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Feliz Dia das Crianças àqueles que mantêm a sua criança interior viva (Imagem criada no Canva) |
Tantos sentimentos passam pela cabeça ao pensar naquela época já distante. Ah, a infância. O mundo parecia ser maior, talvez fosse impressão. Grandes mesmos eram os sonhos, nossas antigas asas tornaram-se ágeis braços e pernas, que nos faziam querer percorrer o mundo, conhecer tudo, saber de tudo, fazer as perguntas que nem sempre os adultos dispunham de paciência para nos responder.
Tínhamos medo do escuro, da orfandade, de reprovar de ano, de morar na rua, dos monstros que mão eram aqueles dos filmes e séries, eram de carne e osso, nos machucavam e nos faziam chorar, alguns dentro de casa, outros lá na escola.
Dormíamos na sala e acordávamos na cama, para de manhã ligar a televisão para passar a manhã toda assistindo programas infantis ou então voltar do colégio para acompanhar Chaves e Chapolin, desenhar e pintar, fazer trabalho escolar com enciclopédias gigantes, caprichando para não borrar o papel almaço, gostar daquele cheirinho de álcool que exalava das provas, sermos alunos comportados para não levar bilhetinho da professora para casa e deixar os pais orgulhosos nos dias de reunião, que deleite passar de ano no terceiro bimestre e não pegar recuperação.
Em dia de passeio mal dormíamos. Teatro, zoológico, parque, qualquer lugar era bom. Dia de piquenique, de cantar musiquinhas dentro do ônibus. Como era bom pular corda no recreio, brincar de pique-esconde, pintar o cabelo com papel crepom, dançar quadrilha na época de festa junina, caprichar na letra quando começava caderno novo, ter ciúme das cartelas de figurinhas, entrar num caminho sem volta como o de gostar de canetinhas perfumadas.
Desenhar e pintar, fazer fantoches com bexiga, papel machê, tinta guache e deixar a imaginação fluir, jogar videogame e zerar aquele jogo difícil pela primeira vez, ligar o rádio para dançar as músicas preferidas, gravar música e nos zangarmos quando o locutor falava por cima, contar moeda para comprar guloseimas na banquinha, ir à panificadora, comprar um pacote de salgadinho para completar a coleção de tazos, torcer para ter um prêmio no palitinho de picolé, comer o chocolate da Turma da Mônica pelas bordas para deixar a melhor parte por último.
Soltar bolhas no quintal, tomar banho de mangueira, subir em árvores, brincar de pirata, descer a ladeira de bicicleta por gostar daquela adrenalina toda, pegar impulso no balanço para ir cada vez mais alto, queimar o bumbum no escorregador nos dias quentes, ficar de cabeça para baixo no trepa-trepa, fazer manha na gangorra, girar até passar mal no disco voador, ir ao parque de diversões e não dispensar o algodão-doce, ainda que as mãos ficassem grudentas, dar uma volta de montanha-russa pela primeira vez, ter coragem de encarar o Kamikaze e chorar na hora de ir embora porque o tempo passou muito rápido.
Quantos dias maravilhosos passados na casa dos avós. Os momentos especiais, os quitutes de vovó, as histórias do vovô, os abraços apertados, as mãos estendidas para receber a bênção, a reunião dos primos, a algazarra até altas horas, tantas histórias, tanta boa energia vibrando num mesmo lugar, tantas risadas, tanta esperança reunida num mesmo espaço.
Uma caixa de papelão virava foguete para ir à Lua, escova de cabelo era microfone, velhos retalhos faziam das bonecas as sensações da estação, uma bola até murcha fazia a alegria de quem podia ter muito pouco, mas sabia se divertir muito. Lamber o restinho da massa de bolo e ouvir dos adultos que teria dor de barriga, apanhar dos pais e planejar uma fuga de casa, levando só brinquedo na mochila, chupar geladinho nos dias quentes e sentir o sorvete de casquinha derretendo nas mãos, preparar um cartão de datas comemorativas todo bonito e ver nos olhos dos pais a emoção mais pura, sentar no banco da frente pela primeira vez, chorar em desalento quando o bichinho virtual morria, ouvir música no walkman e a bendita pilha não durar quase nada, ter um diário com cadeado e ele ser lido mesmo assim.
Assistir aos jogos olímpicos e sentir vontade de ser ginasta, jogadora de vôlei ou basquete, nadadora, praticar atletismo, parar tudo quando tem jogo do Brasil na Copa, ficar na expectativa de completar o álbum e dar azar de só vir figurinha repetida., montar o pinheirinho de Natal e deixar-nos encantar pelas luzes nas ruas, pela esperança de dias melhores, chorar por um joelho ralado e um tempinho depois voltar a brincar, ser feliz e saber disso.
O tempo passa para todos nós e aos poucos leva embora nossas pessoas favoritas, nos preenche de responsabilidades, as brincadeiras dão lugar ao trabalho, a inocência vai embora, alguns sonhos morrem, porém, nossa capacidade de cultivar com carinho as lembranças desses bons e longínquos tempos nos fortalece nos desertos da vida, temos algo que não podem tirar de nós.
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