(um oferecimento do Arquivo Malacubaca)
Beto colocava o despertador para tocar pouco antes de começar Bob Esponja na TV. Era sagrado. Mas mal pisava fora do quarto, dava de cara com o pai, Augusto, que não escondia a decepção ao vê-lo em casa em plena manhã de dia útil.
— O senhor não devia estar na aula, Roberto? — perguntou o médico, com a sobrancelha arqueada.
— Pô, pai... Que é isso? Hoje eu não tive as duas últimas aulas...
— Ontem você também não teve.
— Cheguei atrasado porque choveu forte.
— Se não fosse eu te cutucar, você nem saía daquela cama.
— Pô, pai. Eu não ia à aula com chuva.
— Hoje não está chovendo. Por que não está na aula?
— Porque eu já disse... O ‘fessor’ de Física faltou.
Augusto cruzou os braços, desconfiado.
— Que raio de cursinho é esse em que os professores vivem faltando? O que dirá dos alunos? Se não é professor que falta, é porque a matéria não cai no vestibular, ou é semana do saco cheio... Uma beleza. E assim nosso país vai pra frente.
Beto tentou despistar indo até a cozinha, mas Augusto o seguiu, determinado a conversar com o filho.
— Vem cá, Roberto. No meio do ano abrem as inscrições pro vestibular de inverno... Não tem nada que te interesse?
— Pô, pai. Você não quer ter um filho médico? Então vai ter que esperar um pouco mais...
— Em Medicina você não passa, Roberto. Por que não tenta outra coisa?
— Pô, pai. Não dá.
— Não dá por quê?
— Pô, pai... Você não tá sabendo que o trote é muito violento?
— Nem sabe se vai passar e já tá falando em trote?
— E quem disse que eu não vou passar? Pra sua informação, no passado eu só não passei por uma questão. A Federal me sacaneou.
— A Federal te sacaneou por dez anos?
— Pô, pai... Eu já te disse... A Federal me sacaneia todo ano. Num ano que eu gabaritei, não corrigiram; no outro fizeram pegadinha com uma pergunta; e você lembra daquela vez que teve um blecaute? Pois então! Também gabaritei, mas quando refiz a prova só tinha pergunta pra gênio. Pô, pai, vai dizer que isso não é injusto?
Augusto respirou fundo.
— E não se cansa de cursinho, não? Com a sua idade...
— Pô, pai... O cursinho é mó legal, ae! Tenho vários amigos lá, os professores são camaradas, até me falam o que vai cair na prova. Se eu não entrar esse ano é porque a Federal não vai com a minha cara.
— O engraçado é que você fala tanto de aprovação, mas eu nunca te vejo chegar perto de uma apostila.
— Porque eu já sei tudo.
— Ledo engano, senhor Roberto. Enquanto há vida, há o que aprender.
— Pô, pai... A conversa tá boa, mas meu desenho já começou...
Mais tarde, Augusto desabafava com a esposa, Marcela, que enxergava o filho com outros olhos.
— Já está na hora do Roberto amadurecer — dizia ele. — Propus que tentasse vestibular no meio do ano.
— Mas já? — reagiu Marcela, assustada. — O meio do ano tá quase aí, meu bem.
— Pois é. O Roberto já perdeu muito tempo. Se não for medicina, que seja qualquer coisa. Só quero que estude, que faça alguma coisa, que valha a comida que coloco na mesa. O que não dá é ver ele mais um ano escorneado no sofá, vendo desenho animado, achando que eu sou eterno.
— Não seja duro com o garoto, Augusto. Quer destruir o sonho do nosso filho? Ele ainda é um adolescente desnorteado, pressionado por você a decidir o futuro. Se coloque no lugar dele...
Augusto cerrou os punhos.
— Mas não é possível... Só se for a Terra do Nunca! Um não se decide porque ainda é um adolescente... Adolescente de 28 anos! Beirando os 30! E o outro acha que vai virar jogador de futebol!
— E vai, meu bem. O técnico garantiu que dessa vez ele entra no time...
— Estou ouvindo isso há mais de cinco anos, Marcela! Quando é que nossos filhos vão tomar jeito?
— Tenha paciência...
— Se eu tiver mais paciência que isso, viro monge tibetano.
E o que já estava ruim, podia piorar. Blim blom. A campainha tocou.
— Tá esperando alguém, Marcela?
— Não que eu me lembre...
Na sala, Beto assistia A Usurpadora jogado no sofá, quase fundido às almofadas.
— Não vai atender a porta, Roberto?
— E por que tem que ser eu?
