Curitiba, 06 de abril de 2016.
Olho
para o abismo.
Venta
muito forte esta tarde.
Os
fios de cabelo estão todos bagunçados na cabeça, não tanto quanto do lado de
dentro, mas igualmente prejudicando a visão.
Procuro
por alguém.
Só
tenho a mim e ninguém mais.
A
mim e aos meus versos.
Meus
últimos amigos são memórias esfumaçadas por aí, do que era não restou mais
nada.
Peguei
uma rota, queria correr o mundo como mochileira sem levar a dor na frasqueira a
tiracolo.
Parece-me
que vai chover, mas não sinto medo da natureza tanto quanto sinto de mim mesma.
Não
sinto medo da chuva e da neve.
Receio
muito mais a indiferença dos entes amados.
Ser,
talvez, a mochileira, só que sem ninguém me esperando na volta, se houver um
lugar onde eu me instale em definitivo, honrando ainda que sutilmente algumas
convenções.
Os
rastros da dor levaram embora a inocência. Sobrou a vontade de prosseguir, de
modo que aqueço o verso e eu não quero que ele tenha gosto de pólvora.
Quero
que pelo menos eles resguardem a doçura inexistente da minha essência.
***
Não
há pétalas de margarida formando rastros para que eu me lembre do caminho. Não
há sequer um bem-me-quer. Nunca houve amor. As pessoas tão bem fingem que não
lhes custa nada dissimular preocupação para tirar sarro de mim pelas costas de
vez em quando.
Quem
ferido foi ao que era jamais retorna. O coração nunca mais é o mesmo depois de
magoado. Não se surpreenda com o meu desânimo, sou apenas consequência de um
mundo que destruiu meus sonhos.
Tentando
ser perfeita, tudo o que consegui foi matar o pouco de bom que poderia haver em
mim.
Se
eu for, não pretendo regressar. Nada me prende a este mundo vazio. Minha figura
não tem relevância que prediga essencialmente a ausência. Nunca fui doçura nem
presença. Fui, com honestidade, mais uma. Alguém.
Um pronome vago e sem impacto.
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