Você iria gostar de se sentir assim?

Todas as panelinhas já estavam fechadas, quintetos não estavam em alta.
Quebrei recordes de passar os recreios sozinha, mas não compareci à premiação.
Posso ter muitos amigos agora, no entanto, o medo do abandono e do ridículo é uma sombra do passado que teima em me perseguir.
Todas aquelas caras retorcidas por risadas escrachadas e escandalosas insistiam em me tornar a piada sem graça a preencher o recinto.
Muitos pensavam saber sobre mim por conta de boatos, poucos se interessaram em conhecer a minha versão dos fatos.
A peça sem encaixe não mediu esforços para ser “gostável” e fugir do estigma de esquisita.
Servir às expectativas alheias e enterrar os próprios anseios e tiques para não ser a execrada da classe, deixar para trás uma história onde não fui protagonista, mas bobo da corte.
Os esforços foram vistos com desdém, pois nos momentos trabalhos em equipe e de formar um time, ninguém me escolhia.
Eleita a menina mais feia da classe no ensino fundamental, tosca demais para andar com as populares, chata demais por demonstrar interesse nas aulas, estranha demais por não ter interesse em impressionar os meninos, bobinha demais para entender as ditas "piadas internas".
Quantos foras desnecessários tomei por acreditar que fulano queria ficar comigo e o dito-cujo, em vez de só dizer não, precisava armar um escarcéu devido a um mal-entendido.
Felizmente, a lagarta sobreviveu até o fim do ensino médio, já sabia que o mundo era maior do que as medidas daquela propriedade onde funcionava o colégio.
Quando me perguntam sobre meus tempos de escola, tenho poucas lembranças boas.
Não estou em nenhuma foto, não marquei na vida de ninguém. 
Figurei em algum canto qualquer e guardei comigo esse vazio.
Pode até ser que todas as palavras amargas e malditas a mim endereçadas e todos os traumas que minaram a autoestima já não valham mais nada.
Mal tenho referências, busco carinho e amor em estranhos.
Não me encontro em nenhum lugar. 
Você iria gostar de se sentir assim?

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