Augusto foi até a porta e ao abri-la se deparou com a comadre fofoqueira, a mesma do mercado. Só de vê-la, sentiu calafrios.
— Tuuuudo bem, Gutão? — disse ela, já abraçando o médico.
Augusto odiava ser chamado de Gutão.
— Tudo indo...
— Tudo indo bem?
— Marcela, visita pra você!
A comadre lançou um olhar atravessado para Beto, que ria da novela.
— Você não devia estar na aula?
Augusto respondeu por ele:
— Roberto não passou no vestibular.
— De novo, rapaz? Cê não nasceu pra estudar. Minha neta com 17 entrou de primeira na UFPR... Isso é que é orgulho!
— Quero assistir minha novela, por favor — disse Beto, aumentando o volume.
— Não sei que graça tem ver essa novelinha repetida...
— Ah, dá um tempo, mulher! Quero ver minha novelinha numa boa. Se quisesse ver fofoca, colocava na Sônia Abrão.
Augusto quase riu, mas se segurou. Detestava a comadre, que só sabia falar da vida dos outros.
Marcela chegou com sorriso forçado.
— Oi, amiga!
As duas se abraçaram.
— Sempre linda, Marcelinha — elogiou, falsa. — O tempo não passa pra você.
— E nem pra você...
— Esses seus filhos são folgados, hein? Um vendo novela do tempo da minha vó e o outro?
— André tá tentando a sorte como jogador. Ano que vem vai pra Copa!
— Tá velho demais pra isso, amiga...
Beto, já de saco cheio, levantou e foi para o quarto.
Foi aí que Augusto teve uma ideia ousada: procurar ajuda. Abriu o notebook, digitou “filhos parasitas” e encontrou o site de um programa de TV famoso por lidar com situações absurdas. Casos de Família estava recrutando casos para um especial. Sem contar a ninguém, ele se inscreveu.
— Se não responderem, entendo...
Mas responderam. E na semana seguinte, a família Prado Mendes embarcava para São Paulo.
— Lua de mel, amor? — perguntou Marcela, animada. — Pra onde vamos?
— Resolver um grande problema.
— Pô, pai... Mó chato isso... Nem uma passadinha no Hopi Hari?
— Hoje mesmo você toma jeito. E não se fala mais nisso.
— Pô, pai... Vai me levar pra conhecer a Christina Rocha ao vivo? Mó emoção!
No estúdio do programa, a chamada já deixava claro que o circo estava armado.
— O Roberto é o eterno adolescente, mas já faz mais de dez anos que ele se formou no ensino médio — dizia Augusto.
— Como é que é isso, seu Augusto? — perguntava Christina Rocha, olhando para a câmera.
— Pô, pai... Você nunca me dá nada… — choramingava Beto.
— E quem deu tudo que você tem? Fada madrinha é que não foi! Além de parasito, é ingrato!
Fim da chamada. Início do caos.
Era uma tarde como qualquer outra nos estúdios do SBT, mas Christina Rocha já sabia: o episódio daquele dia prometia ser memorável. Ao entrar em cena, foi ovacionada pela plateia, que já havia lido no GC o tema do programa: "EU SÓ POSSO TER FUNDADO A TERRA DO NUNCA".
Com seu carisma habitual, ela saudou todos: — Boa tarde, minha gente maravilhosa! Tudo bem com vocês? Tudo certo? — e, sem perder tempo, lançou a pergunta central: — Você é pai, mãe? Tem filho que já passou da idade de brincar de carrinho, mas ainda acha que vive na Terra do Nunca?
O caso que abriria o programa era o de Augusto, um médico indignado, que declarava com todas as letras: estava sustentando um parasita. O filho, Beto, adolescente que terminou o ensino médio há mais de dez anos, ainda morava com os pais e se dizia adolescente. Christina o chamou ao palco.
— Roberto, entra aqui pra explicar melhor essa história.
— Roberto não, pô. Meu nome é Beto...
O pai, ao lado, já fazia cara de poucos amigos. Christina manteve o tom leve:
— Certo, Beto. Então você é adolescente...
— Pô, e meu pai não entende isso!
A plateia explodiu em vaias quando Augusto comentou:
— Infelizmente, ele ainda mora comigo.
— Pô, pai. Que é isso?
— Que é isso digo eu.
Christina quis entender melhor:
— Augusto, ele terminou o Ensino Médio há quanto tempo?
— Há mais de 10 anos. Diz que faz cursinho, mas nunca vi ele pegar em uma apostila.
Beto protestou:
— Pô, pai. Isso é calúnia. Eu estudo!
