Há exatos 14 anos, o Brasil amanheceu mais triste com as notícias que chegaram do Rio de Janeiro. O massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira deixou 12 inocentes mortos e pelo menos 22 feridos, chocando todo o país e gerando forte comoção. Esse evento trágico revisitou reflexões sobre problemas que afetam profundamente o ambiente escolar, como o bullying, além de destacar a necessidade de medidas para prevenir futuros massacres.
Desde então, o dia 7 de abril passou a ser dedicado à conscientização sobre o bullying, um problema grave que impacta o bem-estar físico, emocional e social de muitas pessoas, especialmente crianças e adolescentes. Essa data também incentiva discussões sobre o melhor caminho para construir um ambiente mais seguro e acolhedor, dentro e fora das instituições de ensino.
O que é o bullying?
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, cuja tradução pode fazer referência à pessoa que intimida, humilha ou agride alguém, física ou emocionalmente. Essa figura pode usar força física ou persuasão para se impor, mas nem sempre representa a imagem do "valentão típico". De forma geral, essa prática envolve intimidação contra outra pessoa.
Embora esse comportamento agressivo exista há séculos, foi na década de 1970 que o bullying começou a ser estudado como um problema social. O psicólogo sueco Dan Olweus é considerado um dos pioneiros nesse campo. Ele conduziu pesquisas na Noruega após casos de suicídio de adolescentes vítimas de bullying, revelando a gravidade do problema e abrindo caminho para que ele fosse reconhecido mundialmente.
Bullying no Brasil
No Brasil, o bullying começou a ganhar atenção acadêmica e social no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Pesquisas nacionais passaram a explorar o fenômeno em escolas, destacando suas causas, consequências e formas de prevenção. Hoje, o bullying é amplamente discutido em diversas áreas, como psicologia, educação e direito. Iniciativas como a Lei 13.185/2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, reforçam a importância de combater essa prática. Essa lei estabelece diretrizes que estimulam a conscientização e ações concretas para criar ambientes mais seguros.
As consequências do bullying
Bullying vai muito além de “brincadeiras inocentes” e pode causar danos profundos às vítimas, incluindo ansiedade, depressão e, em casos extremos, tragédias como os massacres de Columbine, Realengo e Suzano. Diante dessas tragédias, a imprensa adotou medidas importantes, como não divulgar a identidade dos autores desses crimes, buscando evitar o “efeito contágio” e preservar o foco nas vítimas e na conscientização. Esse é um passo essencial na construção de uma narrativa que prioriza o respeito e a responsabilidade social.
Impactos do bullying nas escolas brasileiras
O impacto do bullying nas escolas é alarmante. Dados da ONU revelam que metade das crianças e jovens no mundo já sofreu bullying, sendo a aparência física, identidade de gênero e raça os fatores mais comuns. No Brasil, os números da PeNSE mostram que:
- 16,5%: Aparência do corpo.
- 11,6%: Aparência do rosto.
- 4,6%: Cor ou raça.
Esses dados reiteram a urgência de promover empatia e respeito para transformar nossas escolas em espaços seguros e acolhedores.
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Ataques assim fazem a gente desanimar e ter vontade de desistir |
Como identificar o bullying e o cyberbullying
O bullying e o cyberbullying podem deixar marcas profundas em quem os enfrenta. Eu mesma vivi isso ao longo da minha vida, desde a infância até a faculdade, e sei como é difícil reconhecer os sinais e pedir ajuda.
- Educadores, observem seus alunos. Quando eu era criança, muitas vezes mostrava medo de ir à escola, era retraída, isolada, agredida e tinha queda no desempenho. Infelizmente, ao reagir às provocações, fui frequentemente vista como a vilã da história, e meu sofrimento foi descreditado.
- Alunos, reparem se algum colega está sendo excluído, alvo constante de palavras agressivas ou até atacado online, como fui quando uma colega criou um perfil falso para me atingir por ciúmes.
