Arquivo Malacubaca | A televisão que lia pensamentos (2020)

 


Por Marisol de Moura

26 de agosto de 2000

Eu sempre gostei de ir com o meu pai até a emissora, principalmente quando ele estava no ar com o boletim do tempo. Às vezes, passava o dia inteiro por lá e, quando não estava com ele, ficava acompanhando os jornalistas ou ouvindo histórias engraçadas. A Noviça, por exemplo, sempre tinha alguma coisa inusitada para contar. Foi ela quem me apresentou à Jaqueline, a filha dela, que também andava por lá de vez em quando. 

Uma vez, depois de um dia de gravação, a Jaque me levou ao fliperama para conversar, e foi lá que ela me contou uma história tão doida, mas tão engraçada, que eu não consegui parar de rir. Ela falou sobre a televisão da mãe dela, que tinha um chip japonês que lia pensamentos! 

Eu sei, parece coisa de filme, mas a Jacky falou sério. Disse que a mãe dela cobria a TV com um pano à noite, porque achava que os asiáticos poderiam ver tudo o que acontecia na casa e até ouvir o que ela pensava.

Quando contei essa história para a Fabiana e para a Duda, elas se divertiram tanto, que comecei a pensar que seria uma boa ideia escrever sobre isso. Fui tão inspirada por aquelas risadas que, no dia seguinte, peguei meu caderninho e comecei a escrever uma história sobre duas irmãs que ficam presas dentro de uma televisão. Elas começam a viver dentro de todos os canais e, no final, conseguem se salvar. Tudo isso, claro, por causa da tal TV que “lê pensamentos”. 

Não sei por que, mas me deu uma sensação boa escrever sobre isso, como se, de alguma forma, fosse a minha própria aventura também.


Era uma vez duas irmãs chamadas Lívia e Malu. Elas não eram parecidas.
Lívia gostava de fazer listas do que deixava ela feliz (tipo: chuva fina, bolacha de maisena e cheiro de xampu de pêssego).
Malu gostava de cantar para as estrelas (ela acreditava mesmo que as estrelas ouviam).

Numa tarde chuvosa, a avó delas chegou com uma televisão esquisita.
Disse que comprou num bazar japonês, e que “dizem que essa TV entende o que a gente sente.”
(nessa parte, Fabi riu e falou que a avó era uma bruxinha boazinha)

As meninas riram também. Mas à noite…
… a TV começou a brilhar diferente. Um brilho branco meio azul. Um brilho de mágica.
E quando perceberam…

PUF!

Lívia e Malu estavam dentro da TV.
(obs.: aqui a Duda caiu na gargalhada e disse: “Elas viraram apresentadoras!”)

Primeiro elas caíram no canal de culinária.
A chef gigante achou que elas eram dois ingredientes secretos:
Uma pitada de irmã mais velha e uma xícara de risada boba! — gritou a cozinheira.

Elas fugiram e caíram num programa de perguntas e respostas, com um robô chato que só deixava sair se acertassem o nome da capital da Nova Zelândia.
Erraram.
(o nome é Wellington, eu pesquisei depois pra escrever certinho)

Depois foram parar numa novela dramática, onde tudo tinha eco e as pessoas falavam só em frases impactantes.
Eu te amo… MAS É TARDE DEMAIS! — disse um ator com os olhos cheios de glitter.

Enquanto isso, no mundo de fora, ninguém percebia o que estava acontecendo.
Quer dizer… quase ninguém.

A única que percebeu foi a gatinha da casa, Doroteia.

Ela sentou bem na frente da TV e miou, miou, miou…
(aqui eu coloquei: miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiau longo e triste, pra ficar dramático)

A avó entendeu. Ela fechou os olhos e lembrou do dia que Lívia nasceu. E depois do dia que Malu nasceu.
Ela lembrou do cheirinho de neném, das risadas, dos choros. E chorou.
Pensou nelas com todo o coração.

A TV piscou. Estalou. Fez um barulhinho que parecia um suspiro.

E PUF!, de novo, as meninas voltaram pro sofá. Como se nada tivesse acontecido.
Mas elas nunca mais assistiram TV à noite.
E toda vez que veem uma televisão com um brilho estranho, dão a mão uma pra outra.

Malu até hoje diz:
— Da última vez, eu virei parte do programa.

Fim.

(Pra Duda, esse foi meu melhor conto até agora. A Hanna disse que é bobagem, mas ela nem sabe o que é ser criança com imaginação.)

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