Abril de 1998. Um feriado prolongado que prometia ser pacato virou um verdadeiro turbilhão de notícias para a redação da emissora fictícia mais dramática do universo: a Malacubaca.
E quem ficou de plantão? Claro que ela, Carmen Angélica Esteves, nossa gloriosa repórter conhecida como Noviça, que trocou a folga de Tiradentes pela Páscoa e acabou amargando a escolha — e no ar, várias vezes ao dia!
Por: Carmen Angélica Esteves – Noviça, em carne, osso, formosura e muito café na causa
> "Troquei a Páscoa pelo Tiradentes achando que ia ser só eu, uma TV ligada em volume baixo e um chocolate esquecido na redação. Mas o universo tinha outros planos."
Tudo começou com um acordo bobo. Um simples “vai, pode folgar na Páscoa, depois você cobre o Tiradentes”. Aceitei. Quem imaginaria que esse feriado prolongado se tornaria um dos mais intensos da década?
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Sábado à noite, 18 de abril. O “Vinte Horas” acabara de sair do ar. Eu estava guardando meu bloquinho, passando um corretivo no rosto (sim, eu me cuido mesmo no plantão) quando uma produtora irrompe pela sala:
— Carmen, urgente. Precisa gravar um off. Nelson Gonçalves morreu.
Num primeiro momento o Tico e o Teco ficaram se olhando, ninguém me chama de Carmen. Quando a ficha caiu, eu falei.
— O Nelson…? O BOÊMIO?!
E lá fui eu, correndo para o estúdio, voz embargada e coração no modo cronista de rádio AM. Meia hora depois, entrei AO VIVO com atualizações, enquanto uma repórter assumia as entradas diretas das ruas. Parecia o clímax. Eu estava enganada.
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Domingo, 19 de abril, acordei com o toque insistente do telefone da redação (e a sensação de que o mundo queria me testar). A morte de Linda McCartney, ocorrida dois dias antes, finalmente havia sido confirmada publicamente. E adivinhem quem teve de dar as caras no “Boletim Extraordinário”?
Sim. Eu mesma.
Liguei para o arquivo, pedi imagens, escrevi a fala no batente e entrei no ar. De novo.
Mal tive tempo de respirar. Na madrugada de domingo para segunda, quando desfrutava de uma merecida noite de sono, recebo outra ligação da chefia:
— Noviça, prepara uma entrada. Sérgio Motta faleceu. Vai ao ar agora.
Calcei as pantufas, botei um blazer por cima, escovei os dentes, peguei a bolsa e zarpei para a redação, pensando que só gravaria um off, que nada!
— Você está de pijama, Carmen Angélica? — quis saber o cinegrafista.
Sentei na bancada, passei um batom para disfarçar a carinha de sono e fiz pelo menos quatro entradas durante aquela madrugada. Cada uma mais séria que a anterior. Meu rosto parecia um VHS rodado no modo lento.
Segunda, 20, amanheceu com gosto de café velho e arrependimento.
— Eu podia estar em casa, dormindo até um pouco mais tarde, levar a Jaqueline para passear, mas não. Escolhi trocar a Páscoa pelo Tiradentes. Escolhi o inferno noticioso. E quando achei que mais nada poderia acontecer...
Terça-feira, 21 de abril. Feriado oficial. Dia do mártir. A equipe que viveu o ritmo frenético desse plantão só queria chegar ao dia 30, para ficar de folga. Eu já até me imaginava lendo debaixo do guarda-sol, quando soube que o jovem deputado Luís Eduardo Magalhães, promessa da política, partiu.
E eu lá, ao vivo, no Boletim Extraordinário, olhos vermelhos, maquiagem vencida, alma exausta, disparei:
— Parece que todo mundo resolveu desencarnar justo quando estou de plantão?
A frase escapou. Foi para o ar. Na verdade, já estava no ar. Era hora de consertar o estrago e ativar o modo profissional, os telespectadores da Malacubaca mereciam esse sacrifício.
Segurei a audiência. E saí do estúdio com a certeza de que… nunca mais troco feriado com ninguém.
Virou o assunto mais comentado nos bastidores. Já tem até camiseta. Muitas pessoas ligaram e mandaram cartas para a emissora, pedindo para me dar alguns dias de folga.
Segurei a audiência. E saí do estúdio com a certeza de que… nunca mais troco feriado com ninguém.
E tenho dito.
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