21 de março | Dia Mundial da Poesia 📜




Se você ama poesia, vamos celebrar. Hoje é o Dia Mundial da Poesia e o OCDM propõe uma viagem no tempo para conhecermos as origens deste gênero rico em história, autenticidade e capaz de acompanhar a passagem do tempo, fiel à própria essência que o torna um grande tesouro que conecta a humanidade.

Em 1999, durante a 30ª Conferência Geral, a UNESCO proclamou 21 de março como o Dia Mundial da Poesia. A iniciativa visa celebrar esta forma de expressão artística, fomentar a diversidade cultural e linguística, incentivar um intercâmbio cultural mediante a troca de ideias e experiências naturais à poesia. Outro motivo diz respeito ao início da primavera no hemisfério norte, uma vez que o equinócio simboliza renovação e força, sentimentos presentes na produção poética.

“Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poesia quem apenas verseje por dor de cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.”

Carlos Drummond de Andrade

Origens da poesia

A história da poesia remonta a tempos muito anteriores à escrita. No início, ela vivia na oralidade, sendo recitada e transmitida de geração em geração. A cadência, os ritmos e a musicalidade dos versos ajudavam na memorização, transformando a poesia em uma ferramenta poderosa de preservação cultural. 

Com o surgimento da escrita, ela deu um novo formato a essa expressão, permitindo que os poemas, antes limitados à tradição oral, ganhassem permanência e alcance ainda maiores. Assim, a poesia uniu a ancestralidade das palavras faladas com as novas possibilidades proporcionadas pela palavra escrita, criando um elo entre passado e presente.

Desde os primórdios, a poesia esteve presente nas mais antigas civilizações, desempenhando um papel essencial na preservação cultural e espiritual. Povos como os mesopotâmicos, egípcios e gregos compuseram poemas que exaltavam deuses, celebravam heróis e marcavam eventos significativos. O 'Épico de Gilgamesh', por exemplo, narra as façanhas do lendário rei e trata de questões universais, como amizade e mortalidade, enquanto as obras de Homero, como Ilíada e Odisseia, lançaram as bases para a literatura ocidental, trazendo elementos como narrativas épicas e personagens memoráveis.

Com o passar dos séculos, a poesia adaptou-se aos valores e necessidades de cada época. Na Idade Média, predominavam os temas religiosos, com hinos e cânticos que buscavam enaltecer a fé e a espiritualidade, fortalecendo o vínculo entre o homem e o divino. Já no Renascimento, em um contexto de redescoberta da antiguidade clássica e valorização do indivíduo, a poesia passou a exaltar a beleza da vida, a força da razão e o potencial humano. Artistas dessa era trouxeram reflexões profundas sobre a existência e a natureza.

De forma única, a poesia continuou se transformando, acompanhando as mudanças culturais e históricas, sem jamais perder sua essência como veículo de expressão artística.

História da poesia no Brasil

Antes da colonização, o território que hoje chamamos de Brasil já era berço de culturas riquíssimas e diversas, desenvolvidas pelos povos originários. Suas tradições orais, cantos e rituais carregavam a sabedoria acumulada por milhares de anos, refletindo uma relação profunda com a natureza, a espiritualidade e a coletividade. Apesar de não haver registros escritos anteriores a 1500, muitos desses elementos foram documentados posteriormente por antropólogos e historiadores, ajudando a preservar parte desse legado. Hoje, a literatura indígena contemporânea cumpre um papel de extrema importância ao resgatar e valorizar essas tradições, revisitando a profundidade cultural dos povos originários com uma nova perspectiva.

A poesia brasileira começou a se formar no século XVI, durante o período de colonização. Os primeiros registros poéticos vieram com os padres jesuítas, como José de Anchieta, que utilizava versos para ensinar e evangelizar. Escrevendo em latim e tupi, seus poemas funcionavam como pontes de comunicação com os povos indígenas. Esses textos tinham um caráter religioso e pedagógico, refletindo o contexto daquela época.

