu sem eu perguntar.

Foi aos 14, com um cara mais velho, que foi meu namorado por algum tempo. Apesar dele ser um mau-caráter, sabia fazer o negócio direitinho.”

Deh abanava a mão, como quem quisesse dizer “Poupe-me dos detalhes, por favorzinho”.

Não sei se algum dia terei coragem de ficar nua perto de outra pessoa…

Quando você encontra alguém bacana, isso acontece naturalmente, sem ter de forçar nada. Sendo a mais velha aqui, digo com propriedade que 14 anos é muito nova para iniciar a vida sexual. Se eu não tivesse sido descabeçada, teria me guardado até hoje, mas na época eu tinha outra cabeça, outro jeito de ver as coisas.

Deh e eu demos as mãos, só pretendemos namorar quando encontrarmos alguém especial e se tiver um propósito além de transar, pois em primeiro lugar queremos passar de primeira no vestibular.

Comemos bastante chocolate e decidimos ir ao boliche curtir a matinê. Quando Adolfo, Aline e eu íamos, era muito legal, mas em três anos tudo mudou; se der muita bobeira, te esfaqueiam por dois reais, um boné, um relógio bacana, um par de tênis e até celular. Papai combinou de nos encontrar por volta das 19h.

Comprar fichas é um negócio caro, mas tão bom. As meninas e eu aproveitamos alguns brinquedos, depois fomos soltar o gogó no karaokê. Júlia cantou As Quatro Estações, de Sandy e Júnior, Andréa e eu escolhemos um clássico dos Mamonas Assassinas e tiramos nota baixa, rimos até ter câimbra na barriga.

Pegamos refrigerante e uma porção de batatas-fritas porque não podíamos nem ver doces na frente. Depois disso, fomos para a pista de dança e estava tocando Short dick Man, da Gillette.

“Nossa! Essa é de quando eu era criança!”, exclamou Andréa.

“Eu amo essa música!”, concordei.

Júlia se acabou de tanto rir e perguntou se eu já havia lido a tradução dela, respondi que não e ela nos contou; quase molhei as calças.

“E o povão cantando no Programa do Rubão sem saber da tradução…”

“A batida é contagiante, não dá para negar.”

Não demorou nada e a Júlia sumiu. No entanto, não foi difícil encontrá-la se amassando num cantinho da pista. Ela se arranjou com uma facilidade, enquanto fui ignorada pelos piás. De duas, uma: já estão comprometidos ou preferem as patricinhas magrelas de cabelo esticado, que parecem ter saído de uma capa de revista, porém toda regra tem exceção e quem recebeu uma cantada foi a Deh.

O menino deve ter no máximo 13 anos, mas demonstra ter mais juízo do que muitos homens feitos. Fiquei feliz pela Deh porque os piás da nossa sala são uns escrotos, o Rodrigo é um ponto fora da curva. Já o pretendente da minha amiga me surpreendeu por ser gentil, educado e bom de conversa porque a fez rir pelo menos umas três vezes.

“Posso ser mais novo, mas a idade é só um número.”, garantiu ele, que pediu o telefone dela e passou o dele.

Dei uma olhadinha no relógio, já havia passado das 19h. Precisei ser a portadora das más notícias.

Pelo menos um beijinho, vai?”, implorou o último romântico na puberdade.

Anda, Deh.”, apressou Júlia. “O pai da Tita está esperando a gente…

Deh e o pretendente conseguiram trocar um selinho antes de Júlia puxar a touca da jaqueta da irmã e arrastá-la para longe da pista. Papai ainda não havia chegado.

Levei 13 anos para descobrir que a Deh é papa-anjo.”, brincou Júlia.

Não sou papa-anjo, ele é só amigo.”, retrucou Deh, com cara de poucos amigos.

E aquele selinho?”, caçoou Júlia. “Selinho assim eu dava na quarta série!

Dá um tempo, Júlia.”, reagiu Andréa, irritada. “Beijo só conta se tiver língua!

Não acho!

Você e o seu namoradinho só davam selinhos?

Não respondi.

Então você ainda é BV!

Não sou, não!

Sem língua não é beijo de verdade!

Ai, que chatice, viu?

Tá, não está mais aqui quem falou!”

Agora há pouco, a Deh me ligou para contar que o último romântico telefonou e eles combinaram de se encontrar no shopping no próximo sábado. Como ela não quer que a Júlia e o Rodrigo fiquem atrás dela com gracinhas, me convidou. Na certa, o moleque vai chamar um amigo e tentar fazer um esquema para ter mais pegação.

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