- Pais, notem os sinais: isolamento, irritabilidade, mudanças no apetite. Quando crianças enfrentam desafios como os que enfrentei — exclusão dos grupos, roubo de materiais ou cyberbullying — é essencial abrir um diálogo e oferecer apoio. Esses gestos podem significar muito para quem se sente sozinho nesse momento.
Como prevenir
Criar um ambiente de empatia e respeito é essencial. Quando professores promovem atividades inclusivas e pais ensinam desde cedo sobre o impacto das palavras e ações, podemos evitar histórias de exclusão e sofrimento como a que vivi, quando fui ridicularizada pela aparência, pelo jeito de falar ou andar. No ensino fundamental, vivi agressões físicas e, posteriormente, fui alvo de cyberbullying, mas ações educativas e ambientes acolhedores poderiam ter feito a diferença.
Educar sobre o uso responsável da internet também é fundamental. Como alguém que enfrentou cyberbullying, sei que as redes podem ser um espaço perigoso sem orientação adequada. Mostrar aos jovens como pensar antes de compartilhar algo e respeitar a privacidade dos outros pode evitar muitas situações de sofrimento.
Implementar políticas de convivência claras nas escolas, com canais confidenciais para denúncias, é essencial. Isso pode impedir que casos de exclusão — como os que enfrentei na faculdade, onde fui ignorada por uma turma inteira — ocorram.
Como lidar com casos
Oferecer apoio às vítimas é fundamental. Educadores e pais devem ouvir, validar sentimentos e proporcionar suporte emocional. Quando uma professora na faculdade me impediu de entregar um trabalho sozinha e me reprovou porque eu não tinha grupo, faltou empatia, faltaram mãos estendidas. Esse tipo de atitude pode ser evitado com acolhimento e compreensão.
Denúncia e intervenção no cyberbullying são ações indispensáveis. Denunciar ataques nas plataformas e salvar evidências é um passo importante, algo que eu não sabia quando enfrentei situações similares. Buscar medidas legais também pode proteger e fortalecer a vítima.
Por fim, educar os agressores é necessário. Muitos jovens não entendem o impacto de suas atitudes. Promover ações que incentivem reflexões e mudanças de comportamento pode transformar relações antes marcadas pela hostilidade.
Personalidades brasileiras que já sofreram bullying
- Bruna Marquezine: A atriz revelou ter sofrido bullying na adolescência por ser diferente e já estar no mundo artístico.
- Cauã Reymond: O César Ribeiro do remake de Vale Tudo (2025) enfrentou bullying na escola por ser comunicativo e acabou sofrendo em silêncio por muito tempo.
- Letícia Sabatella: A atriz contou que sofreu bullying devido a seu cabelo crespo e embaraçado.
- Anitta: A cantora revelou que sofreu bullying no trabalho antes de sua carreira musical decolar, sendo alvo de piadas e olhares preconceituosos.
- Lucy Ramos: A atriz relevou sofrer bullying na adolescência por ser muito magra, o que afetou sua autoestima durante aquele período.
- Xuxa Meneghel: A apresentadora e eterna rainha dos baixinhos admitiu ser vítima de bullying na infância por ser muito alta e magra, o que a fazia se sentir deslocada.
- Sandy: A cantora enfrentou bullying na escola por ser famosa desde cedo, lidando com comentários maldosos e exclusão.
- Lázaro Ramos: O ator contou que sofreu bullying devido a sua aparência e origem humilde, mas transformou essas experiências em força para sua carreira.
- Ivete Sangalo: A cantora já mencionou que enfrentou bullying por ser considerada “diferente” na escola, mas usou isso como motivação para se destacar.