Evolução ao longo dos séculos

  • Barroco (1601–1768) — Durante o período barroco, a poesia no Brasil ganhou características intensas, cheias de contrastes e exageros, influenciadas pela estética europeia. Gregório de Matos, conhecido como “Boca do Inferno”, brilhou com sua poesia satírica e crítica social, sendo considerado um dos primeiros poetas verdadeiramente brasileiros.
  • Arcadismo (1769–1789) — Inspirado pelo neoclassicismo europeu, o arcadismo trouxe uma visão idealizada da simplicidade e da natureza. Poetas como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga marcaram esse período com obras que destacavam a busca por uma vida bucólica.
  • Romantismo (1836–1881) — O romantismo representou um momento de construção da identidade nacional, celebrando a cultura e os cenários brasileiros. Poetas como Gonçalves Dias exaltaram a natureza e o papel do indígena, enquanto Castro Alves levantou sua voz contra a escravidão em versos carregados de força e emoção.
  • Parnasianismo e Simbolismo (final do século XIX) — O parnasianismo valorizava a forma e a perfeição estética, com poetas como Olavo Bilac. Paralelamente, o simbolismo explorava temas mais subjetivos e espirituais, representado com maestria por Cruz e Sousa.
  • Modernismo (1922–1945) — Com a Semana de Arte Moderna de 1922, a poesia brasileira deu um salto criativo. Poetas como Mário de Andrade e Manuel Bandeira desafiaram as normas tradicionais, trazendo uma linguagem inovadora e temas urbanos.
  • Poesia Contemporânea (1945-) — Hoje, a poesia no Brasil é plural e diversa, unindo tradição e inovação. Desde a literatura de cordel no Nordeste até a poesia urbana nas redes sociais, poetas contemporâneos exploram questões identitárias, políticas e pessoais, refletindo o país em toda a sua complexidade.

Estilos de poesia

O mundo da poesia é vasto e fascinante, com diferentes estilos que expressam sentimentos, ideias e histórias de formas únicas. Aqui estão alguns estilos e formas poéticas que podemos explorar:

  • Soneto - Eis uma forma clássica, caracterizada com 14 versos organizados em dois quartetos e dois tercetos. Muito popular no Renascimento, com nomes como Luís de Camões e William Shakespeare. Possui uma métrica fixa, geralmente decassílabo, e explora temas como amor, vida e filosofia.
  • Haikai (ou Haiku) - De origem japonesa, é caracterizado por três versos curtos com uma métrica específica (5-7-5 sílabas). Ele captura momentos simples da natureza ou sentimentos profundos com poucas palavras.
  • Ode - Um poema lírico que celebra ou homenageia algo ou alguém, com um tom elevado e linguagem elaborada. Por exemplo, "Ode ao Vento Oeste", de Mary Shelley.
  • Poesia Livre - Não segue uma estrutura rígida de métrica ou rima. Esse estilo é comum na poesia moderna, permitindo maior liberdade de expressão.
  • Epigrama - Poemas curtos e muitas vezes humorísticos, com um final impactante ou irônico. Era usado desde a Grécia Antiga para transmitir mensagens rápidas e marcantes.
  • Elegia - Poemas que refletem sobre temas como luto, perda ou melancolia, muitas vezes com uma profundidade emocional significativa.
  • Poesia Visual - O formato do poema é parte de sua mensagem, como caligramas, onde as palavras formam imagens relacionadas ao tema do poema.

Grandes nomes da poesia brasileira


A poesia brasileira é marcada por uma diversidade de vozes que representam diferentes períodos históricos, estilos e perspectivas, do clássico ao contemporâneo. 