— Quando, Roberto? Quando que eu não estou sabendo?
— Quando não tem aula no cursinho, pô.
— Todo dia, né?
A discussão ganhava contornos cada vez mais surreais. Augusto ergueu a voz:
— Sou eu quem paga o cursinho. Tenho o direito de saber se meu dinheiro está sendo jogado no ralo.
Beto, sem perder a pose:
— E paga porque é dever do pai!
— Até a maioridade!
— Mas eu ainda sou adolescente, pô. Meus direitos estão garantidos no Estatuto.
— Estatuto da parasitagem, só se for...
A plateia reagia a cada fala com vaias ou gargalhadas. Christina tentou entender:
— Roberto... ou melhor, Beto... Você trabalha? Faz alguma coisa?
Augusto respondeu por ele:
— Nada. Só exige. Não merece nem o prato que eu coloco na mesa.
Marcela, a mãe, enfim se pronunciou:
— Você pressiona demais o menino, Augusto. Ele é apenas um adolescente.
— Adolescente? Eu só posso ter fundado a Terra do Nunca!
Christina achava tudo aquilo inacreditável:
— Beto, você não trabalha?
— Eu trabalho!
— O que você faz, então?
— Toco Guitar Hero...
Augusto se levantou da poltrona:
— Isso não é trabalho!
— Pô, pai. Eu ganho experiência...
— Então já pode se aposentar!
Beto tentou explicar:
— Eu tenho uma banda. Tô ensaiando, divulgando...
— Que banda? Você nunca ensaia com ninguém!
— Os caras são preguiçosos. Mas um dia vai...
Marcela, sempre tentando defender:
— Viu como ele é desmotivado, Christina? O Augusto nunca apoia os filhos.
— Apoio? O que você acha que venho fazendo desde que esse folgado nasceu?
Christina questionou:
— E quem trabalha nessa casa?
— Eu! Eu sustento todo mundo. Essa cambada de malucos.
A plateia gargalhava. Christina chamou um rapaz da última fileira para comentar. Ele estava de blusa azul:
— Ô cara, toma vergonha na cara. Já passou da hora de crescer, mano!
Beto retrucou:
— Eu trabalho sim. Não sou remunerado, mas tenho satisfação.
A senhora da blusa rosa também deu seu recado:
— Beto, tu é jovem, bonito... Sai dessa de parasitar e ajuda teu pai, guri. Isso é vida?
Beto fez cara de deboche:
— Eu só trabalho com uma condição: se eu for o chefe.
A plateia caiu na gargalhada.
Augusto ergueu os braços:
— Tá vendo, Christina? Essa é a cruz que eu carrego.
Christina tentou encerrar:
— Pra ser chefe, tem que estudar, Beto.
— Quem disse que eu não estudo? Tá me chamando de parasita, sei lá...
— Que bom que a carapuça serviu — provocou Augusto.
Mas ainda havia mais. O segundo caso era de Regina, mãe de Bidu. O rapaz, com 26 anos, também não estudava nem trabalhava, e ainda trouxe o namorado para morar com a avó, dona Ofélia.
Regina entrou tímida:
— O Bidu é agressivo, Christina. Se não faço as vontades dele, ele me xinga.
— Ele trabalha? Estuda?
— Gosta de balada. Sai sexta e só volta na segunda, quando volta. E agora trouxe o namorado pra morar com a gente... e o namorado consegue ser ainda pior.
Quando Bidu entrou, veio acompanhado da avó, que mal esperou para aplicar-lhe uma bengalada nas costas:
— Mentiroso! Tá vivendo da minha pensão! Vagabundo!
A plateia foi ao delírio. Dona Ofélia desabafou:
— Se fosse criado por mim, não virava isso. Hoje é só pai frouxo e mãe cega pra marmanjo vagabundo. Vão trabalhar, seus imprestáveis! O tempo de farra acabou!
Christina encerrou o episódio do dia com a frase que virou bordão:
— E o pior de tudo... é que eu só posso ter fundado a Terra do Nunca!
Em meio ao caos, Christina anunciou:
— E voltamos com o Casos de Família. O tema de hoje é: Eu só posso ter fundado a Terra do Nunca.
Dona Ofélia estava revoltada. Apontando a bengala para todos os lados, ela encarou Bidu:
— Esse vagabundo vive no bem-bom com minha aposentadoria. Sou viúva de um ex-desembargador, e ele só me dá desgosto.
Christina arregalou os olhos:
— Seu falecido esposo era desembargador?
— Sim, sim! Morreu de desgosto por causa dessa desgraça aí!
