Meu ponto fraco nesse
labirinto mal desenhado. Não te vi em parte alguma porque nunca esteve
presente. Incrementei recordações para não perder de vista os dias, mas era a
mim que não reconhecia, ninguém o fazia porque estavam todos ocupados demais
para se lembrarem que eu estava ali, não por opção, eu simplesmente estava, meu
coração não, porque ele parou de contar o tempo, com a ajuda da saudade.
Fiquei ali até que a
curiosidade pelas estrelas fosse maior que sua desatenção.
Sem grandes aspirações,
tinha muito a fazer. Por mim. Pelos
sonhos que sempre valeram mais do que você. Pela cura que incansavelmente
busquei. Feridas reabertas, persisti num erro amansado pela culpabilização da
autenticidade.
Mais uma vez ouvir mentiras
e brincar de invisível, será que não me cansei?
É insano, mas não.
Cismei de ficar ali, naquela
mesa onde serviria de divã e nutria ódio de mim mesma, programada para ser
problema, tão diferente daquela injeção contundente de otimismo que era sombra.
Sua "saudade"
alimentou o desejo que anteriormente nunca me passou pela cabeça. Você e eu não
passávamos de bons amigos. Estranhos conhecidos. Um na defensiva, o outro
imerso no ceticismo ensurdecedor. Quase me apossei desse desprezo pelo simples,
embora fervendo de dúvidas e pendente entre a crença e a loucura completa.
Todo mundo em alguma altura
da vida deve ter se olhado para o horizonte sem resposta nem bússola, sem nem
saber quem era, apesar de estar com o RG no bolso da calça. Ainda faltam léguas
para vislumbrar o oásis e a impaciência conta pontos contra aqueles que põem a
forçar o ritmo da caminhada. Perdi a conexão com a realidade, fantasiando que
seu distanciamento temperava minha timidez, que sua demonstração de afeto era
torta, porém totalmente sua. Esse arrependimento arrancou a minha paz e trouxe
de brinde a culpa.
Fiquei boba por você,
embriagada pela carência, recolhendo suas migalhas, visualizando um banquete,
sendo que a toalha nem sequer estava estendida e na minha caixa postal não
constou nenhum convite. Sem nunca te chamar, você não podia me ouvir e se
ouviu, fez que não. Chorei várias noites alimentando esse tal de amor sem
dignidade, sem antídoto, sem trégua. Bem mais que justificar meus desatinos
passados, cabia dizer a mim "eu te amo", ao contrário de você, que
como tantos outros prometeu nunca me abandonar e deu as costas. Também dei as
costas para mim. Um erro fatal.
O gosto do veneno ficou lá
no alto da garganta de sequela. Essa irrealidade entre mim e você me custou
tanto. Em troca de carícias e belas palavras, sua fraqueza me fez sangrar.
Equivocada sempre estive, não me acuse. Já desempenhei essa função e não
remediei as imensas agonias, apenas reflito mediante as mazelas da decepção. Não foi a primeira.
Eu nunca precisei de você.
Abro mão dessas memórias invisíveis e pouco aproveitáveis. Eu amava a projeção.
Você, entretanto, eu não sei nem quem é e não movo uma palha para saber. É a
mim que quero conhecer. E eu sei com muito amor que sou bem mais do que tudo de
ruim que aprontaram contra mim, as bobagens que falaram (e ainda falam). Sou o
tempo presente porque viver é um desafio e eu desejo mais que jogar fora meus
dias cultivando um sonho que visava me inserir num mundo que nunca foi meu.
Reconhecer que não é o fim
foi a chave que abriu o temido cadeado e me fez mulher.