Clássicos da Poesia Brasileira

Gregório de Matos (1636–1696) – Representante do barroco, utilizou a poesia como instrumento para tecer críticas aos costumes da sociedade colonial.
Cláudio Manuel da Costa (1729–1789) – Este poeta bucólico buscava exaltar a simplicidade e a natureza em versos.
Tomás Antônio Gonzaga (1744–1810) – Contemporâneo de Cláudio Manuel da Costa, é o autor de Marília de Dirceu, com seus poemas marcados por amor e melancolia.
Gonçalves Dias (1823–1864) – Eis um nome conhecido por quem estuda poesia. Grande expoente do Romantismo, deixou seu legado com Canção do Exílio, considerado um marco na poesia nacionalista. 
Castro Alves (1847–1871) – O "poeta dos escravos", conhecido por seus versos abolicionistas.
Olavo Bilac (1865–1918) – Autêntico parnasiano, versejava a perfeição formal, por meio de suas rimas ricas e temas universais.
Cruz e Sousa (1861–1898) – Um dos pioneiros do movimento simbolista, trouxe temas espirituais e existenciais para os versos que exploravam sinestesias e exprimiam a musicalidade que nos remonta aos tempos onde a poesia era declamada e recebia acompanhamento de instrumentos musicais.
Manuel Bandeira (1886–1968) – Grande nome do Modernismo, mesclava o lirismo poético e temas cotidianos com maestria. Importante para compreender também este movimento literário.
Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) – Um dos maiores, senão o maior nome da poesia brasileira, uma voz fundamental para entender os dilemas humanos e a modernidade, cujo legado permanece atual.
Cecília Meireles (1901–1964) – Outro nome de peso do movimento modernista, com lirismo delicado e uma percepção aguçada, é autora de Romanceiro da Inconfidência.

Poetisas contemporâneas

Ao longo dos séculos, a poesia brasileira foi moldada por grandes expoentes, cada um refletindo seu tempo e suas inquietações em versos que ecoam até hoje. No entanto, a poesia não é estática. Ela continua viva, pulsante e em constante transformação, especialmente nas mãos de poetas contemporâneas que trazem novas perspectivas e abordagens para essa arte tão rica. Essas vozes atuais carregam a poesia para outros espaços e refletem as questões sociais, políticas e pessoais do nosso tempo, mantendo o legado dos clássicos enquanto criam novos caminhos.

  • Adélia Prado (1935–): Sua poesia mistura o sagrado e o cotidiano, com uma voz profundamente humana.
  • Conceição Evaristo (1946–): Combina lirismo e denúncia ao abordar vivências negras e questões sociais.
  • Elisa Lucinda (1958–): Usa sua poesia para tratar de temas sociais, políticos e pessoais.
  • Mel Duarte (1988–): Figura central nos slams de poesia, com versos que abordam empoderamento e questões urbanas.
  • Ryane Leão (1989–): Poetisa e autora contemporânea, conecta seus versos a questões de identidade e resistência.
  • Ana Martins Marques (1977–): Uma poesia introspectiva e inovadora, que explora as emoções e o cotidiano.
  • Marília Garcia (1979–): Reconhecida pela experimentação em sua poesia, com textos que exploram linguagem e subjetividade.

Poesia: uma expressão autêntica

A poesia não precisa de permissão para existir, nem de moldes rígidos para encontrar o coração de quem a lê. Ela pulsa em cada palavra que carrega significado, em cada verso que traduz uma emoção, e em cada silêncio que a faz ressoar. Por isso, sigo escrevendo com a verdade que me habita, sem me curvar às expectativas alheias ou às vozes que tentam diminuir o que não entendem.

Se a poesia é uma ponte entre o que sinto e o mundo, então deixo que ela seja livre, que voe e encontre quem esteja disposto a senti-la. Afinal, a arte não é sobre agradar — é sobre transformar. E é nisso que acredito: uma poesia autêntica, que não pede licença, mas simplesmente acontece.

Celebre o Dia Mundial da Poesia explorando novos estilos, lendo obras clássicas ou descobrindo as vozes contemporâneas que continuam a renovar esse gênero tão rico. Compartilhe seus versos, sentimentos ou poetas favoritos. Afinal, a poesia só é completa quando encontra quem a sinta. E você, como vive a poesia no seu dia a dia? 📜✨

Referências

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Dia Mundial da Poesia: 21 de março. Disponível em: <https://www.unesco.org>. Acesso em: 21 mar. 2025.

Academia Brasileira de Letras. História da poesia no Brasil. Disponível em: <https://www.academia.org.br>. Acesso em: 21 mar. 2025.

Instituto Socioambiental. Literatura e tradições indígenas. Disponível em: <https://www.socioambiental.org>. Acesso em: 21 mar. 2025.

Biblioteca Nacional. Acervo literário brasileiro. Disponível em: <https://www.bn.br>. Acesso em: 21 mar. 2025.

Fundação Nacional de Artes. Sobre poesia contemporânea. Disponível em: <https://www.funarte.gov.br>. Acesso em: 21 mar. 2025.

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