Bidu tentou se defender:
— Essa velha vive me culpando por tudo!
E levou outra bengalada.
— Velha uma ova! Velho é trapo. Me respeita, seu folgado. A Regina se queixa pra mim, mas quando tento colocar ordem, ela chora e protege esse parasita. E não adianta ficar vermelha, Regina!
A plateia aplaudia de pé. Marcela cochichou com Augusto:
— E você ainda reclama do nosso filho...
Christina retomou:
— Regina, não te deixam dar ordens?
— Regina é uma pamonha, Christina. Vive chorando pelos cantos porque o Bidu não presta, não para em emprego, dá golpe na praça.
— Ele dá golpe na praça?
— Vive com carnê na mão e não paga nada. Tá com o nome sujo, o da mãe, o do companheiro... Menos o meu. Porque comigo não se brinca!
Mais aplausos. Christina leu um dado:
— Diz aqui que Regina vendeu o carro pra pagar a faculdade do Bidu, mas ele desistiu.
Regina tentou justificar:
— Bidu não gostou do curso...
— Nem ia às aulas! — gritou Ofélia, acertando mais uma bengalada.
Beto, na lateral, comentou:
— Pô, pai... Ainda bem que nunca te dei prejuízo.
— E os 10 anos de cursinho? Grande investimento...
Christina chamou perguntas da plateia. Uma jovem falou:
— D. Ofélia, tiro meu chapéu pra senhora. Bate nesses parasitas!
E ela retribuiu:
— De tanto bater, uma hora endireita. Pensam que por ser velha estou largada? Estou mais viva que nunca!
A plateia gritava:
— Ofélia! Ofélia! Ofélia!
Com bengala em punho, ela ameaçou Beto e Bidu, que correram pelo estúdio. Ofélia foi atrás.
Christina, às gargalhadas:
— Vamos conversar civilizadamente... Produção, ajuda aqui!
Outro participante da plateia comentou:
— Seu Augusto, o senhor gosta de sustentar o parasita.
— Gosto uma ova!
— Se não gostasse, já tinha botado pra fora.
Ofélia virou sensação na internet. As hashtags “#Ofélia” e “#BateNosParasitas” lideravam os TTs do Brasil. Christina mal conseguia conter o riso:
— Depois de hoje, Augusto... vai mudar alguma coisa?
— Vai. Lá em casa, as regras mudam. — Ele mostrou a lista de Páscoa de Beto. — Veja se não tenho motivo pra chorar.
— Pô, pai...
— Acha que outro pai aguentaria? Eu sou benevolente!
— Você é duro demais — disse Marcela.
— Eu já teria mandado esse aí pra rua — completou Ofélia. — A boa e velha terapia da bordoada ainda funciona!
— Betinho é muito bem criado, para a sua informação, tia da bengala. Cuide do seu neto.
— Bem que merecia umas bengaladas...
— Então vem dar...
— Vontade não me falta nem um pouco.
Christina tentou apaziguar:
— Por favor, gente. Sem violência. Quem tá aqui vai falar, mas também tem que saber ouvir... E não é só ouvir o que quer.
Beto comentou com o pai, em tom de brincadeira:
— Nunca pensei que eu ia ver a dona Florinda ao vivo...
Christina ouviu e se divertiu:
— Você gosta de Chaves, Beto?
— Pô, meu, Chaves e Bob Esponja são minha inspiração. E você também. Não perco o Casos de Família por nada. Sou seu fã!
— É mesmo?
— Pô, meu. Sou sim.
Empolgado, ele se levantou para abraçá-la. Bidu, ali no canto, deu uma risadinha debochada.
Na plateia, uma jovem pediu o microfone:
— Minha pergunta é pro Bidu. Você não tem vergonha de ser caloteiro, não?
Bidu virou-se com desdém:
— Não te perguntei nada. Vai pagar minhas contas? Não. Então cala a boca.
A plateia vaiou. A moça não se intimidou:
— Tinha que levar mais bengalada pra ver se aprende a responder com educação, ô parasita caloteiro.
A temperatura do palco subiu. Bidu retrucou:
— Essa gente nem sabe de nada e já quer dar opinião. Vão pro inferno! Eu tô nem aí!
Ofélia, sem paciência, mandou:
— Mas lá em casa você não entra mais.
Regina, desesperada, suplicou:
— Mãe, isso não!
— Isso sim, Regina. Viemos resolver isso e vamos resolver já! Se fosse pra passar a mão na cabeça dele, eu dava um cheque em branco. Consertar chuveiro, nada. Varrer o quintal, nada. Mas pra alargar a bunda em frente ao computador, tá sempre disposto!
