Escrito em um momento de grande introspecção e transformação, este texto reflete sobre os desafios de lidar com mudanças, superar traumas e escolher o amor e a empatia como caminhos para crescer.
Ultimamente, olho para você e o coração aperta. Não sei explicar, não de um modo lírico ou envolvente, só sei que dói. Tudo mudou tão depressa, e me senti perdida no olho do furacão, tentando entender e me encontrar, à medida que me afastava de qualquer lógica.
Sinto-me terrível por tudo que pensei e escrevi movida pelo ciúme — não de você, mas da projeção de um trauma antigo. Não dei sequer uma chance para você mostrar quem é, para provar que não era um pesadelo materializado, mas alguém que merece respeito, ao menos uma tentativa.
Se respirar profundamente, sinto que, se não disser agora, não direi nunca mais, ou não com essas palavras. E elas são tudo que posso te oferecer agora. Eu não te odeio. O ódio é muito forte, e você não me deu motivos para isso.
Desculpa a minha resistência às mudanças, a tudo que desarruma meu pequeno mundo e me tira da minha zona de conforto. Desculpa não te receber com carinho e não compreender que certas situações são novas para você também. Ter confiança em si não necessariamente significa “se achar,” porque essa expressão pertence aos tempos de escola, e já crescemos faz tempo.
O que aconteceu no passado, as feridas não cicatrizadas, não são culpa sua. Não posso transferir minhas dores para você. Isso seria desonesto, uma covardia que perpetuaria um ciclo de sofrimento — mágoas que se espalham como uma corrente.
Preciso admitir: não superei meus traumas; apenas me escondi deles. Mas, lá no fundo, sinto vontade de te conhecer melhor, porque há algo em você que me atrai como um ímã.
Tentei me colocar no seu lugar. Percebi que não somos tão diferentes. Sei o quanto palavras podem machucar, o impacto de ataques que ninguém mensura, e não quero causar em você as feridas que tanto me marcaram.
Eu nunca quis que você se sentisse menor por minha causa, menos capaz ou no caminho errado. Não quis te magoar, porque sei o quanto dói ser atacado, sem que os danos que causam sejam mensurados.
Houve um momento em que busquei defeitos em você, apenas para justificar minhas emoções. Era o medo falando, aquele impulso imaturo de descontar no outro o que fizeram comigo. Descontar... talvez seja essa a palavra.
E enquanto engolia o choro que se formava na garganta, me sentia de mãos atadas. Não havia ninguém para me abraçar quando eu mais queria, alguém que segurasse meu rosto e prometesse, ainda que fosse só uma ilusão: "Vai ficar tudo bem."
Porque, no fundo, o abraço é um casaco que aquece dois corações.
Então, jurei que a raiva seria meu escudo. Algo que bloqueasse o espanto diante do fato de que muitas coisas nunca mais seriam como eram. Eu gostava do que foi. Gostava daquilo que agora vive apenas na lembrança.
Fosse você ou não, tudo iria mudar. Se não fosse naquele dia, seria em algum outro. Eu sofreria da mesma forma, ou talvez até mais. Porque, a partir do momento em que você entrega seu coração, é o risco que se corre. Apesar da tristeza que às vezes me toca fundo, eu sei que vale a pena.
Tenho as minhas memórias. Elas estão seguras, e sou grata. Estão escritas, documentadas, sentidas. Estão por toda parte. E são — são um bom pretexto para evocar o motivo de seguir em frente.
Eu escolho amar.
Amar é mais difícil. Não se limita a normas e regras de "como deve ser." É errar, reconhecer a própria vulnerabilidade, enfrentar as fraquezas da alma e as feridas mal curadas. É entrega. É sentir as gotas das suas lágrimas nos meus lábios. É te olhar, tão diferente de mim, e querer conhecer o seu mundo antes de recriminar ou ridicularizar. Aprender a respeitar o que é importante para você e poderia ser para mim. Te abraçar e te sentir como se você fosse minha estrela preferida de todo o céu.
É tudo. Tudo que estou disposta a sentir. Porque exige de mim a coragem que não tenho.
