N/A: Hoje apresento a releitura do poema Segure a minha mão, escrito há 4 anos, quando 2023 era um sonho distante. Este é o meu posicionamento e, portanto, eu tenho o direito de me expressar. Em caso de desagrado, beba um gole de água, mas mantenha o conteúdo no céu da boca até que a raiva passe, então engula, fecha a página e vá ser feliz.
as noites escuras
têm sido preenchidas por insônia
angústias e planos adiados
por palavras que
me matam
intencionalmente
ao mesmo tempo
ceifam o respeito e admiração
vão morrendo dentro de mim
também as lembranças boas.
de amigos?
quais?
eu tive amigos?
se não tive amigos
as lembranças foram criadas...
os torturadores
do distante ensino fundamental
nunca estiveram tão em alta
é quase como se dançassem no meu funeral
os parentes de ocasião
torcedores da derrocada
querem o meu sangue
esmagar minha luta com botinas pesadas
limitar minha existência ao nada.
nunca tive amigos, apenas colegas,
companhias de ocasião
elas andavam comigo para se sentirem bonitas
para os meninos elas eram
não coroam ninguém por beleza interior
fui apenas um mal necessário
substituível
descartável
esqueceram-se, no entanto,
que tenho um coração feito de carne
(VOZES DOS BULLIES ME CERCANDO)
você é estranha
esquisita
se faz de vítima
exagera
faz muito drama
só quer atenção
até é bonitinha de rosto
mas deveria fechar a boca
meninos não gostam
de meninas que comem
você é infantil
faz perguntas
que ninguém quer saber
porque o sinal tocou
ninguém quer saber
das suas dúvidas idiotas
a gente odeia geografia
a gente odeia estudar
ninguém gosta de ler
escritor não é profissão
sua novela no máximo
vai passar só no sbt
rock é ruim,
axé é o que há
as bandas que você gosta
não fazem rock de verdade
você não combina com franja
desista de ser atriz
você tem um jeito esquisito
todo mundo comenta isso
você não é bonita
não chama atenção
não tem nada de atrativo
virgem depois dos 16
só pode ser freira ou sapatão
se você é sapatão
vai direto pro inferno
porque isso é uma abominação
quem gosta de osso é cachorro
mulher magra demais
não é bonito
não é saudável
mas você está melhor agora
continua se fazendo de vítima
isso aí é falta de ocupação
você só quer chamar atenção...
grito em silêncio em meio à escuridão
a caminho do exílio
enganada pelas comédias românticas
e pela literatura de gosto duvidoso
desconheço o sucesso
apenas a perseguição
por um sonho impossível
dormir todo o tempo que posso
eis a válvula de escape
para anestesiar o corpo em pânico
e o desalento da alma
interessa-me estar anestesiada
sou uma viciada bem camuflada
porque a realidade me desgasta
e eu já não tenho mais proteção
levaram tudo que restava em meu coração
até a ilusão de tempos melhores.
quero encontrar sua mão
para segurar bem firme
e nem sei onde você está
as notícias ruins
não param mais de chegar
a piada se tornou realidade
nunca mais duvidarei
porque não há limite para a estupidez
o golpe foi mais baixo dessa vez.
polarizadas verdades
construídas por narrativas espúrias
ares de animosidade
ninguém nunca lê até o fim
a preguiça de pensar
é o status quo
quem grita mais
quem ofende mais
quem distorce mais
esse é o mérito da questão
quem usa todas as armas que tem
para vencer a interminável discussão
o maniqueísmo às avessas
piada pronta do momento
tendência que veio para ficar
bode expiatório
responde o politicamente correto
afastando-se da multidão raivosa
com suas tochas cercando o meliante
insuflada pelas frases de efeito do capitão
que fala, fala, mas diz mais do mesmo,
é por deus e pela família
pelo deus que governa no twitter
e pela família sustentada pela corrupção
silenciar a oposição
maquiar a realidade
sucatear riquezas
sacramentando a republiqueta
eu já vi essa história repetir antes
agora em forma de tragédia...
anunciada
noticiada
comemorada
fogos explodiram no céu de domingo
mas o ano-novo começaria na terça
buzinaços pelas ruas e festança
também não era julho porque, se fosse,
na tela da tevê direto de moscou
neymar ergueria a taça do hexa
e eu entenderia a animação
porque camisa verde e amarela
para mim representará a seleção.
nunca tinha visto alguém comemorar tragédia
perdemos o senso
nesse eterno fla x flu sem heróis
todos levam 7 a 1,
quem destoa do senso comum
é a grande ameaça
pensar por conta própria é afronta
os “isentos” fogem de segurar a batata quente
mas também não quebram a quarta parede
reciclagens de mais do mesmo
outra vez a promessa ufanista
se esfarelou no que sempre foi...
f a r
s a !
mas, e agora?
sobreviveremos?
quem abandonará o front?
quem mudará de lado?
marcharão os arrependidos
ou padecerão eternamente
de cegueira consentida
e empatia seletiva?
eu te amo...
desde que você siga minha religião
e nunca contrarie minha palavra
se você for hétero e votou no mito
do contrário, te desejo o inferno.
memes violinistas
compartilhados à exaustão
ainda vamos rir de tudo isso
a arte dá a cara a bater
eles sabem do nosso potencial
fadados à latrina da história
governam por detrás da tela
sustentando o opaco brio do gado
orgulhosos da ignorância
vibrando a voluntária alienação
rimos da dor
mas tememos o dia de amanhã
enquanto a horrorosa sensação
em mim persiste
de que mil facas insistem
em perfurar meu pobre coração
me abraça como se fosse amiga
e as lágrimas tocam a tela.
inspira pela barriga, expira pelo nariz...
uma... duas... três vezes...
doze... dezoito... trinta e seis...
estamos todos cansados
e a luta apenas no início
somos os verdadeiros vencedores
porque a união mostrou
nossa surpreendente força
conceitos se quebraram como um muro
tenho parentes que não são consanguíneos
e pessoas que querem o meu sangue.
quero encontrar sua mão
para segurar com ternura
quando os passos fraquejarem
e a fé na humanidade se abalar
porque quando se é resistência
todo amanhecer é o último.
perdemos quem já se foi
porque odiamos a sensação
de que estamos perdendo
aquilo que outrora foi perdido
pela distância esticado
um nó malfeito e arrebentado.
quero encontrar sua mão
nas palavras de motivação
e sorrir com o seu sorriso
porque não tenho outro caminho
o mundo que eu conhecia
se desfez como cinzas nas mãos
as máscaras todas esfarelaram
meu eu do passado está pelo chão
meu eu do presente em construção
meu eu do futuro é cogitação.
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