12 de maio de 2016

 

O pranto derrubado longe dos holofotes tem a mesma coloração de um sonho esfacelado.

Os olhos ardem, inconformados, molhados e intolerantes à escuridão.

Quem luta está disposto a perder porque nem sempre é adequado estar ao lado do vencedor.

Se as armas para chegar ao topo são sujas e covardes, tanto melhor ser derrotado.

A manhã raiava quando estrondou um trovão, era noite de novo.

Lá fora, tantos idiotas festejavam a própria sepultura com foguetes e buzinas.

Vestiam as cores da bandeira, crendo que nunca se sentiram tão representados.

Ora, o “amor” deles é condicional, como toda a moralidade de que são arautos.

Moralidade “sem moral”, bem-vindo ao outono infernal.

A doçura dos justiceiros é o punhal dos desprevenidos.

Os falsos inocentes, tão pretensos de falarem por todos, cantam a vitória.

A utilidade deles, portanto, acabou por aqui, serão massacrados e nem sabem.

Quando reconhecerem a realidade, não poderão culpar ninguém.

Terão de encarar diante do espelho o reflexo desonroso da traição.

O covil está em polvorosa, tantas declarações esdrúxulas de civilidade.

Eis que a dignidade de alguns vale menos do que os smartphones importados.

Aqueles que vendem a honra por cargos no futuro serão cobrados.

Os ratos vão brigar entre si, serão suprimidos pela incompetência.

Antecipação da merecida rasteira infligida pela lei da ação e reação.

Os sonhos resistem com a força de quem não se desfaz da esperança.

Ainda que os “tempos melhores” já tenham ficado para trás ou acenem.

Não deixa de ser um gesto corajoso viver como se não estivesse despedaçado.

Num sentido subjetivo, ainda se é gente, se tem um coração valente.

Resistir, a partir de agora, independentemente da recompensa, continua sendo triunfo.