Viver com medo me definia quando eu era menina, porque era uma desculpa que funcionava: correr sempre e me esconder. Até o dia em que não havia mais onde nem por que se esconder. E então, os olhares se firmaram, as mãos se deram, e minhas mentiras tolas caíram por terra. Minha pose de durona. Minhas tentativas falhas de te odiar, fingir que você não existe.
Por quê?
Odiar é mais simples. Proferir palavras amargas para machucar quem as ouve. Ignorar suas virtudes, suas pegadas na areia, seus argumentos e sentimentos. Projetar um monstro que não existe e me fechar em uma bolha, esperando que nenhum alfinete me alcance. O ódio é o conforto das almas perdidas no próprio egoísmo.
Eu não quero ser incapaz de amar. Quero sentir a dor do outro, sorrir pelas conquistas alheias, mesmo depois de tantas dores que quebraram minha confiança. Quero abrir meu coração para que meus olhos enxerguem o que há de melhor em cada pessoa que cruzar meu caminho.
Ainda sinto medo do amanhã, porque ele é uma névoa que me rouba a paz. Mas é bom deitar a cabeça no travesseiro e saber que hoje vou dormir com o coração mais leve. Escrevi o que estava preso no meu peito, junto ao choro que parecia inútil por permanecer guardado.
Eu não te odeio.
Eu. Não. Te. Odeio.
Se me esforçar de verdade, sei que entenderei que estou vivendo uma fase que, admito, não era o que planejei, sonhei ou sequer desejei. Mas, talvez, ela tenha algo a ensinar. Algo pelo qual é preciso passar, para aprimorar a compreensão.
Eu odiaria, por pura infantilidade, abrir uma ferida no seu coração. Porque, pombas, palavras doem. Sim, elas podem curar, sei disso, mas quando destroem sonhos... quanto tempo leva para se recuperar a confiança que se quebrou? O amor por algo que te levou mais longe do que você poderia imaginar? Ou que te fez, quem sabe, questionar tudo e pensar que se enganou?
Quero te conhecer. Talvez seja cedo demais para dizer “me acostumar,” mas pretendo me esforçar. Quero te olhar com o coração e não comparar o que já foi com o que me restou. Acredite, só preciso de um tempo. Meu coração precisa de tempo. Não um tempo físico e cronometrado, mas só meu. E um espaço onde possa me sentir confortável, sem fingir nem mentir.
Insisto: nada mais do que tempo. Ainda que ele corra contra mim e contra você, ainda que eu possa pedir aquilo que nem tenho.
Se o tempo é capaz de amenizar os danos que nos causam, ele também nos traz quem pode nos curar. E nos ensina a deixar ir quem já não pode mais ficar.
Você deixou em cada pessoinha um pouquinho de si, e levou um tiquinho delas também? Seu olhar se perde em algum ponto do horizonte? Você tem saudades incuráveis? Coleciona corações e lugares? E quando você sonha, você se permite abrir as asas ou tem medo de voar? Acredita que sonhar é colorir o mundo com as cores da esperança?
Tudo bem, talvez eu esteja me excedendo. São perguntas demais... ou não?
Alguém que conheci antes de você me fez acreditar que eu tinha algo a dizer com a minha escrita. Foi ela quem me lembrou do meu par de asas, escondido atrás dos sonhos que eu queria abandonar. Sonhos abafados por palavras que me dirigiram com o único objetivo de me aprisionar, mesmo eu sendo tão desengonçada. Por pouco, eu quase a ignorei. Tive medo, sim, de sentir. Porque eu sofro toda vez que alguém vai embora. Dói demais me refazer, transformar meu olhar, colecionar mais uma saudade.
Ainda mais, eu creio, dói o vazio de não sentir saudades de nada. De perder a capacidade de se doar, de hesitar, temendo as lágrimas — essas lágrimas preciosas de quem se arrisca, de quem luta para viver, para fazer valer até as palavras que me desdobram e me entregam. Aqui, no escuro de um céu repleto de estrelas distantes, tão distantes quanto estou dos meus sonhos...
Boa noite. E tudo bem, se você quiser me abraçar. Pode ser que eu queira também. Pode ser que eu não te solte. Pode ser que o seu sorriso me faça sorrir, e que ao fechar os olhos, eu veja estrelas.
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