Medo de se apaixonar (de novo)

 


Ela havia prometido nunca mais chorar por amor. Deus era testemunha do esforço sobremaneira empenhado para deixar o fundo do poço. Se a consequência da paixão era o sofrimento, evitaria correr aquele risco enquanto possível fosse.

Sozinha, ela sempre foi. Na maior parte do tempo, encarava aquela condição com naturalidade. Viver é tão precioso para perder anos esperando pessoas que não voltam e lamentando nunca ser a favorita de ninguém.
A mente vazia se prolifera de ervas-daninhas quando escolhemos dedicar maior atenção aos pensamentos ruins e permitimos que eles nos controlem porque estamos apenas encurtando a distância até o abismo e não devemos responsabilizar ninguém pela direção de nossos passos. 
Quando estamos dominados pelo egoísmo e pela ingratidão, só lamentamos o que supostamente nos falta, deixando de enxergar o que e quem temos ao nosso lado, o que conquistamos, o que aprendemos, a dádiva de estarmos aqui; ignoramos as oportunidades para progredirmos enquanto seres humanos, não para o mundo atender às nossas vontades, mas para podermos contribuir com ele.
Depois que o mundo gira e nada fica no lugar, nada se tem a perder. Sonha-se para gozar de mais um bom motivo para acordar, desperta-se para realizar. A ilusão de ter controle sobre as coisas sempre foi o ponto fraco dela, que precisou ser forte tão cedo e sente o coração apertar sempre que se recorda das despedidas precoces que enfrentou.
Ela não sabe definir com exatidão quando ele passou a ocupar os pensamentos dela, entretanto, outros fatores levaram-na a refletir sobre aquele carinho genuíno, aquela alegria tão nítida no olhar só de saber que o veria. Ainda que buscasse as palavras mais apropriadas, não faria justiça àquelas sensações tão curativas.

Curitiba, 31 de agosto de 2023.

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2 comentários:

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