Augusto riu:
— Roberto é outro que não sai da frente do computador.
— Pô, pai. É meu trabalho...
— Que trabalho, criatura?
— Pra me manter!
— Então quem deu tudo que você tem, han? A Fada Madrinha? Além de parasita, é ingrato.
Ofélia se meteu:
— Abre o portão e dá um chute na bunda desse encosto!
Marcela entrou na defesa:
— Faça isso com seu neto. Na minha família você não se mete.
— Também não é assim — ponderou Augusto. — Roberto é meu filho.
— Mas você reclama dele o programa inteiro! Parece que gosta de sustentar o encosto!
Bidu zombou:
— Depois reclama de mim. Pelo menos eu não sou como esse aí.
— Pô, mané! Olha o respeito! — Beto respondeu.
— Se situa, Amendobobo.
Beto bateu no peito:
— Amendobobo sim, senhor. Antes isso do que caloteiro.
— TE PERGUNTEI ALGUMA COISA?
— Pô, meu. Você começou. Quer briga, vai ter!
— Vai ter e você vai apanhar!
Começa a tocar "Eye of the Tiger".
Bidu se levanta. Beto também. Os dois se encaram, pulam para trás, fazem soquinhos no ar. Uma briga à la Chaves, coreografada, sem socos de verdade. Mas o teatro logo vira pastelão quando Bidu tenta desferir um soco no ar, se desequilibra e... caí no chão.
A plateia explode em gargalhadas.
— Bem feito, mané! Muito bem feito! — Beto faz uma dancinha da vitória.
Antes que virasse MMA de verdade, Christina intervém com firmeza:
— Nada de briga aqui! Se não se acalmarem, vou chamar o segurança. Aqui não é bagunça. Se quiserem resolver alguma coisa, é com diálogo. Dona Ofélia, quer falar mais alguma coisa?
A vóvis nem pensou duas vezes:
— Quem vem aqui tem que querer resolver. Mas muito pai adora bancar parasita, aí não tem sermão nem bengalada que resolva. Eu vim pra jogar sério!
Regina tentou defender o filho:
— Mas ele não tem pra onde ir...
— Vai aprender. Que vá pegar no batente e pare de dar trabalho. E você não tem obrigação nenhuma de levar e buscar vagabundo no cursinho! Vai à aula, mas só mexe no celular. Vestibular nada. É desculpa pra continuar no bem-bom. Quem tá estudando mesmo não posta meme o dia inteiro!
— Não faz mais que sua obrigação! — rebateu Bidu.
Ofélia não deixou por menos. Acertou uma bengalada leve na cabeça dele:
— OBRIGAÇÃO? Deveria era te acertar nos dentes pra ver se aprende a falar com uma senhora! Não tenho obrigação de te dar nada... Só umas bengaladas!
— Essa vó não brinca em serviço — comentou Christina.
— Pô, meu... E depois o folgado sou eu, né? — Beto sacudiu os ombros.
— Embate entre o sujo e o mal lavado... — concluiu Augusto.
O psicólogo do programa comentou sobre a pressão da geração de Beto e Bidu para conquistar o mundo ainda na juventude, discorrendo sobre a transformação do mundo, que impactou o mercado de trabalho e, consequentemente, os anseios da juventude. Ficou claro que Marcela, ao tentar dar aos filhos o que não teve, acabou alimentando a eterna adolescência dos filhos.
Com os depoimentos encerrados e as gravações finalizadas, Beto conseguiu tirar uma foto com Christina Rocha e deixou os estúdios ladeado pelos pais.
— Estou passada com aquela velha maluca — reclamou Marcela. — Ela te machucou muito, filho?
— Pô, mãe. Que nada...
— Ela que vá cuidar do neto imprestável dela!
Augusto respirou fundo:
— Ela é meio exagerada, mas falou umas verdades.
Caminhando de braços dados com os dois, Beto anunciou:
— Pô, pai... Pô, mãe... Ouvi os clamores do paizão aqui e vou tentar vestibular no meio do ano. Quero ser adulto logo.
Augusto rebateu, sem paciência:
— Adulto você já é, Roberto. E faz tempo. Não banque a criancinha.
— Pô, pai. Você nunca me apoia em nada...
— Depois não quer que o menino esteja desmotivado — disse Marcela, abraçando o filho. — Mal ele abre a boca e você já grita, Augusto.
— Se acha meu método severo demais, posso mandar o Amendobobo morar com a titia Ofélia.
— Não largo meu Gutao por nada.
— Gutão é a mãe!
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