Simplesmente Tita: um reflexo do bullying nos anos 1990 e 2000
Simplesmente Tita narra a jornada de uma jovem enfrentando o bullying e o isolamento na escola. Enquanto lida com a separação dos pais e os desafios de crescer, Tita se depara com situações que muitas vítimas de bullying reconhecem — exclusão, preconceito e o impacto emocional que tudo isso causa. A web novela reflete como, naquela época, esses problemas eram frequentemente ignorados pela sociedade e como suas consequências moldaram a vida de tantos jovens.
Assim como o Dia Nacional de Combate ao Bullying conscientiza sobre os danos causados por essas práticas, a história de Tita é um convite para refletir sobre empatia, superação e resiliência. Tita representa mais do que uma personagem: ela é a força que cada vítima de bullying precisa encontrar para enfrentar suas batalhas internas e externas.
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Gratidão a todos os leitores, de todas as épocas e plataforma, vocês foram e ainda são minha motivação para seguir adiante. |
Resiliência através da arte
A publicação de Simplesmente Tita foi muito mais que um processo criativo; foi uma jornada de superação. Enfrentei críticas injustas, insultos e até tentativas descaradas de copiar minha história. Assim como Tita encontrou forças para superar o bullying, tenho buscado as minhas para continuar compartilhando essa narrativa com o mundo.
Um convite especial
Se você deseja se aprofundar na história de Tita e compreender como o bullying impacta vidas, saiba que Simplesmente Tita será relançada no futuro. Essa novela combina emoção e reflexão, trazendo uma mensagem de esperança para aqueles que buscam superar seus desafios.
Referências
1. Dados da ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Dados sobre bullying global entre crianças e jovens. Disponível em: https://www.un.org. Acesso em: 07 abr. 2025.
2. Pesquisa PeNSE BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Brasília, 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
3. Massacre de Realengo WIKIPEDIA. Massacre de Realengo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo. Acesso em: 07 abr. 2025. O GLOBO. Massacre de Realengo completa 13 anos; relembre. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2024/04/08/massacre-de-realengo-completa-13-anos-relembre.ghtml. Acesso em: 07 abr. 2025.
4. Dados sobre bullying em escolas brasileiras UOL NOTÍCIAS. Cerca de 38% das escolas brasileiras enfrentam problemas de bullying. Disponível em: https://www.uol.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
5. Personalidades famosas que já sofreram bullying BOL. 10 famosos que já sofreram bullying na escola. Disponível em: https://www.bol.uol.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025. PORTAL POPLINE. 25 artistas vítimas de bullying compartilham suas histórias. Disponível em: https://portalpopline.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025. PORTAL 011. 10 celebridades inspiradoras que superaram o bullying na juventude. Disponível em: https://r011.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
6. Pesquisador sueco que começou a estudar o bullying FUNDAÇÃO TELEFÔNICA VIVO. O histórico e as formas de combate ao bullying no Brasil. Disponível em: https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br. Acesso em: 07 abr. 2025. 1LIBRARY. Dan Olweus - Referencial teórico. Disponível em: https://1library.org. Acesso em: 07 abr. 2025.
7. Lei sobre bullying no Brasil BRASIL. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Disponível em: https://www.planalto.gov.br. Acesso em: 07 abr. 2025. BRASIL. Lei nº 14.811, de 12 de janeiro de 2024. Institui medidas de proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais. Disponível em: https://www.planalto.gov.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
8. Sugestões de enfrentamento ao bullying CNN BRASIL. Bullying: 6 ações que toda escola deveria aperfeiçoar para combater. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025. REVISTA EDUCAÇÃO. 7 sugestões para o enfrentamento do bullying e cyberbullying escolar. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025. ESCOLAS EXPONENCIAIS. 21 ações práticas para reduzir o bullying nas escolas. Disponível em: https://escolasexponenciais.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
9. Livro "Simplesmente Tita" DA LUZ, Maria Alice. Simplesmente Tita. 1ª ed. São Paulo: Maria Alice da Luz, 2022. Disponível em: https://www.amazon.com.br. Acesso em: 07 abr. 2025.
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