Reflexões de Ceci | Quando amar também é se reencontrar



Reflexões de Ceci | Quando amar também é se reencontrar

 Ceci Paternostro escreve com a alma de quem já sentiu demais — e agora tenta, com cuidado, sentir certo.

Aviso de conteúdo:

Este texto aborda experiências com relacionamentos abusivos, incluindo violência emocional e física. Leia com cuidado.

Texto originalmente escrito em 2018 por Mary Luz e revisitado em 2023.

A personagem Ceci Paternostro é da obra “Aconteceu naquela tarde de verão” e completará 5 anos de existência em agosto.


“Viver dói.”

A postura de quem passa por todos os estágios de um coração partido é a mais defensiva possível. Erguemos uma muralha à nossa volta no intento de proteger o pesado portão para barrar possíveis ameaças. Invejamos o Homem de Lata, que não tinha coração, porque dói tanto olhar para a hora que não passa, sentar diante de uma mesa vazia e o silêncio incomodar mais do que a bagunça.

Esquecemo-nos de que o mesmo amor que machuca, também pode ser a cura.

Esquecemo-nos de não determos o controle de nada. Na inútil tentativa de buscar segurança em qualquer subterfúgio que não exponha nossa fragilidade, nos machucamos e deixamos rastros de nossa imaturidade por todos os cantos.

Esquecemo-nos de que pedir desculpas não nos desumaniza, lutar pelo amor não nos torna tolas, fracas e desconectadas da realidade.


Muitos recuam ao sinal do primeiro obstáculo, desistem de lutar à medida que não se sentem merecedores do amor que sentem, dizem amar quando desejam tão somente a afirmação e aprovação da sociedade inclinada a demonizar a solidão...

E depois de um coração partido, a impressão que se tem é a de que o amor apenas serve para machucar, que todas as pessoas são uma ameaça em potencial.

Escondemo-nos de nós mesmos, suprimindo também a capacidade de florescer amor.


E nessa brincadeira de pique-esconde com o universo, surpresas acontecem. Não antes que o coração cale-se para se ouvir. E se ouvir sem pudor. Aquele mergulho interior que deixa as paredes da alma arranhadas como se fossem um disco que nunca para de tocar.


O apego desmedido tornou-me refém do egoísmo. O sentimento predominante não se chamava amor. Era a junção de traumas, inseguranças, expectativas distorcidas. O medo de perder era tão imenso que nunca me permitia viver o presente.


O ninho de amor era um lugar solitário e não mais o pacto entre duas pessoas que se entregavam ao desejo e poderiam se demorar.

Deixou de ser.


A passarinha escolheu pousar no meu ninho porque naquele momento não havia mais nenhum lugar no mundo no qual se sentisse acolhida e segura. Éramos cúmplices, confidentes, planejávamos para aquele futuro distante.


Eu aceitaria tudo, menos te perder. Eu daria literalmente tudo por você. Ninguém me interessava mais.

Em busca de conquistar seu amor, cansei minha imagem, admito com vergonha que tentei moldar você para ser mais parecida com aquela mulher da minha imaginação, quebrando, portanto, a promessa de amar você do jeitinho que você era.


Nossas longas conversas transformaram-se em longas discussões...

O arrependimento vinha, o perdão já não era mais um ponto final.

Mentíamos porque a situação, apesar de desconfortável, era conveniente.


Foi naquela madrugada tão fria a nossa última briga. Você quebrou meu celular várias vezes e eu perdoei. Depois me empurrou, deixei passar. Mas quando suas mãos me agrediram, e colocaram por terra o que ainda havia de dignidade, continuei no chão... e ouvi todas as palavras mais amargas do mundo.

Amor nenhum no mundo sobreviveria àquele caos.


Remoer o rancor denota a postura arrogante de quem insiste nos mesmos desatinos sem ter a humildade de aprender com eles.

Juntas aprendemos a amar. Juntas demos as mãos, sentamos no chão, nos abraçamos e choramos.

Mas fomos deixando de ser um só coração.


As metades que nos tornamos deixaram de ser encaixe para ser a lança.

Juntas ainda podemos aprender — se houver respeito, equilíbrio, compaixão acima de qualquer ego.


As pessoas que passam pela nossa vida irão quebrar nossos corações. É inevitável.

Aprendemos que o sofrimento faz parte da jornada de evolução.


Se tive o coração partido, também parti outros corações.

E estou não apenas refletindo sobre a situação, como ponderando cada visão de mundo envolvida, porque estou amando novamente — e espero oferecer a versão mais madura de mim.


Durante a negação, quis crer que a culpa não foi minha.

Durante a tristeza, esperei pela ligação que jamais aconteceu.

Durante a raiva, arrependi-me de cada jura de amor.

Durante a suposta aceitação, findei-me com a ideia de ser minha própria namorada.


Viver sozinha era menos trabalhoso.

Mas quando meu coração voltou a bater por alguém, percebi:

não quero passar a vida inteira solitária e me privando de amar com a intensidade que me define.

Agora que sou correspondida… recuo.


Os livros não contam: adultos também sentem medo — só não têm autorização para mostrá-lo como as crianças.

Admito sem firulas que sinto medo.

Medo do egoísmo, da vaidade, de amar sem dar segurança, de não saber se consigo caminhar junto.

Eu também estou aprendendo a amar.

A me amar. A respeitar limites. A perdoar. A dominar minhas crises.


Sinto medo de ter medo. Medo do desconhecido.


 “Estarei pronta para assumir ao mundo o meu verdadeiro eu, ou por assim dizer, um recorte discreto, mas sincero do meu verdadeiro eu?”

— Ceci

 



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